16 setembro, 2024

BELLEM, A. M. da Cunha - ONDE ESTÁ A INFELICIDADE! Romance original por... Lisboa, Bibliotheca dos Dois Mundos, [1865]. In-4.º (23,5 cm) de 91, [1] p. ; B.
1.ª edição.
Novela  baseada em factos do conhecimento do autor, antecedida de uma carta sua a Manuel Pinheiro Chagas recordando uma viagem que ambos fizeram pelo Minho dois anos antes, escrito "poucos dias depois do regresso, e debaixo da impressão ainda das bellezas campestres e dos monumentos historicos, que por lá vira a barrisco espalhados."
Ilustrações assinadas H. Meyer.
Homenagem do autor no final do livro a Camilo Castelo Branco - "o primeiro romancista portuguez" - tendo como ponto de partida o título do seu livro, idêntico ao de Camilo - Onde esta a infelicidade?
"Vae aqui este capitulo, que deveria ter logar de honra no principio do livro, se o seu desenvolvimento, explanando a urdidura do romance, lhe não entibiasse o já limitado interesse. [...]
É verdadeira a historia que narro, e que adrede deixei ir desataviada nos recamos de peripecias, para que mais realce tivesse o fundo de veracidade que encerra. Uma familia que a riqueza deslumbrou, e que só veio de novo a encontrar a antiga traquilidade no seio de honesta mediania, foi quem me inspirou o enredo da presente narrativa. D'elle nasceu naturalmente a idéa do titulo, que parece em antagonismo com o do precioso romance de Camillo Castello Branco. [...]
Escusada é sem duvida esta explicação, porquanto sempre o romance de Camillo Castello Branco passará por uma das suas melhores obras, e a minha historia terá o modesto logar, que lhe é destinado na escala das producções litterarias; mas não o é de certo o aproveitar com avidez este ensejo de prestar homenagem do meu respeito ao fecundo escriptor a quem as letras patrias tanto devem, já pelos preciosos thesouros com que as tem enriquecido, já pela heroica perseverança com que tem verberado e perseguido as bastardas traducções de romances de mau gosto, que, como joio damninho, inçavam as cearas da nossa litteratura. [...]
Emfim, appareceu Camillo Castello Branco, e logo as suas primeiras obras foram saudadas com enthusiasmo. Não o esmoreceram ruis invejas, que bastas apparecem no nossa terra, nem difficuldades com que luta quem em Portugal cultivas as lettras, terreno o mais arido e ingrato de quantos arroteia o genio do homem. Perseverou e venceu!... Redobrou de incançavel actividade. Fez succeder uns aos outros os romances temperados do chiste natural da sua elegante dicção; deu ao povo os typos seus conhecidos e os estudos do coração, que elle sabia tambem apreciar..., e, como por um encantamento magico, as novellas mal traduzidas foram fugindo espavoridas diante da fecundidade inexgotavel do redemtor do romance nacional."
(Excerto de Homenagem de respeito)
"O romance, bem como a historia, é a photographia da sociedade. Se esta reproduz os valorosos feitos dos varões notaveis e as violentas commoções que abalam as nacionalidades, se alevanta monumentos aos rasgos de heroismo ou de abnegação ou verbera com censura immorredora as cobardias e as traições dos homens publicos; o romance, na sua modesta condição, põe em relevo acções illustres de homens desconhecidos e ignorados e reproduz os abalos que por vezes commovem a paz intima das familias, já engrinaldando um festão ao que merece louvor, já castigando com os epigrammas da satyra os feitos ridiculos que frequentemente emergem á superficie da onda social. São estas as suas differenças e os seus pontos de contacto."
(Excerto de Capitulo avulso que precede o primeiro...)
António Cunha Belém (1834-1905). "Político e jornalista português, António Manuel da Cunha Belém nasceu a 12 de dezembro de 1834, em Lisboa. Em 1858, formou-se em Medicina pela Universidade de Coimbra e, em seguida, seguiu a carreira militar, na qual atingiu o posto de general. Desempenhou um papel importante no setor da saúde, fazendo parte de diversas comissões oficiais e participando em várias conferências. Para além disso, foi deputado no Parlamento, diretor da Escola Maria Pia e diretor do jornal A Revolução de Setembro. O jornalista realizou ainda críticas teatrais, com o pseudónimo de Cristóvão de Sá, redigiu comédias, operetas, zarzuelas e dramas, como O Pedreiro Livre (1876), de conteúdo maçónico e anticlerical. Faleceu a 12 de março de 1905, em Lisboa."
(Fonte: Infopédia)

Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas frágeis com defeitos. Rasgão na capa (2 cm) sem perda de suporte.
Raro.
25€

15 setembro, 2024

O CAPUCHINHO VERMELHO.
Conto de fadas com música. Porto, Electroliber, [19--]. In-8.º (20,5x18,5 cm) de [12] p. ; il. + Disco 33 1/3 r.p.m. ; B.
1.ª edição.
Clássico da literatura infantil, ilustrado com belíssimos desenhos nas capas, e no interior, em página inteira.
O disco integra a capa do livro.
"Era uma vez linda menina que usava sempre uma touquinha vermelha que lhe tinha feito a avó. Chamavam-lhe, por isso, o Capuchinho Vermelho. Um dia, quando brincava com as suas bonecas, a mãe chamou-a para ir levar um cabaz à avózinha que estava doente. Dentro do cabaz havia um bolinho e manteiga.
A mãe disse ao Capuchinho Vermelho: "Vai direitinho a casa da Avó. Toma muita atenção: não te entretenhas no caminho, porque pode vir o lobo."
(Excerto do Conto)
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Disco não testado.
Raro.
20€

