30 abril, 2020

ZERO, João - NOVAS CANTORIAS. Para serem cantadas ao desafio entre Manoel e Maria. Por... 10.ª edição do Bazar Feniano. Preço 200 reis. Porto, Antonio da Silva Santos & C.ª, [190-]. In-8.º (17,5 cm) de 15, [1]p. ; B.
Folheto de cordel dedicado à desgarrada, ou "cantigas ao desafio", manifestação popular entre nós arreigada há muito. Sobre o assunto, e a este folheto em particular, não resistimos a, com a devida vénia ao Prof. Carlos Nogueira, reproduzir parte de um artigo da sua autoria com o título Cantiga ao desafio e estetização da fala: natureza, modalidades, funções, cujo link infra disponibilizamos.
"A complexidade e a diversidade das relações entre tradição e criação, voz e escritura encontram-se exemplarmente actualizadas no conjunto poético cantado, recitado, improvisado, a que em Portugal se dá sobretudo a designação de cantiga ou cantar ao desafio, desafio, cantiga ou cantar à desgarrada, desgarrada, despique ou cante a despique. Nesses contextos de competição poética ritualizada de viva voz, antes de mais de natureza lúdica ou evasiva, mas também pragmática e psicanalítica, cada cantador aspira ser declarado vencedor, após conseguir o agrado e os aplausos do público. Espaços e situações de interacção como os largos das aldeias, as feiras, as tabernas, os cafés, as festas e as romarias são os mais apropriados para a manifestação dessas contendas, acesos espectáculos ao vivo, com muito de demanda de afirmação social, capazes de atrair a atenção apaixonada de inúmeros assistentes. [...]
A presença de um folclorista num desafio, apto a proceder à gravação, só ocasionalmente se verifica, a não ser nos encontros combinados, embora, nessas circunstâncias, o desafio não possa ser considerado absolutamente autêntico. Ou melhor, para não entrarmos em purismos: trata-se de um tipo particular de desafio, cada vez mais enquadrado na sociedade tecnológica e ultramediatizada que é a nossa (referimo-nos, por exemplo, aos desafios organizados por académicos, dentro de conferências nacionais ou internacionais). Não é por isso de estranhar que muitos dos desafios com fixação tipográfica procedem inequivocamente apenas de um autor que fingiu o encontro dramático, como por exemplo em Novas cantorias para serem cantadas ao desafio entre Manuel e Maria, de João Zero."

(https://pdfs.semanticscholar.org/7b84/e946adadd449bb3527084a5832552b84fa73.pdf)

ELE
Ora vivam lá senhores,
Nesta grande reunião
Onde a paz e são contento
Enche de satisfação
Nossos peitos alegres
Transbordando o coração.
ELA
Cantador, bemvindo sejas
Á festa que hoje aqui temos;
Pois uma vez que aqui vens
É bom que todos gozemos
Tua voz encantadora
O que agora aqui faremos
ELE
Não te excedas cantadeira
Na tua apreciação;
É bem verdade que eu canto
Com boa satisfação
Quando assim estou agrupado
Em tão alegre mansão.
ELA
Deixa lá esses brinquedos
P'ra quem deles precisar.
Todos aqui já conhecem
O que vales a cantar,
O ensejo é excelente
P'ra te pudermos gosar.

(Excerto das Cantorias)

Exemplar brochado em bom estao geral de conservação. Capas frágeis com defeitos marginais.
Raro.
Sem registo na BNP.
15€

29 abril, 2020

RAPHAEL BORDALLO PINHEIRO. Ultima photographia. Cliché de Arnaldo Fonseca.
Fototipia não datada do grande ilustrador português, produzida a partir de uma fotografia de Arnaldo Fonseca.
Dimensões:
Fototipia: 13x18,5cm;

Folha: 25x32cm.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Apresenta pequena falha de papel no canto superior esquerdo.
Invulgar.
10€

27 abril, 2020

JOHNSON, Douglas W. - CARTA DE UM AMERICANO A UM ALLEMÃO. Por... Professor da Universidade de Columbia. Documentos para a Historia Geral da Guerra de 1914. I. London, Eyre and Spottiswoode, Ltd, 1917. In-8.º (18 cm) de 72 p. ; B.
1.ª edição.
Publicação com interesse para a bibliografia WW1, organizada pelo Comité Internacional "Veritas" de Rio Grande, Brasil.
"O Comité Internacional "Veritas" foi organisado no Rio Grande em julho de 1915. Seus fundadores se inspiraram no objectivo exclusivo de promoverem a publicação em lingua portugueza da maior copia possivel de documentos e de trabalhos relativos á Conflagração Européa, especialmente dos que se referem aos acontecimentos satellites da acção militar propriamente dita. [...]
(Excerto da introdução do Dr. A. Duprat, Presidente da "Veritas")
"Esta carta escripta pelo Snr. Douglas W. Johnson, professor da Universidade de Columbia, em New York, é a resposta a uma carta advogando a causa da Allemanha, que elle recebeu de um professor de uma Universidade allemã. Pelo rigor, emoção e eloquencia, ella constitue um precioso testemunho da opinião que tem sobre a guerra alguns meios esclarecidos da America.
Revue de Paris, 15 de Septembro, 1916."
"Recebi vossas duas cartas, contendo recortes de jornaes, bem como vosso cartão postal. Posso assegurar-vos que não foi por impolidez que demorei em responder. [...] Se tardei em responder, foi por duvidar intimamente que uma carta minha vos pudesse ser util.
Não posso compartilhar da vossa opinião sobre a responsabilidade da Allemanha n'esta guerra, nem sobre os methodos por ella empregados para fazel-a. Não penso que possa ser proveitosa uma exposição de minhas ideias pessoaes sobre este assumpto vital. Vossas cartas deixam transparecer que foram escriptas sob a influencia de uma emoção intensa, emoção que se pode comprehender e respeitar, mas que nos deve impedir de acolher com imparcialidade vistas oppostas ás vossas.
Uma vez que vosso paiz se vê cercado de adversarios poderosos; uma vez que vossos filhos invadiram como um diluvio, terras extrangeiras, no cumprimentos heroico das ordens de vosso governo; uma vez que a patria que adoraes se acha moralmente isolada; por todos os neutros condemnada pelos crimes barbaros que ella tem comettido contra a civilisação; não se pode esperar que vos seja possivel escrever com a exactidão e a prudencia scientifica, que teria sido, em condições ordinarias, o vosso ideal."
(Excerto da Carta)
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Capas oxidadas.
Raro.
Com intresse histórico.
15€

