20 setembro, 2024

COSTA, José Daniel Rodrigues da -
A VOZ DA FORTUNA PARA DESENGANO DOS HOMENS, E SENHORAS, QUE SE QUEIXÃO DELLA: OU SONHO
. De... Lisboa: Na Impressão de João Nunes Esteves. Anno de 1824. Com Licença da Real Commissão de Censura. In-8.º (21x15,5 cm) de 23, [1] p. ; B.
1.ª edição.
Folheto muito curioso, como aliás toda a produção literária jocoso-satírica do autor.

"Se vejo as cousa de perto,
E as critíco, ninguem arda;
Achei hum caminho aberto,
Dou meus tiros de espingarda,
Porêm não tenho alvo certo.

Fica a Satyras exposto
Qualquer Livro, que se veja
Aos máos costumes opposto;
Que hoje, por melhor que seja,
Nem se gasta, nem dá gosto.

Dá-me, Leitor, attenção,
Não desprezes a Moral,
Abraça o que he de razão,
Se tens filhos, muito val
O dar-lhes esta Lição.

De hum homem maduro, e idoso
Escuta sempre o conselho,
Muitas vezes proveitoso;
Porque eu sou macaco velho,
A quem ladrou muito Gôzo."

(Ao Leitor)

José Daniel Rodrigues da Costa (Colmeias, Leiria, 1757 - Lisboa, 1832). "É uma figura esquecida do panorama literário português. Nascido na segunda metade do século XVIII, escreveu quase exclusivamente para o cordel. A sua longa carreira literária e vastíssima produção dão testemunho da sua popularidade, num contexto em que esta forma editorial se afirmou como instrumento indispensável de acesso à leitura e à cultura escrita, por parte de amplas camadas da população. [...]  José Daniel constrói uma carreira feita de compromissos, mas também de autonomia e modernidade, apesar de se mover na “margem” do campo literário da sua época. Provam o seu êxito os cargos, privilégios e tenças que recebeu e dos quais fala publicamente nos seus folhetos, transformando o leitor em testemunha privilegiada de um percurso bem sucedido. Por outro lado, a assunção orgulhosa que faz da autoria das suas obras leva-o a utilizar o seu nome como mecanismo de reconhecimento social e literário, facto pouco vulgar na época, sobretudo no âmbito da cultura dita popular. De igual forma, a reflexão sobre o seu papel social enquanto escritor e sobre a função pedagógica das suas obras, revelam uma consciência moderna do conceito de autoria, visível no conteúdo metaliterário dos seus prefácios. Aí é atribuída à função do autor, a de pedagogo social ou de “educador do povo”, procurando utilizar as suas obras, de grande difusão, como instrumentos de cidadania. José Daniel antecipa uma das vertentes do campo literário instituído no século seguinte, prefigurando a sua progressiva autonomização, num contexto onde cada vez mais, as relações autor – público se instituem com base nas leis da oferta e procura."
(Fonte: https://repositorio.ul.pt/handle/10451/6787)
Exemplar brochado, desencadernado, em bom estado geral de conservação. Com acidez.
Raro.
45€

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