02 julho, 2020

FREITAS, Urbino de - O ENSINO NATURAL DA LINGUAGEM. Por... Porto, Typographia Central de Avelino Antonio Mendes Cerdeira, 1884. In-8.º (22,5 cm) de 30, [2] p. ; B.
1.ª edição independente.
Ensaio sobre aprendizagem do conhecido médico portuense Urbino de Freitas, cujas acusações de envenenamento a familiares de sua mulher, no final do século XIX, sobressaltaram a cidade do Porto e indignaram o país.
Trabalho curioso, descreve o "método natural", técnica de ensino da linguagem desenvolvida pelo autor. Texto anteriormente publicado na Revista da Sociedade de Instrcção do Porto, oferecido por Urbino de Freitas à memória de seus pais. 
A Biblioteca Nacional dá notícia de duas obras da autoria de Urbino: A theoria e a pratica em medicina. Dissertação de concurso á Escola Medico-Cirurgica do Porto (1877) e O ensino natural da linguagem (1884), esta última, "sem informação exemplar".
"O ensino da linguagem fundamenta toda a instrucção e quando natural, será a iniciação unica n'um plano verdadeiramente educador, promotor de um natural, por adequado e integro, desenvolvimento das aptidões de cada individuo e portanto da collectividade resultante.
Se esta affirmação é justa e se ella estiver justificada e devidamente definida, nas paginas que vão ler-se, é natural esperar que espiritos orientadores, e por estes a imprensa periodica, o declarem no proveito publico, que lhe cabe garantir."
(Excerto do proémio)
"No ensino está garantida a prioridade social e esta offerece um alvo obrigado a todo o esforço humano, vide America do Norte. Sentir e realisar o bem são o motivo e o fim da existencia individual e collectiva do homem.
O bem-estar, para saber bem e sentir melhor. Assim, para que o homem seja bom, importa ser util e portanto intteligente e instruido, o que ainda presuppõe o ser valido, capaz physicamente.
Em sua maioridade, o homem satisfará á lei moral, motivo e fim da sua existencia, na medida de um caracter disposto a realisar o bem, assegurado este por uma energia nativa e adquirida - virtual, nas aptidões phisicas, psychicas e conhecimentos adquiridos; realisada, na apropriação prática d'estes e d'aquellas ao bem social."
(Excerto de O ensino natural da linguagem)
Matérias:
[Dedicatória]. | [Proémio]. | O ensino natural da linguagem. | Elementos methodologicos apropriaveis ao ensino natural da linguagem. | Nota do Pe. Candido J. A. de Madureira, Abbade de Arcozelo.
Vicente Urbino de Freitas (1849-1913). "Foi um médico portuense, formado na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, em 1875, e professor na Escola Médico-cirúrgica do Porto. Em 1877, casou com Maria das Dores, filha de um rico comerciante de linhos. A este casamento sucederam-se um conjunto de mortes de familiares directos de Maria das Dores em circunstâncias suspeitas, nomeadamente as dos seus irmãos Guilherme e José, este último após ter sido consultado por Urbino de Freitas e com os sintomas típicos de ingestão de veneno. Alguns meses depois, os três sobrinhos de Maria das Dores, filhos dos seus irmãos falecidos que passaram a viver com os avós, receberam uma encomenda suspeita de bolos e amêndoas que revelavam um sabor esquisito provocando-lhes mal-estar. Estas foram atendidas pelo tio Urbino que lhes receitou eméticos e clisteres com a recomendação que fizessem uma retenção tão longa quanto possível. Apenas Mário, o rapaz e o mais velho, seguiu a prescrição do tio, mas viria a falecer com sintomas semelhantes aos do seu tio José. As suspeitas de envenenamento recaíram em Urbino de Freitas, acusado de querer ficar o único herdeiro da fortuna do sogro.
As circunstâncias do crime e a frieza e crueldade dos actos de Urbino causaram bastante celeuma e indignação. O caso foi muito mediático, tendo sido acompanhado diariamente pela população e tendo originado inúmeras discussões. No cerne da questão estavam as análises toxicológicas dos cadáveres e dos alimentos suspeitos. [...]
[Pelo] acórdão de 1 de Dezembro de 1893, do Tribunal Criminal do Porto, Urbino de Freitas foi condenado a oito anos de prisão e ao degredo pelo homicídio do seu sobrinho Mário. O réu, demitido das suas funções e proibido de exercer medicina, acabou por ser deportado para o Brasil após ter cumprido a pena de prisão na Penitenciária de Lisboa. [...]
Uma comissão de portugueses e brasileiros, convictos da inocência de Urbino de Freitas no caso do envenenamento ocorrido no Porto, enviou uma petição ao Rei D. Carlos, pedindo a revisão do processo, que não foi deferido. Em 1913, Urbino de Freitas regressou a Portugal, e até ao fim da sua vida alimentou uma batalha jurídica, procurando novos elementos de prova que o habilitassem a obter um despacho judicial favorável. Contou sempre com o apoio e a fé inquebrantável da sua inocência por parte da esposa, Maria da Dores Freitas. Morreu no dia 23 de Outubro de 1913."
(Fonte: http://dererummundi.blogspot.com/2008/05/o-caso-urbino-de-freitas.html)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas frágeis, com vincos e pequenos defeitos. Paginas apresentam manchas de oxidação. Rubrica de posse na f. rosto.
Muito raro.
Peça de colecção.
75€

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