31 agosto, 2024

LANCASTRE, Dom José de - SCENAS DA THEBAIDA OU PAULO PRIMEIRO EREMITA.
Por...
Lisboa, Imprensa Nacional, 1866. In-8.º (18,5x13 cm) de [2], XII, [2] 173, [3] p. ; B.
1.ª edição.
Romance histórico sobre Paulo de Tebas, o eremita. Obra dedicada pelo autor a seu filho, falecido em tenra idade. Nada foi possível apurar acerca de D. José de Lancastre; a BNP dá notícia de um exemplar no seu acervo.
Paulo de Tebas, Paulo, o ermitão ou Paulo o egípcio (Tebaida, 228 - Tebas, 330) foi um eremita egípcio, um dos padres do Deserto. É o primeiro eremita do qual se tem notícia, a estabelecer a tradição do ascetismo e contemplação monástica. É venerado na Igreja Católica, na Igreja Ortodoxa e na Igreja Copta como santo. A sua memória litúrgica é celebrada em 10 de Janeiro.
(Fonte: Wikipédia)
"Era na primavera, ao romper do dia. Alvejavam as areias do deserto, que na raiz do monte Colzim se alargam pelas solidões da Thebaida, como um vasto mar. E esse mar, visto do retiro do solitario, parecia infinito, qual o ceu sem nuvens, e todo o azul desmaiado, que por cima do Egypto se estendia. O ar estava tepido, e as brisas matinaes balouçavam as largas, compridas folhas de annosa palmeira, cujos ramos davam sombra e serviam de tecto a um recinto, que era como vestibulo de espaçosa gruta excavada n'aquella montanha pedregosa. Do fundo brotava de entre duas fragas uma crystalina fonte, e o seu fio espelhado, atravessando a estancia, mantinha a fresca vegetação, que lhe bordava as margens até ir perder-se, como elle, na aridez do deserto."
(Excerto do Cap. I)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas frágeis, manchadas, com pequenos defeitos. Apresenta pequeno trabalho de traça nalgumas páginas, prejudicando ligeiramente a mancha tipográfica.
Muito raro.
Com interesse histórico.
25€

30 agosto, 2024

ALBUM DE VIZEU.
Illustrado com os retratos de Viriato; João de Barros; D. Duarte; João Mendes, Bispo de Vizeu; vistas da cidade; cava de Viriato; Abravezes; S. Francisco d'Orgens; Praça dois de Maio; Sé, etc. Porto, Typographia Universal, 1884. In-8.º (19x12,5 cm) de 202, [6] p. ; [11] f. il. ; il. ; B.
1.ª edição.
Álbum de Viseu e arredores que terá sido compilado por Camilo Castelo Branco(?), colaborado com pequenos textos, em prosa e em verso, por ilustres personalidades da vida literária portuguesa do final do século XIX: 28 senhoras e 84 cavalheiros, com destaque para, entre outras(os), Angelina Vidal, Guiomar Torrezão, Maria Amália Vaz de Carvalho, Maria Rita Chiappe Cadet e Maria Angélica de Andrade pelas senhoras, e Alexandre Herculano, Antero de Quental, Cândido de Figueiredo, Camilo Castelo Branco, Eduardo Coelho, Francisco Gomes de Amorim, Guerra Junqueiro, João de Deus, Júlio César Machado, João de Barros, Júlio e Castilho, Luciano Cordeiro, Pinheiro Chagas, Pedro Ivo, Ramalho Ortigão, Silva Pinto e Almeida Garrett pelos cavalheiros.
Ilustrado no texto com um bonito desenho, e em separado, com retratos de insignes figuras da história viseense, paisagens, lugares e monumentos relevantes.
"A cidade de Vizeu é uma das mais antigas de Portugal, podendo a este respeito competir com as que mais se abonam em primazia de vetustez.
Como succede a todas as povoações cuja fundação se occulta na penumbra dos seculos, Vizeu possue lendas e fabulas, que a poesia tem revestido de roupagens mirabolantes, mas que a historia  põe de parte porque, mais prosaica e positiva, não se prende com as lendarias ficções que as gerações vão transmittindo umas ás outras.
Poderiamos aqui fallar de Viriato, o celebre capitão dos luzitanos e terror dos romanos, da Cava, do ultimo rei dos godos, Ramiro; mas deixando isto aos archeologos e antiquarios, diremos unicamente que Vizeu foi sempre uma das povoações mais importantes da monarchia portugueza, não só pela situação, commercio e industria, mas tambem pelo numero de varões eminentes com que tem dado lustre a Portugal e ao mundo.
Divide-se a cidade em dois bairros, oriental e occidental, cada um com a sua parochia, ambas da invocação de Nossa Senhora da Conceição. [...]
Vizeu conta uns nove mil habitantes. É muito sadia, farta d'aguas excellentes e de todos os productos agricolas do nosso paiz. Tem arrabaldes lindissimos, amenos e pittorescos. De alguns sitios disfructam-se panoramas surprehendentes.
Ultimamente em Vizeu tem-se introduzido melhoramentos notaveis. As suas ruas estreitas e tortuosas vão-se transformando em outras mais espaçosas e alegres."
(Excerto de A cidade de Vizeu)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Aparado à cabeça. Capas frágeis, com defeitos e pequenas falhas de papel, com maior incidência na contracapa que apresenta perda de suporte no canto inferior esquerdo. Capa frontal alvo de tosco restauro. Pelo interesse e raridade justifica encadernar.
Raro.
85€

29 agosto, 2024

NUNES, Sousa - MOURAS E MOUROS E SUA EXPULSÃO DO ALGARVE : romance histórico. Lisboa, Depositária Livraria Popular de Francisco Franco, 1950. In-8.º (18,5x12 cm) de 189, [3] p. ; B.
1.ª edição.
Interessante romance histórico cuja acção reporta ao reinado de D. Afonso III e aos esforços do monarca para a conquista definitiva do Algarve, dando forma às fronteiras do país que prevalecem até hoje.
"Dom Sancho I, reunindo um grande exército, cujo comando entregou a seu cunhado, o conde Dom Gonçalo Mendes de Sousa, mais conhecido por Conde Sousão, marchou sobre a capital do Algarve a que pôs cerco, com o auxílio de uma armada de cruzados dinamarqueses, flamengos, holandeses e frígios, em 1189.
Silves ou Chelb capítulou, depois de uma resistência a todos os títulos heróica, perante um inimigo tão numeroso. A generosidade do rei lusitano quis conceder a um vencido tão pertinaz a regalia de retirar com  todos os seus haveres, mas não lho consentiram os aliados, a que Dom Sancho se viu obrigado a expulsar da cidade à força das armas, depois mesmo de a terem pilhado!
Assegurada a posse desta, o monarca retirou para o Alentejo, tomando na sua passagem várias povoações e castelos, enquanto seu filho, Dom Martim Sanches, deixado por governador, se apossava de quase todo o Algarve ocidental.
A perda de Silves não podia deixar de ferir o coração do Emir Almuad Iacub El-Mensor que, recebendo a notícia do desastre, constituiu um exército em África e caiu sobre o Algarve, sitiando a capital, que as forças de Dom Martim defenderam com denodo. Sem se obstinar diante dos seus muros, para que não houvesse tempo de ser socorrida, o emir internou-se no seio do país, pondo tudo a ferro e a fogo, na sua passagem."
José de Sousa Nunes. Pouco foi possível apurar a respeito do autor. Natural de Angra do Heroísmo(?)/Algarve(?), com bibliografia impressa nessa cidade insular. Escreveu também sobre assuntos algarvios.
(Excerto do Cap. I)
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Capa apresenta sujidade marginal. Assinatura de posse datada na f. ante-rosto.
Raro.
50€