26 abril, 2020

COELHO, Trindade - IN ILLO TEMPORE. Estudantes, lentes e futricas. Desenhos de Antonio Augusto Gonçalves. Paris-Lisboa, Livraria Aillaud & Cia, 1902. In-8.º (18,5 cm) de 422, [4] p. ; mto il. ; E.
1.ª edição.
Edição original de uma das mais apreciadas e emblemáticas obras sobre a vida estudantil coimbrã, belissimamente ilustrada no texto com desenhos de Mestre António Augusto Gonçalves e fotografias coligidas em Coimbra por António Luís Teixeira Machado e Adriano Marques.
"In illo tempore - no tempo em que eu andava em Coimbra, andava lá tambem a estudar Direito um rapaz chamado Passaro. Elle não se chamava Passaro. Passaro, pozemos-lhe nós, porque além de ser alegre como um pintassilgo, e vivo como um ardal, - usava o cabello não sei de que modo, que parecia que lhe punha duas azas atraz das orelhas, e que a cabeça lhe ia a voar!
Elle não se zangava que lhe chamassem Passaro, e até gostava: - e como alcunha que se ponha em Coimbra, péga como se fôsse visgo, - desde o Camões que era lá em Coimbra o Trinca-fortes, até ao fallecido Alves da Fonseca, chamado o Chato José do Cão, por andar sempre com um cão atraz d'elle e ter um nariz muito chato, ou ao outro a quem por ter só metade do bigode passaram a chamar Gode, e ainda a outro o Sete Fallinhas, que por se desfazer em fifias quando fallava, - ninguem lhe chamava d'outra maneira: - «Ó Passaro, isto!» - «Ó Passaro, aquillo!».
A pontos que o rapaz addicionou a alcunha ao appellido..."
(Excerto de A festa das latas)
Indice:
A festa das latas. | Resurrexit non est hic. | O Saraiva das forças. | Lopes ou Bettencourt? | Poetas balneares. | O Orpheon Academico. | Balthazar, o lethargico! | D, Felicidade. | A Niveleida. | O Lusitano e o Anda a Roda. | A campanha do Ze Pereira. | A sebenta. | Na aula do Chaves. | O «Velho». | As fogueiras do S. João. | A Casaqueida. | Um homem não é de pau. | A récita dos quintannistas. | Alho! Alho! Alho! | A Cabra! | O Bólson das contas lisas. | «Á tabúa!». | «Viu bem?». | Os voluntarios... da Economia!... | O grande Damazio. | «Miserere nobis!». | Leão, rei dos animaes. | Sanches, o comilão.
José Francisco Trindade Coelho (1861-1908). "Escritor. Natural de Mogadouro, a sua obra reflete a infância passada em Trás-os-Montes, num ambiente tradicionalista que ele fielmente retrata, embora sem intuitos moralizantes. O seu estilo natural, a simplicidade e candura de alguns dos seus personagens, fazem de Trindade Coelho um dos mestres do conto rústico português. Fiel a um ideário republicano, dedicou-se a uma intensa atividade pedagógica, na senda de João de Deus, tentando elucidar democraticamente o cidadão português. Era um homem inconformado. Nem a fama de magistrado, nem o prestígio de escritor, nem a felicidade conjugal conseguiam fazer de Trindade Coelho um cidadão feliz. À medida em que avançava no tempo mais se desgostava com a vida, pelo que o desespero o levou ao suicídio em 1908. Deixou uma obra variada e profunda, distribuída por quatro vertentes. Jornalismo, carácter jurídico, intervenção cívica e literária. Algumas obras: «Manual Político do Cidadão Português», o «ABC do Povo», o «Livro de Leitura». A série «Folhetos para o Povo», onde se incluem, entre outros: Parábola dos Sete Vimes, Rimas à Nossa Terra, Remédio contra a Usura, Loas à Cidade de Bragança, e Cartilha do Povo, A Minha candidatura por Mogadouro. Como obras literárias deixou: «Os Meus Amores» (1891) e já inúmeras reedições de «In Illo Tempore» (livro de memórias de Coimbra-1902)."
(Fonte: wook)
Encadernação em meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado de conservação. Assinatura possessória na f. rosto.
Invulgar.
Indisponível

25 abril, 2020

GUSMÃO, Lapas de - VISÃO DA GUERRA. Lisboa, Emprêsa Nacional de Publicidade, 1932. In-8.º (19 cm) de 302, [2] p. ; B.
1.ª edição.
Memórias de guerra do autor, combatente em França durante a Grande Guerra Mundial.
"Ninguem pretenda ver nêste livro intuitos que êle não tem, mas simplesmente o que êle é: um pedaço arrancado à vida de campanha, em França, durante a Grande Guerra."
Índice:
I - Em vesperas. II - A entrada. III - O rancho na primeira linha. IV - A primeira ronda. V - Uma noite de clube. VI - O fuzilado. VII - Atribulações de dois alferes de linha. VIII - Uma patrulha como muitas. IX - A «censura». X - Na defesa. XI - De regresso de licença. XII - Em repouso. XIII - Durante o jantar. XIV - De volta à trincheira. XV - O morteiro pesado. XVI - No apoio. XVII - No ataque. XVIII - A batalha. XIX - Depois... XX - No solo da Pátria. XXI - E para quê?
Joaquim Lapas de Gusmão (1886-1962). “Jornalista, escritor, Combatente da Grande Guerra em África e França, condecorado com a Cruz de Guerra. Colaborou nos jornais A Pátria, do Porto, e na Capital, Lucta, O Intransigente, O Século e Diário de Notícias, de Lisboa. Publicou entre outros, os volumes «Visão da Guerra», «A Guerra no Sertão», em que descreve o que viu em França e África, o drama em 3 actos «O Mutilado», a tragédia em um acto «Uma noite» e o ensaio filosófico «Matéria e Vida»."
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capa manchada, com assinatura de posse.

Raro.
Com interesse histórico.

