16 setembro, 2024

BELLEM, A. M. da Cunha - ONDE ESTÁ A INFELICIDADE! Romance original por... Lisboa, Bibliotheca dos Dois Mundos, [1865]. In-4.º (23,5 cm) de 91, [1] p. ; B.
1.ª edição.
Novela  baseada em factos do conhecimento do autor, antecedida de uma carta sua a Manuel Pinheiro Chagas recordando uma viagem que ambos fizeram pelo Minho dois anos antes, escrito "poucos dias depois do regresso, e debaixo da impressão ainda das bellezas campestres e dos monumentos historicos, que por lá vira a barrisco espalhados."
Ilustrações assinadas H. Meyer.
Homenagem do autor no final do livro a Camilo Castelo Branco - "o primeiro romancista portuguez" - tendo como ponto de partida o título do seu livro, idêntico ao de Camilo - Onde esta a infelicidade?
"Vae aqui este capitulo, que deveria ter logar de honra no principio do livro, se o seu desenvolvimento, explanando a urdidura do romance, lhe não entibiasse o já limitado interesse. [...]
É verdadeira a historia que narro, e que adrede deixei ir desataviada nos recamos de peripecias, para que mais realce tivesse o fundo de veracidade que encerra. Uma familia que a riqueza deslumbrou, e que só veio de novo a encontrar a antiga traquilidade no seio de honesta mediania, foi quem me inspirou o enredo da presente narrativa. D'elle nasceu naturalmente a idéa do titulo, que parece em antagonismo com o do precioso romance de Camillo Castello Branco. [...]
Escusada é sem duvida esta explicação, porquanto sempre o romance de Camillo Castello Branco passará por uma das suas melhores obras, e a minha historia terá o modesto logar, que lhe é destinado na escala das producções litterarias; mas não o é de certo o aproveitar com avidez este ensejo de prestar homenagem do meu respeito ao fecundo escriptor a quem as letras patrias tanto devem, já pelos preciosos thesouros com que as tem enriquecido, já pela heroica perseverança com que tem verberado e perseguido as bastardas traducções de romances de mau gosto, que, como joio damninho, inçavam as cearas da nossa litteratura. [...]
Emfim, appareceu Camillo Castello Branco, e logo as suas primeiras obras foram saudadas com enthusiasmo. Não o esmoreceram ruis invejas, que bastas apparecem no nossa terra, nem difficuldades com que luta quem em Portugal cultivas as lettras, terreno o mais arido e ingrato de quantos arroteia o genio do homem. Perseverou e venceu!... Redobrou de incançavel actividade. Fez succeder uns aos outros os romances temperados do chiste natural da sua elegante dicção; deu ao povo os typos seus conhecidos e os estudos do coração, que elle sabia tambem apreciar..., e, como por um encantamento magico, as novellas mal traduzidas foram fugindo espavoridas diante da fecundidade inexgotavel do redemtor do romance nacional."
(Excerto de Homenagem de respeito)
"O romance, bem como a historia, é a photographia da sociedade. Se esta reproduz os valorosos feitos dos varões notaveis e as violentas commoções que abalam as nacionalidades, se alevanta monumentos aos rasgos de heroismo ou de abnegação ou verbera com censura immorredora as cobardias e as traições dos homens publicos; o romance, na sua modesta condição, põe em relevo acções illustres de homens desconhecidos e ignorados e reproduz os abalos que por vezes commovem a paz intima das familias, já engrinaldando um festão ao que merece louvor, já castigando com os epigrammas da satyra os feitos ridiculos que frequentemente emergem á superficie da onda social. São estas as suas differenças e os seus pontos de contacto."
(Excerto de Capitulo avulso que precede o primeiro...)
António Cunha Belém (1834-1905). "Político e jornalista português, António Manuel da Cunha Belém nasceu a 12 de dezembro de 1834, em Lisboa. Em 1858, formou-se em Medicina pela Universidade de Coimbra e, em seguida, seguiu a carreira militar, na qual atingiu o posto de general. Desempenhou um papel importante no setor da saúde, fazendo parte de diversas comissões oficiais e participando em várias conferências. Para além disso, foi deputado no Parlamento, diretor da Escola Maria Pia e diretor do jornal A Revolução de Setembro. O jornalista realizou ainda críticas teatrais, com o pseudónimo de Cristóvão de Sá, redigiu comédias, operetas, zarzuelas e dramas, como O Pedreiro Livre (1876), de conteúdo maçónico e anticlerical. Faleceu a 12 de março de 1905, em Lisboa."
(Fonte: Infopédia)

Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas frágeis com defeitos. Rasgão na capa (2 cm) sem perda de suporte.
Raro.
Indisponível

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