MELO, Ernesto de - CURIOSIDADES DE PENAFIEL. O Crime do Champina. Paredes, "Gráfica Paredense", [1926]. In-8.º (19x13 cm) de 40, [10] p. ; B.
1.ª edição.
Narrativa histórica, baseada em documentos coevos, do horrível assassinato de Albina Caturra, "galante taberneira" de Penafiel, às mãos do seu amante, natural da mesma cidade.
Inclui no final reprodução de: Ofício emanado da Repartição de Justiça, subscrito por Costa Cabral, que em resposta ao ofício do Procurador Régio da Relação do Porto, informa que a rainha D. Maria II nega comutação da pena capital; Ofício subscrito pelo Conselheiro P. da Relação Joaquim José Queiroz, confirmando a Sentença Condenatória e dando pormenores do transporte do preso do Porto para Penafiel e respectiva execução; Certidão de Execução da Sentença.
"É este [livro] a narração sucinta do crime do Champina que ha velhos anos tanto impressionou a população penafidelense pela crueza com que foi praticado, e mais depois pelo seu autor ser condenado a morrer na fôrca, que para isso, e não sei se pela primeira vez, se ergueu no largo das Chans, hoje Praça Municipal.
A ele muito pela rama se referem o dr. Antonio de Sousa Henriques Sêco nas suas Memórias do tempo passado e presente, e o dr. Coriolano de Freitas Beça no seu já citado Penafiel, hontem e hoje, mas, a meu ver, só por informes pessoais.
O crime do Champina é contado ainda agora com um certo sabor de lenda por velhos a novos, que o arquivam na memória como exemplo de infrene malvadez da parte do assassino a correr parelhas com a dos executores da lei, que depois como castigo e com repugnante cinismo lhe arrancaram a vida na fôrca de execrável reminiscencia.
O meu relato, despido de louçanias de linguagem que não sei, é baseado simplesmente no respectivo processo crime, que após varias pesquisas pelos cartorios da comarca consegui encontrar e examinar, nunca deixando no seu decorrer de me cingir á verdade nele comprovada."
(Excerto de Preâmbulando...)
"Albina era uma mocetona de espáduas opulentas, seios túrgidos, os quadris reboludos e bem arqueados, que despertava apetites libidinosos a quantos ela envolvia nos seus olhares bréjeios, que lhe davam ao rôsto moreno e redondo graças embriagadoras. Oriunda do pecado e criminosamente abandonada por uma madrugada álgida de inverno á porta do Bernardo Caturra, morador á rua Direita, este por comiseração a tomou para si de generoso acôrdo com sua mulher, santa criatura que lhe cuidou da amamentação e a agasalhou até á adolescencia, deixando-a depois ir-se ao mister de criada de servir, pois para pouco davam os proventos do casal. [...]
Um dia prêsa de amores por um guapo oficial de sapateiro que melhor lhe soube falar ao coração, deixou-se ela por ele induzir com falazes promessas de casamento, entregando-se-lhe numa hora de alucinação para cêdo amargamente chorar a perda da sua honra ao vêr-se com miseravel ingratidão abandonada. Desde então não voltou a pensar a desgraçada em servir mais nenhum amo, recolhendo de novo e com promessas de emenda a casa de seus pais adoptivos. Mas porque o genio lhe não suportava a inacção e dominada pelo desejo ardente de por esforço proprio viver com certa independencia, resolveu em maré oportuna abrir uma casa de pasto na propria rua onde residia, empregando nela as soldadas que com economia amealhára durante alguns anos de trabalho persistente. Não lhe foi a sorte adversa. A vida começou a correr-lhe menos mal, não lhe escasseando freguêses que de preferencia lhe procuravam a casa. Um dos que com maior assiduidade ali se encontrava, era Manoel Braga, mais conhecido pela antonomásia de Champina, rapaz de 28 anos, rosto comprido, cabelos e olhos castanhos, barba ruiva, ousado e de mau caracter, que então se empregava no oficio de tamanqueiro, á rua do Chafariz."
(Excerto do Cap. I)
Ernesto de Melo (1872-?). "Natural de Penafiel, onde nasceu em 1870, publicou várias obras, sobretudo de contexto histórico, ainda hoje importantes para a História Local. Exemplo disso são publicações
como, “Châmorros e Carcundas: episódios das lutas liberais”, importante documento para quem queira melhor conhecer as contendas entre D. Pedro e D. Miguel e seus respectivos partidários, passando pela destruição de importante património penafidelense, como foi, entre outros, os Conventos de St.º António dos Capuchos que na altura albergava as forças absolutistas (os "Carcundas”), bem como o de S. Bento de Bustelo. Contemporâneo do poeta José Júlio, editou em parceria com este, não só a obra "Caras e Caretas, mas foram igualmente responsáveis pelo jornal “O Tempo”, do qual foi seu director, existindo entre
ambos uma longa amizade."
como, “Châmorros e Carcundas: episódios das lutas liberais”, importante documento para quem queira melhor conhecer as contendas entre D. Pedro e D. Miguel e seus respectivos partidários, passando pela destruição de importante património penafidelense, como foi, entre outros, os Conventos de St.º António dos Capuchos que na altura albergava as forças absolutistas (os "Carcundas”), bem como o de S. Bento de Bustelo. Contemporâneo do poeta José Júlio, editou em parceria com este, não só a obra "Caras e Caretas, mas foram igualmente responsáveis pelo jornal “O Tempo”, do qual foi seu director, existindo entre
ambos uma longa amizade."
(Fonte: Galhardo, Adelaide, O papel da literatura para a cultura penafidelense dos séculos XIX a XXI - Comunicação I Seminário Penafiel e Penafidelenses na História, Penafiel, 2016)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas algo sujas. Capa frontal apresenta carimbos com a palavra "Pago".
Raro.
Com interesse histórico e regional.
Indisponível
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