MARTINS, J. P. Oliveira - HISTORIA DE PORTUGAL. Por... Tomo I [Tomo II]. Lisboa, Livraria Bertrand : Viuva Bertrand & C.ª sucessores Carvalho & C.ª, 1879. 2 vols in-8.º (18 cm) de XIV, 273, [7] p. (I) e 264, [2] p. (II) ; E. num único tomo. Bibliotheca das Sciencias Sociaes - II/III
1.ª edição.
Raríssima edição original da polémica História de Portugal de Oliveira Martins, obra racionalista, despojada de mitos e lendas, na esteira de Alexandre Herculano, seu mestre.
"A historia é sobre tudo uma licção moral: eis a conclusão que, a nosso ver, sáe de todos os iminentes progressos, ultimamente realisados no fôro das sciencias sociaes. A realidade é a melhor mestra dos costumes, a critica a melhor bussola da intelligencia: por isso a historia exige sobretudo observação directa das fontes primordiaes, pintura verdadeira dos sentimentos, descripção fiel dos acontecimentos; e, ao lado d'isto, a impassivel frieza do critico, para coordenar, comparar, de um modo impessoal ou objectivo, o systerma dos sentimentos geradores e o dos actos positivos."
(Excerto de Advertencia)
"«O povo desde o qual os historiadores teem tecido a genealogia portugueza está achado: é o dos lusitanos. Na opinião d'esses escriptores, atravez de todas as phases politicas e sociaies da Hespanha, durante mais de tres mil annos, aquella raça de celtas soube sempre, como Anteu, erguer-se viva e forte; reproduzir-se, immortal na sua essencia; e nós os portuguezes do seculo XIX temos a honra de ser os seus legitimos herdeiros e representantes.»
Com esta ironia, encoberta mas grave, fustiga o snr Herculano os seus predecessores, historiographos nacionaes, e segurando com valor a férula magistral castiga o povo, culpado de acreditar n'uma traição que tem para o erudito, além de outros, o defeito de ser recente. Só desde o fim do XV seculo o nome de lusitani começa a substituir o de portugalenses, nos livros; mas essa innovação, perpetuando-se entre os eruditos, torna-se por fim uma crença nacional e quasi popular."
(Excerto de Livro Primeiro: Descripção de Portugal - I Os lusitanos)
Joaquim Pedro de Oliveira Martins (1845-1894). "Historiador, economista, antropólogo, crítico social e político, a sua ação e os seus trabalhos suscitaram controvérsia e tiveram considerável influência, não apenas em historiadores, críticos e literatos do seu tempo e do século XX, mas na própria vida política portuguesa contemporânea. Desde 1867, Oliveira Martins experimentou diversos géneros de divulgação cultural: romance e drama históricos, ensaios de reflexão histórica e política e doutrinária. Mas essas tentativas, de valor desigual, não alcançaram grande sucesso. Em 1879, dá-se uma inflexão no seu percurso intelectual, com o início da publicação da Biblioteca das Ciências Sociais, de sua exclusiva autoria. Embora alheia a intenções doutrinárias e ao espírito de sistema dominante na época (positivismo, determinismos vários), não deixaria de, pontualmente, exprimir estas tendências. Pelo largo fôlego e diversidade de matérias que pretendia abarcar - história peninsular, história nacional e ultramarina, história de Roma, antropologia, mitos religiosos, demografia, temas de economia e finanças, etc. - a coleção constituiu um projeto sem precedentes no meio cultural português da Regeneração, com o objetivo de generalizar todo um conjunto de saberes entre um público alargado. O empreendimento editorial ficaria marcado pelo autodidatismo de Oliveira Martins, uma curiosidade científica sem limites e um bem evidente pendor interdisciplinar e globalizante. Esse autodidatismo é afinal indissociável do próprio percurso biográfico e profissional do historiador."
(Fonte: http://cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xix/oliveira-martins.html#.XVLSqkfOWM8)
Encadernação coeva em meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em razoável estado de conservação. Cansado, com danos na lombada. O Tomo I apresenta uma ou outra mancha antiga e pequenas falhas de papel, como no pé da f. rosto, onde se encontram ainda três assinaturas de posse rasuradas. O mesmo tomo aparenta ter em falta 4 páginas, não se verificando no entanto qualquer lacuna, pelo contrário, observa-se o seu curso lógico, com início na Advertencia e seguintes matérias, configurando, a nosso ver, uma gralha da numeração do livro aquando da sua impressão.
Raro.
Com interesse histórico.
75€
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