BRUN, André - A BAIXA ÁS 4 DA TARDE. Conferencia realisada no Salão da Trindade em 8-Dezembro-1910. Por... [Lisboa], Impresso na Typographia «A Liberal» de Cesar Corrêa, [1910]. In-8.º (18 cm) de 32 p. ; il. ; B.
1.ª edição.
Curioso livrinho onde o autor - conhecido humorista - discorre sobre a Baixa de Lisboa fazendo uso da sua veia satírica. Peça com indubitável interesse bibliográfico e olisiponense, foi uma das suas primeiras publicações, raramente citada nas suas biografias. Reimpresso em 1999, pela Grifo, esgotou rapidamente.
Opúsculo ilustrado em todas as páginas, no pé, com propaganda alusiva ao Salão da Trindade, local onde se realizou a conferência.
"Como V. Ex.as sabem, desde que fizeram exame de instrucção
primaria, ha, a um canto da Europa, um paiz chamado Portugal, á
beira-mar plantado, o qual se divide em duas partes: a Baixa e a
provincia. A provincia, que começa no largo das Duas Egrejas, na rua das
Pretas e na rua da Prata, estende-se, para um lado, para um Minho
longinquo, cheio, ao que se diz, de lindas raparigas e alegres romarias; para o outro, para um Algarve beijado pelo sol e onde, a par de encantadoras tradicções de mouras encantadas, o figo, e a alfarroba estão como o villão em sua casa. A
Baixa e seus arredores, muito tristes e solitarios, constituem
Lisboa, terra de alface, do Conselheiro Accacio e das meninas Soisas. [...]
Emfim sejam quaes forem as rasões, topographicas ou de rotina irresistivel, o certo é que só a Baixa vive. O resto de Lisboa é constituido por arruamentos de aldeia sem transito, sem commercio e sem vida. A Baixa é tudo. Uma senhora quer comprar um carrinho de linha? Vae á Baixa. Uma
menina quer arranjar um namoro aceiado e de botas de polimento? Vae á
Baixa. Um sujeito quer pedir dez tostões emprestados? Vae á Baixa.
A Baixa ainda tem outro condão: o fazer com que toda a gente se conheça. Todos os dias, á mesma hora, se veem alli as mesmas caras. Á força de encontrar sempre as mesmas pessoas começamos primeiro por olhá-las com sympathia, um bello dia vem um sorriso, mais tarde um cumprimento e acabamos por lhes apertar a mão e por cavaquear com ellas, como se tivessemos andado na mesma ama. [...]
O Chiado é a arteria aristocratica, o nosso «boulevard dos italianos». Até a lama é elegante.
Ó lama do Chiado! Ó lama do bom tom..."
(Excerto da conferência)
André Brun (1881-1926). "Humorista português de renome, de ascendência francesa e de nome completo André Francisco Brun, nascido em 1881, em Lisboa, e falecido em 1926, na mesma cidade. Combateu na Primeira Guerra Mundial,
atingindo o posto de major. Dedicou-se à literatura, cultivando o
drama, a crónica e o conto. A vivência da guerra forneceu-lhe parte da
sua temática, por exemplo em A Malta das Trincheiras. De entre as suas peças, cuja comicidade lhe valeu certo acolhimento por parte do público, destacam-se A Vizinha do Lado e A Maluquinha de Arroios."
(Fonte: infopedia)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas frágeis com pequenos defeitos.
Raro.
25€
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