08 setembro, 2024

SANTOS S. J., Pe. Domingos Maurício Gomes dos -
A RELAÇÃO DA VIDA E MORTE DOS SETE MÁRTIRES DE MARROCOS DE FR. ANTÓNIO DA CONCEIÇÃO.
Pelo... (Comunicação apresentada à 7.ª Secção do XXIII Congresso Luso-Espanhol - Coimbra, 1956). Coimbra, Associação Portuguesa para o Progresso das Ciências, 1957. In-4.º (26x18 cm) de 62, [2] p. ; il. ; [1] f. desdob. ; B.
1.ª edição.
Reprodução de um manuscrito do século XVI, pouco conhecido, sobre a também pouco conhecida vida, martírio e morte de sete jovens portugueses e espanhóis reféns de Muley Hamet, Rei de Marrocos, por não abdicarem da sua religião.
Trata-se da narrativa de Fr. António da Conceição, que integrou a embaixada de D. Francisco da Costa, em Maio de 1579, para resgatar os prisioneiros da batalha de Alcácer Quibir, e que, paralelamente, terá tomado conhecimento da situação dos jovens.
Livro ilustrado com o escudo da Ordem trinitária e a portada da Relaçam cada um em sua página, e no final do livro, em folha desdobrável (25,5x31 cm): Planta do palácio xerifiano de Marrocos no século XVI, pertencente à Biblioteca do Escurial, estando reproduzido no verso desta a legenda do palácio do Xerife - "registo das indicações manuscritas no original da planta" -, e fac-símile de duas páginas da Relaçam.
"A «Relaçam da Vida e Morte de Sete Moços que Moleiamete rei de Marrocos matou porque não eram christãos, dos quais hum era filho d'elche & de moura de nação, os outros feitos mouros por força, a 4 de Julho de 85, escrita per hum religioso da Santissima Trindade & Redenção de Captivos», é um manuscrito de 190x250 mm e 64 folhas (1r-64r). [...]
O texto consta de três peças: 1. «Carta pera o serenissimo primcipe Cardeal governador do reino de Portugal pola s. c. r. m. delrei d'Espanha Dom Philippe nosso Senhor» (fols. 3r-4v).
2. «História da vida e morte de sete moços que elRei Xarife mandou matar em casa em sua casa por dizerem que erão christãos» (fols. 5r-62v).
3. «Sertificação da verdade da história (fols. 62v-62r). Embora adicionada ao texto precedente, como capítulo complementar, o 14. constitui, apenas, uma declaração de fidedignidade na narrativa dos factos - por parte de quem a escreveu. [...]
O autor, como expressamente indica a carta introdutória, é Frei António da Conceição, religioso da Ordem da Santíssima Trindade, o qual, tendo acompanhado, por indicação do seu superior monástico e ordem do Cardeal Rei D. Henrique, a embaixada que este monarca enviara a Marrocos para tratar do resgate dos prisioneiros de Alcácer Quibir, se encontrava na capital xerifiana do Sul, quando se deram os acontecimentos narrados. Teve, assim, ocasião e oportunidade de se certificar, miùdamente, da veracidade deles, por si ou por testemunhas presenciais idóneas.
A biografia de Fr. António da Conceição é bastante conhecida.
Nasceu na Ribeira de Santarém, em 1549, e morreu nas masmorras de Marrocos, a 20 de Maio de 1589. Foram seus pais Bastião Rodrigues e Maria Pais. Na sua cidade natal, fez o curso de artes. Em 1566, recebeu, ali, o hábito trinitário, prosseguindo, mais tarde, em Coimbra, o estudo das ciências filosóficas e teológicas, tendo por mestre o célebre Fr. Luís Soares, fervoroso partidário do Prior do Crato. Por esse motivo, o mestre veio a ser encarcerado no seu convento escalabitano, do qual fugiu para França, e dali para Inglaterra, onde assistiu, como confessor e conselheiro, a D. António, até 1591, data em que morreu, prematuramente, com só 44 anos de idade.
Quando, em maio de 1579, D. Francisco da Costa foi enviado embaixador a Marrocos, para tratar do resgate dos prisioneiros de Alcácer Qyubir, levando por secretário Luís Fernandes Duarte, Fr. António, ao lado de Fr. José de Madre de Deus, acompanhou a embaixada, como confessor do diplomata. [...]
Por toda a parte, a estamenha branca do trinitário, assinalada no escapulário pela cruz azul-escarlate da Ordem, esvoaçava, num vaivém incessante. Através de masmorras e cadeias, Fr. António ia visitando, consolando e animando à paciência,  nos trabalhos do cativeiro, os pobres prisioneiros, como testemunha expressamente Jerónimo de Mendonça.
Os renegados ou elches, como ali se lhes chamavam, mereceram-lhe atenção especial. Sem se poupar a sacrifícios e perigos, tentou reduzi-los, de novo, à fé cristã, causando a admiração do próprio Xerife, pelo seu desassombro.
Entre os frutos deste zelo de redenção espiritual, deve contar-se a recuperação de 7 jovens, martirizados em 1585, da qual o piedoso trino santareno se faz cronista, no presente códice.
O caso resume-se nisto. Entre os prisioneiros de Alcácer e entre os prisioneiros das surtidas dos corsários nas carreiras de navegação do Mediterrâneo e do Atlântico ou nas costas do Algarve e Ilhas Adjacentes, vendidos ao Xerife de Marrocos, contavam-se algumas crianças e jovens.
É sabido o destino de tais cativos. Segundo Fr. António da Conceição, o Xerife Abde Almélique, antecessor de Mulei Ahmede Almançor, enquanto homiziado na Turquia, contraíra o hábito de servir-se, de portas adentro, de moços elches ou renegados, alguns tornados eunucos não só para ofícios ordinários de sua pessoa, quer dizer como criados, «mas também para seus appetites brutais», isto é, para práticas sodomíticas.
«Os mais destes ou quasi todos», de diversas nações - gregos, esclavões, alemães, ingleses, castelhanos, portugueses e de outros países, faziam «mouros por força, a poder d'asoutes & outros inumeraueis tormentos, com que a tenrra jdade  não pode». Só os portugueses e castelhanos se mantinham mais renitentes na sua fé, que não abandonavam de todo, bem como na educação familiar, recebida em sua terra."
(Excerto do estudo)
Exemplar brochado, por abrir, em bom estado de conservação.
Muito invulgar.
Com interesse histórico.
30€

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