06 abril, 2020

OSORIO, Paulo - HISTORIA D'UM MORTO. Terceira edição. Porto, Magalhães & Moniz, Lim. - Editores, 1909. In-8.º (15 cm) de 74, [2] p. ; B.
Novela naturalista. Apesar de estarmos em presença de uma terceira edição, não existe qualquer referência a esta obra na Biblioteca Nacional. Teve tradução para francês.
"São paginas intensas e saccudidas de emoção, onde por vezes afflora a luz d'uma leve ironia ou scintilla a faiscação d'um sorriso. O typo de João Martins é minuciosamente estudado e erguido bem vivo e bem real n'um plano de flagrante verdade. Admiravel ainda Maria da Graça, uma creatura resignada e ingenua, mas tão humana e tão cheia de delicadezas e de ternuras."
"É mais que um observador o snr. Paulo Osorio. É um emotivo; e a vida interessa-o pela dóse de sentimento que ressuma, e que elle expõe repassando-o da sua propria vida, da commoção e do abalo dos seus proprios nervos.

Essa figura tragica de João Martins não esquece mais; nem ao pé d'ella, banhada de luar e de piedade, essa humilde creatura que é Maria da Graça, que diriamos enviada por Deus - sem resultado! - ao torvelinho que cêdo envolveu esse pobre João, e que por fim o arremessou ao nada..."
(Excerto de Opiniões da imprensa, em Aguilhadas, aquando da publicação da 2.ª edição desta obra, disponíveis em: http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/Periodicos/Aguilhadas/1904/N11/N11_master/AguilhadasN11.PDF)
"Esse homem que vi ha pouco, embrulhado em trapos, sobre o marmore d'uma mesa do necroterio e que uns visinhos foram encontrar morto a um canto do pobre quarto d'esmola em que vivia, tinha os pés brancos, de fina epiderme, de quem não costuma andar descalço, e qualquer coisa de nobre no traço aquilino do nariz, no afusado dos dedos, na altivez aristocratica da fronte, que afasta a ideia d'uma figura banal de plebeu e certamente não denuncia a attitude d'um mendigo.
Eu tinha a ideia nitida de ter visto aquelle homem já em qualquer parte: cubri a sua face meia verde das côres rosadas de são, procurei vêr através da barba inculta, a linha d'arte das suas feições de gentilhomem, perscrutei no seu olhar vidrado, azul e gelatinoso, a expressão da vida que o animava outr'ora e, subitamente, alguem a meu lado pronunciou um nome que me revelou tudo num instante e, illuminando de chofre a minha memoria tarda, todo me fez tremer, numa vertigem, ante a violência do desfecho tragico d'um caso que eu não julgava pudesse vir tão cruel nem tão depresssa."
(Excerto do início do livro)
Paulo Mendes Osório (1882-1965). "Activo partidário de João Franco, dedicou-se sobretudo ao jornalismo. Em 1911, na sequência da queda da Monarquia, fixou-se em Paris, onde se tornou colaborador de O Século e correspondente do Diário de Notícias, tendo dirigido a secção parisiense deste último. Da sua obra, podem salientar-se dois volumes de crónicas, Lisboa (1908) e No Fado (1911), para além do conto História dum Morto (1914), e Le Portugal et la Guerre (1918), livro editado em França com tradução de Philéas Lebesque. Dedica também vários estudos a Camilo Castelo Branco, de que se destaca uma biografia do escritor, Camilo. A Sua Vida, o Seu Génio, de 1908."

(Fonte: https://modernismo.pt/index.php/p/706-paulo-mendes-osorio)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capa apresenta mercas de fita gomada; lombada com falhas de papel. Sem a última folha (em branco).
Raro.
20€

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