28 agosto, 2024

MEDALHA 25 DE ABRIL UNIFACE: "N. S. DE FÁTIMA PROTEJA AS FORÇAS ARMADAS : 1974 - 25 DE ABRIL : PORTUGAL LIVRE" (1974)
 
Medalha da época, gravada na sequência do golpe militar de 25 de Abril de 1974, "pede" a protecção de Nossa Senhora de Fátima para as Forças Armadas Portuguesas.
 
Características:

Localização: Portugal
Tipo: Medalhas comemorativas › Medalha evocativa
Ano: 1974
Composição: Bronze banhado em ouro
Diâmetro: 43 mm
Espessura: 1,5 mm
Formato: Redondo
 
Anverso:
Em cima: Os 3 pastorinhos oram com Nossa Senhora, estando representado no 'quadro' uma azinheira e 2 ovelhas
Ao centro: Duas espingardas cruzadas com cravos saindo dos canos
Em baixo: Mão direita em v de vitória

Reverso:
Liso, em branco

Língua: Português

Legenda:
N. S. DE FÁTIMA PROTEJA AS FORÇAS ARMADAS
1974
25 DE ABRIL
PORTUGAL LIVRE

Gravador: Desconhecido

Designer: Desconhecido

Bordo: Liso, simples

Exemplar em bom estado de conservação.
Rara.
Com interesse histórico.
Peça de colecção.
50€

27 agosto, 2024

GIL, Francisco - ESTUDO // CURIOSO. // LIVRO DE THEOLOGIA MORAL, // COMPOSTO PELO PADRE // FRANCISCO GIL, // Abbade de Meixedo, Bispado de Mi- // randa. // Dado à luz pelo Padre // JOAM DE MEDEIROS TEIXEIRA. // OFFERECIDO // AO DOUTOR // BELCHIOR DO REGO // E ANDRADE, // FIDALGO DA CASA DE SUA MAGESTADE, E DO SEU // Concelho, Desembargador do Paço, Procurador da Coroa, dos // Concelhos da Rainha N. Senhora, e das Serenissimas Casas de Bra- // gança, e Infantado, Chanceller Mòr das Tres Ordens Militares // Conservador da Naçaõ Britannica, Regedor das Justiças, &c. // LISBOA OCCIDENTAL, // NA OFFICINA DA MUSICA // M. DCC. XXXIV. // Com todas as licenças necessarias, e Privilegio Real. In-8.º (20x13,5 cm) de [14], 394 p. ; E.
1.ª edição.
Curioso compêndio de cariz moral e religioso, elaborado em jeito de pergunta/resposta para melhor compreensão do conteúdo.
"Sacramentum est signum sensibile rei Sacre sanctificantis nos. Signum se poem em lugar de genero, por onde convem com os outros finaes, que naõ saõ Sacramentos: rei Sacre he a differença, e significa a graça, a qual formalmente santifica o homem, porque Deos só o santifica conmo causa efficiente.
P. De quantos modos he o final do Sacramento? R. Que de tres: Rememorativo da Paixão de Christo, Demonstrativo da graça, e Prognostico da gloria: Juxta illud D. Thom. O'Sacrum convivium, in quo Christus summitur, recolitur memoria passionis ejus, mens impletur gratia, & futura gloria nobispignus datur.
Ha quatro estados da Natureza, 1. da Innocencia, 2. da Ley Natural, 3. da Escrita, 4. da Graça. No estado da Innocencia naõ houve Sacramentos, pois a justiça original dava os mesmos auxilios, que podiaõ dar os Sacramentos. Nos outros estados houve Sacramentos, quia Deus vult omnes homines salvos fieri, e naõ ha outro remedio, por onde se possaõ salvar; e depois do peccado naõ se podiaõ salvar sem elles. Os da Ley Velha eraã a Circuncisaõ, Agno Paschal, Sacrificio, e Protestaçaõ da Fé in fide parentum. Os da Ley da Graça saõ sete sc. Baptismus, etc. [...]
P. Quantos saõ os Sacramentos? R. Que sete, Bautismo, Confirmaçaõ, Eucharistia, Penitencia, Extrema-Unçaõ, Ordem, e Matrimonio. P. Quem instituhio os Sacramentos? R. Christo N. Senhor. P. Para que os instituhio? R. Para remedio dos peccadores, e mayor perfeiçaõ das almas."
(Excerto de De Sacramentis in genere.)
Encadernação coeva inteira de pele com dourados na lombada.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Pequeno orifício de traça, no pé, sem afectar o texto, visível nas primeiras folhas. Mancha antiga de humidade junto ao festo, mais evidente nas últimas folhas do livro.
Invulgar.
55€

