03 abril, 2021

CASTELLO BRANCO, Camillo - A FILHA DO DOUTOR NEGRO
. Lisboa, Livraria de Campos Junior - Editor, [186?]. In-8.º (18 cm) de [6], XIV, 304, [2] p. ; 8 p. catg. ; E.
1.ª edição.
Raríssima primeira edição - variante "Campos Júnior" - da edição publicada na Typographia do Commercio (1864), sem registo na Biblioteca Nacional, não mencionada no catálogo camiliano de Miguel Carvalho. Sem data. Apenas o prefácio está datado - Porto - 1863. A segunda edição desta casa editora, também ela valiosa e invulgar, terá sido publicada em 1870. Obra oferecida por Camilo à memória de António Joaquim Xavier Pacheco com os dizeres: "Offerece o pobre monumento, que póde offerecer". Inclui o Extracto das Memorias do Carcere : pag. 144 da 1.ª edic.,  que apenas integrou a primeira edição desta obra, não mais voltando a ser impresso nas edições que se seguiram. O verso da f. anterrosto, bem como as últimas 8 páginas do livro são preenchidas com o catálogo das obras à venda na Livraria de Campos Junior.
"Eu era estudante na academia do Porto em 1845.
Em uma das férias pequenas do anno, indo eu despedir-me de um cavalheiro, meu patricio, de volta para o Porto, disse-me elle:
- Vou encarregal-o de uma commissão. Tome o senhor estas quatro peças. Vá ao topo da calçada do Mirante. Se lá encontrar ainda uma mendiga, pergunte-lhe se conheceu um homem chamado Antonio da Silveira. Respondendo ella que me conheceu, e provando-o com alguns signaes, que o senhor facilmente colherá, entregue-lhe este dinheiro. E se o senhor, uma ou outra vez, sentir o desejo de abster-se de algum passageiro passa-tempo, a empregar, em favor de pessoa desvalida, o dinheiro, que tal recreio lhe havia de custar, vá depor, no regaço da pobre da calçada do Mirante, a sua esmola. Verá que sensação doce e consolativa Deus lhe dá em retorno da sua beneficiencia; verá, meu amigo... Quando o senhor voltar a férias-grandes, eu lhe contarei pelo miudo quem foi a mulher."
(Excerto do Prefacio)
"Em 1810, Antonio da Silveira, cadête de cavalleria de Bragança, chegou ao Porto com o seu regimento. Confluia para aqui a força armada no norte, agitada pelo refervente patriotismo da junta governativa, espertada serodiamente da sua pavida, senão estupida, inercia. [...]
Antonio da Silveira era então mancebo de vinte annos. Sympathisava com Napoleão, que elle de si para si denominava o «apostolo involuntario da emancipação dos povos», em quanto o seu coronel, arengador de oitiva, atassalhava sempre Bonaparte, nas suas allocuções, com os flagelladores epithetos de «barbaro! tigre da Corsega! demonio da meia noute! e besta do Apocalypse!»
Silveira ainda era parente do general d'aquelle apellido, personagem admiravelmente boçal e in trepido, capaz de imitar os Codros e os Curcios, se os conhecesse; portuguez á antiga, e estou quasi em dizer - o ultimo dos portuguezes que se crearam nas agras de Traz-os-Montes. Fôra o general, inflammado em amor da patria, que tirára pelas orelhas o sobrinho da mollidão ociosa das suas meditações, e o levára a jurar bandeiras."
(Excerto do Capitulo primeiro)
Encadernação coeva em meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Pastas apresentam desgaste acentuado nos cantos, e falhas no revestimento, sobretudo na pasta posterior. Mancha de humidade nas guardas, e vestígios ténues no interior.
Assinatura de posse no frontispício de D. José Gil de Borja de Macedo e Menezes.
Muito raro.
Sem referências bibliográficas, incluindo a BNP.
Peça de colecção.
Indisponível

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