20€

24 abril, 2020

TELLES, Alexandre da Cunha - A DINAMARCA. Por... [Prefácio por Juvenal de Araújo]. Madeira, Tip. Sport do Funchal, 1933. In-8.º (20,5 cm) de 128, [4] p. ; il. ; B.
1.ª edição.
Apontamentos do autor, conhecido advogado e filantropo madeirense, fruto das suas impressões de viagem e entrevistas concedidas aquando do seu périplo pela Dinamarca.
Obra dedicada pelo autor a sua sogra, cidadã dinamarquesa. Ilustrada em pagina inteira com o retrato de Sua Magestade Cristiano X, Rei da Dinamarca.
"O presente livro não tem pretensões, nem de estilo, nem de descrições grandiosas.
São simples apontamentos de impressões de viagens escritas a correr, como a correr foram as visitas feitas em ferias, depois dum ano de trabalho exaustivo. [...]
Não é a grandeza das esquadras, exercito, territorio, população, que marcam no mundo, mas sim o grau de civilização de cada povo.
A Dinamarca não obstante a pequenez do seu territorio bem como da sua população é uma das nações do mundo melhor governadas, sendo uma das mais civilizadas e admiradas.
Portugal Continental em territorio e população é tambem pequeno, mas pela grandiosa obra financeira do seu Eminente Presidente do Ministerio e Sabio Professor Ex.ᵐᵒ Snr. Doutor Oliveira Salazar é considerado como um modelo de superior administração por todas as nações.
Pretendi prestar homenagem ao país que pelo lado do coração me trouxe a ventura, alem disso apresentar um grandioso exemplo do que ali se faz em favor dos desgraçados e dos infelizes."
(Excerto do preâmbulo)
Índice:
[Preâmbulo]. | Prefácio. | O Rei da Dinamarca. | Vários aspectos da vida social da Dinamarca. | A assistencia aos tuberculosos. | O problema da habitação. | O tratamento dos dentes das creanças. | O Brazil e a Dinamarca. | A Inglaterra e a Dinamarca. | Portugal e a Dinamarca. | A luta contra a tuberculose. | Os tuberculosos. | Exportação da manteiga. | A forma como são tratadas as creanças no verão. | A navegação.
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas cansadas, com manchas e pequenos defeitos. Lombada apresenta falha de papel nas extremidades.
Raro.
A BNP tem registo um exemplar na sua base de dados.
45€

22 abril, 2020

HOMEM, Dr. Fred Vasques - COMO CURAR ANGÚSTIA E COMPLEXOS. Lisboa, Edição da Livraria Progresso Editora, 1960. In-8.º (20 cm) de 128 p. ; B.
1.ª edição.
Curioso ensaio sobre psicanálise, publicado quando a disciplina dava os primeiros passos em Portugal.
"Há poucos homens que não tenham complexos e vivam sem medo de qualquer pessoa, objecto ou acontecimento. Grande parte dos indivíduos vivem angustiados.
A angústia é um sintoma que faz parte de um quadro de complexos pertencentes a uma enfermidade intitulada psico-somática. Psico, quer dizer alma ou espírito; soma, quer dizer corpo.
A doença psico-somática sob certo aspecto é denominada neurose, distinguindo-se, como veremos, a neurose psíquica da neurose orgânica. Ambas as formas podem confluir.
Se quase ninguém existe sem quaisquer complexos nem medo e se muitos se queixam de angústia, pode parecer que toda a gente sofre de doença psico-somática e até de neurose. Efectivamente, assim acontece, pois frequentes vezes é mera questão de critério afirmar se fulano ainda é normal ou se já é neurótico. Todos os fenómenos psíquicos encontrados nos neuróticos se encontram em menor grau nos de estructura saudável, de forma que não há diferença essencial."
(Introdução)
Índice:
[Introdução]. | Neurose e psicose. | Neurose e neurastenia. | O subconsciente e o seu papel na neurose. | Definição e exemplos. | Neurose orgânica. | A fuga na doença. | Neurose psíquica. | Actos forçados. | Medo e angústia. | Fixação e identificação. | Discontinuidade. | Ambivalência. | A libido. | O erotismo infantil. | Do narcisismo ao complexo de Édipo. | Impotência, frigidez e aberrações sexuais. | A perversão. | O protesto e a repressão. | A projecção. | A sublimação. | A conversão. | O complexo da culpa. | A avareza. | A debilidade. | Terapêutica: Psicanálise. | A duração do tratamento. | Drogas, electrochoques e outras intervenções drásticas. | O psicoterapeuta e o seu doente. | O prognóstico e o método. | A resistência do neurótico ao tratamento. | A técnica da psicanálise e a sua finalidade. | A associação livre. | A psico-síntese. | A agressividade e a transferência. | A educação. | Consorte e família. | O papel da mãe no destino. | Psico-higiene social e colectividade. | Tratamentos em grupo. | A interpretação dos sonhos. | Terapêuticas auxiliares: Relax e ergoterapia; Fisio-E e naturoterapia. | A cura pela caridade e religiosidade. | A sugestão (logoterapia). | A cura pelo espírito. | O poder da imaginação. | A meditação pelo ioga. | Final.
Alfredo (Fred) Vasques Homem (1907-1998). "Nascido Alfred (Fred) Wachsmann, foi um médico e escritor português de origem alemã, apologista das curas naturais.
Exemplar brochado em bom estado de conservação.

Invulgar.
15€

21 abril, 2020

MACEDO, José Agostinho de - REFLEXÕES CRITICAS SOBRE O EPISODIO DE ADAMASTOR NAS LUSIADAS, Canto V. Oit. 39. EM FÓRMA DE CARTA. AUTHOR... LISBOA: NA IMPRESSÃO REGIA. ANNO DE MDCCCXI. Com licença. In-8.º (16 cm) de 34, [2] p. ; B.
1.ª edição.
Curioso opúsculo do tratante padre panfletário, apoucando uma parcela dos Lusíadas, de Camões.
"Mandava aos seus Discipulos Quintiliano, que, quando ajuizassem de alguma parvoice, que escapasse aos mais abalisados Escriptores da antiguidade, o fizessem sempre com muita modestia, e circunspecção, lembrando-se sempre, que erão grandes Varões. Eu estaria por este Canon do Rethorico, se elle me provasse que os Varões antigos tinhão authoridade para descreverem impunemente os disparates que quizessem; e os Senhores Modernos querem que se observe esta regra, mostrem-me a razão, por hum Gigante ha de ter a liberdade de fazer huma parvoice, e não ha de ter liberdade hum Pigmeo de lhe dizer = Isto, Senhor Gigante, he huma parvoice. =
Vale."
(Introdução, A quem quizer ler)
Exemplar brochado em bom estado de conservação.
Invulgar.
20€

