06 agosto, 2024

ABBADE*** - O JESUITA. Traductor Francisco Luiz Coutinho de Miranda (sobre a ultima edição). [S.l.], Miranda & Sousa - Editores, 1865. In-8.º (20,5x12,5 cm) de XV, [1], 407, [5] p. ; E.
1.ª edição.
Romance anónimo escrito por um sacerdote. Obra controversa, claramente anti-jesuítica, que pretende ser um "aviso à navegação" sobre o poder e influência que a Companhia de Jesus assumiu no mundo.
Livro raro e muito interessante.
"Eu comprehendi, como as turbas, que a alma humana não vive sem religião; e ellas viram commigo, a explicação do enigma que as atormentara em face d'uma Egreja depositaria official do christianismo, que parecia não querer guia-las nos seus destinos espirituaes, senão escravisando-as sob o jugo de uma theocracia, com a qual a liberdade não pode alliar-se. [...]
Não espero menos d'este novo livro: O Jesuita. É inutil dizer que os personagens que n'elle figuram são ficticios, e que a acção é imaginaria. O que ha de verdade são os factos e as idéas, que formam a parte substanciosa do livro.
Declaro perante Deus que não me animam sentimentos de rancor ou odio contra um unico membro da Companhia de Jesus. Os que conheci, considero-os honrados, individualmente; entre elles ha homens de verdadeiro talento, e de certo alguns virtuosos. Nunca me queixei de nenhum Jesuita em particular, nem da Ordem. Julguei-me assim com muito mais força para escrever este livro. Não era a minha causa, era a da Egreja, a do clero secular, a do espirito moderno de liberdade e progresso, que me cumpria vingar contra o seu espirito de denominação absoluta, e absorvente theocracia.
Está para mim exuberantemente demonstrado, que a Companhia de Jesus, união hybrida do clero secular e monacal, mesmo pela sua constituição de ordem militante, pela sua ambiciosa pretensão a ser o centro da Egreja, afim de distribuir o movimento aos corpos hierarchicos, sem exceptuar o proprio papado, é a associação mais perigosa que se tem formado no mundo moderno; que, pelo seu systema, pelo seu ardor impetuoso, mesmo pelo talento e virtude dos seus membros, prejudica consideravelmente a Egreja, cujas forças divide; que ha interesse e necessidade para a Egreja, em dissolver um corpo, que espalhado pela superficie do globo, como uma vasta agencia de negocios, a desvia necessariamente do seu trilho pacifico, mudando-a n'uma instituição bellicosa, destinada, para maior gloria de Deus, a perturbar a paz dos povos; que ha emfim urgencia para todas as nações civilisadas, de se prevenirem, por todos os meios legaes, contra uma corporação, cujo principio dogmatico é a theocracia feroz, destruidora da liberdade humana, que intenta, e não por muito longe, fazer reinar visivelmente um só rei sobre a terra, o Papa, ou antes, sob esta designação veneranda, a Companhia de Jesus."
(Excerto do Prefacio)
Francisco Luís Coutinho de Miranda (?-1883). "Jornalista e escritor. Era um jornalista violento, um exaltado partidário do conde de Peniche, depois marquês de Angeja, e um acérrimo partidário também dos progressistas. Pertencera ao partido reformista do bispo de Viseu. Em diversos jornais foi crítico dramático. Colaborou no Progresso e Correio da Noite, etc. Traduziu numerosas peças que se representaram, na maior parte, no teatro do Ginásio."
(Fonte: https://www.arqnet.pt/dicionario/mirandafranciscol.html)
Encadernação coeva em meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado de conservação.
Apresenta carimbo oleográfico na f. anterrosto com brasão de armas encimado por coroa com a divisa: Poder - Crer - Querer - Sam.
Raro.
20€

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