26 agosto, 2024

MATTOS, Prof. Julio de -
CURSO CLINICO DE DOENÇAS MENTAES E NERVOSAS.
Conferencias do... (Reportagem de Bartholomeu Severino). 1.ª Serie de 10 Conferencias. Porto, Livraria Editora de Lopes & C.ª - Successor, 1910. In-8.º (22,5x16 cm) de 109, [3] p. ; [1] f. il. ; il. ; E.
1.ª edição.
Interessante e pouco conhecida série de conferências sobre transtornos mentais proferidas por Júlio de Matos, no Porto, pouco antes de se estabelecer em Lisboa para dirigir o Hospital Miguel Bombarda (1911-1923) e leccionar a cadeira de Clínica Psiquiátrica na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
Obra rara, porventura das menos conhecidas do iminente médico psiquiatra português, não vem mencionada na maioria das bio-bibliografias consultadas. Este conjunto de 10 conferências é tudo quanto foi publicado.
Ilustrada no texto com o "Schema [esquema] de Grasset", e em separado, com o retrato do Prof. Júlio de Matos.
Índice das conferências:
1.ª  - Evolução historica da loucura. 2.ª - Causas dos doenças mentaes e nervosas. Necessidade do estudo da psiquiatria. 3.ª - Causas endogenicas e exogenicas. A hereditariedade; traumatismo e infecções. A idiotia e a demencia. O que a psiquiatria espera da quimica organica. 4.ª - Uma incursão pela psicologia. 5.ª - Resumindo. 6.ª - O acto reflexo. 7.ª - Uma doente com alucinações auditivas e ilusões visuaes. 8.ª - Como se constitue uma percepção. 9.ª - Os dez grupos de delirios e a sua redução a cinco. 10.ª - Uma mulher atacada da fobia dos contatos, em seguida a uma infeção puerperal e enfraquecimento organico.
Encadernação em sintético com ferros gravados a ouro na lombada. Conserva as capas originais.
Júlio Xavier de Matos (1856-1922). "Cirurgião médico pela Escola Medico Cirúrgica do Porto, diretor do Manicómio do Conde de Ferreira, depois diretor do Manicómio Bombarda, e vice reitor da Universidade de Lisboa. Nasceu no Porto a 26 de janeiro de 1856, sendo filho do distinto advogado Joaquim Marcelino de Matos. Fez o curso com muita distinção, e defendeu tese a 24 de julho de 1880. Nomeado médico adjunto do hospital de alienados do Conde de Ferreira, foi depois seu diretor, vindo para Lisboa, mais tarde, por morte do dr. Miguel Bombarda, tomar a direção do Manicómio de Lisboa, onde se tem conservado. Quando ultimamente se estabeleceram as universidades de Lisboa e do Porto, foi também nomeado vice-diretor da de Lisboa. Como alienista, o sr. dr. Júlio de Matos adquiriu uma grande e merecida reputação, dentro e fora do país. Como escritor, alia à sua correção pouco vulgar, notável brilho de expressão. As suas conferências sobre psiquiatria marcaram época em meio tão avesso a estes cometimentos. Professor muito distinto, foi eleito para presidir ao congresso do professorado do ensino secundário do Porto."
(Fonte: https://www.arqnet.pt/dicionario/xaviermatosjulio.html)
Exemplar em bom estado de conservação. Capa frontal apresenta assinatura de posse e pequenas falhas de papel à cabeça.
Raro.
120€

25 agosto, 2024

BRANCO, Eugénio Soares -
A MAIOR IMPORTÂNCIA DE ALGUNS FACTORES DE ACÇÃO NAS POSSIBILIDADES DOS FRACOS.
Dissertação apresentada ao concurso para professor da 9.ª cadeira da Escola Militar. Pelo Capitão-Tenente... Professor da cadeira "Arte Militar Marítima" da Escola Naval. [S.l.], [s.n. - Tipografia Cristovão Augusto Rodrigues, L.da - Lisboa], Junho, 1937. In-8.º (23,5x16 cm) de 91, [3] p. ; B.
1.ª edição.
Trabalho académico de índole militar e estratégica, ilustrado com muitos exemplos e "lições" retirados do cenário bélico da Grande Guerra.
Obra rara e muito interessante.
Exemplar muito valorizado pela dedicatória autógrafa do autor a Aníbal Ribeiro.
"Propômo-nos neste trabalho mostrar, como o seu título indica, a maior importância que alguns factores de acção têm nas possibilidades dos fracos; Não vamos emprestar a esta fraqueza uma fôrça quási igual à do adversário que, mercê duma excelente estratégia, um dia não receie  venha até a desejar, em determinada situação favorável, a Batalha resolutiva. Colocamo-nos no campo dos verdadeiramente fracos segundo o «critério aritmético» para avaliarmos do valor dessa fraqueza graças à «insídia» e às possíveis previsões que o seu emprêgo a fundo poderá revelar na guerra futura.
A iniciar o relato dêsses factores poremos o da «actividade» como o que em si resume e condensa o maior número de qualidades dos outros. Contém êste factor elementos diferenciados de ordem material e pessoal: a «velocidade» e «raio de acção das unidades» definindo a sua mobilidade estratégica e a «vontade» e «energia» dos homens nela embarcados para venceram as resistências e atritos inevitáveis, reduzindo ao mínimo o tempo morto entre os movimentos das fôrças. Essa vontade e essa energia serão a vontade e a energia dos Chefes, assimiladas e compreendidas pelas equipagens ligadas pelo esfôrço comum e coroadas pelo mesmo moral.
O factor de acção «actividade» não é de exclusiva vantagem para o partido superior ou inferior. Convém a ambos, mas é para o mais fraco um factor de acção mais poderoso e mais adequado ao seu método de guerrilha e ao seu objectivo de procurar, incessantemente e sem tréguas, causar ao mais forte os máximos prejuízos e perturbações."
(Excerto da Introdução)
Índice:
[Introdução] | Velocidade | Raio de acção | A surprêsa | Iniciativa das operações | O espírito agressivo | A fraqueza dos Fortes.
Exemplar em brochura, bem conservado.
Raro.
Com interesse histórico.
45€
Reservado

24 agosto, 2024

TORRES, José de - LENDAS PENINSULARES. Tomo I [Tomo II]. Lisboa, Livraria de Antonio Maria Pereira, 1861. 2 vols in-8.º (19x12 cm) de [4], 277, [3] p. ; [1] f. il.  (I) e [4], 270, [2] p. (II) ; E.
1.ª edição.
Interessante colecção de lendas da história da Península Ibérica. Obra em dois volumes (completa).
Exemplar ilustrado extra-texto com o retrato do autor no vol. I, entre a f. rosto e o ante-rosto.
"Havia tres dias e tres noites que o sino prioral do convento de Santiago de Uclés vibrava lugubremente, de hora em hora, tangendo á agonia d'um moribundo.
Os habitantes consternados puderam calcular pelo dobre, que se não interrompia nem repousava, o progresso d'uma morte lenta mas imminente. Na anxiedade de todos, nas pulsações de tantos peitos se conhecia, que era grande o personagem agonisante.
Com effeito, o homem que suscitava tudo isto era gran-mestre da ordem de Santiago. Havia treze annos que D. Vasco Rodrigues Coronado governava a ordem, com impaciencia da ambição dos que lhe cubiçavam a herança da dignidade, então egual ou superior á dos reis.
Uclés era n'aquelle tempo villa populosa; o convento de Santiago era a mais insigne e poderosa das fortalezas da ordem; e a dignidade magistral uma como soberania, ricamente dotada, e obedecida por numerosas hostes."
(Excerto de Vasco Lopes, Gran-Mestre de Santiago - T. I)
"A paixão immoderada não está longe do delirio, e não é raro ver acabar por elle o que a ambição humana começára.
Tem havido emprezas, combinações politicas sobretudo, tão extraordinariamente ousadas, que mal se creram, se a irrecusavel auctoridade da historia não viesse garantil-as. D'essas taes é indisputavelmente a que em 1595 se tramou em Madrigal, no interior de Castella, onde um homem se deu, e o deram, pelo recem-perdido rei portuguez D. Sebastião."
(Excerto de Rei ou Impostor? - T. II)
Índice:
Tomo I: Vasco Lopes, Gran-Mestre de Santiago (1337) | Brazão d'Elvas  (1438) | As Alpujarras (1568) | Ticiano Portuguez (1558-1590) | Constancia de Jesuita  (1587-1608) | Olho por olho, dente por dente (1845).
Tomo II: Rei ou Impostor? (1595) | Alda (1847) | Diluvio de Luz (...?) | Nota Final.
José de Torres (Ponta Delgada, 1827 - Lisboa, 1874). "Foi um escritor e jornalista açoriano que se notabilizou como bibliófilo e investigador da história açoriana. Reuniu uma volumosa colecção de documentos relativos aos Açores, hoje na Biblioteca Pública e Arquivo de Ponta Delgada, a que deu o nome de Variedades Açorianas, a qual constitui hoje um acervo precioso para o estudo da história e cultura açorianas. Foi sócio correspondente da Academia Real das Ciências de Lisboa e membro de várias sociedades científicas estrangeiras."
(Fonte: Wikipédia)
Bonita encadernação meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada. Conserva as capas de brochura.
Exemplar em bom estado de conservação. Aparado à cabeça.
Raro.
85€

