03 novembro, 2020

AVELLAR, Fornarina de - UM CONTO EM FAMILIA : romance original.
De... Editor: José Tavares Junior
. Porto, Typographia do Commercio do Porto, 1873. In-8.º (20,5 cm) de VIII, 146 p. ; E.
1.ª edição.
Curioso romance que a autora reputa de real, baseado em "reminiscências" da sua juventude. Trata-se de uma obra agradável, bem redigida, rica em vocabulário, cujo acção decorre na cidade do Porto, e o tema central é o "amor".
"É de uma senhora a interessante e singela historia que este pequeno livro encerra em si. A estreia não podia ser mais auspiciosa, nem menos feliz a ideia que fórma toda a acção de Um conto de familia." É desta forma que o editor abre a introdução, continuando mais adiante: "Editorando-o, sentimos que a modestia da authora a levasse ao extremo de esconder o seu nome, firmando tão valioso trabalho com o pseudonymo de Fornarina de Avellar."
Relativamente à "maternidade" da obra, nada foi possível apurar acerca da identidade da autora, a não ser, ainda de acordo com o editor, estarmos em presença de uma "illustrada senhora da nossa primeira sociedade."
"Era n'uma linda tarde do mez de agosto, e a cidade invicta via banhados de luz os seus muros, que ainda ao presente a cingem como braço de esqueleto gigante pela orla marginal do rio e parecem protegel-a contra innovações de mais aceio e elegancia. E de facto, carrancudos e sombrios são elles, tudo o que resta d'essas muralhas que fechavam em recinto estreito o antigo burgo, a cidade do bispo, cujos habitantes, ciosos do poder arbitrario de um prelado, tentaram por vezes, e conseguiram por fim livrar-se da ferropéa episcopal.
O sol a esta hora parecia mergulhar-se n'um lago prateado com mesclas de nacar; uma faxa côr de fogo tingia vivamente os flancos das nuvens orlando-as de ouro, as quaes se recortavam em fórmas vaporosas e phantasticas. [...]
Dir-se-ia que a maioria dos habitantes da cidade passeavam pelas ruas e praças, desencalmando as suas respeitaveis e burguezas entidades do calor tropical soffrido durante o dia entre o balcão e as paredes forradas a papel de chita da loja em que o morador do Porto passa os dias não santificados, passeando no cazeiro, pitoresco e até economico traje semanal, de chinelos de ourelo e pitada entre o indicador e polegar da mão esquerda.
Era na Praça Nova onde se davam as mãos maior numero de homens e senhoras, assentados e reunidos em vistosos grupos, rindo e conversando, em quanto os mais idosos, arvorado o impertinente chapéu no castão de unicornio da sua favorita bengala, iam e vinham de um a outro extremo da praça, entregando ás caricias refrigerantes da brisa os sensatos e despovoados toutiços com que a natureza os havia mimoseado, proximos a resvalarem na sepultura."
(Excerto do Cap. II)
Encadernação coeva em meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Pastas com defeitos.
Raro.
Sem registo na BNP.
Indisponível

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