14 setembro, 2024

BELLEM, A. M. da Cunha -
SCENAS CONTEMPORANEAS DA VIDA ACADEMICA : quasi-romance da actualidade. Por...
Lisboa, Livraria Central - Rua do Ouro : Coimbra, Mesma Casa - Rua da Calçada, 1863. In-8.º (19x12,5 cm) de XVIII, 328, [8] p. ; B.
1.ª edição.
Narrativa de época sobre a azáfama e costumes da comunidade académica coimbrã, importante contributo em forma de romance para o conhecimento do viver e estúrdia dos estudantes da Universidade em meados do século XIX. 
Raro e muito interessante, sendo que o autor reclama para si o pioneirismo da descrição das "aventuras" estudantis da actualidade, já que, segundo ele, as poucas publicações do género reportavam a tempos passados, como O estudante de Coimbra (1840-41), de Guilherme Centazzi.
"Não póde hoje um obscuro escriptor entregar aos baldões da publicidade a mais insignificante producção do seu engenho, sem vir antecipadamente explicar ao público os motivos e circumstancias que a isso o determinaram. [...]
Ahi vão pois as minhas explicações:
Diz o auctor ao público, em geral, o que fez e como o fez. Tentando descrever as scenas da vida intima da academia contemporanea, creei para isso dos typos, que, se, por um lado, são filhos da imaginação, por outro são os representantes de acções muito verdadeiras, acontecidas entre os estudantes. [...]
O author declara por que fez e para que fez as Scenas contemporaneas. É de todos bem sabido, que aquelles, que têm cursado a Universidade, gostam de lêr tudo quanto a ella diga respeito. As descripções, que lhe fazem das colicas e do acto, - da cabra e do estudo, - das diversões e passeios, - d'esta e d'aquella rua, por onde tanta vez passaram, têm sempre para elles encantos inexplicaveis!... O encontrarem em letra redonda estas reproducções das scenas da sua vida academica, é como uma especi de alpondras, por sobre as quaes a memoria, despertada pela leitura, vae atravessando o lethes do passado!
Foi este um dos motivos que mais me decidiu a compôr estas Scenas; além de que, sendo a vida academica tão fertil em aventuras, não me consta que ninguem as historiasse completamente, pelo menos em relação á actualidade.
O prefacio da Mulher pelo sr. Sequeira Barreto é lido com avidez por todos os que têm transposto a porta ferrea encadernado n'uma capa e batina.
O estudante de Coimbra, ou relampago da historia portugueza é apreciado por todos os que, apezar de sua extrema raridade, têm a dita de o alcançar; e finalmente não ha ninguem que fôsse uma vez a Coimbra e que não tenha lido o Palito metrico e a Cabologia.
E comtudo nenhum d'estes livros satisfaz ás exigencias da actualidade: estes dois ultimos porque nos relatam scenas do que foi e do que já não existe. [...]
Havia pois uma lacuna e era preciso enchel-a! Era preciso contar ao público, que não conhecia a nossa vida, que
«Era uma vez um ........
Estudante aventureiro,
Tanto farto de feição
Quanto falto de dinheiro;
Este sem ter um real
Pisou os frios geraes
....................................»
e tudo o mais que o jocoso Malhão de si mesmo conta.
Era preciso dar este alegrão aos pobres bachereis formados de ha pouco, que, lá do seu cantinho domestico, lembram apenas com uma saudade indefinida e vaga os bellos dias das suas rapaziadas, enviando um adeus saudoso ao tempo dos seus tempos, como diria um author da Pheniz renascida.
E finalmente era preciso mostrar aos bachareis formados d'outras eras, que a sua Coimbra já não é a mesma d'outr'ora; que, apezar de não ter mudado de posição na carta geographica, tão differente está do que era, que com difficuldade elles a conheceriam. Que ao seu tanger das tristes, especie de toque de recolher academico, chama-se hoje o tocar da cabra, que os arcos do correio tão seus conhecidos já não existem; que os caloiros tão victimados n'outros tempos alcançaram carta de alforria e nem uma caçoada soffrem já! N'uma palavra, era mistér fazel-os scientes das modificações, trazidas pelo progresso, desde os botequins e batinas-casacos até á metamorphose dos verdeaes e das mantilhas!... E os bons dos velhotes gozariam tambem a sua hora de prazer a comparar as suas antigas rapaziadas de boa feição com as nossas partidas e pandigas de agora; entretendo-se a contemplar aquillo, que, no estudante é e será sempre immutavel, como colicas, extravagancias, e faltas de dinheiro!"
(Excerto da introdução - Cavaco prévio)
"São 18 de Julho de 185*. O tempo está magnifico, apezar de um excessivo calor, que faz andar tudo em braza. O relogio da Sé acabava de annunciar dez horas e os sinos da Universidade erguiam aos ares os seus hymnos festivaes. Coimbra preparava-se para uma d'essas festas mil vezes repetida, mas sempre cheia de encantos para os seus habitantes, que ou vêem n'ella a realisação do seu mais querido sonho, ou o fastigio da gloria, a que póde subir algum seu parente ou amigo. Era um capello.
A festa do capello é em si a coisa mais insipida do mundo; mas é sempre grande a concorrencia tanto dos filhotes como dos estudantes, a ponto de encherem completamente a sala grande, chamada dos capellos."
(Excerto de I - Um capello)
António Cunha Belém (1834-1905). "Político e jornalista português, António Manuel da Cunha Belém nasceu a 12 de dezembro de 1834, em Lisboa. Em 1858, formou-se em Medicina pela Universidade de Coimbra e, em seguida, seguiu a carreira militar, na qual atingiu o posto de general. Desempenhou um papel importante no setor da saúde, fazendo parte de diversas comissões oficiais e participando em várias conferências. Para além disso, foi deputado no Parlamento, diretor da Escola Maria Pia e diretor do jornal A Revolução de Setembro. O jornalista realizou ainda críticas teatrais, com o pseudónimo de Cristóvão de Sá, redigiu comédias, operetas, zarzuelas e dramas, como O Pedreiro Livre (1876), de conteúdo maçónico e anticlerical. Faleceu a 12 de março de 1905, em Lisboa."
(Fonte: Infopédia)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Por aparar. Capas frágeis, algo sujas, com defeitos e pequenas falhas de papel.
Muito raro.
50€
Reservado

