DINIS, Baptista - OS CRIMES DOS CONVENTOS. Romance em dois volumes. Original portuguez. Volume I [Volume II]. Lisboa, Empreza Editora - Fernandes & C.ª, [18--]. 2 vols in-8.º (19x12,5 cm) de 277, [9] p. ; [4] f. il. (I) e 285, [3] p. ; [4] f. il. (II) ; E. num único tomo
1.ª edição.
Interessantíssimo romance antijesuítico, não datado, publicado no final do século XIX.
Ilustrado com 8 belíssimos desenhos (4 por volume) assinados Nascimento, alguns com abreviatura "Nas".
"A cella da pobre Aurora era escura, lobrega, com a apparencia horrorosa d'uma prisão.
Das paredes, mal caiadas, gottejava constantemente a humidade, como com o rocio matinal gottejam os caules das flôres. A luz exterior entrava, a custo, por uma pequenina fresta ao pé do tecto, com um grosso varão de ferro ao centro. A unica porta do aposento, baixa e estreita, era interiormente chapeada de ferro, com fortes gonzos e enorme fechadura. Das paredes amarellecidas pendiam quadros d'assumptos mysticos, emoldurados em madeira negra. Um representava Maria Magdalena no supedaneo da cruz, olhos em alvo, cabellos cahidos, chorando copiosamente pelo Martyr do Calvario, outro appresentava, num dos seus extasis de histerica, santa Thereza.
Um Christo crucificado conservava-se rodeado de flôres sobre uma tosca meza, allumiado pallidamente por uma modesta lamparina d'azeite.
O leito, um humilde catre de madeira carunchosa, estava a um canto do aposento, que apenas tinha 6 metros quadrados.
O conjuncto d'aquella habitação punha no espirito a nota triste dos desalentos, a melancholia dos tumulos. Os carceres da Inquisição não eram mais pavorosos.
No momento em que fazemos penetrar os nossos leitores n'uma das cellas do convento de ***, acabavam de soar sete horas. A noute era fria, noute cruel de Dezembro. O vento assobiava pelos corredores umas canções estranhas e a chuva fustigava despiedosamente as vidraças. No coro, as servas do Senhor, que ali se achavam, umas violentadas pela inexorabilidade dos parentes, outras para poderem a coberto manter as suas relações impuras e peccaminosas com padres d'olhares libidinosos e beiços de satyros devassos, erguiam a Deus umas orações em voz alta, com o acompanhamento funebre do orgão."
(Excerto do Cap. I - O envenenamento)
Eduardo Baptista Dinis (1859-1913). Autor e empresário, e, de acordo com Ricardo Revez em A Evolução do Pensamento Político, artigo inserto nas Actas do Colóquio Fialho de Almeida : cem anos depois (2011), um "escritor de comédias e revistas de feição algo pornográfica".
"Foi autor de várias peças de teatro, muito populares e bastante representadas no século passado, levadas à cena em quase todas as associações recreativas do país. São da sua autoria, por exemplo, “Um erro judicial” ou “O louco da aldeia”, “O veterano da liberdade”, “O segredo do pescador”, “Os gagos”, “A santa inquisição”, entre outras." (in https://geneall.net/en/forum/156798/eduardo-baptista-dinis-1859-1913/)
Encadernação coeva em meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado geral de conservação.
Raro.
85€
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