23 agosto, 2024

OLIVEIRA, Raposo de - NATAL. S. Miguel, Typ-Lit. Ferreira & C.ª, 1901. In-8.º (16,5x9,5 cm) de 14, [6] p. ; B.
1.ª edição.
Obra poética - a segunda do autor - composta por três poesias e oferecida por este ao Barão de Fonte Bella.
Exemplar muito valorizado pela dedicatória autógrafa de Raposo de Oliveira a Fernando Pinharanda.

"Nortada fria, de gelo!

Triste quem anda pelo montado,
A estas horas, com tanto zelo,
Tanto carinho, tangendo o gado...

E o Deus Menino, risonho e loiro,
Ri para as moças, do seu altar!
Veste um vestido de seda e oiro
Que outro mais lindo não hei de achar!

Teceu-lho a Rosa - mãos de princeza!
Teceu-lho a Rosa no seu tear...
Olhem-no todos! quanta riqueza!
E é branco, branco... nem o luar!

Tem pedras finas, deslumbra a vista
De tão intenso que é seu brilhar...
- O Deus Menino, para a modista,
Hade, por certo, ter um bom par!

E um moço, ao canto, moreno o rosto,
Olhando a Rosa põe-se a cantar!
Cantando, diz-lhe com quanto gosto
Hão de ir á egreja para casar..."

(II)

Francisco Raposo de Oliveira (Ponta Delgada, 1881? - Lisboa, 1933). "Poeta e jornalista. O local de nascimento de Raposo de Oliveira tem dado origem a alguma polémica porque os nordestenses reclamam para aquela vila o seu local de nascimento, por os pais serem naturais de lá, ali terem casado e vivido algum tempo. A própria Câmara Municipal de Nordeste, por volta dos anos 50, mandou descerrar uma lápide na suposta casa onde nascera e deu o nome do poeta à respectiva rua. O facto, é que existe um registo de baptismo do mesmo em Ponta Delgada, na freguesia de S. Pedro, com data de 20 de Maio do mesmo ano, e ali viveu até aos 23 anos de idade. Raposo de Oliveira trabalhou como caixeiro, mas desde cedo revelou apetências literárias, publicando o primeiro livro de versos aos 17 anos. Em 1899, começou a trabalhar como redactor no jornal O Heraldo, para fundar e dirigir em 1902, o semanário A Nova. A convite do jornalista António Baptista, partiu para Lisboa (1904), com o objectivo de colaborar na redacção e coordenação do Álbum Açoreano.
A partir de então iniciou a colaboração na imprensa da capital. Acabou por ser redactor dos jornais Jornal das Colónias, Portugal, Diário Liberal, Diário Ilustrado, Diário Nacional e Época; foi chefe de redacção de A Vitória, Situação e A Luta; por fim, foi redactor de A República e de O Século. Com a criação do Ministério do Trabalho entrou para o quadro, em 1920. Foi um dos fundadores da «Casa dos Jornalistas», depois integrada no Sindicato da Imprensa.
A obra literária inclui poesia, ficção em prosa e teatro. Pedro da Silveira afirma que «é de entre os poetas açorianos da geração pós-simbolista, o mais açoriano de todos na temática, em especial na Via Sacra, o melhor dos seus livros. Impenitentemente romântico e sentimentalmente idealista, tinha o culto exaltado da mulher, e formalmente era parnasiano». Ocasionalmente enveredou pela poesia de carácter social.
Obras Principais. (1898), Ardentias. Ponta Delgada, s.n.. (1901), Natal. Ponta Delgada, s.n.. (1903), Orações de amor. Ponta Delgada, Tip. Diário dos Açores. (1906), Pão. Lisboa, Viúva Tavares Cardoso. (1927), Via Sacra. Lisboa, Livraria Universal de Armando. (1928), O Poeta do Só. Lisboa, Livraria Central."
(Fonte: https://www.culturacores.azores.gov.pt/ea/pesquisa/Default.aspx?id=9094)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas oxidadas. Na capa é visível a assinatura de posse de Fernando Pinharanda.
Raro.
Sem registo na BNP.
25€