20 abril, 2020

CAJÃO, Luís - A ESTUFA : romance. Lisboa, Sociedade de Expansão Cultural, 1964. In-8.º (19 cm) de 299, [5] p. ; B.
1.ª edição.
Romance neo-realista cuja acção decorre na ilha do Príncipe, no arquipélago de S. Tomé. Inclui no final do livro um glossário dos termos indígenas. Obra "maldita" pelo Estado Novo, foi proibida de circular em S. Tomé e Príncipe, sendo que tal não terá sido possível no continente dada a rapidez com que esgotou.
"Para ele Filipe, a família iniciava-se com o avô Bernardo. Esse avô de barba um tanto híspida, olhinhos míopes e irónicos, mento perfeito, no qual pressentia o homem capaz de, sózinho, enfrentar legiões, mitos e procelas.
Infortunadamente já mal o recordava: de uma queda em que galgando até ao fundo a escada o velho se quedara leso, murchamente a pender para um lado (se o esquerdo, se o direito, não lhe seria fácil precisá-lo); e das já raras vezes em que num Minerva ia a Sintra colher (soubera-o mais tarde) as ternuras parisienses de «mademoiselle» Juliette.
Sim, com que dramática rapidez se desvanecia o avô desse período! Pouco mais, afinal, que um fantasma!
No empenho de reconstituir o velho, dera-se Filipe, inequívoco, a um longo escavar sentimental, sujeito, já se vê, a muito de poético e de subtil desdobramento. Seria até inevitável. Sobretudo na medida em que ambicionava poder um dia repeti-lo.
Verberando os tempos de hoje - «tempos de loucura e de impiedade!» -, asseverava a tia Olímpia que homens como ele, bravos, inflexíveis, quase heróicos, muito poucos ou já nenhum haveria."
(Excerto do Cap. I)
José Luís Cajão (1920-2008). Natural da Figueira da Foz. Escritor português cuja obra se insere na corrente do neo-realismo. "Contista, romancista, ensaísta e musicólogo. Diplomado pela Escola de Regentes Agrícolas de Coimbra foi, durante cerca de dois anos, administrador de uma roça na Ilha do Príncipe, São Tomé (1958), altura em que escreveu o romance A Estufa e Panorâmica de São Tomé e Príncipe. A propósito de A Estufa, Luís Cajão seria por Agostinho Veloso, na Brotéria, situado «entre os melhores mestres da novelística contemporânea», ao passo que As Escarpas do Medo ganharia especial popularidade ao ser adaptado por Jorge Brum do Canto a episódios televisivos. João Gaspar Simões (cf. Crítica IV) escreve a respeito de Luís Cajão: «Devem-se-lhe algumas páginas de ficção muito dignas de figurar entre as melhores que se escreveram no nosso tempo.»"
(in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. V, Lisboa, 1998)
Exemplar brochado em bom estado deconservação.
Invulgar.
15€

19 abril, 2020

PINA, Luiz da Câmara - A T. S. F. E AS TRANSMISSÕES : um problema da guerra moderna. [Por]... Tenente de Engenharia. Memória de Concurso para o Serviço de Estado-Maior. [Prefácio do Tenente Coronel de Engenharia Carlos de Barros Soares Branco]. Lisboa, Livraria Clássica Editora, 1938. In-4.º (23 cm) de 194, [2] p. ; [12] p. il. ; il. ; B.
1.ª edição.
Importante monografia com interesse para a história das Transmissões em Portugal. Inclui breve resenha sobre a utilização das comunicações durante a Grande Guerra.
Livro ilustrado no texto com quadros, esquemas e diagramas, e em separado, com 13 fotogravuras a p.b.
Sobre esta obra em particular, com a devida vénia ao MGen Pedroso Lima, reproduzimos excerto do artigo O livro “A TSF e as Transmissões”, in https://historiadastransmissoes.wordpress.com/2013/10/29/o-livro-a-tsf-e-as-transmissoes/
"A obra “A TSF e as Transmissões”, publicada em 1938, da autoria do então tenente de Engenharia Luís de Câmara Pina (1904-1980), é um livro de referência na História das Transmissões Militares.
Trata-se de uma obra diferente de todas as publicadas sobre transmissões do Exército e que apresenta características próprias, algumas das quais passaremos a destacar.
Embora se trate de um livro baseado na Memória do Concurso para o Serviço de Estado-Maior, o livro ultrapassa claramente o âmbito exclusivamente militar. Sendo a parte essencial do livro, dedicada à técnica e organização das transmissões a considerar para o conveniente aproveitamento da TSF, não deixando de incluir uma referência às grandes invenções de Leonardo da Vinci, que compara com a invenção da TSF, bem como enuncia as suas grandes potencialidades futuras e os perigos que comporta.

O autor escreve muito bem, revela cultura histórica, demonstra estar bem preparado tecnicamente, é imaginativo e a sua escrita é muito agradável de ler.
Outra particularidade do livro é que o autor do Prefácio do livro é o então tenente coronel Soares Branco, e que também, como o general Pina, foi uma figura de projeção nacional e um grande vulto das transmissões dado o brilho da sua atuação na Grande Guerra como chefe do Serviço Telegráfico do C.E.P."

"A guerra é um problema de harmonia, e, como tal, exige a coordenação de todos os esforços para um fim determinado - a imposição de uma vontade.
As armas são diferentes, as técnicas são múltiplas, mas o objectivo é um só:por isso a variedade técnica serve a unidade táctica, única maneira de se conseguir a conjugação de todos os elementos que intervêm na batalha.
Sem esta ligação seria impossível unificar a acção e, diz Ludendorff, é de uma acção conjunta que tudo depende.
Imediatamente se vê que a Ligação, necessidade que se advinha e quási inconscientemente se pressente, é, sobretudo, uma resultante, uma conseqüência; não é um princípio que se possa estabelecer à priori, é antes um fim que por variadíssimos meios se procura alcançar. [...]
 Êste entendimento prepara-se deste o tempo de paz pela comunhão num mesmo ideal e pela unidade de doutrina; assegura-se em tempo de guerra pelo contacto.
Os meios pelos quais se estabelece êste contacto através da distância e dos obstáculos chamam-se meios de transmissão."
(Excerto do Cap. I, A Ligação e as Transmissões)
Índice: Prefácio. | Introdução. | Teses. | I - A Ligação e as Transmissões. Princípios gerais; Evolução; O Problema das Transmissões; A T. S. F. meio de transmissão. II - Generalidades sobre a Organização das Transmissões. Em tempo de paz; Em campanha; III - O emprêgo da T. S. F. em campanha. Princípios gerais; Rêdes de T. S. F.; A Escuta e a Radiogoniometria; A Protecção e o Segrêdo; Aparelhos de T. S. F. IV - Perspectivas. Nota final; Bibliografia.
Exemplar brochado em bom estado de conservação.
Invulgar.
20€

