19 junho, 2021

GALLIS, Alfredo - AMOR OU FARDA. Romance contra o militarismo. Lisboa, Antiga Casa Bertrand, 1907. In-8.º (20 cm) de 242, [2] p. ; E.
1.ª edição.
Rara e muitíssimo interessante obra do autor, um pouco diferente das demais dada a devoção bem expressa à causa do anti-militarismo. Nas primeiras vinte páginas do livro A. Gallis discorre sobre a doutrina e as suas consequências para as sociedades.
Livro proibido de circular pela censura do Estado Novo.
Título de posse na f. anterrosto e na última página de texto em nome de Antonio Marques Proença, 1º Sargento.
"Em these, como base fundamental e essencia philosophica da sua missão mundial, o militarismo é um crime!
Esse crime porém encontra atenuantes nas multiplas manifestações da malevolencia humana desde os primeiros dias da sua apparição sobre a Terra.
O que é o militarismo?
É uma fracção methodicamente organisada e equipada de todos os povos, cuja missão consiste em defender esses povos dos attentados que contra elles outros lhes queiram dirigir, ou, variando de tactica, agredir os estranhos quando assim pareça conveniente e proveitoso para as ambições e interesses dos invasores."
(Excerto do Proemio)
"Verdadeiramente radiosa aquella linda anhã de setembro, d'uma limpidez de ceu azul que fascinava a vista, e de uma pureza atmospherica que aspirada a plenos pulmões levava ao sangue uma nova e depurativa reviviscenia. [...]
Estava-se em plena vindima, e para cima de cento e oitenta pessoas, homens e mulheres, procediam á colha do cacho.
Montado na sua egua baia, magnifico exemplar de Alter, o morgado, de jaqueta e chapeu de aba larga, cinta de seda preta e botas altas, sahira do solar pouco depois do romper do sol, e accendendo o seu inseparavel charuto, dirigira-se á vinha que ficava a dose kilometros de distancia da casa da sua residencia.
Alexandre Simão Vaz de Albuquerque, moço fidalgo da casa real, descendente de uma familia nobre da Beira, e mais conheçido pelo morgado da Almoana, vastos dominios que herdara dos seus maiores e constituia o morgadia de sua casa, contava á data 60 annos incompletos.
Era um homem de avantajada estatura, reforçado, de modos affaveis e simples, trigueiro e corado, de espessa cabelleira e longas barbas brancas que lhe davam ao rosto o complemento senhoril e fidalgo que se notava logo á primeira vista nas suas maneiras e trato.
Bacharel formado em direito, depois da sua formatura passara alguns annos em Lisboa uma vida elegante frequentando a melhor sociedade onde a sua opulenta fortuna lhe permittia ostentar todas as exigencias do seu caracter altivo, generoso e fidalgo."
(Excerto do Cap. I)
Joaquim Alfredo Gallis (1859-1910). "Nasceu em Lisboa em 1859 e morreu a 24 de Novembro de 1910. Foi administrador do concelho do Barreiro entre 1901 e 1905. Escritor e jornalista, exerceu o cargo de escrivão da Corporação dos Pilotos da Barra de Lisboa, onde conheceu o rei D. Carlos, com quem mantinha boas relações. Era secretário do governo civil de Lisboa quando ocorreu a mudança de regime, em 1910.
Estreou-se no jornal Instituições, em 1879. Colaborou em Tempo, Universal, Jornal do Comércio, Liberal, Ecos da Avenida e Diário Popular. Escreveu os dois volumes que serviram de complemento à História de Portugal de Pinheiro Chagas, com o título Um Reinado Trágico, datados de 1908 e 1909.
"Rabelais" é um dos o pseudónimos de Alfredo Gallis. Em finais do século XIX, o mais prolífero autor português de livros licenciosos foi Rabelais, vulgarmente confundido, nos catálogos das bibliotecas, com o reputado escritor francês do século XVI.
Autor de mais de quarenta títulos, quer de temática histórico-filosófica , quer de temática pornográfica, de Rabelais disse Brito Aranha, no Dicionário Bibliográfico Português: «Alfredo Gallis dispunha de uma individualidade própria e com mais alguma disciplina e ilustração poderia ter deixado um nome de destaque na literatura do seu tempo. Infelizmente a prodigalidade da sua produção e a vivacidade e crueza com que se comprazia em descrever as cenas mais escandalosas duma sociedade corrupta prejudicaram muito a sua obra. Vendo tudo sob o aspecto de um sensualismo exagerado, os tipos dos seus romances, traçados em geral com muita frieza, eram deformados pelos vícios mais repugnantes e a acção desses romances passava-se em geral nos meios mais depravados e desonestos.»"
(Fonte: https://tintadachina.pt/produto/aventuras-galantes/)
Encadernação coeva em meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar algo envelhecido, em bom estado geral de conservação.
Raro.
85€

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