21 novembro, 2023

RIBEIRO, Arthur - A DERROCADA DO "BARÃO DE FATAUNÇOS".
Inquérito ao suicídio … dum capitalista. Lisboa, [Edição do Autor] Composto e Impresso na Ottosgrafica, [1925?]. In-8.º (17,5x12 cm) de 88 p. ; E.
RIBEIRO, Arthur - O "BARÃO DE FATAÚNÇOS". (Scenas focadas na vida portuense). Lisboa, [Edição do Autor] Tipografia Torres, 1928. In-8.º (17,5x12,5 cm) de 237, [3] p. ; E.
1.ª edição.
Obra em dois volumes (completa) sobre um crime cometido no Porto, em 1924, na pessoa de Jaime Ribeiro, irmão do autor. Inicialmente dado como suicídio, Artur Ribeiro rebate esta tese com a teoria de homicídio premeditado, executado por pessoas ignóbeis que habitavam o palacete de seu irmão, sobre o qual tinham ascendente, sendo o roubo o móbil do crime. 'Barão de Fatúnços' é a alcunha de Henrique Bastos, o celerado natural da terra com o mesmo nome (pertencente o concelho de Vouzela) e cérebro da "operação". Ambos os volumes são apresentados em jeito de romance, incluindo diálogos entre os "personagens".
"Com meu irmão Jayme Ribeiro, no seu palacete, só habitavam intrusos que levaram consigo a mentira, a intriga, a calumnia e o crime.
Assim apetrechados, meteram ainda nas bagagens para soltarem contra a familia de Jayme Ribeiro: cobras e lagartos... e o solicitador Trocatles, um voraz reptil do Fôro.
Nos ultimos tempos mumificava esse desventurado irmão, ou o sortilegio dum poder oculto, o que não é crivel, ou veneno que, subtilmente, mão criminosa lhe ministrava aniquilando-lhe a vontade, ensombrando a lucidez da sua inteligencia, reduzindo a victima a uma especie de farrapo humano."
(Excerto do Vol I - A quem de direito)
"De manhã cedo, uma criada do palacete encontrou o capitalista J. R. estiraçado e hirto no leito, sem dar acordo de si. Tolhida de espanto, lívida, a voz quasi estrangulada, desatou num berreiro:
- Socôrro! Socôrro! O senhor estava morto no quarto. Acudam!
As outras criadas precipitaram-se numa grande balburdia no aposento e umas senhoras - hospedas da casa - muito esgrouviadas, acorrêram, tambem, gritando que se chamasse a policia.
Uma delas intimava:
- Subam ao primeiro andar. Acordem a menina Milóca e o sr. Bastos."
(Excerto do Vol. I - Introdução)
"O título de Barão de Fataúnços era uma irrisória e mordente alcunha com que certo conterrâneo, inimigo irreconciliável, agraciara na Invicta a individualidade jogralesca, típica, dum filhote da sua aldeia moirejando naquela cidade havia um bom par de anos. [...]
Muito cáustico, o conterrâneo explicava, sorridente, a origem da mercê heráldica:
- Se êle usa tantos apelidos ilustres e estoira de fatuidade, fi-lo barão. Que tem lá isso?! de Fataúnços logo se vê porquê: o homem veio ao mundo em terras de Fataúnços. E vejam agora os meus tormentos de quizília em o saber patrício, pois foi a minha rica e louçã aldeia que teve a má sina de o vêr nascer tão miradinho, exangue, gelatinoso, que chegaram a tratar-lhe do funeral e a ungi-lo com a extrema-unção..."
(Excerto do Vol. II)
Encadernações em meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada. O I vol. conserva as capas de brochura.
Raro conjunto.
45€

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