18 abril, 2020

REPÚBLICA. Revista de História das Ideias 27. Número publicado com o apoio de: Fundação para a Ciência e Tecnologia; Programa Operacional Ciência, Tecnologia, Inovação do Quadro Comunitário de Apoio III; Fundação Eng. António de Almeida; Faculdade de Letras. Coimbra, Instituto de História e Teoria das Ideias : Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 2006. In-4.º (23 cm) de 581, [7] p. ; il. ; B.
1.ª edição.
Número anual desta prestigiada revista da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra dedicado à República, que congrega o testemunho de conhecidos historiadores - nacionais e estrangeiros.
Ilustrado ao longo do texto e em página inteira com reprodução de retratos, desenhos, quadros e documentos fac-símile.
"A 28 de Maio de 1926 as forças políticas e militares que tomaram nas suas mãos o Poder, em Portugal, tacitamente consertaram entre si o véu do silêncio com que cobririam o passado recente. Tudo começou por calar brutalmente a voz dos defensores da República implantada nos moldes da Constituição de 1911. [...]
Não está tudo explorado, quanto ao que respeita à 1.ª República, nos meios académicos. Um dos pontos mais controversos - a participação na Grande Guerra - tem sido motivo da nossa atenção vai já para mais de vinte e cinco anos. Ainda estamos longe de ter desvendado e compreendido o muito que sobre esse curto período se pode estudar.
No nosso entender, a beligerância nacional, foi mais, e representou mais, do que simples participação nos campos de batalha de França com um contingente militar superior a cinquenta e cinco mil homens. Já nos debruçámos sobre os aspectos que nos pareceram imediatamente evidentes, mas pouco esclarecidos; hoje trazemos à colação monologante de um ensaio escrito uma perspectiva por nós julgada nova: a beligerância como parte de uma estratégia cujo fim último era a alteração da mentalidade dominante em Portugal, em 1914.
Para alcançar o nosso objectivo temos de começar por estabelecer o quadro definidor do Portugal monárquico no advento da República, enquadrando-o no Velho Continente da época. Fazemo-lo passeando apressadamente pelo tempo e pelo espaço de uma Europa em grande e acelerada mudança e detemo-nos, depois, numa análise orientada para os pontos fracos de um regime em decadência. [...]
Por fim, analisamos, segundo três perspectivas, como a beligerância portuguesa podia ter sido - e, em certa medida, foi - o motor para impulsionar os portugueses rumo à modernidade europeia tal qual era percepcionada pelos políticos progressistas. Rematamos o nosso ensaio - poderíamos chamar-lhe hipótese - com o ruir de um sonho, de um desejo, de uma vontade, estudando um pouco em pormenor a ascensão e queda de Sidónio Pais..."
(Excerto de Portugal na Grande Guerra - Uma Mudança Estratégica?, de Luís Alves de Fraga)
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Com rubrica de posse na f. rosto.
Invulgar.
25€

17 abril, 2020

CAÇA. Regime Jurídico (Lei n.º 2132, de 26 de Maio de 1967) : Regulamento (Decreto n.º 47 847, de 14 de Agosto de 1967) - REPÚBLICA PORTUGUESA. Lisboa, Imprensa Nacional, 1967. In-8.º (21 cm) de 127, [1] p. ; B.
1.ª edição.
Regime e Regulamento da Caça publicado em1967. Junta-se em folha à parte Rectificação ao Decreto n.º 47 847, de 14 de Outubro de 1967, pelo Presidente do Conselho, António de Oliveira Salazar.
"A caça é a ocupação ou apreensão dos animais bravios que se encontram em estado de liberdade natural e que não vivem habitualmente sob as águas.
Considera-se exercício da caça toda a actividade que tenha por fim aquela ocupação ou apreensão, designadamente os actos de esperar, procurar, perseguir, apanhar ou matar aqueles animais.
O exercício da caça deve ser tutelado nos seus aspectos sociais e económicos, nomeadamente em relação aos interesses desportivo e turístico e à valorização das terras.
A todas as pessoas é facultado o direito de caçar, desde que se conformem com as normas convencionais, legais e regulamentares quanto aos requisitos pessoais, modo e tempo em que se pode exercer esse direito e quanto aos processos utilizáveis e às espécies que podem ser apreendidas.
Os caçadores podem ser ajudados por auxiliares, com a função de procurar, perseguir e levantar caça (batedores) ou de transportar mantimentos e munições ou a caça abatida, e, bem assim, fazer-se acompanhar de cães, furões e aves de presa."
(Lei n.º 2132, Base I, II e III das Disposições Legais da Secção I, do Cap. I - Título I)
Exemplar brochado em bom estado de conservação.
Invulgar.
Com interesse histórico e bibliográfico.
15€

16 abril, 2020

TORREZÃO, Guiomar - FLAVIA. Illustrações de Columbano Bordallo Pinheiro, Condeixa, Felix da Costa, João Galhardo, Malhôa, Queiroz, Salgado. Lisboa, Livraria Ferin, M DCC XCVII [1897]. In-8.º (18,5 cm) de 324, [4] p. ; [1] f. il. ; il. ; B.
1.ª edição.
Livro de contos, superiormente ilustrado por alguns dos mais reputados mestres-pintores da época. Trata-se de um conjunto de pequenas novelas com interesse para o conhecimento das vivências e costumes da época. Destaca-se a narrativa Drama de uma alma, que a autora reputa de verídica, fundada num diário que lhe terá sido entregue por Estella, a "protagonista", e Joanna de Goerschen, um conto histórico cuja acção ocorre durante as campanhas napoleónicas, com a participação do próprio imperador dos franceses.
"Desde que o romance deixou de ser o producto de uma fantasia e passou a stereotypar nas paginas  de um livro o documento humano, colhido na flagrante observação do caso vivido, é evidente que o romancista preoccupa-se, acima de todas as cousas, em incutir aos que o lêem a confiança na veracidade da sua narrativa... [...]
O romance experimental de Zola, o vigoroso escalpelisador da alma moderna... [...] O romance de Eça de Queiroz, o grande psychologo portuguez, nada mais intenta do que stenographar a vida real, fixando-a nas suas actualidades, com physionomias conhecidas, casos e ocorrencias, que nos dêem a sensação de estarmos aspirando a tristesa ambiente, inherente á nossa imperfeita existencia humana. [...]
Todas estas considerações e outras, que facilmente se deduzem, fizeram com que eu hesitasse durante alguns annos, antes de entregar á publicidade Drama de uma alma, isto é a historia real e humana de um martyrio obscuro, occulto ha muito sob a pedra de um tumulo remoto."
(Drama de uma alma, excerto do proémio)
"O conde Roberto descendia da casa dos morgados de Vinhal, primeira nobreza de Traz-os-Montes. Viuvo, novo, e rico, todos os seus cuidados e affectos absorveram-se em uma filha, unica flôr de neve desabrochada nas cinzas da sua felicidade.
Estella herdara de sua mãe a belleza loira, o perfil hellenico, a alvura lirial e a suavidade do sorriso, attenuando a altivez innata e o grande ar imperativo, caracteristicos de uma raça patricia. E do pae herdára tambem a esthesia caprichosamente artistica, refractaria ao jugo das convenções, a estatura esbelta e ondulante, o tic de excentricidade, a generosidade inexgottavel e a sede de imprevisto, traduzindo-se no amor das viagens.
Concluida a sua educação, de uma complexidade rara em uma senhora portugueza, profundamente intelligente e superiormente instruida, formosa como a visão etherea de um poeta, espirituosa como uma parisiense, distincta no seu vulto esguio de estatueta como uma princeza de sangue real, Estella fez sensação, a primeira vez, que, pelo braço do pae, entrou nas salas de Lisboa."
(Drama de uma alma, excerto do Cap. I)
Indice:
I - Á tua memoria [Dedicatória]. II - Flavia. III - Amor sonhado. IV - Diario de uma complicada. V - Drama de uma alma. VI - Visão do amor no seculo xx. VII - Joanna de Goerschen.
Exemplar brochado, parcialmente por abrir, em bom estado geral de conservação. Vestígios ténues de humidade nas primeiras páginas do livro.
Raro.
Indisponível

