SALGADO, Heliodoro - A RELIGIÃO DA MORTE. Prefacio de Botto Machado. Lisboa, Editor - Dias da Silva. Deposito : Livraria do Povo, [19--]. In-8.º (19 cm) de [2], 117, [3] p. ; B. Bibliotheca Propaganda Social, N.º 1
1.ª edição.
Ensaio anticlerical, sem data, certamente publicado na primeira década do século XX. Apesar da indicação na f. rosto, o livro não inclui prefácio; a sequência lógica e a paginação, aparentemente sem faltas, configura um descuido na sua composição e(ou) impressão.
"Estudemos a doutrina religiosa nas suas origens, nas suas affirmações dogmaticas, na sua evolução historica, na significação presente, na sua influencia, boa ou má, sobre o progresso da humanidade.
É hoje opinião da maioria dos mythologos que as primeiras manifestações do religiosismo reflectido surgiram em face do problema da morte.
A morte, consequencia fatal do nascimento, visto como tudo o que começa tem de acabar, é devida á inutilisação de qualquer dos orgãos essenciaes á vida. O momento d'essa inutilisação é, poré, afastado graças aos cuidados que expontaneamente o homem toma, aguilhoado pelo instincto da conservação, que oo leva a procurar tudo quanto possa fortalecer-lhe e prolongar-lhe a vida, ao mesmo tempo que a evitar tudo quanto o possa prejudicar. Este instincto, fonte de todo o nosso aperfeiçoamento progressivo, bastou a crear no homem primitivo o horror da morte, horror de que os proprios animaes, na approximação do momento fatal, dão provas bem inequivocas. [...]
Ao tratarmos da Morte, esse espectro demoniaco, que o medo popular tão convulsamente repelle, e que os padres, satanicos exploradores da fá, aproveitam como filão inexhaurivel, vem-nos á mente, por sugestão, a ideia do Suicidio, essa modalidade da morte.
E assim como medo da Morte tem, como dissemos, a sua origem no instincto de conservação da especie, do mesmo modo o suicidio, se baseia n'esse mesmo instincto.
Muito ao contrario do que ordinariamente se julga, o suicida, não põe termo á existencia por que deteste a vida, mas sim porque a ama.
É paradoxal este reciocinio, mas no fundo muito verdadeiro e logico."
(Excerto do Cap. I, A Morte e o Suicidio)
Matérias:
I – A Morte e o Suicidio; II – Origem e evolução historica do culto dos mortos em Roma; III – O culto e a impiedade da egreja catholica para com os mortos; IV – A alma humana e a Espiritualidade da alma; V – O culto das reliquias / O culto dos Santos / O enterro civil e a cremação; VI – Juizo de Deus após a morte do homem (O Inferno e o Paraizo – Descida de Jesus ao Inferno); VII – Ressurreição dos mortos / Fim do mundo / Immortalidade da alma; VIII – Os milagres; IX – A Inquisição; X – Crimes da seita negra (Giordano Bruno – Etienne Dolet – Vanini – Damião de Goes – Galileu – Sarah de Mattos); [XI] – Matança dos huguenottes em dia de S. Bartholomeu; [XII] – Sarah de Mattos; [XIII] – Consequencias sociaes do ensino catholico; [XIV] – Vida retrospectiva do Christianismo; [XV] – Os jesuitas; [XVI] – O clericalismo e o progresso.
Heliodoro Salgado (1861-1906). "Começou a desenvolver a actividade de jornalista no jornal O Operário
de tendências socialistas, porque nessa altura estava inscrito no
Partido dos Operários Socialistas. No final da década de oitenta do
século XIX começa a aproximar-se cada vez mais das ideias republicanas a
que veio a aderir próximo do Ultimato inglês de 1890. Nas eleições
realizadas em Março de 1890 apresentou-se como candidato a deputado, mas
obteve um resultado decepcionante. Manifestou sempre fortes
preocupações sociais destacando-se como defensor da instrução popular,
da melhoria das condições de vida das classes trabalhadoras e a
veemência dos seus textos valeram-lhe em diversas ocasiões a prisão e a
censura dos seus escritos. [...] “Protótipo do proletário
intelectual” [David Ferreira, Dicionário de História de Portugal,
vol. V, dir. Joel Serrão, Livraria Figueirinhas, Porto, 1992, p.
425-426], Heliodoro Salgado acaba por morrer com 45 anos. Era
considerado um grande orador nos comícios organizados pelos
republicanos, para defender as causas dos mais fracos e injustiçados
socialmente."
(Fonte: arepublicano.blogspot.pt)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas frágeis com defeitos.
Raro.
Indisponível
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