FREITAS, Pedro de - MEMÓRIAS DUM FERROVIÁRIO (revisor de bilhetes). Descrição
de 40 anos vividos em combóios: sugestiva lição de vida social,
ferroviária, sexual, educativa, profissional, psicológica, etc. Montijo, [Edição do Autor], 1954. In-8.º (19,5 cm) de 262, [2] p. ; il. ; B.
1.ª edição.
Capa de Amílcar Mota (Barreiro).
Interessante e curiosíssima colecção de crónicas de experiências do autor, funcionário da CP, antigo combatente na Grande Guerra, ao longo de quatro décadas de actividade na empresa.
1.ª edição.
Capa de Amílcar Mota (Barreiro).
Interessante e curiosíssima colecção de crónicas de experiências do autor, funcionário da CP, antigo combatente na Grande Guerra, ao longo de quatro décadas de actividade na empresa.
Livro ilustrado no interior, e no início, com um retrato de corpo
inteiro do autor, aos 60 anos de idade (à data desta publicação - Maio
de 1954).
Contém dados estatísticos da época, logísticos e humanos, importantes para a compreensão da história e dimensão da empresa.
"Às voltas com as calamidades da guerra, um dia, nos campos de batalha da Flandres, em França, leio no jornal O Século, estar aberto concurso para revisores de bilhetes nos caminhos de ferro do Estado, direcção do Sul e Sueste.
Longe da Pátria e da família, suportava eu bem duramente os amargos efeitos da monstruosa guerra. Ao ler no jornal essa notícia, foi duplo o meu sofrimento moral por verificar que, sendo eu um ferroviário com direito à notificação do dito concurso, pelas vias competentes, se não fora a coincidência da leitura, para ali ficaria votado ao esquecimento.
Em missão oficial no estrangeiro, envergando uma farda que era a honra do meu país, não era de admitir que por essa circunstância melindrosa da minha vida de soldado eu fosse compelido a prejudicar os meus interesses e a comprometer o meu futuro.
Mas a providência é grande. E o acaso fez que eu visse nesse dia o jornal que deu, à minha alma, tão grande consolação.
Não deixo perder o momento de atingir o que mais ambicionava na minha profissão e, em requerimento feito em papel de campanha, pelas vias competentes do Corpo Expedicionário Português - C. E. P. - envio à Direcção dos caminhos de ferro esse documento.
E desde então ainda mais se me aviva o desejo de voltar aos ares pátrios, à vida dos combóios, ao seio da minha classe. Mas a maldita guerra parecia ser infinita, nunca mais acabaria...
Porém, ela - como de resto tudo no Mundo tem seus dias contados - um dia acabou.
Não foi operação imediata o meu regresso à vida da Pátria; só seis meses passados após o termo das hostilidades, eu piso as terras benditas do meu velho Portugal.
Alegria nos corações libertos de tantos e tantos pesadelos; alegria nos lares, nos amigos, nas coisas nossas conhecidas e estimadas e, após arrumação de vários assuntos inadiáveis, eu apresso-me a saber do resultado do meu requerimento para o concurso de revisor.
Por intermédio do Ministério da Guerra, e com alguns pareceres e muitos carimbos extravagantes, esse desconhecido papel de campanha, que me custara meio franco, entrara, para os devidos efeitos, na repartição competente. Mas seria eu admitido?!... - eis a grande interrogação.
As vagas eram largamente disputadas; os pretendentes são muitos e as «cunhas» apertadas. A minha qualidade de combatente parece servir de alguma consideração e, na devida altura, eu sou admitido ao concurso."
(Excerto do Cap. XIII, Revisor de bilhetes)
Índice:
Ex-Libris. Abertura. Primeira Parte - Cemitério ferroviário: I - A angústia dum capataz em manobras. II - O funeral da carruagem-salão. III - O carril. IV - A locomotiva. V - A oficina, o telégrafo e a sinalização. VI - O barco a vapor e a via fluvial. VII - A estação. VIII - O bilhete. IX - O salão de primeira classe - n.º 61- Segunda Parte - Vida profissional e suas vicissitudes: X - O princípio de uma vida. XI - Na vida dos combóios (guarda-freio e condutor). XII - Movimentos sociais da classe - Dois comandantes frente a frente. XIII - Revisor de bilhetes. Terceira Parte - Vida ferroviária: XIV - Revisor e fiscal (Alta escola de ensinamentos psicológicos e sociais). XV - Humorismo ferroviário. XVI - Na vida burocrática do caminho de ferro, os papéis é que mandam. Quarta Parte - No campo da reforma: XVII - O último combóio. XVIII - Retalhos duma vida. XIX - A vala dos «mortos-vivos». Nota final.
Contém dados estatísticos da época, logísticos e humanos, importantes para a compreensão da história e dimensão da empresa.
"Às voltas com as calamidades da guerra, um dia, nos campos de batalha da Flandres, em França, leio no jornal O Século, estar aberto concurso para revisores de bilhetes nos caminhos de ferro do Estado, direcção do Sul e Sueste.