15 abril, 2020

COSTA, L. T. de Freitas e - O DRAMA DOS AÇORES : versos. Lisboa, Lallemant Frères, Typ. : Fornecedores da Casa de Bragança, 1882. In-8.º (19cm) de 8 p. ; B.
1.ª edição.
Obra constituída por três poemas:
Prelúdios
A Apotheose da Onda
A Catástrophe

"Do claro azul dos céus na tela esmaecida
Brilhava docemente o olhar tranquilo e bom
De Deus velando o somno á terra adormecida...


De súbito... ao fragor vulcânico das lavas,
Um maelstrom de fogo, um rude maelstrom
De escórias ullulando irrompe em notas bravas;

E quando a terra o monstro ignífero mordeu
Da base da ilha intêira aos píncaros tremeu.
"

(Excerto de A Catástrophe)

Exemplar brochado em razoável estado de conservação. Manchado de humidade. Capas frágeis com falhas e defeitos.
Raro.
A BNP tem registado apenas um exemplar na sua base de dados.
15€

14 abril, 2020

QUENTAL, Antero de - CARTAS INÉDITAS DE ANTERO DE QUENTAL A WILHELM STORCK. Publicadas por Harri Meier (com 2 facsimiles). Coimbra, Publicações do Instituto Alemão da Universidade de Coimbra, 1935. In-4.º (25cm) de 23 p. ; il. ; B.
1.ª edição.
Guilherme Storck (1829-1905). Foi um historiador e crítico literário alemão, professor da Academia de Münster. Nos anos 80 do século XIX esforçou-se por tornar conhecida a poesia épica e lírica portuguesa de várias épocas no seu país, sendo responsável pela tradução, entre outras, das Obras Completas de Luís de Camões e os Sonetos de Antero de Quental.
Exemplar brochado, parcialmente por abrir, em bom estado de conservação. Capa apresenta pequena falha de papel à cabeça.
Invulgar.
Com interesse anteriano.
10€

12 abril, 2020

BABO, Maria Augusta - EM SEGREDO: A CONFISSÃO COMO RELAÇÃO INTERDISCURSIVA. Lição de Agregação. Braga, 12 de Abril de 2011. [S.l.], Universidade do Minho (Ciências da Comunicação - Teoria da Cultura), 2011. In-fólio (30 cm) de [29] f. inum. ; B.
1.ª edição.
Tese académica sobre a "confissão".
Livro valorizado pela dedicatória autógrafa da autora.
Sinopse: "Abrir a temática do segredo e da confissão é abrir o campo da palavra dita, da oralidade e da voz. Passar do segredo à confidência, olhar a confidência como segredo, é entender como o sujeito se articula com a sua interioridade. A confissão, propiciadora do segredo, vem mostrar como a prática religiosa deu consistência a um “dentro” subjectivo e culpabilizante. A assunção da culpa é individuante. Por outro lado, a confissão revela-se, na escrita auto-bio-gráfica, uma escrita de si. De Agostinho a Derrida, passando por Rousseau, opera-se uma transposição, para o domínio da escrita, de procedimentos presenciais e dialógicos."
(Fonte: https://revistacomsoc.pt/article/view/1578)
"A confissão, na sua acepção mais abrangente que engloba a religiosa, a judicial, a política ou a clínica é um procedimento de subjectivação, dado que, através do seu funcionamento, é constitutivo de uma configuração do ego - o lugar e a representação do sujeito. Sabemos que um dispositivo é ao mesmo tempo, uma prática e um discurso. A prática da confissão ritualiza-se nos vários campos acima enunciados. Primeiramente no que diz respeito à confissão religiosa, o ritual permite enquadrar um acto difícil e, por vezes, vexatório que é o acto discursivo de confessar algo, de se confessar. A discursivização é estruturante nesta prática e permite a constituição de uma instância de dela decorre: o sujeito pecador. O facto de a confissão se ter tornado um acto de fala marca o que Foucault denomina por "explosão discursiva" (Foucault, 1976: 26). Na verdade, toda a arte de constituição do sujeito ocidental, tal como ele se nos apresenta no romper da modernidade, é resultado de procedimentos complexos que articulam, numa economia a desenhar, processos de regulação discursiva, obrigando ou impedindo de dizer. Trata-se da apropriação do sujeito pela linguagem, da sua constituição linguística e da discursivização da experiência. Daí a aporia formulada por Lyotard: "confessar sendo manifestar em linguagem, à linguagem o que a esta lhe escapa... o silêncio."
Em que consiste mais exactamente esta discursivização? Consiste em revelar algo que é da ordem do segredo - objecto censurado - mas, também, do interdito - porque transgressor - e, portanto, da ordem de uma interioridade que o regime da confissão ajuda a implantar, como uma espécie de fenómeno perverso que se baseia no seguinte: quanto mais perscruto o meu interior para o tornar transparente (exterior) mais esse interior se opacifica e, portanto, se torna interior, criando zonas de sombra que são zonas de não-dito.
A confissão religiosa assenta numa topologia do sujeito que se enuncia através da oposição dentro/fora. Ora, confessar, significando arrancar - retirar com esforço - algo, o outro, do interior para o exterior, coloca, desde logo, essa topologia donde normalmente se elide o segundo termo, o fora. Confessar diz assim, antes de mais, o trazer ao exterior algo que estava alojado no interior, invisível, indizível porque não-dito. A discursividade é o regime por excelência desse transporte de dentro para forma e que, pelo facto de se tornar imposto, institui, nesse mesmo movimento, um dentro como secreto. O segredo surge marcado pelo interior como condição do exterior.
Poder-se-ia definir o segredo como Deleuze define o duplo, não como "projecção do interior" mas, antes, "como dobra do fora". Ora, esta perspectiva de análise inverte o entendimento que a filosofia do sujeito tradicional desenvolveu: a de uma interioridade invisível, que se desvela ou revela para fora. Pensar o segredo como dobra é considerar que todo o interior é feito do Outro, de constelações de outros que se duplicam no dentro. Esse outro, intruso, pode ser o mal ou o demónio, diabole, o que divide, o separado, neste caso maldito, que se constitui na prega do silêncio interior mas vem de fora, vem do mundo: o pecado, entendido como invasão do Outro. Por seu turno, a alma, o interior, constitui esse último reduto que a modernidade hipostasiou no sujeito e enquistou como substancialidade individual e individuante."
Excerto de Do segredo na confissão)
Matérias:
Do segredo na confissão. | Confissão como relação dialógica. | Confissão como relação triádica. | Discursivização da sexualidade. | A confissão como instauração de culpa. | Conclusão.
Exemplar policopiado, brochado, em bom estado de conservação.
Raro.
Sem registo na BNP.
30€

