24 maio, 2020

FUNÇAÕ DE S. JOAÕ DA MADRUGADA, // Para rizo da gente socegada. // E a Mulher, que de noite naõ dormio, // Para sonhar de dia o que naõ vio. // Obra alegre, gostoza, e doctrinal, // Que aos Senhores Leitores naõ faz mal. // Dada á luz por Ambrozia Brites Pobre, // Por ter necessidade d'algum cobre.
LISBOA // Na Officina de Antonio Rodrigues // Galhardo, Impressor da Real // Meza Censoria. // Com licença da mesma Real Meza. [17--]. In-8.º (22 cm) de 15, [1] p.
1.ª edição.
Folheto de cordel. Curioso opúsculo setecentista (sem data de impressão), de autor fictício.

"Era o tempo em que o Mundo abrazava,
E que o Sol da frescura se vingava,
E das ruas as gentes dezertando,
Os sobrados das cazas vaõ auguando:
Hum se arregaça já, posto em camiza,
Outro o molhado chaõ, descalço piza;
As mulheres tambem mui bandalheiras,
Com saias rotas, curtas, e ligeiras,
De nojentos suores alagadas,
Os lenços do pescoço despregando;
Com seus leques os rostros refrescando;
Receita que rebate o mal violento,
A que chama a preguiça afrontamento.
Escuta-se na rua com desvélo
O pregáõ de espumante caramello,
E prompta a quarta d'agua já frenada,
Se despoem a goloza patuscada;
Frescura com que o Sol quebra os rigores,
Para amparar os pobres vendedores,
Que andando pela rua com calma tal,
O santo caramello ivita o mal.
Achava-me eu sentada na janella,
Por ter esta huma grade mui miuda,
Capaz d'uma Mulher como eu cizuda,
Na qual a minha ideia só se cança,
Em dar fé do que vai na vezinhança..."

(Excerto do texto)

Exemplar desencadernado, ligeiramente escurecido, em bom estado de conservação.
Raro.
35€

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