14 abril, 2021

SCOTT, Walter - A CAMINHO DE JERUSALÉM.
[Tradução de Leyguarda Ferreira]
. Lisboa, Romano Torres, [1968]. In-8.º (19 cm) de 460, [4] p. ; B.
1.ª edição portuguesa.
Apreciado romance histórico do mestre escocês deste género de literatura. Título do original: Count Robert of Paris.
"Era de tarde e a brisa doce e refrescante do mar predispunha aqueles que não tinham afazeres a entregarem-se a devaneios ou a observarem com curiosidade os objectos interessantes que a Natureza e a arte apresentam à admiração daqueles que visitam Constantinopla.
Entre os que a curiosidade ou a ociosidade reunira em volta da Porta de Oiro, notava-se um homem, cuja fisionomia exprimia mais surpresa e interesse do que seria de esperar de um habitante da cidade. O olhas vivo, os movimentos, a expressão do rosto, tudo deixava adivinhar uma imaginação solicitada por objectos novos, desconhecidos até então. O trajo era o de um guerreiro e o aspecto, tanto como o tom da pele, podiam indicar que nascera longe da capital da Grécia moderna.
Teria os seus vinte e dois anos, a estatura era notável, as formas atléticas, qualidades muito apreciadas pelos cidadãos de Constantinopla que, pelo hábito de frequentarem os jogos públicos onde encontravam o escol dos seus compatriotas e os mais belos modelos da raça humana, haviam adquirido profundo conhecimento do homem físico.
Esses atletas, no entanto, não eram em geral tão altos como o desconhecido parado diante da Porta de Oiro. Olhos azuis de olhar penetrante, cabelos loiros que saíam do elmo ricamente ornamentado de prata, cuja cimeira representava um dragão entreabrindo as formidáveis maxilas, tudo indicava a origem nórdica, confirmada pela extrema beleza da cútis. [...]
O traje do rapaz apresentava um misto de riqueza e frivolidade, conquanto bastasse para indicar a um espectador experimentado a nação a que pertencia e o posto por ele ocupado no exército. [...]
Sobre os ombros do guerreiro flutuava uma espécie de capa, parecida com uma pele de urso, mas que, vista de perto, se reconhecia ter sido tecida de seda, imitando pele. Ao lado pendia-lhe um sabre curto ou cimitarra, cuja bainha era de oiro e marfim e o punho trabalhado parecia pequeno para a forte mão daquele hércules tão elegantemente trajado. [...]
Porém, usava também uma arma mais adaptável, em aparência, à sua mão vigorosa e que um homem mais fraco não poderia manejar: uma acha de armas, com cabo de olmo, excessivamente duro, guarnecido de placas de aço e de cobre; as mesmas placas e anéis de ferro uniam entre si as peças de metal e de madeira. A arma apresentava dois gumes e entre eles via-se uma ponta muito aguda. Toda de aço, brilhava como um espelho... [...]
O uso de armas provava ser o rapaz militar ou estrangeiro. Entre os Gregos, como entre os outros povos civilizados, só os militares usavam armas em tempo de paz, tornando-se, portanto, fácil distingui-los dos simples cidadãos; foi com um ar marcado de receio e até de aversão que muitos afirmaram em voz baixa ser ele um Varangue, nome pelo qual designavam os bárbaros que compunham a guarda imperial."
(Excerto do Cap. II, O Varangue)
Exemplar brochado em bom estado de conservação.
Invulgar.
10€

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