13 setembro, 2024

GARCIA, José Carlos - SEMANA DOS BALEEIROS. Construção da Identidade das Lajes do Pico. Lajes do Pico, [Artesanato Lajense], 1998. In-8.º (21,5x14,5 cm) de119, [1] p. ; il. ; B.
1.ª edição.
Interessante monografia sobre a Ilha do Pico e as festas celebrativas da actividade baleeira.
Ilustrada com mapas dos Açores e do Pico, gravuras, desenhos esquemáticos e fotografias - a p.b. e a cores - da faina baleeira, imóveis relevantes e aspectos relacionados com as Festas da ilha, muitos deles em página inteira.
"Os antigos baleeiros, e mesmo os outros homens e mulheres que assinalaram e viveram a epopeia baleeira, não foram esquecidos nem ignorados. A finitude da vida em relação ao tempo foi ultrapassada pelo processo dinamizador das relações entre gerações, arrastando consigo uma variante local que aspira a memória dos lajenses na (re)produção e no processamento da sua herança religioso-cultural, que é (re)criada pela Semana dos Baleeiros na vila das Lajes do Pico."
(Retirado da contracapa)
"Este livro é o fruto da cumplicidade (histórica) de um amontoado de gente que assumiu, com as suas próprias mãos, a (auto) construção de uma identidade local (lajense), em homenagem aos antigos baleeiros e em honra à Senhora de Lourdes.
A simplicidade desta obra transcreve uma das maiores festividades da Ilha do Pico (Festa de Lourdes), através da explicação de um conhecimento adquirido, de aptidões aprendidas, de experiências vividas e de uma memória histórica. Assim se manifestam as «representações colectivas» e o «imaginário colectivo», testemunhos da pesca do cachalote, cuja afirmação se tornou característica identitária da vila das Lajes do Pico.
Neste sentido, estas manifestações culturais (religiosas) são um saber colectivo acumulado em memória social, onde se constrói uma visão do mundo (local), através de uma praxis participativa, integrativa e diferenciada dos lajenses, face à ilha e ao arquipélago."
(Excerto do Preâmbulo)
Exemplar em brochura, bem conservado.
Invulgar.
Com interesse histórico e etnográfico.
25€

12 setembro, 2024

LÉPINE, Jean -
TROUBLES MENTAUX DE GUERRE. Par... Professeur de Clinique des Maladies Nerveuses et Mentales à l'Université de Lyon. Paris, Masson et Cie, Éditeurs : Libraires de l'Acádemie de Médecine, 1917. In-8.º (19x13 cm) de 203, [33] p. ; B.
1.ª edição.
Ensaio/guia médico publicado em 1917, durante a conflagração mundial. Trata-se de um importante subsídio para a história da Grande Guerra - no original, em francês - sobre as perturbações mentais e stress pós-traumático, sintomatologia evidenciada por grande número de soldados que participaram no conflito.
Obra rara, com interesse histórico.
“Sem lesões aparentes”. É assim que o Doutor Jean Lépine, Chefe do Centro de Psiquiatria da 14.ª Região Militar e do Asilo de Bron, descreve os soldados vítimas do que hoje se chama de stress pós-traumático… homens enlouquecidos pela guerra.
Em 1917, o Doutor Jean Lépine publicou Transtornos Mentais da Guerra, “uma espécie de guia para os médicos”, cujos estudos não eram especializados em neuropsiquiatria. Este iria ajudá-los desde a linha de fogo até ao interior do país. Jean Lépine não lista patologias, mas sim os fenómenos mentais observados em 6.000 casos desde 1914. Os capítulos descrevem grupos de pacientes que sofrem de “confusão mental alucinatória”, “narcolepsia”, “amnésia”, “perseguição” ou mesmo “estado depressivo”, etc., e fornece pistas para tratamentos químicos, dietéticos ou de balneoterapia…"
(Fonte: https://france3-regions.francetvinfo.fr/bourgogne-franche-comte/histoires-14-18-jean-lepine-psychiatre-blessures-apparentes-1449631.html)
Exemplar em brochura, bem conservado.
Raro.
35€
Reservado

11 setembro, 2024

CORREIA, Dr. António - ALBERTO LUÍS GOMES : modelo de desportista e estudante. Pelo... Estudantes de Coimbra 1. Coimbra, Depositária: Coimbra Editora, Limitada, 1953. In-8.º (18x13 cm) de 30, [2] p. ; il. ; B.
1.ª edição.
Apontamento biográfico de António Gomes, estudante de Coimbra e jogador da Académica - tendo sido o primeiro internacional português da Briosa. Jogador-estudante, como na época era uso, teve diversos convites dos grandes portugueses - Benfica e Sporting - para "mudar de ares", com promessa de chorudos proventos, que recusou sempre.
Ilustrado com 3 fotografias, sendo duas delas em página inteira.
"Conheci o Alberto Gomes em Junho de 1937. Não o jogador de futebol que tinha vindo da cidade do Porto mas sim o estudante timorato que se vinha habilitar ao exame para entrar na Universidade. O primeiro obstáculo a vencer era o exame do 7.º ano, que já então se efectuava no liceu D. João III. [...]
Obtida a aprovação no exame do 7.º ano, principiámos a preparar-nos intensamente para vencer o grande e ambicionado salto: entrar na Universidade.
Se bem que eu então não conhecesse o Alberto Gomes como desportista de grande futuro, a verdade é que já nessa altura ele tinha de certa maneira conquistado um lugar no grupo de honra da Académica. Nada no entanto permitia prever até que ponto subiria na escala do desporto nacional."
(Excerto do Apontamento)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Páginas 27/28 e 29/30 alvo de restauro.
Muito invulgar.
15€

10 setembro, 2024

NEVES, Dr. Vítor M. L. Pereira -
APELIDOLOGIA POPULAR PORTUGUESA
. Lisboa, [s.n. - Gráfica S. José - Castelo Branco, Outubro de 1990], 1991. In-8.º (20x15,5 cm) de 92, [6] p. ; B.
1.ª edição.
Estudo pioneiro. Trata-se de um curioso repositório dos apelidos portugueses com origem na província.
"A Onomatologia, por ser mais rica e curiosa do que a Antroponímia, desde há muitos anos que, em contacto directo e quotidiano com gentes do campo, despertou a minha curiosidade e comecei a elaborar listas de apelidos em páginas mortas da minha agenda.
A breve trecho, resolvi arranjar bloco exclusivo para esse efeito, pois interessei-me cada vez mais pelo caso, quando há cerca de uma década voltei para a Amadora a trabalhar como médico-veterinário municipal da Neo-Cidade. Concelho onde habitam cerca de trezentas mil pessoas, grande parte proveniente das mais diversas terras e regiões de Portugal, encontrei aí uma amostragem propícia para desenvolver mais a minha curiosidade.
A maior parte das vezes, só pelos apelidos, sei logo donde a pessoa é, ou os seus ascendentes são naturais. Mais me entusiasmei quando, procurando em ficheiros, não encontrei quem em Portugal, se tivesse debruçado sobre o assunto de modo a fazer um estudo exaustivo sobre o caso, poder tirar conclusões e até fazer opinações.
Ao mesmo tempo julgo que prestarei algum serviço aos portugueses, à cultura e à posteridade, pois à tendência, felizmente, para maior erudição, para maior instrução e cultura e naturalmente os Pais e Padrinhos terão o bom senso de não dar ao Registo Civil nomes que possam ser utilizados pejorativamente.
As ascendências não podem prejudicar alguém, porque cada um é, o que é por si próprio. Mas para que se há-de colocar um estigma negativo, logo à nascença, se é um dos Direitos Humanos nascermos todos livres e iguais?
Para quê a família pôr logo à nascença o nome de "Marranita" ou "Burrica" à menina e "Boirão" ou "Cornicho" ao menino?!..."
(Excerto da Introdução)
Exemplar em brochura, bem conservado. Com sublinhados a lápis no índice.
Muito invulgar.
25€

