MADUREIRA, Fernando - ACIDENTE OCIDENTAL. [3.ª edição]. [Prefácios de Luiz Pacheco e José Pedro d'Antas Pessoa Marques]. Lisboa, "Contraponto", [1979]. In-8.º (18,5x13 cm) de 186, [4] p. ; [2] desdob. ; B.
1.ª edição/3.ª ediçáo.
Romance "fora da caixa", espelho do seu criador, mas ao mesmo tempo curioso, insólito e muito curioso.
Autor maldito, Fernando Madureira foi um escritor contracorrente, homem vicioso e truculento, escritor de bizarrias e comportamentos "estranhos", anti-sociais, dirão outros. Acidente ocidental foi publicado em 1971 pela Itau de Júlio Roberto. Esta "3.ª edição" foi distribuída por Luiz Pacheco - outro "autor maldito" - que também prefacia a edição - através da sua editora Contraponto. Dada como terceira edição (informação impressa na lombada), a verdade é que os livros postos à venda não passam de exemplares não vendidos da 1.ª edição, apenas revestidos com capas diferentes da primeira, e já agora, da "2.ª edição", esta encapada pela empresa distribuidora de «O Século» para ajudar o autor - na época empregado do jornal - a desfazer-se dos livros. Os que sobraram dessa "segunda edição" são os que constituem a presente - a "terceira".
Os prefácios estão distribuídos por dois desdobráveis, ilustrados na frente com mensagens de despedida do autor, pouco antes de "tentar" o suicídio.
"Florêncio, enjoado com o cheiro espesso do gasóleo, desceu da carreira das 10 - Alberto, Pinto & Filhos -, na Praça do Município. Com os olhos procurou a mulher dos bolos amarelos, arrufadas e bananas que costumava ver ali desde que tinha nascido. Avistou-a, embrulhada num xale de merino preto, franzina como dantes, a fazer negócio noutra carreira prestes a seguir, e sorriu. Bateu, depois, repetidas vezes com os pés no chão para aquecê-los, pôs ás costas a velha mala de cartão com tudo o que tinha no mundo dentro, viu as horas no relógio da Câmara, e dirigiu-se para casa, na Rua de Camões.
A rua, tortuosa, esburacada, com árvores de ambos os lados coando os raios de sol, era bonita. Florêncio subiu-a até ao 436.
À porta, a Mãe. Alegre. Este é o teu quarto. Duas camas de pinho envernizadas de amarelo. Simètricamente perfiladas. Chitas vermelhas nas janelas. Uma cómoda pertencente ao conjunto. Tapetes felpudos. A tia Emília: fala-lhe bem.
Numa cama grande, castanha, um corpo magro e sons arrastados e aflitos.. Meu filho, chega-te aqui para ter ver melhor. O cheiro a doença, a repulsa natural e o beijo. E o corpo? É cancro diz a Mãe. Está por pouco."
(Excerto do Cap. 1)
Fernando Madureira (Penafiel, 1940 - Porto, 1980). "Contista e poeta. Pseudónimo de Fernando Rui Osório Leão da Silva. Autodidacta, exerceu várias profissões. Radicado em Lisboa, entrou para O Século como revisor, tendo ingressado no seu quadro redactorial em 1966. A problemática expressa na sua obra é uma simbiose entre os temas de cariz neo-realista e as dúvidas existenciais, caldeada por uma ironia amarga e algo desencantada."
(Fonte: https://www.escritas.org/pt/bio/fernando-madureira)
Exemplar em brochura, bem conservado.
Invulgar.
15€
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