11 julho, 2020

QUEIROZ (Bento Moreno), Teixeira de - MORTE DE D. AGOSTINHO. Lisboa, Livraria de Antonio Maria Pereira - editor, 1895. In-8.º (18,5 cm) de [4], 334, [2] p. ; E.
1.ª edição.
Rara edição original do quarto volume da série naturalista «Comédia Burguesa», e um dos mais apreciados romances desta colecção.
"A luz do candieiro de petroleo, quebrada por um abat-jour de papel verde de ramagens, incidia sobre a larga mesa redonda, na qual estava espalhada muita obra. Josefina trabalhava com afinco e esmero, envolvida por aquelle longo silencio, apenas interrompido pelo resonar asmatico d'um gato que adormecera ao calor da chamma, e pelas rufadas do vento e da chuva sobre o telhado e contra os vidros da janella. Dentro de pouco tempo tinha de concluir este enxoval de noiva, que tanto lhe fôra recommendado.
É sempre um trabalho pequilhento e de grande responsabilidade. Nunca deixa de haver reparos. Por muito cuidado que se empregue postas a espiolhar tudo, a examinar ponto por ponto. A perfeição em casos taes não se póde attingir. [...]
Aquelles dedos finos e compridos introduziam-se no fofo das cassas e mussellinas, sem as abater; as pregas do linho de Courtrai ficavam perfeitamente alinhadas como n'uma prensa; os franzidos cahiam com regularidade tal, que nem o olho mais esperto poderia notar a imperfeição. D. Genoveva, que muito estimava Josefina pela suavidade do seu caracter, afeiçoou-se-lhe dedicadamente, quando lhe apreciou esta virtuosa inclinação para ser util, para ter prestimo e suavisar a velhice do velho D. Agostinho, de quem a pequena se considerava filha adoptiva. Poderia muito embora o incorrigivel fidalgo não ser digno de que tanto se lhe dedicassem; porém isso mais encareciao bom coração da pupilla, que aos dezoito annos tinha a madureza dos trinta."
(Excerto do Cap. I)
Francisco Teixeira de Queiroz (Arcos de Valdevez, 1848 - Sintra, 1919). “Romancista e contista, Francisco Teixeira de Queirós licenciou-se em Medicina, tendo ocupado diversos cargos públicos, entre os quais o de deputado, de vereador da Câmara Municipal de Lisboa e de ministro dos Negócios Estrangeiros, neste caso em 1915. Chegou a ser presidente da Academia das Ciências de Lisboa. Fundou em 1880, com Magalhães Lima, Gomes Leal e outros, o jornal «O Século», tendo também colaborado nos periódicos «O Ocidente», «Revista de Portugal», «Revista Literária», «Arte & Vida», «Ilustração Portuguesa», «A Vanguarda» e «A Luta», entre outros. Em 1876, publicou o seu primeiro romance, «Amor Divino», com o pseudónimo de Bento Moreno, que viria a usar em outros livros. A sua vasta obra está repartida em dois grupos: «Comédia de Campo» e «Comédia Burguesa», imitando assim a «Comédie Humaine», de Balzac, um dos seus mentores. Durante cerca de 40 anos, reformulou o seu plano e a sua doutrinação literária sobre o romance, procurando incansavelmente aplicar o seu programa realista-naturalista de base científica. Cultivou uma escrita de feição realista, fazendo uma crítica constante à alta sociedade lisboeta, evidenciando os seus costumes, os seus modos de agir e de estar perante a sociedade portuguesa em geral. Em algumas das suas obras, por outro lado, retrata de uma forma carinhosa e saudosa os seus tempos de infância, vividos na quietude da sua terra natal.”
Encadernação editorial inteira de percalina com ferros gravados a seco e a ouro na pasta anterior e na lombada.
Exemplar em bom estado de conservação. Com assinatura de posse na parte superior da f. rosto e anterrosto.
Raro.
45€

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