09 setembro, 2024

CASTELLO BRANCO, Camillo - MARIA DA FONTE. A proposito dos apontamentos para a historia da Revolução do Minho em 1846 publicados recentemente pelo reverendo Padre Casimiro, celebrado chefe da insurreição popular. Porto, Livraria Civilisação, 1885. In-8.º (19x12 cm) de 425, [3] p. ; E.
1.ª edição.
Interessante trabalho de investigação de Camilo Castelo Branco - de certo modo autobiográfico, já que também ele viveu nessa época - sobre a existência e acção da Maria da Fonte, personagem mítica da revolta popular baptizada com o seu "nome de guerra", que eclodiu no Minho, em 1846.
Rara edição original, ilustrada com bonitas capitulares e vinhetas tipográficas.
"Maria da Fonte, ou Revolta do Minho, foi uma revolta popular ocorrida na primavera de 1846 contra o governo cartista presidido por António Bernardo da Costa Cabral.
A revolta resultou das tensões sociais remanescentes das guerras liberais, exacerbadas pelo grande descontentamento popular gerado pelas novas leis de recrutamento militar que se lhe seguiram, por alterações fiscais e pela proibição de realizar enterros dentro de igrejas.
Iniciou-se na zona de Póvoa de Lanhoso (Minho) uma sublevação popular que se foi progressivamente estendendo a todo o norte de Portugal. A instigadora dos motins iniciais terá sido uma mulher do povo chamada Maria, natural da freguesia de Fontarcada, que por isso ficaria conhecida pela alcunha de Maria da Fonte. Como a fase inicial do movimento insurreccional teve uma forte componente feminina, acabou por ser esse o nome dado à revolta."
(Fonte: Wikipédia)
"Foi a Maria da Fonte a personificação fantastica de uma collectividade de amazonas de tamancos, ou realmente existiu, um corpo e fouce roçadoura, uma virago revolucionaria com aquelle nome e appellido?
É o que vamos esmiuçar.
Mas, em parenthesis: acho que faltam condiçoens epicas n'este periodo que acabei de immortalisar e exhibir á posteridade. Ao tratar das heroinas da revolução nacional de 1846, o meu estylo é lapantanamente grutesco. [...]
Sobre a personalidade unica, singular e distincta de Maria da Fonte entre as mulheres amotinadas no concelho de Vieira, o depoimento do snr. padre Casimiro deve ser o primeiro n'este processo de investigação.
Refere o minucioso historiador que um sapateiro de Simães, da freguezia de Fonte Arcada, o avisára que lhe maquinavam a morte; e, na mesma occasião, se mostrára receoso de que lhe matassem sua irman Maria Angelina, a quem chamavam Maria da Fonte, e fôra processada e pronunciada nos tumultos da Povoa de Lanhoso. Perguntou-lhe padre Casimiro o que fizera ella para ganhar tal nome. - Nada, respondeu o sapateiro; apenas acompanhára as outras mulheres que arrombaram a cadeia da Povoa para soltar as prêzas que primeiramente se levantaram contra a Junta de Saude."
(Excerto de Parte Primeira - Marias da Fonte)
Encadernação em meia de pele com ferros gravados a negro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Assinatura de posse visível na f. rosto e primeira página de texto. Pág 95/96 apresenta rasgão no canto com perda de suporte, mas sem afectação da mancha tipográfica.
Raro.
60€
Reservado