22 agosto, 2024

AMORIM, Francisco Gomes de - AS DUAS FIANDEIRAS : romance de costumes populares
. Lisboa, David Corazzi - Editor: Empreza Horas Romanticas, 1881. In-8.º (16,5 cm) de 390, [2] p. ; E.
1.ª edição.
Romance de costumes rurais. Trata-se de uma das mais apreciadas e invulgares obras do autor que escolheu a sua terra natal - Avelomar (A-Ver-o-Mar) - para epicentro da acção.
O presente exemplar terá pertencido ao próprio Gomes de Amorim, dado ostentar aquele que julgamos ser o seu carimbo pessoal na folha de ante-rosto, bem como correcções do texto a tinta ao longo do livro.
"Ha na formosa provincia do Minho uma freguezia rural denominada S. Thiago de Amorim, que se compõe de numerosas aldeias. Entre todas estas, avulta Avelomar, como a maior e mais bella pela sua posição. Está situada em planicie ampla, cortada por muitos riosinhos, semeada de fontes e arvoredos, que dão aos seus campos, sempre verdes e floridos, os aspecto de jardim vistosissimo.
Nada ha mais pittoresco e alegre do que essa povoação. De todos os lados se avista a fita azulada das aguas do oceano, orlando a terra, desde o sudoeste até ao norte."
(Excerto do Cap. I, Avelomar)
"N'um domingo, do anno de 1845, seriam apenas oito horas da manhã, estava já a capella de Nossa Senhora das Neves atulhada de gente. Fazia calor, e as portas achavam-se todas abertas de par em par. Sem embargo de respeito religioso, com que todos os habitantes, á excepção das beatas, se conservam sempre nas egrejas do Minho, e em Avelomar principalmente, notava-se ali não sei que vaga animação, n'aquelle dia; e todos cochichavam, mais ou menos. Como era cedo, e o padre não tinha vindo ainda para a sachristia, o sussurro da conversa ia crescendo de instante a instante. Unicamente os homens velhos fallavam pouco: todo o mulherio parecia agitado; esquecia-se completamente dos rosarios, e ficava longo tempo com as boccas colladas nos ouvidos das vizinhas; as raparigas casadas de pouco, olhavam com inquietação para os maridos; as solteiras, que não podiam córar mais, por serem naturalmente da côr das romans, mordiam os beiços de despeito, notando a impaciencia com que os rapazes olhavam para as portas.
Evidentemente, Avelomar estava commovida. A entrada de toda a população para a capella, uma hora antes da missa, era acontecimento que nunca se tinha dado desde que o mundo é mundo. Homens e mulheres haviam voltado as costas ao altar, o que era desacato estupendo; mas ninguem deu por elle. [...]
O padre Manuel entrou na sachristia e começou a revestir-se. Com a sua vinda cessou o borborinho; mas ninguem se virou para o altar; todos os olhos continuaram tenazmente a interrogar as portas.
Repentinamente, uma corrente electrica percorreu a multidão.
Duas mulheres, envoltas em grandes capas escuras, entraram pela porta da travessa. Apezar de estar tudo cheio, os homens esmagaram-se uns contra os outros, e abriu-se largo espaço, onde cabiam á vontade as recem-chegadas. Estas ajoelharam-se, com as costas para a porta, de modo que podiam ver e ser vistas de todos os lados."
(Excerto do Cap. II, Anna e Rosa Estella)
Francisco Gomes de Amorim (Avelomar, Póvoa de Varzim, 13 de agosto de 1827- Lisboa, 4 de novembro de 1891). "Poeta, jornalista e dramaturgo português, emigrou com dez anos para o Brasil, tendo sido caixeiro, em Belém do Pará. Vítima dos maus tratos de patrões portugueses, Gomes de Amorim fugiu para o sertão amazónico, onde por acaso encontrou, na cabana de uma família indígena, o poema Camões, de Almeida Garrett, episódio que dá início à sua vida de poeta, conforme relata no prefácio autobiográfico de Cantos Matutinos (1858). De volta ao Portugal, em 1844, depois de dez anos de ausência, estreita a relação de amizade que une Gomes de Amorim a Almeida Garrett, que tendo publicado o Romanceiro e Cancioneiro Geral, em 1843, irá influenciar o amigo e discípulo na valorização da cultura popular. A essa primeira influência soma-se a das Conferências Democráticas do Casino Lisbonense, em 1871, que irão desembocar no movimento nacionalista de valorização do mundo rural, enquanto repositório das raízes da Nação. É nesse contexto impregnado de amor à Pátria e de preservação das tradições populares que desponta As Duas Fiandeiras, “romance de costumes populares”, publicado por Gomes de Amorim em 1881 (embora escrito em 1866), pela prestigiosa editora de David Corazzi de Lisboa, dentro do selo “Horas Românticas”. A dedicatória da obra, evocação da paisagem amazónica, e a geografia da narrativa, a Avelomar natal, configuram as duas pátrias às quais o autor dizia pertencer. Retratados com fidelidade e verosimilhança, os tipos humanos que povoam As Duas Fiandeiras vêm ao encontro da caracterização regionalista nos quadros do realismo-naturalismo, ao mesmo tempo em que respondem pela idealização de uma ruralidade mítico-simbólica, com a qual se inicia a narrativa: “Ainda lá não chegaram os esplendores e os vícios da civilização, que ilustra e corrompe tudo (...)”.
(Fonte: Biblioteca Digital)
Encadernação coeva em meia de pele com nervuras e ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Cansado, com falhas de pele na lombada, sobretudo nas extremidades. Miolo sólido, com ocasionais manchas de acidez.
Raro.
Indisponível

21 agosto, 2024

OLIVEIRA, Aurélio de & CRUZ, Maria Augusta Lima & GUERREIRO, Inácio & DOMINGUES, Francisco Contente -
HISTÓRIA DOS DESCOBRIMENTOS E EXPANSÃO PORTUGUESA
. Lisboa, Universidade Aberta, 1990. In-fólio (30x21 cm) de 321, [3] p. ; il. ; B.
1.ª edição.
Obra de fôlego - de generosas dimensões - sobre a História dos Descobrimentos Portugueses. Trata-se do manual relativo a esta disciplina, desenvolvido com a colaboração de especialistas na matéria e professores universitários, patrocinado pela Universidade Aberta para apoio dos alunos do Ensino à Distância.
Ilustrado com mapas e inúmeras reproduções fotográficas de mapas-mundo medievais e cartas marítimas da época dos descobrimentos.
"Tomada no seu conjunto a Expansão Quatrocentista Portuguesa constitui uma das traves mestras fundamentais que balizam e sustentam os alicerces dos Tempos Modernos.
A conquista de Ceuta em 1415, para além de um arrazoado causal de ordem interna (e também externa), que procura explicar e tornar compreensivos os motivos que terão mobilizado os agentes directa e indirectamente intervenientes na façanha militar (e que adiante vão sucintamente referenciados) - é normalmente tomada como o primeiro passo desse movimento expansionista português e, pela mão dos portugueses, da Europa."
(Excerto de I - Antecedentes: a Expansão Comercial)
Índice:
Nota prévia | I - Antecedentes: a Expansão Comercial. II - Os portugueses em Marrocos nos séculos XV e XVI. III - O Atlântico: sua integração geográfica e económica. IV - O Índico e o Pacífico. V - A Construção Naval Portuguesa (séculos XV e XVI). VI - A Cartografia Portuguesa nos séculos XV e XVI. VII - Linhas e rumos da Colonização Portuguesa. VIII - Consequências dos Descobrimentos. | Lista de Quadros e Mapas.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Com folhas descoladas e notas manuscritas a lápis ao longo do livro.
Invulgar.
Com interesse histórico.
20€

