30 agosto, 2020

OLIVEIRA, Antonio Maria d' - Élas. (Sátiras escandalosas). [S.l], Edição do Autor [Composto e Impresso na Americana - Tipografia, Lisboa], [1924?]. In-8.º (19 cm) de 70, [10] p. ; B.
1.ª edição.
Obra curiosa e algo insólita. Sátira poética dedicada ao "sexo fraco", composto por pequenas poesias maldizentes e brejeiras. Inclui uma poema satírico sobre a Grande Guerra.
No final do livro, em Apendice (para a critica e para os criticos), o autor, fazendo uso de ironia, "desanca" um crítico modernista pelas observações feitas aos temas tratados na sua obra anterior (que havia classificado de gastos e relhos), tendo Oliveira contraposto com, entre outras "pérolas": "O que ahi fica estampado dirige-se, sim, a muitos d'esses jovens criticos, tão enciclopedicos como tôlos, meninos dourados que, após terem sido reprovados nos seus estudos em qualquer modesto liceu, enveredaram pela literatura, quando a agricultura e o comercio exigem pulsos para uma enxada e espaduas robustas para uma alfandega."
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"Este livro foi delineado no meu espirito n'uma linda manhã de Primavera encharcada de sol, embalsamada de perfumes; precisamente na manhã doirada em que ao beiral do meu telhado chegou o primeiro casal de andorinhas; n'uma manhã em que una labios frescos e purpurinos d'uma mulher bonita me insultaram, só porque eu cometi o estupendo, o monstruoso crime de lhes pedir um beijo!
Senti profundamente, no mais intimo da minha alma, a injustiça d'esse insulto. Eu não merecia o palavrão d'essa mulher. Não, não o merecia. Porque o beijo que eu lhe pedira, o beijo de que eu tinha sêde, não era um beijo que eu lhe podesse roubar n'um frenesi sensual, roçando pelo delirio, como Ela talvez desejasse. [...]
Se essa linda mulher, em vez de me insultar, me tivesse dádo esse beijo, eu tel-o-hia recebido com a mesma candura com que recebi a hostia no dia da minha primeira comunhão!
Preferiu insultar-me, lançando-me ás faces um formidavel palavão! Por isso - oh! vingança! sentimento hediondo, prazer inefavel dos Deuses! - jurei vingar-me! [...]
Eis aqui, minhas senhoras, em prósa vil, o que eu vos disse n'esse dia, baixinho, ao ouvido, entre apiedado e raivoso... Depois, escrevi o que ides lêr. - Um livrinho cheio de intuitos moralisadores, por muito paradoxal que isto vos pareça, por mais desbragado e imoral que os imoralões de cadastro o venham a julgar."
(Excerto do preâmbulo)

"Senhora livre e honesta
A homem de dinheiro farto -
Pede quantia modesta,
P'ra lhe pagar... n'um quarto!

Menina só, recolhida,
Bastante nova, amoravel...
Deseja ser... protegida
Por cavalheiro respeitavel."

(Excerto de Anuncios...)

"Tão unido, lá na terra,
Jamais houve outro casal...
Ele, um dia, foi p'ra a guerra
Bater-se por Portugal.

Ela chorou noite e dia,
Inconsolavel, febril.
Perdera a sua alegria,...
Morria em pleno abril!...

Se ao menos um filho houvesse...
(Lembrança do Bem-Amádo)
Talvez Ela assim podesse
Ver seu pranto mitigádo.

Entretanto, nas trincheiras,
No sólo humido da França
Ele luta, horas inteiras,
Tendo a Mulher na lembrança.

Lutou durante dois anos
E, afim, a guerra infernal
Terminou. E os bons serranos
Voltaram a Portugal.

Ei-lo volta com presteza
Ao lar... aos doces carinhos
Da Mulher que, por surpreza,
Lhe apresenta... dois filhinhos!..."

(Excerto de Amor... e Fidelidade!...)

Exemplar brochado em razoável estado de conservação. Capas frágeis com defeitos, recuperadas com fita gomada. Contracapa apresenta manchas de tinta, bem como algumas folhas no final do livro. Sem f. anterrosto. Rubrica de posse na f. rosto.
Raro.
A BNP possui um exemplar no seu acervo.
30€

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