08 setembro, 2024

SANTOS S. J., Pe. Domingos Maurício Gomes dos -
A RELAÇÃO DA VIDA E MORTE DOS SETE MÁRTIRES DE MARROCOS DE FR. ANTÓNIO DA CONCEIÇÃO.
Pelo... (Comunicação apresentada à 7.ª Secção do XXIII Congresso Luso-Espanhol - Coimbra, 1956). Coimbra, Associação Portuguesa para o Progresso das Ciências, 1957. In-4.º (26x18 cm) de 62, [2] p. ; il. ; [1] f. desdob. ; B.
1.ª edição.
Reprodução de um manuscrito do século XVI, pouco conhecido, sobre a também pouco conhecida vida, martírio e morte de sete jovens portugueses e espanhóis reféns de Muley Hamet, Rei de Marrocos, por não abdicarem da sua religião.
Trata-se da narrativa de Fr. António da Conceição, que integrou a embaixada de D. Francisco da Costa, em Maio de 1579, para resgatar os prisioneiros da batalha de Alcácer Quibir, e que, paralelamente, terá tomado conhecimento da situação dos jovens.
Livro ilustrado com o escudo da Ordem trinitária e a portada da Relaçam cada um em sua página, e no final do livro, em folha desdobrável (25,5x31 cm): Planta do palácio xerifiano de Marrocos no século XVI, pertencente à Biblioteca do Escurial, estando reproduzido no verso desta a legenda do palácio do Xerife - "registo das indicações manuscritas no original da planta" -, e fac-símile de duas páginas da Relaçam.
"A «Relaçam da Vida e Morte de Sete Moços que Moleiamete rei de Marrocos matou porque não eram christãos, dos quais hum era filho d'elche & de moura de nação, os outros feitos mouros por força, a 4 de Julho de 85, escrita per hum religioso da Santissima Trindade & Redenção de Captivos», é um manuscrito de 190x250 mm e 64 folhas (1r-64r). [...]
O texto consta de três peças: 1. «Carta pera o serenissimo primcipe Cardeal governador do reino de Portugal pola s. c. r. m. delrei d'Espanha Dom Philippe nosso Senhor» (fols. 3r-4v).
2. «História da vida e morte de sete moços que elRei Xarife mandou matar em casa em sua casa por dizerem que erão christãos» (fols. 5r-62v).
3. «Sertificação da verdade da história (fols. 62v-62r). Embora adicionada ao texto precedente, como capítulo complementar, o 14. constitui, apenas, uma declaração de fidedignidade na narrativa dos factos - por parte de quem a escreveu. [...]
O autor, como expressamente indica a carta introdutória, é Frei António da Conceição, religioso da Ordem da Santíssima Trindade, o qual, tendo acompanhado, por indicação do seu superior monástico e ordem do Cardeal Rei D. Henrique, a embaixada que este monarca enviara a Marrocos para tratar do resgate dos prisioneiros de Alcácer Quibir, se encontrava na capital xerifiana do Sul, quando se deram os acontecimentos narrados. Teve, assim, ocasião e oportunidade de se certificar, miùdamente, da veracidade deles, por si ou por testemunhas presenciais idóneas.
A biografia de Fr. António da Conceição é bastante conhecida.
Nasceu na Ribeira de Santarém, em 1549, e morreu nas masmorras de Marrocos, a 20 de Maio de 1589. Foram seus pais Bastião Rodrigues e Maria Pais. Na sua cidade natal, fez o curso de artes. Em 1566, recebeu, ali, o hábito trinitário, prosseguindo, mais tarde, em Coimbra, o estudo das ciências filosóficas e teológicas, tendo por mestre o célebre Fr. Luís Soares, fervoroso partidário do Prior do Crato. Por esse motivo, o mestre veio a ser encarcerado no seu convento escalabitano, do qual fugiu para França, e dali para Inglaterra, onde assistiu, como confessor e conselheiro, a D. António, até 1591, data em que morreu, prematuramente, com só 44 anos de idade.
Quando, em maio de 1579, D. Francisco da Costa foi enviado embaixador a Marrocos, para tratar do resgate dos prisioneiros de Alcácer Qyubir, levando por secretário Luís Fernandes Duarte, Fr. António, ao lado de Fr. José de Madre de Deus, acompanhou a embaixada, como confessor do diplomata. [...]
Por toda a parte, a estamenha branca do trinitário, assinalada no escapulário pela cruz azul-escarlate da Ordem, esvoaçava, num vaivém incessante. Através de masmorras e cadeias, Fr. António ia visitando, consolando e animando à paciência,  nos trabalhos do cativeiro, os pobres prisioneiros, como testemunha expressamente Jerónimo de Mendonça.
Os renegados ou elches, como ali se lhes chamavam, mereceram-lhe atenção especial. Sem se poupar a sacrifícios e perigos, tentou reduzi-los, de novo, à fé cristã, causando a admiração do próprio Xerife, pelo seu desassombro.
Entre os frutos deste zelo de redenção espiritual, deve contar-se a recuperação de 7 jovens, martirizados em 1585, da qual o piedoso trino santareno se faz cronista, no presente códice.
O caso resume-se nisto. Entre os prisioneiros de Alcácer e entre os prisioneiros das surtidas dos corsários nas carreiras de navegação do Mediterrâneo e do Atlântico ou nas costas do Algarve e Ilhas Adjacentes, vendidos ao Xerife de Marrocos, contavam-se algumas crianças e jovens.
É sabido o destino de tais cativos. Segundo Fr. António da Conceição, o Xerife Abde Almélique, antecessor de Mulei Ahmede Almançor, enquanto homiziado na Turquia, contraíra o hábito de servir-se, de portas adentro, de moços elches ou renegados, alguns tornados eunucos não só para ofícios ordinários de sua pessoa, quer dizer como criados, «mas também para seus appetites brutais», isto é, para práticas sodomíticas.
«Os mais destes ou quasi todos», de diversas nações - gregos, esclavões, alemães, ingleses, castelhanos, portugueses e de outros países, faziam «mouros por força, a poder d'asoutes & outros inumeraueis tormentos, com que a tenrra jdade  não pode». Só os portugueses e castelhanos se mantinham mais renitentes na sua fé, que não abandonavam de todo, bem como na educação familiar, recebida em sua terra."
(Excerto do estudo)
Exemplar brochado, por abrir, em bom estado de conservação.
Muito invulgar.
Com interesse histórico.
30€

07 setembro, 2024

OS LOGROS N'UMA HOSPEDARIA.
Farça original em um acto. Pelo author d'Um noivado em Friellas. Lisboa, [s.n.], 1841. In-8.º (18x12 cm) de [4], 50 p. (79-128 pp.) ; B.
1.ª edição.
Peça curiosa, cuja cena é passada em Lisboa, sendo seu autor Paulo Midosi Júnior. Representada pela primeira vez no Theatro Nacional da Rua dos Condes, em 20 e Julho de 1841.
Primeiras 4 páginas, incluindo f. rosto, inumeradas, sendo as restantes 50 numeradas de 79 a 128.
"Maldita viuvez, que mofina que és!... Ai!... (suspirando.) E haverá quem inveja a triste sorte de um viuva, que deseja escapar ás linguas mundanas, e procura viver honeste e recatada? No nosso estado, um suspiro, um meigo olhar, a mais innocente predilecção, roubam-nos em meio minuto o fructo de annos de sacrificios. Ah raparigas, rapariguinhas, vós sois felizes! Com o salvo conducto de solteiras escapais á critica mundana, em quanto a infeliz viuva, sem arrimo, inda mal arreda pé, já a malevolencia desapiedada lhe censura até as mais honestas acções!... (Levantando-se) Nada... isto não é vida... Convém que partilhe com alguem o peso desta casa, que, desde a morte do meu Braz Lameiro, parece lhe deu o pêco. Convém buscar marido."
(Excerto da Scena I)
Paulo Midosi Júnior (Lisboa, 1821-1888). "Foi um advogado e escritor português. Ligado ao mundo do jornalismo, colaborou na Ilustração e ajudou a lançar o Diário de Notícias. Em 1846, além de compor a letra para o "Hino da Maria da Fonte", lançou também o jornal Revolução do Minho. Midosi é, talvez, mais conhecido por ter escrito os versos do "Hino da Maria da Fonte", em 1846, altura em que ainda estudava Direito na Universidade de Coimbra. A canção patriótica, musicada por Angelo Frondoni teve larga divulgação e que chegou a ser aceite, pela generalidade da população portuguesa, nos últimos tempos da Monarquia, quase como hino nacional."
(Fonte: Wikipédia)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Envelhecido. Capas frágeis, lisas, com defeitos.
Raro.
Sem registo na BNP.
10€