20 agosto, 2024

ABREU, Martins e -
A REPUBLICA NA BEIRA ALTA.
Por... Revoltoso do 31 de Janeiro e cavador em Mortagua. Porto, Depositaria : Livraria Chardron, 1913. In-8.º (18,5x12 cm) de VII, [1], 152 p. ; B.
1.ª edição.
Curioso subsídio para a história da implantação da República na província. Trata-se de um conjunto de reflexões do autor a propósito das expectativas criadas pela mudança de regime em termos políticos, administrativos e económico-sociais não confirmadas na prática.
Raro e muito interessante.
"Na evolução das sociedades modernas, a voz dos produtores ergue-se mais alta que todas, mostrando que passou o tempo do privilegio em politica; que a força e a energia estão com os que trabalham e que a vida dos velhos regimes está gasta e só poderá ainda arrastar-se contemporisando com as ideias revolucionarias. [...]
Como, porém, os governos representativos atribuem voto de egual quilate ao sabio e ao ignorante, ao sério e ao troca-tintas, fez-se em cem anos uma politica suja, mandando as maiorias arrebanhadas a vinho e bacalhau frito pela corja audaz dos politicos, ficando, ás vezes, fóra do governo os homens que mais poderiam contribuir para a boa marcha dos negocios. [...]
Foi nesta situação que veio a Republica; para o seu triunfo contribuiu a fraqueza da dinastia que não pôde enfrentar essas centenas de patriotas da propaganda; os quais, ajudadas por uma pequena porção de operarios e soldados emancipados, quasi não tiveram com quem combater.
Mas os homens previdentes interrogam-se:
- A Republica melhorará realmente a administração?
- Teremos os empregados reduzidos ao essencial?
- Dentro das repartições haverá eguais garantias para o forte e para o fraco?
- Desenvolver-se-ha a instrução em ordem a reduzir o analfabetismo? [...]
- A magistratura judicial deixará de estar a serviço da corja eleiçoeira para servir a justiça? [...]
- Emfim: com os mesmos materiais e quasi os mesmos artistas, poderemos fazer a revolução de portas a dentro, como a fizemos na rua?
E a resposta a estas interrogações é clara e ilinudivel - Não!"
(Excerto de I - Ao leitor)
Resumo:
I - Ao leitor. II - A mentira tributaria. III - Um alvoroto popular. IV - Entulho de empregados. V - Palestras civicas. VI - Corrução dos tribunais. VII - O principio da autoridade. VIII - Um drama na Republica.
Manuel Ferreira Martins e Abreu (1861-1944). "Professor, Administrador do Concelho, Escritor e Político. Nasceu na localidade de Pinheiro, freguesia da Marmeleira, a 15 de Dezembro de 1861. Fez a instrução primária na Marmeleira com o professor Francisco Nunes Cordeiro. Com 11 anos vai para o Porto como aprendiz de uma drogaria. Passou por várias casas do Porto até aos 15 anos e aí adquiriu o vício da leitura. Em 1881 tirou em Coimbra o curso de Magistério Primário. Apesar de ter sido o 1º classificado, não foi nomeado professor oficial por causa das suas convicções republicanas. Emigrou para o Brasil em 1884. Neste país foi guarda-livros, administrador de fazendas de café, proprietário de um armazém de materiais de construção e feroz opositor da escravatura dos negros. Além disso, exerceu, recorrendo a um livro manuscrito por si, o professorado em 1885, na localidade de São Carlos do Pinhal, Estado de São Paulo. Em 1888 regressou a Portugal. O seu regresso deveu- se à sua actuação na campanha abolicionista, pois só no Estado de São Paulo havia um milhão de escravos registados como propriedade, que se vendiam, trocavam e até se matavam. A sua estadia em Portugal fê-lo envolver na política local chegando a ser Vereador Municipal, mesmo sem estar inscrito em qualquer partido monárquico. Como homem revoltado contra as injustiças e a favor dos pobres e desprotegidos, era um revolucionário e panfletário inconformado com a mentira, hipocrisia e prepotência do meio social e político em que vivia, combatendo por uma sociedade mais justa e mais perfeita. As suas ideias e intervenções na vida pública local faziam dele uma figura polémica e incómoda ao status quo, ao ponto de ter feito anular uma eleição local e obrigar a uma nova votação. Participou na revolta do 31 de Janeiro de 1891 na cidade do Porto, na primeira tentativa de implantação da República, tendo sido ferido e preso. Não havendo provas da sua culpabilidade, foi libertado quando ia a caminho do Conselho de Guerra, a bordo da corveta “ Sagres” estacionada no Douro. Regressou mais tarde ao Brasil, onde se envolveu na política da governação da vila onde vivia, porque segundo dizia, “o seu ideal não permitia tolerar roubos, vigarices e injustiças“. E o resultado dessa luta foi regressar a Portugal no início do séc. XX, depois de ter sido alvejado a tiro. [Publicou 9 livros de diversa temática, sobretudo relacionados com política e a Beira Alta/Mortágua]. Além destas obras literárias, Martins e Abreu deixou ainda um grande volume de manuscritos que nos contam acontecimentos inéditos e as peripécias da sua vida como Lavrador, Professor, Administrador de Fazendas, Escritor, Jornalista, Autarca e Político. Faleceu em 7 de fevereiro de 1944, aos 82 anos."
(Fonte: https://www.cm-mortagua.pt/autarquia/figuras-ilustres/manuel-ferreira-martins-e-abreu)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas frágeis, muito finas, com defeitos, orifício ao centro e pequenas falhas de papel marginais. Com assinatura de posse na f. rosto.
Raro.
Com interesse histórico e regional.
25€

