12 abril, 2020

BABO, Maria Augusta - EM SEGREDO: A CONFISSÃO COMO RELAÇÃO INTERDISCURSIVA. Lição de Agregação. Braga, 12 de Abril de 2011. [S.l.], Universidade do Minho (Ciências da Comunicação - Teoria da Cultura), 2011. In-fólio (30 cm) de [29] f. inum. ; B.
1.ª edição.
Tese académica sobre a "confissão".
Livro valorizado pela dedicatória autógrafa da autora.
Sinopse: "Abrir a temática do segredo e da confissão é abrir o campo da palavra dita, da oralidade e da voz. Passar do segredo à confidência, olhar a confidência como segredo, é entender como o sujeito se articula com a sua interioridade. A confissão, propiciadora do segredo, vem mostrar como a prática religiosa deu consistência a um “dentro” subjectivo e culpabilizante. A assunção da culpa é individuante. Por outro lado, a confissão revela-se, na escrita auto-bio-gráfica, uma escrita de si. De Agostinho a Derrida, passando por Rousseau, opera-se uma transposição, para o domínio da escrita, de procedimentos presenciais e dialógicos."
(Fonte: https://revistacomsoc.pt/article/view/1578)
"A confissão, na sua acepção mais abrangente que engloba a religiosa, a judicial, a política ou a clínica é um procedimento de subjectivação, dado que, através do seu funcionamento, é constitutivo de uma configuração do ego - o lugar e a representação do sujeito. Sabemos que um dispositivo é ao mesmo tempo, uma prática e um discurso. A prática da confissão ritualiza-se nos vários campos acima enunciados. Primeiramente no que diz respeito à confissão religiosa, o ritual permite enquadrar um acto difícil e, por vezes, vexatório que é o acto discursivo de confessar algo, de se confessar. A discursivização é estruturante nesta prática e permite a constituição de uma instância de dela decorre: o sujeito pecador. O facto de a confissão se ter tornado um acto de fala marca o que Foucault denomina por "explosão discursiva" (Foucault, 1976: 26). Na verdade, toda a arte de constituição do sujeito ocidental, tal como ele se nos apresenta no romper da modernidade, é resultado de procedimentos complexos que articulam, numa economia a desenhar, processos de regulação discursiva, obrigando ou impedindo de dizer. Trata-se da apropriação do sujeito pela linguagem, da sua constituição linguística e da discursivização da experiência. Daí a aporia formulada por Lyotard: "confessar sendo manifestar em linguagem, à linguagem o que a esta lhe escapa... o silêncio."
Em que consiste mais exactamente esta discursivização? Consiste em revelar algo que é da ordem do segredo - objecto censurado - mas, também, do interdito - porque transgressor - e, portanto, da ordem de uma interioridade que o regime da confissão ajuda a implantar, como uma espécie de fenómeno perverso que se baseia no seguinte: quanto mais perscruto o meu interior para o tornar transparente (exterior) mais esse interior se opacifica e, portanto, se torna interior, criando zonas de sombra que são zonas de não-dito.
A confissão religiosa assenta numa topologia do sujeito que se enuncia através da oposição dentro/fora. Ora, confessar, significando arrancar - retirar com esforço - algo, o outro, do interior para o exterior, coloca, desde logo, essa topologia donde normalmente se elide o segundo termo, o fora. Confessar diz assim, antes de mais, o trazer ao exterior algo que estava alojado no interior, invisível, indizível porque não-dito. A discursividade é o regime por excelência desse transporte de dentro para forma e que, pelo facto de se tornar imposto, institui, nesse mesmo movimento, um dentro como secreto. O segredo surge marcado pelo interior como condição do exterior.
Poder-se-ia definir o segredo como Deleuze define o duplo, não como "projecção do interior" mas, antes, "como dobra do fora". Ora, esta perspectiva de análise inverte o entendimento que a filosofia do sujeito tradicional desenvolveu: a de uma interioridade invisível, que se desvela ou revela para fora. Pensar o segredo como dobra é considerar que todo o interior é feito do Outro, de constelações de outros que se duplicam no dentro. Esse outro, intruso, pode ser o mal ou o demónio, diabole, o que divide, o separado, neste caso maldito, que se constitui na prega do silêncio interior mas vem de fora, vem do mundo: o pecado, entendido como invasão do Outro. Por seu turno, a alma, o interior, constitui esse último reduto que a modernidade hipostasiou no sujeito e enquistou como substancialidade individual e individuante."
Excerto de Do segredo na confissão)
Matérias:
Do segredo na confissão. | Confissão como relação dialógica. | Confissão como relação triádica. | Discursivização da sexualidade. | A confissão como instauração de culpa. | Conclusão.
Exemplar policopiado, brochado, em bom estado de conservação.
Raro.
Sem registo na BNP.
30€

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