06 setembro, 2024

J. G. C. -
RESUMO HISTORICO DA VIDA DO GRANDE POETA LUIZ DE CAMÕES
. Dedicado ao seu anniversario. Por... Lisboa, Typ. do «Diario da Manhã», 1880. In-8.º (17,5x11,5 cm) de 16 p. ; B.
1.ª edição.
Breve biografia do vate português a propósito das comemorações do seu centenário natalício. O autor assina "J. G. C." não tendo sido possível ir para além disso na sua identificação, e a BNP nada adianta.
Com interesse histórico e bibliográfico.
"O illustre épico portuguez - Luiz de Camões - esse immortal genio que se vê, que se ouve... que se lê em cada pagina dos Luziadas - nasceu no anno de 1524, em Lisboa, e era filho de Simão Vaz de Camões e de D. Anna de Sá e Macedo, de nobre geração. Seu pae descendia de Vasco Pires de Camões que passando de Hespanha a Portugal no anno de 1370, seguiu o partido de D. Fernando que o fez senhor das villas de Sardoal, concelho de Gestães, alcaide-mór de Portugal e Alemquer.
Tinha Luiz de Camões apenas 12 annos e já seu nome era conhecido no numero dos estudantes da Universidade de Coimbra! As suas obras bem denunciam os rapidos progressos que fez nos estudos. Acabada a sua lide de estudante veiu para a côrte, e ahi dando curso á inclinação poetica, que o dominava, soube ganhar os respeitos e as affeições dos que o rodeavam."
(Excerto do Resumo)
Exemplar brochado em bom estado de conservação.
Raro.
20€

05 setembro, 2024

AGUILAR, António de -
AVENTURAS DE CAÇA
. [Prefácio de José Osório de Oliveira]. Lisboa, Parceria António Maria Pereira, 1935. In-8.º (20,5x14,5 cm) de 220, V, [3] p. ; B.
1.ª edição.
Interessante conjunto de narrativas sobre caça grossa, episódios vivenciados pelo autor nos meses de mato no interior de Benguela, Angola.
Obra premiada no Concurso de Literatura Colonial (1.ª categoria).
Inclui no final lista de termos/expressões de origem local: "Vocabulário em uso na região de Benguela e empregado neste livro".
"António de Aguilar não é um escritor de carreira. Emprego esta expressão para não dizer escritor profissional, espécie que quási não existe entre nós. [...]
É certo que a técnica não é, na literatura, a condição primordial, e a sua falta pode ser, mesmo, desculpável. Nas narrações de experiências vividas o interêsse do assunto faz esquecer, muitas vezes, a inexperiência literária. É o que costuma suceder com os livros dos homens de acção que contam a sua vida ou as suas aventuras. [...]
Por tudo isso, António de Agular tomas as proporções dum caso. Eis um homem de acção que escreve pela primeira vez um livro, que não tem a intenção de se dedicar à literatura, que conta apenas o que viveu e que, no entanto, compõe uma obra digna dum literato sabedor de tôdas as regras da arte. Trata-se, evidentemente, dum homem culto que se dedicou à acção e não dum homem formado por esta. Mas ainda assim admira como António de Aguilar soube compor um livro em que se narram tôdas as espécies de caçadas sem nunca repetir uma cena,  um episódio ou uma aventura. Ou foi duma felicidade única ou teve a inteligência rara de escolher.
Sob êsse aspecto, o livro de António de Aguilar chega a parecer o produto dum escritor de imaginação que quizesse mostrar tôdas as aventuras possíveis na África. A figura admirável do «Cátucinho», a figura curiosíssima de Bruaia, o caso extraordinário do Padre Luís dir-se-iam criações dum romancista. Nós sabemos, porém, que tudo nêste livro é verdade."
(Excerto do Prefácio)
"No sertão ràpidamente nos prende o viver indígena.
Breve se observa não ser o isolamento tamanho como seria dado prever ao escutar histórias que correm mundo e fazem fé.
O «telégrafo» negro põe-nos a par dos sucessos do mato e até das povoações europeias.
A floresta angolana parece morta mas, de facto, vive intensamente. A actividade quer de brancos quer de prêtos não foge ao exame do nativo mais rude, assim como não lhe passa a menor alteração na paz sertaneja.
Tudo serve ao gentio para matar o tempo.
O boi fugido do sambo; o sècúlo a tratos com os cipaios, o macaco roubador das lavras, o leão atravessando a selva, o muènéputo destrambelhado ou justiceiro, o funante desvacador de quimbos são motivos preciosos para infindas palestras.
Nas intermináveis noites de acampamento, aquecendo-me à fogueira, quantas vezes escutei tôda a narrativa, nos seus ínfimos pormenores, do viver dos europeus meus companheiros de sertão!
A miúde êste apurado espírito de observação crítica provoca e anima a perniciosa intrigalhada «cafuza», característica dominante da mentalidade europeia do interior.
Mas, acima de tudo, o que faz vibrar a alma do indígena é a narração das proezas de caça.
O caçador é homem lidando de perto com poderosos feitiços.
Por fôrça deles, consegue dominar o cazumbi maléfico protector ou mandante dos animais ferozes ao serviço de Gangas e Quimbandas.
Não pode, pois, deixar de ser um ente extraordinário.
E a admiração torna-se inexprimível se, por ventura, o caçador o é de elefantes.
O Jamba!
O monstruoso paquiderme, aos olhos do nativo representa tudo quanto há de mais poderoso debaixo do sol.
Homem matador de elefantes, seja êle por acaso, tem a reputação criada.
É célebre; não mais desaparecerá do folclore bàntú.
Por isso, não seria possível passar-me despercebido o nome de «Cátucinho», herói máximo das grandes aventuras de caça da região, abatedor de dezenas e dezenas de elefantes e búfalos, o branco feiticeiro ao qual a águia não escapava no vôo, nem o «grande boi de um chifre só» conseguia escuso recanto de muchito onde se abrigar da sua ira.
«Olho de Deus»... «Ah!... Pai... Pai... não há ninguém no mundo com semelhante pontaria...»
Numa tarde de 1918, conheci-o ao famoso caçador, futuro meu amigo e companheiro de cansadoras misérias, uma vez aproximados pelo destino para a conquista do pão. [...]
Alto, esgrouviado, um bigode pendente, vestia uma fatiota grosseira de roupa de fardo.
Os ombros estoiravam as costuras e, por isso, as mangas pouco mais desciam abaixo do cotovelo.
As calças afuniladas, paravam acima dos tornozelos, por sua vez fugidios de uns canos de bota de cabedal grosseiro, rugoso, e encebado até à dupla sola ferrada.
Mais que a vestimenta exótica e em contraste com o ar canhestro, prendeu-me a atenção o seu olhar vivo."
(Excerto do Cap.I)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas frágeis com defeitos, manchas, e pequenas falhas de papel.
Raro.
85€

