01 setembro, 2023

BRAGA, Victoriano -
OCTÁVIO : peça em três actos. Representada pela primeira vez, em 1916, no Teatro Nacional Almeida Garrett. Lisboa, J. Rodrigues & C.ª, 1927. In-8.º (19,5x13 cm) de 111, [5] p. ; B.
1.ª edição.
Edição original desta peça, talvez a obra mais discutida do autor pelo escândalo que alcançou na época, dada a sua forte componente sensual e erótica.
"Uma sala não muito grande, luxuosíssima. Porta de arco ao fundo, comunicando com o jardim de inervo; à direita, uma porta larga, coberta de um reposteiro de armas, que dá para o salão de baile. Mobília rica e de muito bom gôsto; pelas paredes, retratos a óleo de antepassados ilustres. - A scena não deve estar muito iluminada. Ouve-se o sexteto  antes do pano subir.
Há baile no palácio. É ao comêço da festa, que decorre ainda com intimidade, vendo-se já alguns convidados no jardim.
Gil, de pé, conversa com Octávio, que se tem estirado com elegância num sofá, entre almofadas, à direita da scena. - Octávio, sendo o mais corecto possível, deve no entanto deixar perceber, excepto para com Gil, a grande diferença que está persuadido existir entre si e todos."
(Excerto do Acto Primeiro)
Vitoriano Braga (1888-1940). "Dramaturgo, tradutor e crítico de teatro. Ginasta de mérito, introduz o futebol amador entre nós. Faz moda. Como fotógrafo amador, retratou Guerra Junqueiro e Fernando Pessoa, para além dos nus de Almada. A sua escassa produção de teatro assenta numa construção convencional, mas eficaz, do enredo e insere-se na linha naturalista de análise psicológica e crítica social. As primeiras peças, escritas entre 1908 e 1918, foram representadas pela Sociedade Artística, companhia residente do Teatro Nacional: A Bi (escrita em colaboração com J. Vasconcelos e Sá) em 1911, Octávio, em 1916, e O Salon de Madame Xavier, em 1918. Na década de 1920 estreia, no Teatro Politeama, A Casaca Encarnada (1922), produção da Companhia de Lucília Simões, com cartaz de Almada Negreiros; no mesmo teatro representa-se, em 1926, a comédia dramática Inimigos, escrita no ano anterior, protagonizada por Ilda Stichini e Raul de Carvalho. Entre outras peças, menos destacadas pela crítica, contam-se Lua-de-Mel (Teatro do Ginásio, 1928) e O Conselho da Noite (Chiado Terrasse, 1932).
Com Octávio inicia-se um dos motivos caros ao teatro de Vitoriano Braga, o casamento de conveniência. Não foi, porém, este motivo que dividiu opiniões e provocou uma reacção desfavorável da crítica e a breve carreira do espectáculo. O tema da peça resulta da sua forte componente erótica, desenhada em Octávio e Graça, e nele especialmente: dandy, músico e doente - o actor deve «deixar perceber […] a grande diferença que está persuadido existir entre si e todos» (rubrica do I acto) -, que lembra motivos anteriores do esteta, até na blague, e antecipa traços do singular decadentismo dos anos de 1920 na homossexualidade discreta mas evidente e na exaltação do artista. Octávio não é, porém, um tipo, como acontece a muitas figuras do teatro de Vitoriano Braga; a complexidade desta personagem insinua-se no ambiente, nas palavras como nos silêncios, na música de cena, onde o sexteto para o baile do I acto contrasta com a pequena peça para órgão «com uma melodia de sabor gregoriano» expressamente escrita por Luís de Freitas Branco (Alexandre Delgado, Ana Teles e Nuno Bettencourt Mendes, Luís de Freitas Branco, Lisboa: Editorial Caminho, 2007) talvez para o final do II acto.
A obra foi apreciada por Fernando Pessoa, que se propunha editá-la na Olisipo (c. 1922), com A Casaca Encarnada e O Milagre. Para além disso, Octávio foi motor do ensaio «Sobre o Drama». Na reflexão sobre o ideal dramático da modernidade, afirma: «é no campo da intuição psicológica, no conceito do psiquismo individual, que a cultura científica produziu, na mente do dramaturgo, porque na de toda a gente culta, resultados novos e notáveis. […] Para mim, o valor capital do drama Octávio, o que o torna, a meu ver, notável entre a multidão nula das peças modernas, seja de que nação forem, é que, por acção [de] um seguro instinto, ele é orientado exactamente no sentido que a cultura moderna impõe como o caminho do dever artístico.» (Páginas de Estética, p. 87)."
(Fonte: https://modernismo.pt/index.php/v/794-vitoriano-braga)
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Rubrica de posse na f. rosto.
Raro.
Com interesse histórico.
25€

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