29 outubro, 2023

BRAGA, João Joaquim d'Almeida -
O PODER TEMPORAL DO PAPA.
Cartas ao Excellentissimo Senhor D. Antonio Alves Martins, Bispo de Vizeu. Por... Braga, Typographia Lusitana, 1867-1870. 7 vols in-8.º (21x13,5 cm) de 14, [2] p. (I) ; 23, [1] p. (II) ; 21, [3] p. (III) ; 31, [1] p. (IV) ;  27, [1] p. (V); 24 p. (VI) ; 22, [2] p. (VII) ; E. num único Tomo
1.ª edição.
Conjunto de 7 cartas dirigidas pelo autor ao Bispo de Viseu, D. António Alves Martins (1808-1882), criticando este último por se opor à teoria do poder temporal do Papa. Tudo isto numa época de turbulência religiosa, em que a Igreja discutia, para além do poder temporal, a infalibilidade papal.
Completo, é tudo quanto foi publicado sobre este assunto.
"Com o respeito devido á dignidade do logar que V. exc.ª occupa na jerarchia ecclesiastica, porém ainda com respeito maior áquella Verdade que está cima de todas as dignidades e de todas as jerarchias, permitta-me V. Exc.ª que tome a liberdade de dirigir-lhe pela imprensa uma carta, com o intuito de significar-lhe a expressão d'uma grande surpreza e o sentimento d'uma profunda dôr.
Quando, Excellentissimo Senhor, nós, os Catholicos que não tinhamos tido a ventura d'assistir á festa do Centenario do martyrio dos Apostolos Pedro e Paulo e da canonisação dos Santos, nos consolamos lendo e relendo as descripções d'aquella magestosa solemnidade, e agradeciamos á Providencia, que em tempos tão adversos nos dava d'estes grandiosos espectaculos da vida e força da Sua Egreja, de repente chegavam-nos aos ouvidos os surdos rumores d'uma infausta nova.
Dizia-se que desejando os Prelados reunidos em Roma testimunhar ao Santo Padre o quanto estavam d'accordo sobre a necessidade da conservação do poder temporal da Egreja para o livre exercicio do seu poder espiritual, e redigindo para isso uma exposição, de mais de quatrocentos Bispos, um membro do episcopado, um apenas, um só, V. Exc.ª, se havia recusado a assignar aquelle documento.
Esta nova causou profunda magoa a todos os que prezam a honra do episcopado e o bom nome do povo portuguez.
Muitos, apezar da insistencia com que era repetida, não a acreditavam; e razões havia para isso.
Custava a crêr que depois de tanto tempo em que não appareciam em Roma os Bispos da Nação Fidelissima, a primeira vez que alguns alli de encontravam, um d'elles juntasse mais uma a tantas amarguras que alanceiam o coração do Pae commum dos fieis. Além d'isso, o nome de V. Exc.ª vinha incluido na lista dos signatarios da exposição, e tudo isto levava a crêr que eram falsos os boatos propalados. Hoje, porém, nem para a duvida resta logar.
A noticia, que, a ser falsa, um Bispo não deixaria passar impunemente, corre sem desmentido; e qualquer que fosse o modo porque o facto se désse, visto que as versões são diversas, não se póde duvidar que V. Exc.ª dissentio da opinião dos seus collegas na questão do poder temporal do Papa."
(Excerto da 1.ª Carta)
D. António Alves Martins (1808-1882). "Nasceu em 1808, em Granja de Alijó (Alijó), e faleceu em 1882. Entrou para a Ordem de S. Francisco aos dezasseis anos, indo pouco depois para a Universidade de Coimbra. Foi expulso desta Universidade em 1828, por razões políticas: era um liberal acérrimo e tinha sido acusado de participar na revolução constitucionalista que se dera nesse ano no Porto, a 16 de maio. Em 1832 foi capelão da Armada, em 1842 deputado, em 1852 professor universitário, em 1861 enfermeiro-mor do Hospital de S. José, em 1862 nomeado bispo de Viseu, dirigente do Partido Reformista entre 1868 e 1869 e entre 1870 e 1871 foi ministro do Reino. Dirigiu o jornal Nacional, entre 1848 e 1849, tendo-se dedicado também ao jornalismo. Camilo Castelo Branco apreciava em extremo a natureza polémica dos artigos de D. António. Escreveu, entre outros títulos, O Nove de outubro e Breves Considerações sobre a Última Guerra Civil, que foi publicado em 1849 aparecendo na autoria "por um liberal". No regime de D. Miguel foi condenado à morte, tendo no entanto conseguido escapar com outros três condenados quando no caminho para o local de execução, Viseu. Polémico e liberal, foi também jornalista."
(Fonte: infopédia)
João Joaquim de Almeida Braga (1836-1871). "Nasceu a 4 de Fevereiro de 1836 na cidade de Braga e aí faleceu a 11 de Fevereiro de 1871. Foi na sua terra natal que frequentou o liceu e adquiriu uma posição de destaque no plano cultural, tendo aí publicado a maior parte da sua obra literária, quer em volume, quer através da imprensa bracarense, na qual manteve uma participação constante, nomeadamente como colaborador do periódico político e literário O Moderado (1853-1856), do jornal religioso Atalaia Católica (1854-1864), da publicação literária e instrutiva O Murmúrio (1956), de que foi fundador, e ainda do Independente (1858-1861), jornal de cariz político, literário e religioso. Figura marcadamente ligada aos preceitos do catolicismo e a uma postura compassiva a partir da qual ficou conhecido como “santo” entre os seus conterrâneos, também na sua obra literária Almeida Braga cultivou sobretudo uma escrita de pendor religioso que, a par da sua qualidade humana, lhe granjeou o apreço dos seus pares, como reconhece Alberto de Pimentel na obra Seara em Flor (1905), na qual elogia ainda a actividade literária deste autor, com quem travou contacto no Café Viana, sobretudo por decorrer numa cidade de escassos incentivos e meios de contacto com a literatura estrangeira. Com uma produção escrita visando diferentes géneros, Almeida Braga foi autor dos volumes poéticos A Grinalda: cantos da juventude (1857), Melodias: cantos da adolescência (1859) e Madalena (1867), assim como de escrita para teatro com os dramas Desgraça e ventura (1858), O fruto da obediência (1860), Tristeza e alegria (1860), O primeiro acto (1861) e Carlos (1862). Almeida Braga cultivou ainda o ensaio de intento cristão, publicando nesse âmbito Torquato Tasso (1859), O cristianismo e o século (1864), Jesus Cristo em face do mundo (1865).
Em O poder temporal do Papa (1867-70), reúne sete cartas dirigidas ao bispo de Viseu, D. António Alves Martins. Foi ainda autor de duas obras hagiográficas, O anjo da mocidade (1868) e O anjo das donzelas (1884), retratando nestas as vidas de S. Luís Gonzaga e de Santa Germana Cousin, respectivamente."
(Fonte: http://vcp.ul.pt/index.php/memorias-literarias/autores.html?id=31#braga_01)
Encadernação inteira de pele com ferros gravados a ouro na lombada. Conserva apenas uma capa de brochura no início do conjunto e outra a terminar. Aparado e pintado no corte superior.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Capa de brochura apresenta mancha antiga de humidade.
Raro.
Com interesse histórico e religioso.
45€

Sem comentários:

Enviar um comentário