CAJÃO, Luís - A ESTUFA : romance. Lisboa, Sociedade de Expansão Cultural, 1964. In-8.º (19 cm) de 299, [5] p. ; B.
1.ª edição.
Romance neo-realista cuja acção decorre na ilha do Príncipe, no arquipélago de S. Tomé. Inclui no final do livro um glossário dos termos indígenas. Obra "maldita" pelo Estado Novo, foi proibida de circular em S. Tomé e Príncipe, sendo que tal não terá sido possível no continente dada a rapidez com que esgotou.
"Para ele Filipe, a família iniciava-se com o avô Bernardo. Esse avô de barba um tanto híspida, olhinhos míopes e irónicos, mento perfeito, no qual pressentia o homem capaz de, sózinho, enfrentar legiões, mitos e procelas.
Infortunadamente já mal o recordava: de uma queda em que galgando até ao fundo a escada o velho se quedara leso, murchamente a pender para um lado (se o esquerdo, se o direito, não lhe seria fácil precisá-lo); e das já raras vezes em que num Minerva ia a Sintra colher (soubera-o mais tarde) as ternuras parisienses de «mademoiselle» Juliette.
Sim, com que dramática rapidez se desvanecia o avô desse período! Pouco mais, afinal, que um fantasma!
No empenho de reconstituir o velho, dera-se Filipe, inequívoco, a um longo escavar sentimental, sujeito, já se vê, a muito de poético e de subtil desdobramento. Seria até inevitável. Sobretudo na medida em que ambicionava poder um dia repeti-lo.
Verberando os tempos de hoje - «tempos de loucura e de impiedade!» -, asseverava a tia Olímpia que homens como ele, bravos, inflexíveis, quase heróicos, muito poucos ou já nenhum haveria."
(Excerto do Cap. I)
José Luís Cajão (1920-2008). Natural da Figueira da Foz. Escritor português cuja obra se insere na corrente do neo-realismo. "Contista,
romancista, ensaísta e musicólogo. Diplomado pela Escola de Regentes
Agrícolas de Coimbra foi, durante cerca de dois anos, administrador de
uma roça na Ilha do Príncipe, São Tomé (1958), altura em que escreveu o
romance A Estufa e Panorâmica de São Tomé e Príncipe. A propósito de A Estufa, Luís Cajão seria por Agostinho Veloso, na Brotéria, situado «entre os melhores mestres da novelística contemporânea», ao passo que As Escarpas do Medo ganharia especial popularidade ao ser adaptado por Jorge Brum do Canto a episódios televisivos. João Gaspar Simões (cf. Crítica IV)
escreve a respeito de Luís Cajão: «Devem-se-lhe algumas páginas de
ficção muito dignas de figurar entre as melhores que se escreveram no
nosso tempo.»"
(in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. V, Lisboa, 1998)
Exemplar brochado em bom estado deconservação.
Invulgar.
15€
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