GONÇALVES, Fausto da Silva - AO CAIXEIRO INDIFERENTE. Beja, Tipografia Porvir, 1917. In-8.º (16,5 cm) de 16 p. ; B.
1.ª edição.
Interessante subsídio para a história do anarco-sindicalismo em Portugal.
Trata-se
de um folheto de doutrina sindical publicado em época de acentuada
degradação das condições de vida da população, de confrontação entre o
operariado e o capital, quando o movimento sindical dava os primeiros
passos entre nós. Este ano - 1917 - foi também o ano em que o primeiro
contingente do C.E.P. embarcou para a Flandres, parte do esforço de
guerra português no conflito mundial, mais agravando a situação.
Não
se conhece qualquer publicação em nome de Fausto Gonçalves, incluindo
na Biblioteca Nacional, que não possui nada em seu nome.
"Já pensaste no que aconteceria se as tuas Associações morressem?
Talvez
não tenhas pensado. Felismente o destino nunca dará realidade a tal
hipotese, mas, se algum dia a desse... veriamos, nesse dia, como tu te
queixarias de tal desastre, filho da tua atitude egoista e do teu mau
procedimento.
Queres mudar de rumo?
Queres? Então vem comnosco! Vem, porque melhorarás bem depressa a tua negtra situação.
Estás ainda a tempo e a organisação da classe no momento actual é uma necessidade imperiosa.
Cremos que de boa vontade colaborarás na obra de conjugação de esforços e energias.
Em
pleno seculo XX não se pode de forma alguma ficar silencioso em face do
procedimento da maior parte dos comerciantes, retrogados aos nossos
direitos, que venham aniquilar uma causa justa como é a nossa e impedir o
caminho da civilisação, do nosso bem estar e do progresso.
Bastará
ver o que se passa em Lisboa e no Porto, onde constantemente se
movimenta o patronato, exercendo as maiores represálias e as maiores
infamias contra as nossas regalias.
Bastará
ver o mesquinho salário que recebes ao fum dum determinado numero de
dias em troca dum trabalho extenuante, forçado, e muitas vezes
prejudicial á tua saude.
Bastará
ver o que se passa pelas cidades, vilas e aldeias, onde caixeiros ha,
que não auferem descanço semanal e regulamentação de horas de trabalho.
Bastará
ver o que se passa, finalmente, por todas as terras do paiz, onde o
patronato explora vil e tiranamente o pobre marçano, nosso companheiro
de trabalho, que em nenhum caso e sob nenhum pretexto, poderá deixar de
lhe ser concedido o descanço semanal.
Por consequencia, não demonstres mais o desinteresse pelas tuas Associações. Elas teem sido zelosas e teem-se sacrificado até ao ultimo ponto em teu proveito e para o teu bem estar social.
Quanto maior numero de associados a Associação tiver, tanto mais forte, mais vigorosa e mais vital ela se torna."
(Excerto de Por mau caminho...)
Índice:
Por mau caminho... | Trabalhador (Da brochura editada pela «Federação Geral do Trabalho de França») | Despertai!
Fausto da Silva Gonçalves
(1899-1977)."Nascido em Tomar, no ano de 1899, filho mais velho de um
abastado industrial e comerciante de calçado, José Gonçalo, sai de casa
aos 17 anos, sem completar os estudos liceais. Dado a convívios e
leituras de cariz revolucionário, entrou, muito novo, em forte litígio
com o ambiente familiar muito conservador, mesmo provavelmente
reaccionário, gerado por seu pai. O Congresso Operário Nacional,
realizado em 1914 na sua cidade natal, desperta a sua consciência de
adolescente, já solidária com as classes trabalhadoras. Começa a
escrever. Lê toda a literatura que lhe passa ao alcance. Lateralmente,
diverte-se a jogar futebol e é um dos fundadores do União de Tomar, que
se vem a tornar um importante clube de província.
Sai
da casa paterna para uma situação problemática. Encontra trabalho no
Comércio em Torres Vedras, mais tarde em Beja, até se fixar em Lisboa.
Abraça por inteiro o Jornalismo e a luta política. Fausto Gonçalves
torna-se companheiro de Alexandre Vieira, Manuel Joaquim de Sousa, Mário
Araújo, Cristiano Lima e Mário Castelhano, figuras grandes do
Anarco-Sindicalismo, ideologia que respeita mas onde encontra
incapacidades de afirmação para o futuro da luta dos trabalhadores.
Escreve em “A Batalha”, órgão da Confederação Geral do Trabalho - que
vem a tornar-se o 2º ou 3º diário português em tiragem, tendo
colaboradores como Ferreira de Castro e Julião Quintinha.
Em
1917, a Revolução Russa leva-o à adesão às ideias bolcheviques e a
integrar o grupo dos fundadores da Federação Maximalista Portuguesa, que
surge em 1919 e vai anteceder a criação do Partido Comunista Português,
ao qual pertence desde a primeira hora, estando assinalado como seu
membro em toda a vigência da 1ª República. Colabora em “A Bandeira
Vermelha”, dirigido por Manuel Ribeiro, além de jornalista, escritor de
assinalar. Este é preso em 1920, mas quando sai da prisão assume um
comportamento político diferente do que apresentava e torna-se um
católico conservador."
(Fonte: https://www.tribunaalentejo.pt/artigos/120-anos-do-nascimento-de-fausto-goncalves-celebrados-na-casa-do-alentejo)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas frágeis com defeitos e pequenas falhas de papel. Interior correcto.
Muito raro.
Com interesse histórico.
Sem registo na BNP.
25€
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