CASTRO, Augusto de & LUCIO, João - ATÉ QUE ENFIM!... Peça em 1 prologo e 8 quadros, escripta expressamente para ser representada na recita de despedida do Curso do 5.º anno theologico-juridico de 1901-1902. Coimbra, Typographia França Amado, Abril de 1902. In-8.º (21,5x14,5 cm) de 198, [6] p. ; E.
1.ª edição.
Rara edição original da peça de fim de curso dos autores - Augusto de Castro, advogado e dramaturgo, e João Lúcio, advogado e poeta algarvio - obra não muito referenciada na sua bibliografia.
Exemplar muitíssimo valorizado pela dedicatória de Augusto de Castro, datada de 1902, a Aníbal Beleza (1876-1949), conhecido político e causídico travanquense, com autógrafo dos dois amigos.
"Esta peça foi escripta para viver apenas o espaço d'uma noite. Como arte, tem talvez todos os defeitos que fazem uma obra inferior: falta-lhe a unidade, a sobriedade, a forma. Mas os seus auctores vêm publical-a... Porque?
Em primeiro logar, pela recordação, pela suavissima saudade que estas paginas representam. N'ellas fica toda essa errante phantazia, toda essa vida dispersiva de troça e insubmissão que, durante cinco annos inolvidaveis, fez a mais viva parte da estreita camaradagem dos auctores. Vida passada a rir, entre a blague e o sonho, essa alegre e imprevidente musa da Troça a conduziu!...
Em segundo logar, têm ainda os auctores a vaidade de suppor que não será de todo inutil a publicação d'esta peça. Se muito lhe falta, como arte, algumas qualidades tem todavia, como obra de espirito que pretende ser: a expontaniedade, a mocidade, a irreverencia. E n'um paiz de submissos, de conselheiros e de tristes, talvez estas paginas de despreoccupação e de riso possam merecer a benevolencia d'um publico habituado a desalentos desde a cozinha até á litteratura."
(Excerto do preambulo)
Scenario: A Porta Ferrea, com a esquina á D. onde se pregam os cartazes.
O affixador de cartazes entra, trazendo uma escala e um cartaz da peça e, emquanto colloca a escada, vae dizendo no tom vago de quem falla para si proprio:
"A récita dos rapazes
Tem-me dado uma massado!...
Comecei a pôr cartazes
Ao romper da madrugada.
Hoje é dia de alegria
P'ra quem seja quintanista...
Estão por cá as familias:
Têm as noivas á vista...
Representam, gosam, riem,
Ou então vão namorar...
E dizem-se entristecidos
Por Coimbra irem deixar.
N'um tom levemente ironico:
Saudades e desgostos...
- Isto nunca foi verdade!...
Com convicção:
Uma terra como esta
Provoca lá saudade!...
De manhã teem as aulas,
De noite são as licções:
O pouco tempo que resta
É para as dissertações.
Vêm p'ra cá tão alegres,
Rindo, cheios de vigor;
Mas as capas e sebentas
Tiram-lhes risos e côr!
Depois, ao voltar a casa,
Vão fracos e incapazes
Com intenção:
O estudo e as serventes
Estragam muito os rapazes."
(Excerto do Prologo)
Augusto de Castro Sampaio Corte-Real GCC • GCSE • GCIH • GOB (Porto, 1883 - Lisboa, 1971). "Mais conhecido por Augusto de Castro, foi um advogado, jornalista, diplomata e político com uma carreira que se iniciou nos anos finais da Monarquia Constitucional Portuguesa e se estendeu até ao Estado Novo. Escritor, jornalista e diplomata, foi um dos mais destacados publicistas do Estado Novo, ganhando notoriedade como comissário da Exposição do Mundo Português, em 1940."
(Fonte: Wikipédia)
João Lúcio Pousão Pereira (Olhão, 1880-1918). "Foi um poeta português, sobrinho do pintor Henrique Pousão. Vulgarmente relegado para a categoria de poeta local (considerado o expoente maior da poesia olhanense) ou de poeta regional (nomeadamente devido à sua obra O Meu Algarve), João Lúcio esteve, porém, à altura dos grandes nomes da Renascença Portuguesa, embora o seu voluntário afastamento dos grandes centros culturais do país tenha contribuído para tais definições limitadoras. Figura prolífica, começou com apenas 12 anos a publicar os seus primeiros versos (no extinto periódico O Olhanense). Enquanto estudante no Liceu de Faro, fundou e dirigiu um jornal literário intitulado O Echo da Academia. Acabados os estudos em Faro, decidiu ir para Coimbra estudar Direito, em 1897, onde conhecerá e se tornará amigo de figuras brilhantes como Teixeira de Pascoaes, Augusto de Castro, Alfredo Pimenta, Afonso Lopes Vieira, Fausto Guedes Teixeira e Augusto Gil. Destacando-se no meio de tal plêiade, João Lúcio colabora com poesias suas em diversos jornais e revistas literárias nacionais (fundando inclusive, em 1899, um quinzenário intitulado O Reyno do Algarve), até conseguir finalmente, em 1901, publicar o seu primeiro livro, Descendo, aclamado com louvor pela crítica da época."
(Fonte: Wikipédia)
Preciosa encadernação meia de pele com cantos, e dourados gravados nas pastas e na lombada. Conserva as capas de brochura.
Preciosa encadernação meia de pele com cantos, e dourados gravados nas pastas e na lombada. Conserva as capas de brochura.
Exemplar em bom estado de conservação. Capas algo manchadas.
Muito raro.
Peça de colecção.
85€
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