09 agosto, 2024

TORRESÃO, Guiomar -
A FAMILIA ALBERGARIA (entre 1824-1834) : romance historico original.
Por... Bibliotheca Universal Dedicada ao Visconde Castilho : N.º 13. Lisboa, Lucas & Filho - Editores, 1874. In-8.º (18x12,5 cm) de 290, [6] p. ; B.
1.ª edição.
Edição original deste romance histórico cuja acção decorre em pleno período da guerra civil portuguesa.
Terceira obra da autora, porventura a mais conhecida e apreciada.
"Caminhando pela estrada que vae direita do Lumiar a Loures, e cortando á esquerda, pouco mais ou menos a distancia de dois kilometros do Lumiar, encontraria o leitor, no anno de 1826, epoca com que abre o livro que lhe apresento, uma propriedade vasta, construida solidamente e afidalgada não só pelo brazão, que dominava a porta principal, como pela côr denegrida da cimalha e dos umbraes, que accusava remota antiguidade. Nas lojas, espaçosas e bem ventiladas, brilhavam ao sol os arreios de prata que os moços de estrebaria poliam, assobiando, fumando e rindo. Ao fundo, viam-se duas traquitanas e uma sege, marcadas com brazão de tres escudos em campo azul. Á direita da cocheira demoravam as cosinhas, onde funccionavam, activos e silenciosos, evidentemente conscios da sua importancia, dois cosinheiros e um ajudante; á esquerda ficavam os quartos de dormir dos criados. As janellas rasgadas e espaçosas do andar nobre abriam para o poente e descobriam um pittoresco e variado horizonte. Leiras caprichando na côr dos verdes, sempre diversa e cambiante, conforme os cobrissem mais ou menos ou raios do sol; bosques de oliveiras; moinhos, noras, azenhas, a casaria branca e alegre dos pegureiros, tudo accidentava o terreno, que subia, descia, colleava até se perder de vista, na planicie, onde pastavam os rebanhos."
(Excerto de I - Criados e Amos)
"Descendente d'essa velha nobreza que tem ramificações em todas as arvores e rebentos em todos os seculos, illustrada pelos feitos valorosos dos seus maiores e pelas allianças contraídas, não raro, com principes de sangue, fanatica pelo throno e devotada ao altar, que de ambos lograra honrarias e proventos, fôra a familia Albergaria Montenegro de Serpa legando de um a outro descendente, que mais ou menos soubera respeital-os, o credo das suas inquebrantaveis crenças, o dogma, legendariamente envolto em oiro e purpura, das suas aureas tradições."
(Excerto de II - Nobres)
Guiomar Delfina de Noronha Torresão (1844-1898). "Foi umas das primeiras mulheres portuguesas a fazer da escrita o seu ofício. Órfã de pai desde a infância, começou cedo a contribuir para o sustento da família dando aulas particulares de instrução primária e de francês. Iniciou a sua carreira literária em 1867, com a comédia (imitação) O Século XVIII e o Século XIX, que foi representada no Teatro D. Maria II, e, dois anos depois, com o romance Uma Alma de Mulher, prefaciado por Júlio de César Machado. Colaborou assiduamente na imprensa periódica, advogando a emancipação intelectual da mulher. Em 1871, fundou — e dirigiu até morrer — aquela que seria uma das suas publicações de maior sucesso: o Almanaque das Senhoras.
Prolixa como poucos, para além de dramas, comédias e romances, Guiomar Torresão publicou também contos, poesia, crónicas, críticas literárias e teatrais, e traduções de diversos textos de autores estrangeiros. Graças a esse trabalho, assim como à sua inteligência e força de vontade, conquistou o respeito de escritores como Camilo Castelo Branco, Alexandre Herculano e Fialho de Almeida. Foi a única mulher a integrar o grupo de 242 sócios fundadores da Associação dos Jornalistas e Escritores Portugueses, instituída a 10 de Junho de 1880. Apesar disso, teve de lutar constantemente contra o preconceito de uma sociedade conservadora que censurava e cobria de escárnio qualquer mulher que tentasse escapar à esfera doméstica."
(Fonte: https://projectoadamastor.org/vozesfemininas-guiomar-torresao-1844-1898/)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Cansado. Capas frágeis, com defeitos e pequenas falhas de papel. F. rosto apresenta carimbo de posse e dedicatória (rasurada) dos editores.
Raro.
Indisponível

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