06 junho, 2021

QUEIROZ, Teixeira de - CARTAS D'AMOR.
Por... Socio effectivo das Academia das Sciencias de Lisboa. Nova edição, corrigida. Comedia Burgueza
. Lisboa, Parceria Antonio Maria Pereira, 1913. In-8.º (19 cm) de VIII, 239, [1] p. ; B.
Sétimo livro da série «Comédia Burguesa», em versão corrigida, com introdução especialmente concebida para esta edição pelo autor.
"Os livros são como as plantas, que nascidas sob o mesmo clima, alimentadas do mesmo humus, e regadas pela mesma agua cristalina, se mostram deseguaes no crescimento e na frutificação. Encanta uma pelo rebento vivaz e pelo folhedo garrido; outra, nem flores nem fructos ostenta. Que razões póde haver para o seu aspecto ser differente? Não são ellas irmãs, oriundas ambas de sementes escolhidas e merecendo eguaes carinhos ao cultivador? [...]
Com as Cartas d'Amor, agora de novo editadas, succcedeu serem recebidas com excepcional apreço pelo anonymo que nos apavora a nós, auctores de livros. Será difficil de encontrar a razão da preferencia, como difficil é descobrir no fundo do mar a pedra branca da fortuna. Seria e especialidade do problema psychologico d'amor, aqui proposto, e a solucção dada por Maldonado com tamanha abnegação e singeleza? Poderá attribuir-se á fórma epistolar, tão appropriada a confissões tão delicadas, ingenuas ou subtis, e aqui renascida depois de tão bem acceite em França, no seculo XVII, o seculo das elegancias?...
O problema do amor, na alma da mulher principalmente, tem sido e continuará a ser a mais procurada base artistica, no seu aspecto de belleza erythmica: encontrar-lhe, n'um dado momento de crise animica, a fórma evocativa mais adequada é o privilegio d'aquelles que tem dignamente na sua mão uma penna, o pincel, uma batuta ou um cinzel. [...]
O romance, como hoje é acceite e comprehendido, tem exigencias especialissimas de technica, que só o aturado estudo e observação podem descobrir. O delicado e espiritual instrumento da palavra tem de penetrar os reconditos da alma humana com delicadeza e tacto, e só se póde impôr pela exactidão e força moral."
(Excerto da introdução - Conversando)
"Depois d'uma contemplação instinctiva, durante alguns dias em casuaes encontros, fixou-se na retina e na memoria de R. aquella physionomia singularmente expressiva, em que muitissimo havia do mysterio das almas e da côr e perfume das flores mais bellas. Não a podia esquecer e não a podia substituir! Que leve cabeça de lavandisca! Como era gracioso o meneio do seu corpo flexivel, tão ligeiramente ondeante no passo breve d'um lindo pé pequenino!
Para a imaginação calorosa de R. era antes visão angelica do que uma creatura da terra; parecia-lhe reflexo de luz, deixando no ar qualquer coisa de espiritual, a fluctuar como aza de nuvem. A sua pupilla scismadora fixava attenta a bella miragem, seguindo-a depois no espaço n'uma via lactea deslumbrante. Não lhe encontrava sempre a mesma expressão, é certo; umas vezes ironica e provocante no olhar e no sorrir; outras, d'esses mesmos olhos e d'esses mesmos labios, derivava uma tristeza tão doce que era um enlevo!"
(Excerto da Primeira Parte, I)
Francisco Teixeira de Queiroz (Arcos de Valdevez, 1848 - Sintra, 1919). "Romancista e contista, Francisco Teixeira de Queirós licenciou-se em Medicina, tendo ocupado diversos cargos públicos, entre os quais o de deputado, de vereador da Câmara Municipal de Lisboa e de ministro dos Negócios Estrangeiros, neste caso em 1915. Chegou a ser presidente da Academia das Ciências de Lisboa. Fundou em 1880, com Magalhães Lima, Gomes Leal e outros, o jornal «O Século», tendo também colaborado nos periódicos «O Ocidente», «Revista de Portugal», «Revista Literária», «Arte & Vida», «Ilustração Portuguesa», «A Vanguarda» e «A Luta», entre outros. Em 1876, publicou o seu primeiro romance, «Amor Divino», com o pseudónimo de Bento Moreno, que viria a usar em outros livros. A sua vasta obra está repartida em dois grupos: «Comédia de Campo» e «Comédia Burguesa», imitando assim a «Comédie Humaine», de Balzac, um dos seus mentores. Durante cerca de 40 anos, reformulou o seu plano e a sua doutrinação literária sobre o romance, procurando incansavelmente aplicar o seu programa realista-naturalista de base científica. Cultivou uma escrita de feição realista, fazendo uma crítica constante à alta sociedade lisboeta, evidenciando os seus costumes, os seus modos de agir e de estar perante a sociedade portuguesa em geral. Em algumas das suas obras, por outro lado, retrata de uma forma carinhosa e saudosa os seus tempos de infância, vividos na quietude da sua terra natal."
Exemplar brochado em bom estado de conservação.
Muito invulgar.
25€

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