04 setembro, 2024

SANTOS, Carlos -
ILHAS E MARAVILHAS... Apontamentos duma viagem à Madeira e aos Açores.
Separata do Boletim do Rotary Clube de Lisboa : N.º 1 - Janeiro, 1949. [S.l.], [s.n. - Tipografia Ideal - Lisboa], 1949. In-8.º (20x13,5 cm) de 31, [1] p. ; B.
1.ª edição independente.
Impressões da "viagem relâmpago" que o autor empreendeu pelo Arquipélago da Madeira e dos Açores.
"Saídos de Lisboa, no «Lima», a 8 de Setembro, chegámos na manhã do dia 10 à vista de Porto Santo, onde o barco esperou apenas o tempo suficiente para largar e tomar passageiros; poucas horas depois, desembarcávamos no Funchal. Seguimos ao anoitecer para os Açores. Em Santa Maria fomos a terra visitar o Aeroporto. Parámos em S. Miguel onde nos demorámos 6 dias. No mesmo delicioso «Lima», barco pequeno mas primorosamente civilizado, regressámos à Madeira. Esperámos aí 4 dias e viemos para o continente no «Nova Lisboa»; viagem de 20 dias ao todo, metade dos quais no trajecto de mar e apenas 10 dias em terra."
(Excerto do texto)
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Com alguns cadernos soltos. Capa apresenta manchas.
Muito invulgar.
15€

03 setembro, 2024

CASTRO, Augusto de & LUCIO, João - ATÉ QUE ENFIM!... Peça em 1 prologo e 8 quadros, escripta expressamente para ser representada na recita de despedida do Curso do 5.º anno theologico-juridico de 1901-1902. Coimbra, Typographia França Amado, Abril de 1902. In-8.º (21,5x14,5 cm) de 198, [6] p. ; E.
1.ª edição.
Rara edição original da peça de fim de curso dos autores - Augusto de Castro, advogado e dramaturgo, e João Lúcio, advogado e poeta algarvio - obra não muito referenciada na sua bibliografia.
Exemplar muitíssimo valorizado pela dedicatória de Augusto de Castro, datada de 1902, a Aníbal Beleza (1876-1949), conhecido político e causídico travanquense, com autógrafo dos dois amigos.
"Esta peça foi escripta para viver apenas o espaço d'uma noite. Como arte, tem talvez todos os defeitos que fazem uma obra inferior: falta-lhe a unidade, a sobriedade, a forma. Mas os seus auctores vêm publical-a... Porque?
Em primeiro logar, pela recordação, pela suavissima saudade que estas paginas representam. N'ellas fica toda essa errante phantazia, toda essa vida dispersiva de troça e insubmissão que, durante cinco annos inolvidaveis, fez a mais viva parte da estreita camaradagem dos auctores. Vida passada a rir, entre a blague e o sonho, essa alegre e imprevidente musa da Troça a conduziu!...
Em segundo logar, têm ainda os auctores a vaidade de suppor que não será de todo inutil a publicação d'esta peça. Se muito lhe falta, como arte, algumas qualidades tem todavia, como obra de espirito que pretende ser: a expontaniedade, a mocidade, a irreverencia. E n'um paiz de submissos, de conselheiros e de tristes, talvez estas paginas de despreoccupação e de riso possam merecer a benevolencia d'um publico habituado a desalentos desde a cozinha até á litteratura."
(Excerto do preambulo)

Scenario: A Porta Ferrea, com a esquina á D. onde se pregam os cartazes.
O affixador de cartazes entra, trazendo uma escala e um cartaz da peça e, emquanto colloca a escada, vae dizendo no tom vago de quem falla para si proprio:

"A récita dos rapazes
Tem-me dado uma massado!...
Comecei a pôr cartazes
Ao romper da madrugada.

Hoje é dia de alegria
P'ra quem seja quintanista...
Estão por cá as familias:
Têm as noivas á vista...

Representam, gosam, riem,
Ou então vão namorar...
E dizem-se entristecidos
Por Coimbra irem deixar.

N'um tom levemente ironico:
Saudades e desgostos...
- Isto nunca foi verdade!...
Com convicção:
Uma terra como esta
Provoca lá saudade!...

De manhã teem as aulas,
De noite são as licções:
O pouco tempo que resta
É para as dissertações.

Vêm p'ra cá tão alegres,
Rindo, cheios de vigor;
Mas as capas e sebentas
Tiram-lhes risos e côr!

Depois, ao voltar a casa,
Vão fracos e incapazes
Com intenção:
O estudo e as serventes
Estragam muito os rapazes."

(Excerto do Prologo)

Augusto de Castro Sampaio Corte-Real GCC • GCSE • GCIH • GOB (Porto, 1883 - Lisboa, 1971). "Mais conhecido por Augusto de Castro, foi um advogado, jornalista, diplomata e político com uma carreira que se iniciou nos anos finais da Monarquia Constitucional Portuguesa e se estendeu até ao Estado Novo. Escritor, jornalista e diplomata, foi um dos mais destacados publicistas do Estado Novo, ganhando notoriedade como comissário da Exposição do Mundo Português, em 1940."
(Fonte: Wikipédia)
João Lúcio Pousão Pereira (Olhão, 1880-1918). "Foi um poeta português, sobrinho do pintor Henrique Pousão. Vulgarmente relegado para a categoria de poeta local (considerado o expoente maior da poesia olhanense) ou de poeta regional (nomeadamente devido à sua obra O Meu Algarve), João Lúcio esteve, porém, à altura dos grandes nomes da Renascença Portuguesa, embora o seu voluntário afastamento dos grandes centros culturais do país tenha contribuído para tais definições limitadoras. Figura prolífica, começou com apenas 12 anos a publicar os seus primeiros versos (no extinto periódico O Olhanense). Enquanto estudante no Liceu de Faro, fundou e dirigiu um jornal literário intitulado O Echo da Academia. Acabados os estudos em Faro, decidiu ir para Coimbra estudar Direito, em 1897, onde conhecerá e se tornará amigo de figuras brilhantes como Teixeira de Pascoaes, Augusto de Castro, Alfredo Pimenta, Afonso Lopes Vieira, Fausto Guedes Teixeira e Augusto Gil. Destacando-se no meio de tal plêiade, João Lúcio colabora com poesias suas em diversos jornais e revistas literárias nacionais (fundando inclusive, em 1899, um quinzenário intitulado O Reyno do Algarve), até conseguir finalmente, em 1901, publicar o seu primeiro livro, Descendo, aclamado com louvor pela crítica da época."
(Fonte: Wikipédia)
Preciosa encadernação meia de pele com cantos, e dourados gravados nas pastas e na lombada. Conserva as capas de brochura.
Exemplar em bom estado de conservação. Capas algo manchadas.
Muito raro.
Peça de colecção.
85€