Longe da Pátria e da família, suportava eu bem duramente os amargos efeitos da monstruosa guerra. Ao ler no jornal essa notícia, foi duplo o meu sofrimento moral por verificar que, sendo eu um ferroviário com direito à notificação do dito concurso, pelas vias competentes, se não fora a coincidência da leitura, para ali ficaria votado ao esquecimento.
Em missão oficial no estrangeiro, envergando uma farda que era a honra do meu país, não era de admitir que por essa circunstância melindrosa da minha vida de soldado eu fosse compelido a prejudicar os meus interesses e a comprometer o meu futuro.
Mas a providência é grande. E o acaso fez que eu visse nesse dia o jornal que deu, à minha alma, tão grande consolação.
Não deixo perder o momento de atingir o que mais ambicionava na minha profissão e, em requerimento feito em papel de campanha, pelas vias competentes do Corpo Expedicionário Português - C. E. P. - envio à Direcção dos caminhos de ferro esse documento.
E desde então ainda mais se me aviva o desejo de voltar aos ares pátrios, à vida dos combóios, ao seio da minha classe. Mas a maldita guerra parecia ser infinita, nunca mais acabaria...
Porém, ela - como de resto tudo no Mundo tem seus dias contados - um dia acabou.
Não foi operação imediata o meu regresso à vida da Pátria; só seis meses passados após o termo das hostilidades, eu piso as terras benditas do meu velho Portugal.
Alegria nos corações libertos de tantos e tantos pesadelos; alegria nos lares, nos amigos, nas coisas nossas conhecidas e estimadas e, após arrumação de vários assuntos inadiáveis, eu apresso-me a saber do resultado do meu requerimento para o concurso de revisor.
Por intermédio do Ministério da Guerra, e com alguns pareceres e muitos carimbos extravagantes, esse desconhecido papel de campanha, que me custara meio franco, entrara, para os devidos efeitos, na repartição competente. Mas seria eu admitido?!... - eis a grande interrogação.
As vagas eram largamente disputadas; os pretendentes são muitos e as «cunhas» apertadas. A minha qualidade de combatente parece servir de alguma consideração e, na devida altura, eu sou admitido ao concurso."
(Excerto do Cap. XIII, Revisor de bilhetes)
Índice:
Ex-Libris. Abertura. Primeira Parte - Cemitério ferroviário: I - A angústia dum capataz em manobras. II - O funeral da carruagem-salão. III - O carril. IV - A locomotiva. V - A oficina, o telégrafo e a sinalização. VI - O barco a vapor e a via fluvial. VII - A estação. VIII - O bilhete. IX - O salão de primeira classe - n.º 61- Segunda Parte - Vida profissional e suas vicissitudes: X - O princípio de uma vida. XI - Na vida dos combóios (guarda-freio e condutor). XII - Movimentos sociais da classe - Dois comandantes frente a frente. XIII - Revisor de bilhetes. Terceira Parte - Vida ferroviária: XIV - Revisor e fiscal (Alta escola de ensinamentos psicológicos e sociais). XV - Humorismo ferroviário. XVI - Na vida burocrática do caminho de ferro, os papéis é que mandam. Quarta Parte - No campo da reforma: XVII - O último combóio. XVIII - Retalhos duma vida. XIX - A vala dos «mortos-vivos». Nota final.
Pedro de Freitas (1894-1987).
Natural de Loulé. "Escritor, jornalista e musicógrafo. Em 1916 era
ferroviário, guarda-freio dos comboios e, no ano seguinte,
parte para a guerra, em França. Aí narra um dos episódios de guerra numa
carta que alguns meses mais tarde acaba por ser publicada num jornal.
Fez toda a Campanha em França como membro do Corpo Expedicionário
Português, integrando o Batalhão de Sapadores de Caminhos-de-Ferro.
Todos os acontecimentos vividos a partir do momento do desembarque na
Flandres seriam rigorosamente apontados por Pedro de Freitas e estão
presentes no seu livro “As Minhas Recordações da Grande Guerra”, um
livro que constitui “um manancial de descrições, informações e
sentimentos de carácter pessoal, baseado nas experiências concretas
vividas por Pedro de Freitas durante a Primeira Grande Guerra Mundial”.
“Este livro apresentou detalhe histórico e coerência relativamente às
datas dos eventos presenciados por Pedro de Freitas. Nesse sentido, o
autor conferiu alguma ênfase na evolução das batalhas do dia 21 de março
e do 9 de abril de 1918. Pelo realismo e sentimentalismo expresso no
mesmo foi possível reajustar uma interpenetração entre a visão
particular do interlocutor da história com uma análise histórica mais
distanciada e, por isso mesmo, mais crítica dos acontecimentos”, refere
Susana Barrote, na sua tese “Pedro de Freitas: A vida e a obra de um
escritor e musicógrafo nacionalista”.
(Fonte: http://www.avozdoalgarve.pt/detalhe.php?id=4058)
(Fonte: http://www.avozdoalgarve.pt/detalhe.php?id=4058)
Exemplar brochado em bom estado de conservação.
Muito invulgar.
30€
Muito invulgar.
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