BATALHA, Ladislau - O NEGATIVISMO. Viagem aventurosa nas regiões do Ideal. Com uma apreciação sintética pelo professor Miguel Bombarda. Lisboa, Parceria Antonio Maria Pereira : Livraria Editora, 1908. In-8.º (20,5x13 cm) de [8], 462, [2] p. ; E.
1.ª edição.
Curioso ensaio do autor sobre ele próprio e a sua visão do mundo, plena de dúvidas e contradições.
"Sr. Ladislau Batalha.
Se o seu livro se chamasse As mentiras do Universo, não lhe iria descabido o titulo. Nunca vi que se escalpellassem com tanta crueza os convencionalismos em que as sociedades vivem, os erros até onde as sciencias se arrastam, as illusões em que tudo se deixa embalar n'este planeta, desde as falsidades a que os sentidos nos levam até aos mais altos vôos da concepção do homem. Mas tambem é um campo de batalha aberto esse seu livro em que combatendo-se pelo determinismo, o proprio determinismo se ataca; em que, degladiando-se contra a erudição, tão larga erudição se patenteia; e em que, sobretudo, na obra scientifica do homem, se faz a parte - ai de nós, a larga parte! - da phantasia e do sentimento.
É uma colossal obra de pessimismo essa que se condensa em 400 paginas de leitura tão empolgante como extranhamente original. São 400 paginas de condemnações, sinceras e desapiedadas como as d'um justiceiro, mas tambem quantas vezes injustas como as d'um arrebatamento de paixão."
(Excerto da Apreciação)
"A esperiencia primitiva e rudimentar dos homens fê-los crear deuses que a mesma esperiencia posterior e mais completa fez negar.
Mais modernamente foi para uns o homem feito á similhança de Deus; para outros foi o homem que serviu de modelo á divindade.
E todas estas contradições e oposições se justificam com argumentos e pontos de vista que chamamos lógicos e positivos.
Ora uma já relativamente longa vida vivida aos empuxões disto a que se convencionou chamar fatalidade, por melhor vocábulo não haver com que se disfarce a ignorancia do destino as coisas, proporcionou-me ensejo de estreitar relações com o mundo, familiarisando-me com elle em todos os seus mais aspectos fisicos e moraes.
Embora eu não tenha a intenção propositada de tratar mais de mim do que do resto, cumpre reconhecer que não seria facil a quem me lesse, esplicar o como e o porquê das desusadas doutrinas que vou desenvolver, se não esposesse como preliminar uma especie de genealogia das minhas concepções.
Com efeito foram imprevistas circumnstancias determinadas por fatores varios que não vem para aqui esplicar, as que me ingeriram na medicina, na jurisprudencia, na navegação, nas peregrinações, nas artes e nos oficios, em toda a escala, emfim, das eventualidades humanas que principiam na luxuria dos palacios e terminam na embriaguez das tabernas.
O longo percurso social que vae desde o vagabundo até ao potentado, caminhei-o eu numa febre de aventureiro, num desânimo de desgraçado, num entusiasmo de bohemio profissional."
(Excerto do Cap. I)
Ladislau Estêvão da Silva Batalha (1856-1939).
"Ladislau Batalha poderia ter sido uma personagem de um livro de
aventuras. Novo, embarcou como tripulante na marinha mercante, tendo
percorrido
os mares do norte. Nesta condição, conheceu especialmente os Estados
Unidos da América, o Japão, a China e o Ceilão. Trabalhou também como
taxidermista em África e como gravador de vidro em São Tomé e Príncipe. A
sua experiência dos mares e o trato com inúmeros povos deu-lhe vastos
conhecimentos, tanto de línguas como de costumes e culturas, de tal modo
que, voltando a Portugal, se tornou professor do ensino secundário sem
qualquer curso superior. As suas aventuras no alto mar e em terras
longínquas permitiram-lhe também escrever obras como Línguas de África (1889), Costumes angoleses (1890) e O Japão por dentro (1904), entre outros. Enquanto militante activo do partido socialista de então, escreveu obras de cariz político como A burla capitalista (1897) e Pátria e conversão (1898), tendo igualmente proferido várias conferências. Colaborou como redactor com vários jornais portugueses (Diário de Notícias, A Vanguarda, etc.) e estrangeiros (p.e., El Socialista).
Em 1919, acolheu em sua casa o poeta Gomes Leal, que, semilouco,
passeava pelas ruas de Lisboa em quase mendigagem. Foi aliás em sua casa
que Gomes Leal acabou por morrer em 1921. Sobre esta experiência,
Ladislau Batalha escreveu o livro de memórias Gomes Leal na intimidade (1933), e encontrava-se a escrever Gente da nossa terra,
outro livro de memórias sobre os seus conhecimentos no meio literário,
quando morreu em 1939. A sua obra ficcional cinge-se a três romances (Misérias de Lisboa, 1892-1893, Mistérios da loucura, 1890-1891, e Florêncio, 193-) e duas peças de teatro (A miséria e Consequências de um sim)."
(Fonte: http://fcsh.unl.pt/chc/romanotorres/?page_id=59)
Encadernação editorial em percalina com ferros gravados a seco e a branco nas patas e na lombada.
Exemplar em bom estado de conservação.
Muito invulgar.
35€
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