20 agosto, 2024

ABREU, Martins e -
A REPUBLICA NA BEIRA ALTA.
Por... Revoltoso do 31 de Janeiro e cavador em Mortagua. Porto, Depositaria : Livraria Chardron, 1913. In-8.º (18,5x12 cm) de VII, [1], 152 p. ; B.
1.ª edição.
Curioso subsídio para a história da implantação da República na província. Trata-se de um conjunto de reflexões do autor a propósito das expectativas criadas pela mudança de regime em termos políticos, administrativos e económico-sociais não confirmadas na prática.
Raro e muito interessante.
"Na evolução das sociedades modernas, a voz dos produtores ergue-se mais alta que todas, mostrando que passou o tempo do privilegio em politica; que a força e a energia estão com os que trabalham e que a vida dos velhos regimes está gasta e só poderá ainda arrastar-se contemporisando com as ideias revolucionarias. [...]
Como, porém, os governos representativos atribuem voto de egual quilate ao sabio e ao ignorante, ao sério e ao troca-tintas, fez-se em cem anos uma politica suja, mandando as maiorias arrebanhadas a vinho e bacalhau frito pela corja audaz dos politicos, ficando, ás vezes, fóra do governo os homens que mais poderiam contribuir para a boa marcha dos negocios. [...]
Foi nesta situação que veio a Republica; para o seu triunfo contribuiu a fraqueza da dinastia que não pôde enfrentar essas centenas de patriotas da propaganda; os quais, ajudadas por uma pequena porção de operarios e soldados emancipados, quasi não tiveram com quem combater.
Mas os homens previdentes interrogam-se:
- A Republica melhorará realmente a administração?
- Teremos os empregados reduzidos ao essencial?
- Dentro das repartições haverá eguais garantias para o forte e para o fraco?
- Desenvolver-se-ha a instrução em ordem a reduzir o analfabetismo? [...]
- A magistratura judicial deixará de estar a serviço da corja eleiçoeira para servir a justiça? [...]
- Emfim: com os mesmos materiais e quasi os mesmos artistas, poderemos fazer a revolução de portas a dentro, como a fizemos na rua?
E a resposta a estas interrogações é clara e ilinudivel - Não!"
(Excerto de I - Ao leitor)
Resumo:
I - Ao leitor. II - A mentira tributaria. III - Um alvoroto popular. IV - Entulho de empregados. V - Palestras civicas. VI - Corrução dos tribunais. VII - O principio da autoridade. VIII - Um drama na Republica.
Manuel Ferreira Martins e Abreu (1861-1944). "Professor, Administrador do Concelho, Escritor e Político. Nasceu na localidade de Pinheiro, freguesia da Marmeleira, a 15 de Dezembro de 1861. Fez a instrução primária na Marmeleira com o professor Francisco Nunes Cordeiro. Com 11 anos vai para o Porto como aprendiz de uma drogaria. Passou por várias casas do Porto até aos 15 anos e aí adquiriu o vício da leitura. Em 1881 tirou em Coimbra o curso de Magistério Primário. Apesar de ter sido o 1º classificado, não foi nomeado professor oficial por causa das suas convicções republicanas. Emigrou para o Brasil em 1884. Neste país foi guarda-livros, administrador de fazendas de café, proprietário de um armazém de materiais de construção e feroz opositor da escravatura dos negros. Além disso, exerceu, recorrendo a um livro manuscrito por si, o professorado em 1885, na localidade de São Carlos do Pinhal, Estado de São Paulo. Em 1888 regressou a Portugal. O seu regresso deveu- se à sua actuação na campanha abolicionista, pois só no Estado de São Paulo havia um milhão de escravos registados como propriedade, que se vendiam, trocavam e até se matavam. A sua estadia em Portugal fê-lo envolver na política local chegando a ser Vereador Municipal, mesmo sem estar inscrito em qualquer partido monárquico. Como homem revoltado contra as injustiças e a favor dos pobres e desprotegidos, era um revolucionário e panfletário inconformado com a mentira, hipocrisia e prepotência do meio social e político em que vivia, combatendo por uma sociedade mais justa e mais perfeita. As suas ideias e intervenções na vida pública local faziam dele uma figura polémica e incómoda ao status quo, ao ponto de ter feito anular uma eleição local e obrigar a uma nova votação. Participou na revolta do 31 de Janeiro de 1891 na cidade do Porto, na primeira tentativa de implantação da República, tendo sido ferido e preso. Não havendo provas da sua culpabilidade, foi libertado quando ia a caminho do Conselho de Guerra, a bordo da corveta “ Sagres” estacionada no Douro. Regressou mais tarde ao Brasil, onde se envolveu na política da governação da vila onde vivia, porque segundo dizia, “o seu ideal não permitia tolerar roubos, vigarices e injustiças“. E o resultado dessa luta foi regressar a Portugal no início do séc. XX, depois de ter sido alvejado a tiro. [Publicou 9 livros de diversa temática, sobretudo relacionados com política e a Beira Alta/Mortágua]. Além destas obras literárias, Martins e Abreu deixou ainda um grande volume de manuscritos que nos contam acontecimentos inéditos e as peripécias da sua vida como Lavrador, Professor, Administrador de Fazendas, Escritor, Jornalista, Autarca e Político. Faleceu em 7 de fevereiro de 1944, aos 82 anos."
(Fonte: https://www.cm-mortagua.pt/autarquia/figuras-ilustres/manuel-ferreira-martins-e-abreu)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas frágeis, muito finas, com defeitos, orifício ao centro e pequenas falhas de papel marginais. Com assinatura de posse na f. rosto.
Raro.
Com interesse histórico e regional.
25€

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