22 junho, 2021

ERDMANN, Carl - O PAPADO E PORTUGAL NO PRIMEIRO SÉCULO DA HISTÓRIA PORTUGUESA
. Coimbra, Coimbra Editora, 1935 [aliás, Braga, Cabido Metropolitano e Primacial Bracarense; Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira, 1996]. In-4.º (26 cm) de [6], 94, [2] p. ; B.
Edição fac-símile - por certo com tiragem reduzida - desta obra ímpar do Prof. Carl Erdmann, importante contributo para a história do relacionamento entre as mais altas autoridade eclesiásticas e o primeiro rei de Portugal, que veio trazer uma nova luz à questão da independência nacional.
"O alargamento da esfera de influência papal no oeste da península ibérica data do período entre o fim do século XI e o fim do século XII. Se anteriormente a Gregório VII não existiam relações entre Roma e o clero galaico-lusitano, depois de Alexandre III a sujeição de Portugal ao organismo da igreja católica romana é um facto. Em 1095 o condado de Portugal é separado da Galiza e entregue ao conde Henrique de Borgonha, conservando-se, no entanto, dentro do reino de Leão. Noventa anos mais tarde seu filho Afonso I deixa Portugal como reino independente, independência que se manteve até hoje através das vicissitude dos tempos. [...]
Sabe-se que o primeiro rei de português tornou o seu país tributário da Santa Sé. O motivo desta oblação conhece-se também: assegurar a independência portuguesa em face da vizinha Castela. Das relações entre Portugal e a cúria nesta época, êste foi o único facto que até agora atraiu a atenção, o que, naturalmente levou a concluir que a Santa Sé teve um interesse particular e conseqüentemente uma parte activa na formação da independência portuguesa. Um estudo mais profundo desmente, porém, esta opinião. Ao contrário, a cúria, tendo sempre em vista na península ibérica o objectivo supremo da concentração de tôdas as forças para a luta com os infiéis, opôs-se por isso mesmo, durante muito tempo, à criação dum Portugal independente. Isto foi, para Portugal, um facto de grande transcendência.. A autoridade dos papas, mesmo quando êles se abstinham de intervir directamente nos negócios dos estados seculares, era tão grande que o reconhecimento ou não-reconhecimento dos pequenos estados formados na Península era para estes duma importância capital. [...] É natural  que a separação política de Portugal e dos reinos vizinhos se tornasse dificílima, visto o clero português estar sujeito ao domínio dos príncipes da igreja castelhana. E como a organização eclesiástica dependia do papado, todos os esforços deviam tender ao reconhecimento da independência política e da autonomia  eclesiástica pela Santa Sé.
Considerados assim os acontecimentos daquela época, os planos e êxitos do fundador da dinastia portuguesa - o conde Henrique de Borgonha - e de seu filho Afonso, primeiro rei de Portugal, aparecem-nos a uma nova luz. Só agora se pode apreciar devidamente o papel extraordinário desempenhado por um homem, cuja acção não foi ainda julgada devidamente. Refiro-me ao arcebispo João Peculiar de Braga, que suportou sôbre os seus ombros, durante quatro decénios, quási todas as negociações com Roma. Se Portugal conseguiu por fim, graças ao reconhecimento por parte da cúria, assegurar a sua independência política e autonomia eclesiástica em relação aos estados vizinhos, isso pode considerar-se obra sua."
(Excerto da Introdução)
Matérias:
Introdução. | 1. - As primeiras relações entre Roma e Portugal. 2. - Maurício de Braga e Diego de Compostela. 3. - Inocêncio II e o juramento de vassalagem de D. Afonso Henriques. 4. - A luta contra o primado de Toledo. | Apêndice: I - Os bispo D (D. Diogo) de Compostela, A (D. Afonso) de Tuy, M (D. Munio) de Mondonhedo, P (D. Pedro) de Lugo, D (D. Diogo) de Orense e H (D. Hugo) do Porto participaram ao bispo G (D. Gonçalo) de Coimbra as resoluções do Sínodo de Compostela e convidaram-no a entrar na confraternidade que estabeleceram e a sanar as suas diferenças com Santiago e Porto. (1147) 17 de Novembro. II - Os bispos D. Gonçalo de Coimbra e D. Hugo do Porto ajustam entre si que o Douro valha como fronteira entre os dois bispados com excepção daqueles territórios ao sul do Douro que Gonçalo houvesse por bem ceder voluntáriamente. (1114,  de Dezembro). III - B (D. Bernardo), arcebispo de Toledo e legado da Santa Sé, ordena ao abade G (D. Gaudemiro) de S. Tirso, que exorte a população da região de Vizela até Antuã a obedecer ao bispo D. Hugo do Porto, sob pena de interdição. 1115 (comêço). IV - O bispo D. João de Coimbra queixa-se ao arcebispo D. João de Braga. (1154-1155). V - Actas do Concílio (de Valladolid, convocado pelo cardeal-legado Jacinto na presença do rei Afonso VII de Castela). (Janeiro de 1155). VI - Inquirição de testemunhas sôbre a sentença de suspensão pronunciadas no Concílio de Valladolid (Janeiro de 1155) pelo Cardeal-legado Jacinto contra o bispo D. João de Braga (Tuy 1182) 4 de Novembro.
Carl Erdmann (1898-1945). Foi um historiador alemão, especializado em história política e intelectual medieval. Ficou conhecido, sobretudo pelos estudos que desenvolveu sobra as Cruzadas, bem como pelo seu trabalho na recolha e tratamento de correspondência entre as elites seculares e eclesiásticas no século XI. Publicou vários trabalhos relacionados com Portugal na Idade Média. É considerado um dos estudiosos alemães mais influentes e importantes da cultura política medieval no século XX. Faleceu nas fileiras do exército alemão no final da 2.ª Guerra Mundial.
Exemplar brochado em bom estado de conservação.
Muito invulgar.
Com interesse histórico.
Indisponível

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