07 maio, 2023

GUIMARÃES, Domingos - O TRISTE FIM D'UM MONSTRO. Illustrações de Candido da Cunha. Novellas de Portugal I. Paris, Aillaud & Cia, [1900]. In-8.º (14,5x7,5 cm) de [6] f. il. ; 34, [4] p. ; il. ; E.
1.ª edição.
História pungente de um pequeno aleijado - o "monstro" - que se arrasta por caminhos poeirentos para adorar - de perto e de longe - uma beleza citadina. O seu convívio de crianças faz-se nas férias, junto da casa de campo da família da rapariga. Os anos passam e o moço espera e desespera pelo período do estio para retomarem os seus "diálogos amenos", mas a sua condição desigual - em "corpo" e alma - não se compadece com a sua índole sonhadora, levando-o ao desespero.
Livro precioso, em formato diamante, impresso em papel muito encorpado e de excelente qualidade, ilustrado com 6 belíssimos desenhos à parte do conhecido mestre-pintor barcelense Cândido da Cunha (1866-1926). Essas mesmas ilustrações são depois replicadas no texto, mas com cores diferentes entre si.
"Entre rendas a sua cabecinha poisava como n'um tufado nunho; seus olhos tinham o brilho vivaz e espantado de uma intteligencia desabrochada cedo; o nariz era petulante como a graça gauleza.
Disse-lhe um poeta, em madrigal, que, se Deus a não tivesse feito, a teria inventado. Não comprehendeu; mas o seu subtil instincto de mulher bonita segredou-lhe que era uma lisonja, e a lisonja agradava-lhe tanto como o debicar cerejas frescas com os seus dentinhos afilados de leôa precoce.
A paz da sua vida era serena e sem uma ruga. Ás tardes, debruçada para a estrada, com os cotovelos fincados nas pedras, via passar os carros que vinham das serras, com os seus tunneis de lona, e ficava-se a olhal-os com uma interrogação nos labios e uma curiosidade insatisfeita; muitas vezes pegava de conversa com os aldeões que passavam; e as suas risadas, que tiniam no claro ar com uma alegria doida, faziam rir os outros, infantilmente, como se lhes passasse pelo corpo um fremito d'aquella exuberancia de contentamento.
Mas o que a levava alli era o aleijadinho que se arrastava no pó, com as suas pernas quebradas, e uma bella cabeça loira a fitar, carinhosa, a cabecinha d'alveloa  que se pendurava no muro."
(Excerto do história)
Domingos Guimarães (1869-1934). Foi literato e publicista, trabalhou na imprensa, principalmente, como crítico de teatro e de literatura. Natural de Guimarães, foi no Porto que iniciou a sua carreira. Frequentou as mais selectas tertúlias, cultivando amizade com os escritores e artistas mais notáveis da época. Em finais de Outubro de 1897 mudou-se para Paris, abandonado a direcção do Branco e Negro. Segundo José Sarmento, que lhe fez a despedida em nome do semanário, iria assumir a função de correspondente de alguns diários informativos (n.º 84, de 7 de Novembro de 1897). Faleceu em Guimarães no ano de 1934.
Belíssima encadernação inteira de pele - executada pelo mestre encadernador Raúl de Almeida - com finos ferros gravados a ouro nas pastas e na lombada. Conserva as capas de brochura.
A numeração do livro está incorrecta, sugerindo a falta de 4 páginas, que não se verifica. A BNP tem registado na sua base de dados um exemplar igual, mas com apenas três estampas.
Muito raro.
Peça de colecção.
75€

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