11 abril, 2020

BRAGA, Theophilo - ESCHOLA DE GIL VICENTE E DESENVOLVIMENTO DO THEATRO NACIONAL. Por... Porto, Livraria Chardron, Casa editora : Sucessores  Lello & Irmão, 1898. In-8.º (18,5 cm) de 586, [2] p. ; E.
1.ª edição.
Importante subsídio para a história do Teatro em Portugal. Edição original publicada na apreciada colecção do autor "História da Literatura Portuguesa".
"Os elementos tradicionaes e populares do theatro portuguez a que Gil Vicente deu fórma litteraria, foram a primeira condição para a estabilidade da sua obra; porém, como um genio synthetico, comprehendendo a transição da Edade média para a renascença, amando e servindo o futuro sem renegar o passado, essa obra tornou-se a expressão das necessidades moraes da sociedade portugueza, encantou os espiritos pela sua belleza artistica, exerceu uma influencia profunda no successivo desenvolvimento da Litteratura dramatica. Pelo seu aspecto e espontaneidade popular, ou propriamente pelo caracter medieval, a obra de Gil Vicente tinha de ser mal considerada entre os propugnadores da cultura classica; pela livre critica dos protestos da consciencia, a reacção catholica tinha de combatel-a e de procurar extinguir o seu influxo."
(Excerto de II, Eschola de Gil Vicente)
Encadernação do editor inteira de percalina com ferros gravados a seco e a ouro nas pastas e na lombada.
Exemplar em bom estado de conservação.
Invulgar.
Com interesse histórico.
Indisponível

10 abril, 2020

SINAIS DE EXPOSTOS. Exposição Histórico-Documental - SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE LISBOA. [Programa e coordenação: Professora Doutora Maria João Madeira Rodrigues. Introdução: Dra. Maria José Nogueira Pinto]. Lisboa, Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, 1987. In-4.º (24,5 cm) de 171, [3] p. ; mto il. ; B.
1.ª edição.
Recolha das marcas que acompanhavam os recém-nascidos entregues à roda dos expostos (ou roda dos enjeitados), mecanismo utilizado para abandonar (expor ou enjeitar na linguagem da época) crianças que ficavam à guarda de instituições de caridade.
Livro ilustrado com reproduções dos "sinais" dos expostos.
Tiragem: 1750 exemplares.
"Os documentos e objectos designados tradicionalmente por Sinais de Expostos referem uma prática de Assistência que, cometida à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa desde a Carta Régia de 1543, se adensou num processo complexo entre o anonimato do indivíduo que a outrém entrega uma criança e a pessoa colectiva Misericórdia de Lisboa. O modo de identificar o Exposto visando uma futura recuperação ou a manifestação de um liame originário é impreciso e inicia-se com a aposição à criança abandonada de documentos ou objectos que marquem a sua origem. É, pois, de marcas que se trata e não exactamente de sinais em que as cargas sígnicas encerrem mensagens voluntaristas cuja relevância adquira foros de uma sistemática. Trata-se de mensagens assistemáticas e monossémicas que dizem: esta criança tem uma origem, tem alguém que dela não se pode ocupar, mas a identifica como Ser. [...] A identificação é feita não só por documentos contendo dados genéricos e referências globais, mas sobretudo por objectos que adquirem um carácter quase mágico."
(Excerto da "reflexão")
Exemplar brochado em bom estado de conservação.
Invulgar.
Com interesse histórico.
Indisponível

