10 agosto, 2024

LEÃO, A. de -
A COSINHA FAMILIAR.
Tratado de Culinaria Pratica. 2.ª edição. Lisboa, Sociedade Nacional de Tipografia, 1924. In-8.º (19x12 cm) de 95, [1] p. ; B.
Capa assinada por Rocha Vieira.
Interessante livro de receitas, as mais variadas, dirigido às "donas de casa inexperientes", sendo preocupação evidente da autora, a questão da economia e higiene, desígnios a que não será alheio o contexto de dificuldade económico-social sentido por importante franja da sociedade portuguesa nos anos que sobrevieram à Grande Guerra.
A. de Leão (na capa, Agarena de Leão) é o pseudónimo de Helena de Aragão.
"Quanto se tem escrito sobre culinaria!
No mercado, ao alcance de todas as bolsas, avultam os manuaes d'arte culinaria cuja leitura deveria facultar á mulher os conhecimentos basilares da sua educação domestica, admitido, com está, de ha muito, que nenhuma senhora pode considerar-se perfeita ménagère, desde que desconheça as regras da sciencia culinaria que a habilitem a tirar todas as vantagens e proveitos que o conhecimento consciente e seguro d'essa sciencia oferece. Escasseiam, porém, os livros escritos com o proposito de divulgar as normas de uma cozinha agradavel e sadia, regida pelas intransigentes leis da economia e da higiene, onde a dona de casa inexperiente encontre solução pronta para os embaraços de momento gerados por dificuldades economicas ou pela pouca pratica, idéas viaveis e conciliatorias com todas as circumstancias, favoraveis á realisação imediata e a todos os recursos.
A grande maioria, se não a totalidade dos manuaes de cozinha, são escritos por profissionaes em cujo espirito o amor da sua arte, a ambição da originalidade, sobrelevam o senso pratico. [...]
Grande parte das senhoras, especialmente aquelas que não possuem longa pratica de governo domestico, não sabem cozinhar, ou - o que, afinal, é quasi o mesmo - adquiriram apenas os conhecimentos arcaicos e rotineiros, herdados de geração em geração, noções d'uma sciencia culinaria primitiva, que lhes permite, quando muito, passar da sopa de feijão e dos pasteis de bacalhau para a panela do cozido á portugueza minguado e adulterado pelas exigencias coercitivas da moderna vida economica.
Falta de vontade, por parte da mulher, em adquirir mais amplos conhecimentos que valorisem a sua acção como dona de casa?
Não; falta de livros que lhe facultem esses conhecimentos, sem iludirem nem menospresarem a idéa pratica, economica e higienica.
É essa falta que este livro vem tentar preencher.
N'este livro, orientado por fórma diversa d'aquela que caracterisa os manuaes culinarios conhecidos, encontrarão, todas as senhoras que desejarem dirigir com inteligencia e acerto a sua cozinha, alimentação variada, agradavel, higienica e economica e uma colecção de menus completos, organisados para facilitarem a solução das multiplas dificuldades e embaraços de toda a ordem, que não raro surgem na vida domestica a desorientarem a dona de casa."
(Excerto do preâmbulo)
"A leitura da coleção de menus, que publicamos, decerto vos obrigará a exclamar: «E é a isto que a autora do livro chama alimentação economica?! - Almoços com dois pratos e dôce, jantares com sôpa, dois pratos e dôce... Isto são menus para mesa de nababo!»
Mas, senhora, deveis compreender que, pelo facto dos menus que vos apresentamos incluirem o numero de iguarias que vos alarma, não sereis obrigada a uma reprodução fiel... Nos modestos almoços diarios do vosso lar, se a restrição de pratos se impõe, nada vos impede de escolher na lista o prato que mais vos agrade ou convenha..."
(Excerto de Duas palavras á leitora)
Helena de Aragão (Lisboa, 1880-191). "Destacou-se como escritora (publicou novelas, romances, contos e poesia) e tradutora, além de ter composto obras musicais e ter sido jornalista. Usou o anagrama de Agarena de Leão, quando publicou o Livro d’oiro de Vénus (1925), A Cosinha familiar (1926) e diversos artigos na Fémina, com destaque para os que se ocupavam de educação infantil. Esteve à frente de várias revistas femininas, tendo sido uma das diretoras da Modas e Bordados, de onde transitou para fundar a Eva, em 1925, e a Fémina, anos depois, em 1933. Foi redatora de O Mundo, tendo ainda colaborado em jornais como o Século da Noite e O Primeiro de Janeiro e em revistas como a Ilustração e a Ilustração Portuguesa. Como tradutora, destaque-se a sua atividade na Agência Portuguesa de Revistas, para a
qual trabalhou até ao fim da vida."
(Fonte: Braga, Isabel Drumond - Helena de Aragão e a culinária portuguesa entre as duas Guerras Mundiais: A Cosinha Familiar (1926), in Caderno Espaço Feminino | Uberlândia, MG | v.34 | n.2 | seer.ufu.br/index.php/neguem | jul./dez. 2021)
Exemplar brochado em bom estado de conservação.
Muito invulgar.
30€

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