20 julho, 2024

AMORIM, Francisco Gomes de - OS SELVAGENS. Por... Lisboa, Livraria Editora de Mattos Moreira & C.ª, 1875. In-8.º (17x10,5 cm) de 307, [5] p. ; E.
1.ª edição.
Romance cuja acção decorre no Brasil. Trata-se da edição original da "primeira tentativa de romance" publicado em livro, nas palavras do autor, que oferece ao conselheiro Bartholomeu dos Martyres Dias e Sousa.
"No tempo em que os hespanhoes assombraram com as suas crueldades o grande imperio dos incas, todos os peruvianos, que puderam escapar da carnificina e não quizeram viver escravos dos algozes de seus paes e irmãos, se internaram nos desertos profundos e desconhecidos do Brazil.
A tribo dos tapajós, rival das dos chiquitos e carapuchas, que se dintinguira sempre pela sua sabedoria durante a paz e por brilhantes feitos de armas na guerra contra os estrangeiros, atravessou o rio Ucayale, desceu pela margem direita do Amazonas, passou o Jauary na fronteira, e, mettendo-se nas florestas virgens, caminhou por ellas até ás faldas da serra dos Parecis. Encontrando ali as nascentes de um grande rio, cujas aguas crystallinas e transparentes deixavam ver, a duas e tres braças de profundidade, numerosos cardumes de peixe, estabeleceu o povo emigrado as suas primeiras tabas ou aldeias.
Eram as terras ferteis de caça e de fructos, mas povoadas todas por gentio bravo e feroz, como os tigres e onças, que n'ellas abundavam. Apesar de justos e equitativos, os tapajós traziam presentes na memoria os motivos da sua expatriação, e a necessidade obrigou-as a aproveitar a lição recebida dos conquistadores do Perú."
(Excerto de I - Os indios mundurucús)
Francisco Gomes de Amorim (Avelomar, Póvoa de Varzim, 13 de agosto de 1827- Lisboa, 4 de novembro de 1891). "Poeta, jornalista e dramaturgo português, emigrou com dez anos para o Brasil, tendo sido caixeiro, em Belém do Pará. Vítima dos maus tratos de patrões portugueses, Gomes de Amorim fugiu para o sertão amazónico, onde por acaso encontrou, na cabana de uma família indígena, o poema Camões, de Almeida Garrett, episódio que dá início à sua vida de poeta, conforme relata no prefácio autobiográfico de Cantos Matutinos (1858). De volta ao Portugal, em 1844, depois de dez anos de ausência, estreita a relação de amizade que une Gomes de Amorim a Almeida Garrett, que tendo publicado o Romanceiro e Cancioneiro Geral, em 1843, irá influenciar o amigo e discípulo na valorização da cultura popular. A essa primeira influência soma-se a das Conferências Democráticas do Casino Lisbonense, em 1871, que irão desembocar no movimento nacionalista de valorização do mundo rural, enquanto repositório das raízes da Nação. É nesse contexto impregnado de amor à Pátria e de preservação das tradições populares que desponta As Duas Fiandeiras, “romance de costumes populares”, publicado por Gomes de Amorim em 1881 (embora escrito em 1866), pela prestigiosa editora de David Corazzi de Lisboa, dentro do selo “Horas Românticas”. A dedicatória da obra, evocação da paisagem amazónica, e a geografia da narrativa, a Avelomar natal, configuram as duas pátrias às quais o autor dizia pertencer. Retratados com fidelidade e verosimilhança, os tipos humanos que povoam As Duas Fiandeiras vêm ao encontro da caracterização regionalista nos quadros do realismo-naturalismo, ao mesmo tempo em que respondem pela idealização de uma ruralidade mítico-simbólica, com a qual se inicia a narrativa: “Ainda lá não chegaram os esplendores e os vícios da civilização, que ilustra e corrompe tudo (...)”.
(Fonte: Biblioteca Digital)
Encadernação em sintético com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Com uma ou outra pequena falha de papel no interior, sem prejudicar o texto. Sem f. ante-rosto.
Raro.
25€

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