1.ª edição.
Conjunto de contos interessantíssimos, sendo os principais Dois Irmãos e O retrato. A história de Charlatães é baseado na experiência e observações do autor, desde os tempos de estudante, que afirma: "d'entre as psychologias que formam typo, que se deixam marcar e definir, a do charlatão é, a nosso vêr, uma das mais pittorescas e interessantes".
"O velho Joaquim Figueira, proprietario d'um talho á Travessa dos Açougues, era considerado pelos seus freguezes e pela visinhança como um excentrico e um grande avarento.
Contava-se anecdotas ácerca da sua vida moldada em fórmas originaes, e citava-se ainda o typo da sua jaleca domingueira de briche côr de pinhão, com botões amarellos, gola alta e "banda", preta enrolando-se duas vezes sob o "punho do pescoço", molle, de ida e volta.
A cara toda escanhoada só permittia debaixo do queixo uma barbicha branca que não chegava á altura das orelhas. Nunca deixára o seu chapeu de seda de aba larga e nunca pozera de parte as suas calças d'alçapão, com uma liga preta a todo o comprimento.
Ao tempo, esta toilette constratava com os trajos de todos os outros da sua profissão, já modernisados, e até a propria cara conservava uma mascara antiga, rosada nas maçãs do rosto, constituindo o todo, um typo destacado, inconfundivel. De caracter sombrio o Joaquim Figueira, passava por honrado, mas não possuia um terno coração. Homem de boas contas, o ouro e fio da sua balança ficou na tradicção; mas conservára-se sempre frio e impassivel diante da miseria alheia. Só se lhe conhecera um amor na vida: a paixão pela mulher, uma verdadeira conquista que, dizia-se, tinha custado a vida a um rival, victima d'uma emboscada e morrendo tres dias depois a lançar sangue, ás golfadas, pela bocca."
(Excerto de Dois irmãos)
Indice:
I. Um cadaver. II. Dois irmãos. III. Côr de rosa. IV. Pela cheia do Natal. V. Charlatães. VI. No reino de Melchior. VII. O retrato.
João dos Reis Gomes (Funchal, 1869-1950). "Foi um oficial do exército, formado em engenharia, escritor, professor, ator, encenador, crítico e filósofo de arte tendo dedicado alguns dos seus escritos à música. Escreveu e publicou: O Teatro e o Actor, 1905; Histórias Simples, 1907; A Filha de Tristão das Damas, 1909; Monografias Industriais Peculiares à Madeira, na revista Serões de Lisboa, 1909-1910; Guiomar Teixeira, peça de teatro com estreia em 1912; Acústica Fisiológica, 1922; Forças Psíquicas, 1925; O Belo Natural e Artísticos, 1928; Através da França, Suiça e Itália, 1929; Três Capitais de Espanha, Burgos, Toledo e Sevilha, 1931; O Anel do Imperador (Napoleão e a Madeira), 1934; Natais, contos e narrativas, publicado em 1935; O Vinho da Madeira, como se Prepara um Néctar, 1937; Casas Madeirenses, um livro criado com o apoio do arquiteto Edmundo Tavares, 1937; De Bom Humor, 1942; Casos de Tecnologia, 1943; O Cavaleiro de Santa Catarina, 1947; A Lenda de Lorely, 1948; Através da Alemanha, 1949.
João dos Reis Gomes também colaborou com diversos periódicos de Lisboa como jornalista, entre os quais O Século, O Dia e Serões. Na imprensa Madeirense foi diretor no Heraldo da Madeira e “Diário da Madeira”."
(Fonte: https://recursosartisticos.madeira.gov.pt/index.php/projetos/d-musicos/biografia/189-gomes-joao-dos-reis)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas frágeis com defeitos e falhas de papel marginais. Lombada reforçada com fita branca. Sem f. anterrosto. Deve ser encadernado.
Raro.
Indisponível
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