09 abril, 2020

O 9 DE ABRIL : luz do passado. [2.ª edição]. Pôrto, Tipografia Gonçalves, [1937]. In-8.º (19 cm) de [1], 26, [3] p. ; B.
Raríssimo conjunto de crónicas e episódios dedicados ao 9 de Abril, assinados por Manuel Ribas, Freitas Soares, Rocha Martins e pelo General Ferreira Martins. Inclui ainda um balanço do esforço de guerra feito pela Agência do Porto da Liga dos Combatentes da Grande Guerra.
"O soldado desconhecido é o herói obscuro de tôdas as horas. Vem das serranias e das planícies. Apontam-lhe uma bandeira e logo lhe jura fidelidade. Marcha para a luta, combate e morre a cantar. É humilde e sabe olhar bem o sol, vendo nêle a luz suprêma que o guia na Eternidade.
Em ti, combatente obscuro, homem ignorado, vejo e sinto todo o potencial de energia, de coragem e de abnegação das grande multidões, sustentáculos das Pátrias e das Civilizações."
(Nove de Abril, Manuel Ribas)
"Dizem os relatorios da Grande Guerra, contam-no livros, narram as testemunhas alguns feitos que calam, ardentemente, num coração de português admirador, até às lágrimas, dos verdadeiros militares e, por isto, desprezando os que deixam de falecer, sob a farda, o brio, a coragem e a lealdade.
O major José Xavier Barbosa da Costa, comandante do 29 de infantaria, de Braga, pertence à categoria das figuras que não se podem esquecer, ao relembrarem-se heróis.
Ante o ataque brutal, violentissimo, do inimigo sôbre os postos de Dean End, êste oficial, com os seus homens, dispôs-se a receber o embate a que era quási impossivel resistir. Poucos são os combatentes, escasseiam as munições, não há trincheiras na linha aberta, possui-se apenas uma metralhadora para responder aos canhões e ao avanço dos infantes germânicos, ante os quais só há dois caminhos: recuar ou morrer!
Preferiu as probabilidades terriveis da ultima hipótese. Então, como um espartano, ou antes, como um português da época dos viso-reis, o major enviou para o quartel general a brigada a que pertencia o comunicado simbólico em cujas poucas letras palpita um poema:
«Já fiz todo o meu papel de major.  Agora é o do homem e simples oficial que procura reunir fugitivos»."
(Excerto de, Um Português à Antiga na Guerra Moderna, Rocha Martins)
Textos:
Nove de Abril, Manuel Ribas. | Ao Povo Português : 1918-1937, A Agência do Pôrto da Liga dos Combatentes da Grande Guerra. | O Esfôrço da Raça (9 de Abril na Flandres), Freitas Soares. | Vultos e Sombras - Um Português à Antiga na Guerra Moderna, Rocha Martins. | A propósito do 9 de Abril : justiça aos portuguêses!, General Ferreira Martins.
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Capa apresenta alguns (poucos) escritos.
Muito raro.
Sem registo na BNP, ou em qualquer outra fonte bibliográfica.
Peça de colecção.
Indisponível
MORENO, Mateus - DE PORTUGAL Á FLANDRES. (Cinco cartas da guerra a cinco companheiros de lutas). Lisboa, Edição da Alma Nova, 1918. In-8.º (19 cm) de 32 p. ; [3] f. il. ; B.
1.ª edição.
Conjunto de crónicas de em forma de cartas com interesse para a bibliografia da Grande Guerra. Livro ilustrado com 3 estampas separadas do texto: dois desenhos, um dos quais do autor, e uma fotogravura de um Cristo das Trincheiras.
Sobre a presente obra, com a devida vénia a Helena Roldão, da Hemeroteca de Lisboa, transcrevemos um artigo da sua autoria, cujo link infra indicamos:
"O patriota Mateus Moreno (1892-1970), fundador e diretor literário da revista [Alma Nova], decide frequentar a Escola de Oficiais Milicianos e é mobilizado em 1917, para o Corpo Expedicionário Português (CEP) ao lado dos britânicos, na Flandres francesa. Como “Alferes miliciano de Artilharia de Campanha”, o autor escreve De Portugal á Flandres (cinco cartas da guerra a cinco companheiros de lutas). Estas cartas, escritas entre 20 de abril e 25 de agosto de 1917, são publicadas na revista de dezembro de 1917, e endereçadas aos “colegas, amigos e leitores da Alma Nova” (n.º 21-24, pp. 73-79). Em forma de crónicas de guerra, as cartas descrevem a partida, a viagem, a chegada à França e a frente de batalha, tendo o autor como testemunha. Mantendo o título, Mateus Moreno lança um livro “com ilustrações", segundo o anúncio publicado nos dois últimos números da II série da revista. A última carta, intitulada “V: Ruinas…” retrata a realidade dos combatentes portugueses: “a poucas centenas de metros, ali mesmo, nas primeiras linhas da infantaria, atrôam os morteiros desaforadamente. A paisagem, a luz e o próprio ambiente vestem um ar de desespero. - O desespero da fadiga […]. Depois de cada habitual sessão de bombardeamento iam-se espreitar os estragos… - que horror! - Eram sepulturas enormes onde poderia acoitar-se uma família inteira, -  uma família com todas as habituais alimárias…"
(Fonte: http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/EFEMERIDES/IGuerraMundial/IGuerraMundial_jornaiserevistas_3AlmaNova.htm)
"Sim, falar-vos daquela Flandres que ha um ano quase Portugal vem regando com o mais precioso sangue da sua Mocidade, da inimitavel Flandres dos abundantissimos canais e destorredas igrejas, da Flandres de Neuve Chapelle e das ruinas imorredoiras..."
(Intróito)
Cartas:
I - [A partida; A viagem para França]. II - A paisagem, a lingua, a hospitalidade e a mulher francêsa. III - Seis dias em «deligencia». IV - A minha bateria no combate de 7 para 8 de Julho. V - Ruinas...
Exemplar brochado, por abrir, em bom estado de conservação. Capas frágeis com pequenos defeitos. Capa apresenta pequeno rasgão lateral. Com três carimbos de posse no interior.
Muito raro.
Peça de colecção.
Indisponível

08 abril, 2020

BOLLER, Dr. William Georges - VIGOR VIRIL OU CONSERVAÇÃO PERPÉTUA DAS FORÇAS VIRIS. Guia médica de algibeira. Habilitando a tratar e curar pelos meios naturais (sem medicamentos) as Doenças dos orgãos sexuais, principalmente masculinos, a indigestão, a dispepsia, a prisão de ventre e as hemorróidas. 4.ª edição, revista, correcta e aumentada pelo Dr. Ardisson Ferreira. Lisboa, Livraria Popular de Francisco Franco (Casa fundada em 1890), [191-]. In-8.º (20 cm) de 116 p. ; il. ; B.
Curioso manual para tratar as maleitas do foro venéreo por via natural, sem recurso a medicamentos. Ilustrado ao longo do texto com fotogravuras.
"Êste pequeno manual é destinado a servir de guia aos milhares de homens cujo corpo e espírito são atormentados pela fraqueza ou pela doença, conseqùências dos excessos e da ignorancia das questões sexuais.
As noções gerais contidas nêste livro e as instruções práticas que êle dá para a conservação e restabelecimento da saúde e para recuperar as forças viris teem mais utilidade para o leitor do que os medicamentos mais enérgicos.
Tem-se escrito muito sôbre este assunto, mas poucos autores teem dado instruções práticas suficientes para o doente se tratar por si próprio.
O fim dêste livro é justamente dar essas instruções bem completas, simples e concisas, para que o leitor possa sem dificuldade aplicar ao seu caso o tratamento que lhe é devido."
(Excerto do Prefácio)
Augusto Ardisson Ferreira (Lisboa, 1873 - 1932). "Foi um médico e cirurgião que se dedicou à escrita. Foi um divulgador da cultura física, tendo traduzido as obras de J. P. Müller para português. Mais tarde, causou polémica ao criticar Müller, que considerou um plagiador. Escreveu diversos obras de grande sucesso e colaborou em revistas como O Vegetariano e Vida e Saúde, e participou em vários congressos em Portugal e no estrangeiro. Encontra-se colaboração da sua autoria na revista Tiro e Sport (1904-1913)."
(Fonte: wikipédia)
Exemplar brochado em razoável estado de conservação. Cansado e manchado de humidade na último terço do livro. Com falta da capa frontal.
Invulgar.
Indisponível