19 agosto, 2024

FLORES, Francisco Moita - AS MORTES DE ANTERO DE QUENTAL.
"Autópsia" de um Suicídio. Separata da Revista de História das Ideias, Vol. 13. Coimbra, Faculdade de Letras, 1991. In-4.º (23x16 cm) de 77, [1] p. (283-359 p.) ; il. ; B.
1.ª edição independente.
Interessante ensaio sobre os acontecimentos que rodearam a morte de Antero de Quental, quer sob o ponto de vista especulativo, quer sob o ponto de vista clínico e médico-legal, incluindo as diversas teorias propostas na época e nos anos subsequentes até ao presente.
Ilustrado no texto e em página inteira com fotografias a p.b. e desenhos esquemáticos.
Exemplar muito valorizado pela dedicatória autógrafa do autor.
"Porque se suicidou Antero? O enigma da sua morte que explicações encerra? Como morreu este Homem, cuja obra é decisiva para a compreensão do Portugal "fin de siècle", e na perspectiva de Gaspar Simões, intérprete catalítico das pulsões complexas que a sua Geração libertou e sacudiram a trajectória cultural portuguesa? Quem morreu? Um homem doente, derrotado e destruído, ou um filósofo inacabado ou um místico confiante numa escatologia imanentista da Morte? Ou então, citando Sousa Martins: "Foi livre Antero, na escolha do momento? Foi livre, ao menos, na escolha do processo da morte?"
Por fim, uma última questão: o suicídio do poeta-filósofo é um mero instante, um episódio, ou terá sido o epílogo de uma vida que se consumiu em suicídios sucessivos, entendidos como amputações conscientemente autodeterminadas, num processo de conflitualidade dialética entre os limites temporais de existência e a necessidade da apreensão metafísica da sua própria essência?"
(Excerto de Algumas interrogações prévias)
Índice:
Algumas interrogações prévias | 1. A morte biológica de Antero de Quental: 1.1. A tomada da decisão suicida; 1.2. O Suicídio; 1.3. Após a Morte. 2. As doenças de Antero. 3. Um suicídio feito de muitos suicídios: 3.1. Da recusa do suicídio à aceitação da morte; 3.2. O caminho para o suicídio; 3.3. Entre o "Programa da Morte" e a "Morte de um Programa"; 3.4. O "Suicídio" do Poeta; 3.5. O último combate de Antero. 5. Morte de homem. 6. A ressurreição de Antero. | Fontes e Bibliografia: I - Fontes manuscritas; II - Fontes Impressas; III - Obras Consultadas. | Apêndice: Entrevista Francisco Costa Santos; Entrevista Jorge Costa Santos.
Francisco Moita Flores (1953). "Nasceu em 1953 em Moura, Alentejo. Formou-se em Biologia e foi professor secundário antes de ingressar na Polícia Judiciária em 1978. Trabalhou na PJ até 1990 investigando furtos, assaltos e homicídios. Mais tarde voltou à PJ como diretor e participou do programa Casos de Polícia da SIC. Licenciou-se em História e desenvolveu uma carreira de sucesso como escritor, tendo recebido vários prémios em Portugal."
(Fonte: https://pt.slideshare.net/slideshow/francisco-moita-flores/13220970)
Exemplar em brochura, bem conservado.
Raro.
35€

18 agosto, 2024

BRAGA, Theophilo - FLORESTA DE VARIOS ROMANCES. Por... Porto, Typ. da Livraria Nacional, 1868. In-8.º (18,5x12 cm) de LIII, [1], 217, [1] p. ; E.
1.ª edição.
Edição original deste importante e apreciado romanceiro nacional.
"Floresta de Vários Romances é uma coletânea de narrativas escrita por Teófilo Braga, um dos principais intelectuais e escritores do movimento romântico em Portugal. Publicada em 1868, a obra reúne diversos contos e novelas que exploram uma ampla gama de temas, desde o folclore e as tradições populares até reflexões sobre a condição humana e a sociedade. Teófilo Braga, conhecido por seu trabalho como poeta, historiador e político, utiliza Floresta de Vários Romances para compilar histórias que refletem a riqueza cultural e a diversidade das lendas e mitos portugueses. Cada narrativa é marcada pelo estilo lírico e pela profundidade psicológica dos personagens, características distintivas da escrita de Braga. A coletânea é significativa por sua tentativa de preservar e celebrar o património cultural português, ao mesmo tempo que oferece ao leitor uma visão do romantismo literário da época. As histórias variam em tom e estilo, desde narrativas mais leves e fantasiosas até contos mais sombrios e introspectivos, proporcionando uma leitura rica e diversificada."
(Fonte: https://www.amazon.com.be/Floresta-V%C3%A1rios-Romances-Te%C3%B3filo-Braga/dp/B0D5LHRLCB)
"Os romances genuinos da tradição oral do povo foram pela primeira vez recolhidos na Silva de varios, em 1550, tendo sido anteriormente glosados pelos poetas cultos hespanhoes da corte de João II e Henrique IV ; no seculo XVI receberam uma fórma litteraria, dada por Lope de Vega, Gongora, Fuentes, Lasso de la Vega, Juan de la Cueva e outros. O mesmo facto se deu em Portugal: Gil Vicente, Bernardim Ribeiro, Jorge Ferreira de Vasconcellos, Francisco Rodrigues Lobo, Dom Francisco Manoel de Mello e Balthazar Dias, glosam e imitam os romances populares, já cantando os feitos da nossa historia, já as façanhas da guerra de Troya e de Roma, da Tavola-Redonda e de Carlos Magno. Convinha colligir estas flores dispersas, por onde se mostra que o movimento litterario operado em Portugal no seculo XVI e XVII era analogo ao de Hespanha; sem ellas, o Cancioneiro e Romanceiro geral portuguez seriam uma obra truncada e imperfeita."
(Excerto de Transformações do Romance Popular - Seculo XVI a XVIII)
Encadernação em meia de pele com nervuras e dourados gravados na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Lombada apresenta pequena falha de pele na extremidade inferior.
Muito invulgar.
25€

17 agosto, 2024

CABRAL, Cezar Amadeu da Costa -
A ACÇÃO REPUBLICANA MILITAR NA PROVINCIA (Região central do paiz).
[Por]... Tenente d'Infanteria. Apontamentos para a Historia da Republica Portugueza. [Prefácio de Álvaro de Castro]. Coimbra, F. França Amado, Editor, 1911. In-8.º (19 cm) de 66, [2] p. ; [1] f. desdob. ; B.
1.ª edição.
Relatório sobre o movimento conspirativo militar que desencadeou a revolução republicana no centro do país, com epicentro em Coimbra. Trata-se de um raro e importante subsídio para a história da implantação da República em Portugal.
Prefácio de Álvaro de Castro, "jovem turco" da República.
Ilustrado em separado com folha desdobrável do autógrafo cifrado de J. A. Pereira de Vasconcelos "relativo á detenção dos militares manifestamente adverso à Republica no movimento revolucionario de 28 de janeiro". É muito interessante esta cifra, onde "os numeros que estám a seguir aos «sinais» indicam os individuos encarregados das respetivas detenções e outros trabalhos ali marcados", seguindo-se a exposição alfanumérica dos estudantes insurgentes, bem como outros revolucionários "estranhos á academia" - artistas, comerciantes, caixeiros e empregados públicos.
Inclui correspondência entre Costa Cabral e alguns dos insignes revolucionários republicanos.
Exemplar muito valorizado pela dedicatória autógrafa - curiosa - do autor ao conhecido professor e arqueólogo viseense Dr. José Coelho (1877-1977).
"O teu livro ficará sendo um precioso documento para a futura historia do movimento revolucionario.
E aqui tens o que necessitava dizer-te com toda a franqueza de amigo. [...]
Se procuras simplesmente o camarada que comtigo teve as mesmas decepções, as mesmas dores e eguaes esperanças isso é outra cousa, mas então este prefacio não é mais do que uma pagina de recordações.
O escrevel-a seria roubar-te uma parte dum futuro livro, onde descreverás os meios principaes da perseguição monarchica, a atmosphera politica de Coimbra antes da morte do rei Carlos e ainda as figuras comicas que constituiam os elementos de defeza do throno."
(Excerto do Prefacio)
Ao começar a escrever estas linhas, varias difficuldades se nos deparam.
Que nome deveremos pôr ao conjuncto destes apontamentos?
Relatorio! - não será fatuoso este nome, quando nelle se não descreve nenhum feito ostensivo, quando não tomámos parte, nem assistimos a nenhum dos combates, que tiveram por fim proclamar a Republica no paiz?
A Republica na Provincia! - Não será alargar demais a esphera d'acção que praticamente desconhecemos?
Não será abusar um pouco d'um vão personalismo, quando são exclusivamente collectivos os esforços empregados num mesmo trabalho?
A acção republicana militar na provincia (Região central do paiz).
Parece-me ser este o nome mais adequado, porquanto, se vão demonstrar os esforços praticados por um punhado de militares republicanos, e embora o seu campo de acção seja principalmente em Coimbra, elles irradiaram, como conhecemos, por outros pontos, taes como Figueitra da Foz, Thomar, Aveiro, e, portanto, podemos dizer região central do paiz. [...]
Com estes apontamentos, podemos ainda dar elementos a quem quizer fazer a historia completa do movimento republicano em Portugal. [...]
Estes apontamentos, que tenho a certeza, serão acolhidos com interesse no meio republicano, sê-lo-hão tambem no exercito, quer entre os camaradas que, tendo sido sempre liberaes (e essa era a maioria do exercito), só por uma noção mal comprehendida não collaboraram com os republicanos, mas que depois contribuiram para a completa consolidação da Republica, e pelos nossos camaradas revolucionarios de Lisboa e Porto."
(Excerto do Cap. I)
César Amadeu da Costa Cabral. Pouco se sabe acerca do autor deste relatório. A BNP dá notícia de, para além da presente obra, uma outra - Aleluia Portuguêsa! Alocução proferida... em homenagem aos Herois Desconhecidos da Grande Guerra (1921) e o jornal publicado em Aveiro A Portugueza : jornal republicano independente (1912-1913), de que foi director.
Exemplar brochado em bom estado de conservação.
Ex-libris do Dr. José Coelho na f. ante-rosto.
Raro.
Com interesse histórico.
Indisponível

