MARQUES, Armando - SANGUE E DINHEIRO. Prefacio de D. Emilia de Sousa Costa. O drama da "Poça das Feitiçeiras". [S.l.], Pelo Editor: «Grupo de Portuenses - José Ferreira Pacheco; Constantino Eugenio de Oliveira; Antonio Domingos Oliveira, 1931. In-8.º (20,5 cm) de VIII, 327, [1] p. ; il. ; B.
1.ª edição.
"O produto liquido da venda dêste livro reverte em favor das despesas a fazer com a revisão do processo-crime da «Poça das Feiticeiras»". (Inscrito no verso da f. anterrosto)
Trabalho de reportagem sobre o crime de parricídio, que em 1925 causou consternação e perplexidade em Viseu, e que, pelos seus contornos, alcançou projecção nacional, dando azo a algumas publicações, a última das quais, da autoria de Agustina Bessa-Luís, em 1989, com o romance «Eugénia e Silvina».
Livro ilustrado com fotogravuras ao longo das páginas de texto.
"Pedem-me duas palavras de prefacio, para este grito de justiça. Nunca, até hoje, me neguei a secundar todos os apelos que se me afiguram justos, trate-se de amigos ou inimigos, de conhecidos ou desconhecidos. [...]
Conquanto a minha convicção, sobre a inocencia dos acusados do Crime da Poça das Feiticeiras, há muito existisse, quiz visitar D. Silvina na cadeia, falar-lhe, auscultá-la, antes de afirmar em publico essa convicção. As suas afirmações perentorias, desassombradas, os seus pobres olhos, já aridos de lagrimas que, durante cinco anos, lhos queimaram e neles esteriotiparam o estigma da sua dor e da sua revolta, nada acrescentaram ao que a minha intuição me segredou.
Quando li nos jornais o relato circunstanciado do Crime da Poça das Feiticeiras, á natural e instantanea impressão de horror que no meu espirito causou a hipotese aventada dum parricidio, praticado por uma senhora religiosa e educada por um homem de certa ilustração, foi sucedendo outra impressão de estranheza. As provas acumulavam-se. Certos vestigios do crime que, nas primeiras horas, escaparam aos olhos investigadores, brotavam como por milagre, uns após outros. Acusadores surgiam de todos os lados, numa sanha nada humana e absolutamente ilogica, contra os apontados é execração publica, perdida, antes de completas as averiguações, aquela serenidade cauta e respeitavel que se impõe ás consciencias ansiosas de ver brilhar a verdade e só depois proferir a sentença. A gravidade do crime aconselhava a suprema cautela, a suprema prudencia.
Não se atira sôbre uma filha a imputação do assassínio do seu pai, sem a certeza plena, convincente, dessa monstruosidade."
(Excerto do Prefacio)
"Um prolóquio arabe sentencia que o homem para ser completo tem de «escrever um livro, fazer um filho e plantar uma arvore». O anexim não se aplica a este trabalho. É verdade que completo agora essa missão que os arabes atribuem ao homem. Mas este livro não foi escrito para cumprir um proverbio. Outro sentimento o determina. Um dever mais elevado o impõe: Chamar a atenção de todos os portugueses que o lerem para um drama de sangue e dinheiro que há seis anos se arrasta irritantemente pelos tribunais. Fazer vibrar os corações humanos em redor de um misterio que fez sepultar nas necropoles penitenciarias um homem e uma mulher, sobre cujas responsabilidades criminais a duvida abre nos espiritos bem formados clareiras de inocencia. Demonstrar com provas que o conluio e a cabala, formados em «cotterie», embora não tivesse participação directa na morte de João Alves Trindade, se aproveitaram dela para lançar á execração publica uma infeliz, submersa no infamante anatema de parricidio, e assim desviarem a torrente de oiro da fortuna do assassinado em favor de terceiros."
(Excerto de Portico do drama)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas frágeis com defeitos e pequenas falhas de papel.
Raro.
25€
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