02 setembro, 2023

FARIA, Carlos -
O PIANO.
Desenhos de A. C. Sobral. Lisboa, Deposito na Livraria de Antonio Maria Pereira, 1893. In-4.º (23 cm) de 188, [4] p. ; il. ; E.
1.ª edição.
Romance passado em Lisboa, remete para a vida de Olímpio, um pianista - professor e compositor - que se apaixona por Ema, filha do capitalista Gomes, que desagradado com esse amor correspondido, faz a vida negra ao músico.
Livro ilustrado com belíssimos desenhos de Sobral, que também assina a capa.
Obra interessante, muito bem redigida, sendo o vocabulário cuidado. Inclui expressões de certos tipos de Lisboa, muito engraçadas, - do burguês ao guarda-portão -, que por norma traduzem desprezo. A BNP refere a obra com a indicação "sem informação exemplar".
"Estamos a 30 de Novembro. São 7 horas e meia da manhã. O ceu como um caldeirão velho cujo fundo começa a descoser-se, vae largando cada vez maiores e mais frequentes os pingos de um negro aguaceiro.
O pobre pianista fecha o seu

«Quarto independente para homem só com porta para a escada e sem comida, na rua dos Corrieiros n.º...»

como textualmente annunciara o Diario de Noticias.
Desceu vagarosamente levando na mão uma pequena mala de coiro. Vae começar a sua tarefa quotidiana.
A corda d'agua como fina vergasta metalica chicoteava as pedras da rua. A chuva produzia o ruido estrelante da agua caindo sobre lume. Era o caldeirão que se arrombava.
No portão da escada, em defeza da tremenda batega, entrara uma roliça creada e logo após um policia.
- Jesus do ceu! Que carga d'agua! - dizia ella sacudindo o chale depois de largar o cabaz das compras.
- Quem dera que durasse para ter a Luisinha ao pé de mim, retorquiu galante o defensor da propriedade, vida e honra das familias de Lisboa. E ajudava a creada a enxugar-se com tanta dedicação que o pianista iria jurar que vira os ardentes beiços milicianos chuparem uns pingos de chuva que Luisinha tinha na cara."
(Excerto do Cap. I)
Carlos de Faria e Melo (1849-1917). "Escritor, jornalista, político e diplomata. Natural de Lisboa, Carlos de Faria e Melo fixou residência em Aveiro, cidade onde se notabilizou como jornalista e escritor, tendo sido agraciado pelo Rei D. Carlos com o título de 1.º Barão de Cadoro. Formado em Direito pela Universidade de Coimbra, Carlos de Faria iniciou, ainda muito novo, a sua carreira jornalística, tendo fundado e dirigido diversos jornais, alguns de cariz literário. Como escritor, publicou vários livros. Para além disso, desempenhou cargos políticos, designadamente o de Administrador do Concelho de Aveiro e o de Governador Civil do Distrito de Aveiro, tendo sido também Cônsul de Espanha em Aveiro. Carlos Faria foi redator efetivo do jornal O Povo de Aveiro. Fundou e dirigiu o jornal A Locomotiva (que se auto-intitulava Periódico dos Caminhos de Ferro). Com Gervásio Lobato, fundou o periódico Comédia Portuguesa, tendo ainda integrado a redação do Jornal do Norte, de António Augusto Teixeira de Vasconcelos. Como escritor, Carlos de Faria publicou várias obras de ficção, nomeadamente os livros intitulados 1:000$000 reis, [189-], O Piano (1893), Portugueses Cosmopolitas (?) e Diniz (1898). Em colaboração com Joaquim de Melo Freitas, publicou a obra Homenagem ao distinto explorador de África Serpa Pinto. Para além disso, cooperou em diversas iniciativas de relevo na vida social e cultural aveirense."
(Fonte: http://sites.ecclesia.pt/cv/carlos-de-faria-jornalista-e-escritor/)
Encadernação em tela com ferros gravados a ouro na lombada. Conserva as capas de brochura.
Exemplar em bom estado de conservação. Páginas apresentam acidez.
Raro.
Indisponível

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