16 agosto, 2024

SOMBRIO, Carlos - AGUARELAS DA BEIRA. Cronicas da Serra da Estrela. [Prefácio de Mário Vieira Machado]. Ceia, Tipografia "Montes Herminios", 1933. In-4.º (24 cm) de 141, [3] p. ; il. ; B.
1.ª edição.
Interessante conjunto de crónicas que traduzem uma temporada na Serra da Estrela, e as caminhadas e passeios que Sombrio por lá deu.
Livro bonito, de grande esmero e apuro gráfico, ilustrado com 12 belíssimas estampas em sanguínea, reproduzindo clichés do autor (ass. "A. Esteves") - 1 na capa e 11 no interior (coladas em página inteira).
"Ergui-me hoje no desejo de subir a encosta e ir até ao Monte Farjão e dali, olhando o imenso vale onde algumas povoações se acolhem, se aconchegam no mimo e no afago das últimas verduras, procurar ao longe a nuvem movediça do fumo do combóio que atravessa a Beira a caminho de terras fronteiriças.
É já cá em cima, perto da carvalha velha que encontro um rebanho tilintando e um velho pastor, de manta listada às costas e de chapéu de largas abas.
- «Bom dia!» - E vou a seguir o meu caminho.
- «Bom dia!» Mas logo num olhar de estranheza e numa interrogação: «Onde vai meu senhor, com tanto frio, sem que para aí ande viv'alma?»
Acarinho a sua curiosidade com um pretexto.
Ofereço cigarros. E como dois velhos conhecidos ou como dois bons amigos, emquanto a cinza tomba, ouço atentamente a narração das luzes da vida... Parece que atravez da bôca sequiosa do pobre velho, é a Serra que fala, ou que ouço quanto de divino, de ancestral existe no doloroso calvário que é a existência dos guardadores de ovelhas nestas apartadas paragens."
(Excerto de As luzes da vida : O sol de inverno)
"Descia numa manhã límpida como um cântico triunfal, a encosta da Serra, quando chamaram, lá no alto, a minha atenção para um ajuntamento triste de casas aninhadas na bacia das vertentes, e inquiriram de mim se conhecia a povoação mais alta do país.
Respondi negativamente, ao mesmo tempo que inquiri:
- «A povoação mais alta do país?...»
A minha interrogação pareceu despertar o bairrismo herminista dos moços beirões que me acompanhavam, obrigando-os a intervir num atropêlo:
- «Sim, o Sabugueiro, a terra mais alta do país.»"
(Excerto de Sabugueiro)
Índice: Duas linhas... [Prefácio] - | Para a Serra! | Vila Nova de Tazem. | Aldeias. | A Cerca dos Marqueses de Gouveia. | Antonio Lopes "O Reformado". | Arcozêlo. | Folgosinho. | Vinhó. | As luzes da vida : O sol de inverno. | A Cascata da Fervença. | Romarias da Beira. | Joaquim Sarío. | A Senhora do Destêrro : As Lagoas. | A Voz da Païsagem e a Voz do Poente. | Sabugueiro. | Baptismo de neve. | Ceia.
Carlos Sombrio, pseudónimo literário de António Augusto Esteves (Figueira da Foz, 1894-1949). Divulgador e "amigo" da Serra da Estrela. "Proprietário de um estabelecimento de ourivesaria e relojoaria na Praça Nova (Praça 8 de Maio), iniciou a sua atividade literária no jornal “A Voz da Justiça”. Desde 1920 e quase até ao fim da vida, foi um colaborador ativo da imprensa portuguesa, dispersa por quase uma centena de periódicos de todo o país, e manteve páginas literárias nos jornais “Gazeta de Coimbra” e “Notícias de Gouveia”.
Praticou remo, como timoneiro, na Associação Naval 1.º de Maio, da qual foi, em 1920, nomeado sócio honorário e de cuja biblioteca foi patrono. Proferiu inúmeras conferências e organizou saraus artísticos memoráveis, alguns dos quais transmitidos pela antiga Emissora Nacional. A sua vastíssima produção literária abarcou diferentes géneros: contos, crítica e divulgação dos mais diversos autores, poesia, teatro (principalmente operetas e outras peças musicadas), inúmeros prefácios, textos acerca de desportos náuticos, biografias, estudos de história local, propaganda turística, entre outros."

(Fonte: http://diversosdicaseditos.blogspot.pt/2014/07/recordando-carlos-sombrio-no-120.html)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Manuseado. Capas frágeis, com defeitos e pequenas falhas de papel (alvo de restauro no canto superior direito). Páginas apresentam picos de acidez. Com duas gravuras em falta (das 14 que compõem o livro).
Invulgar.
25€