02 setembro, 2024

ABREU, Solano de -
PALESTRAS. Fanatismo. Mutualidade. Beneficiencia. Patria. Arte.
Edição de Antonio Augusto Salgueiro. Abrantes 1912. Abrantes, Typographia Morgado, 1912. In-8.º (22x16,5 cm) de 38, [2] p. ; B.
1.ª edição.
Conjunto de palestras proferidas entre 1901 e 1912 subordinadas a temas diversos, alguns relacionados com Abrantes, terra natal do autor.
Obra desconhecida de Solano de Abreu, não mencionada nas biografias consultadas e sem registo na Biblioteca Nacional. Por certo com tiragem reduzida.
Com indubitável interesse para a compreensão do pensamento deste importante vulto da cultura abrantina nalgumas matérias momentosas.
"No homem ha o arrojo da concepção, o delineamento da forma, a firmesa da execução, mas, sem a influencia dum ideal extranho, todo esse trabalho é como uma luz sem calor, um céo sem sol, um reflexo sem brilho, um corpo sem alma. Só a mulher tem, propriamente em si, harmonias que são trechos de inspirada musica; dedicações, que são estancias de heroicos poemas; deveres cumpridos, que são scenas de arrebatadores dramas; sacrificios feitos, que são martirios de gloriosa redempção; attitudes, energias, lagrimas, sorrisos, recusas, supplicas que têm sido retratadas pelo pincel dos mais habeis pintores, e representadas pelo cinzel dos mais talentosos estatuarios.
Quando lhe negam essa justiça desconhecem-lhe de todo o seu valor como primeira cellula do organismo social. Os povos primitivos tratavam-n'a como escrava, porque para elles a familia não assentava em bases definidas, nem estava cimentada com amor santificado com que o christianismo a solidificou.
Nas sociedades modernas ha ainda quem a considere como ser inutil, porque ha quem a furte á organisação do lar, onde ella brilha com o resplendor de todas as suas virtudes, para lhe atrophiar o espirito no celibato em nome duma religião, que, nas suas verdadeiras doutrinas, lhe marca outro fim, e lhe indica outro destino. [...]
A redempção da mulher pelos tormentos, pelos sacrificios, pelas abnegações, suggerida pelo misticismo religioso, é falsa porque é fanatica, é anti-social e deshumana, porque despedaça cruelmente, barbaramente, os carissimos laços da familia."
(Excerto de Fanatismo)
Francisco Eduardo Solano de Abreu (1858-1941). "Nasceu a 19 de Julho de 1858 em Abrantes, tendo-se formado em Direito pela Universidade de Coimbra em 1885. Embora tenha exercido advocacia e a magistratura, foi noutras áreas que se tornou conhecido na sociedade abrantina, nomeadamente como empresário agrícola e sobretudo na área de assistência social, onde a sua filantropia o tornou estimado de muita gente a quem ajudou a minorar múltiplas carências socio-económicas. A título de exemplo refira-se a fundação em 1921 da Sopa dos Pobres ligada ao Montepio Abrantino a cujos corpos sociais pertenceu. Pelas suas atividades humanitárias recebeu o grau de Comendador da Ordem de Benemerência e a medalha de Mérito, Filantropia e Generosidade.
Homem de cultura e amante das atividades cénicas, foi diretor do jornal "Correio de Abrantes e escreveu romances e peças de teatro, como a revista "No País da Aletria" que foi representada no desaparecido Teatro Ator Taborda. Solano de Abreu faleceu em 1941."
(Fonte: ae1abrantes.esdrsolanoabreu.pt)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas frágeis com defeitos e falhas de papel marginais. Com mancha antiga de humidade junto da lombada. Interior correcto.
Raro.
Sem registo na BNP.
20€

01 setembro, 2024

A VILA DE PALMELA
. Palmela, Editada pela Camara Municipal de Palmela, 1930. In-4.º (24,5x17 cm) de [24] p. ; mto il. ; B.
1.ª edição.
Pequena monografia de Palmela, bonita vila do distrito de Setúbal.
Muito ilustrada no texto e em página inteira com retratos de ilustres palmelenses, vistas do povoado, monumentos e edifícios relevantes do concelho.
"No escrinio da historia encontram-se documentos a afirmar a importancia de que gosou, em todos os tempos, a nobre vila de Palmela.
Dum passado muito distante, chega até nós o echo da sua grandeza.
O homem por instinto natural procurou sempre os lugares mais animados pela Providencia. Com exuberancia foi esta terra enriquecida na amenidade do seu clima e na fertilidade do seu solo.
Quando as aguias romanas distenderam o seu vôo até ao extremo ocidente, pousaram a descançar no topo da montanha, onde se assentou depois o castelo roqueiro que nos fala da fundação laboriosa da nossa nacionalidade.
O panorama que divisaram enamorou-se e fixaram aqui um dos seus ninhos.
Não admira! Quem sobe hoje ao castelo, por muito que tenha visto, ha-se confessar-se maravilhado perante o quadro vasto e belo que a terra oferece á contemplação, emoldurado pelo ceu, pelo Sado e pelo Oceano."
(Excerto de Palmela)
Índice: [Figuras ilustres de Palmela e seu retrato (6) | Palmela | A velha e secular Palmela | A extinção do concelho de Palmela em 1855, promoveu a Ruína local e a decadencia do Povo | Em 1866, o povo ignorante e inconsciente, opõe-se ao progresso local | O trabalho fecundo e proveitoso enriqueceram o povo e a região, viciando-se o ressurgimento local | Acção administrativa da Camara após a restauração do Concelho | Programas de melhoramentos com que a Camara promete dotar a laboriosa vila | Pe. Moisés da Silva | O Castelo de Palmela.
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas frágeis com defeitos, e pequenas falhas marginais.
Raro.
Com interesse histórico e regional.
25€