30 novembro, 2023

PAIVA, Abel -
UMA CARTA DO PLANETA NEPTUNO.
Traduzida por um major aviador do Exército Português. Lisboa, [s.n. - Imprensa Lucas & C.ª], 1941. In-8.º (15,5x11 cm) de 7, [1] p. (inc. capas) ; B.
1.ª edição.
Obra curiosíssima. Trata-se de uma crítica à Humanidade e ao dinheiro que tudo comanda - ao individualismo e à maldade humana - e de apologia ao amor pelo próximo.
Folheto de ficção científica com propósitos antiguerristas, publicado em plena Segunda Guerra Mundial. Descreve o ambiente de concórdia existente em Neptuno - o "planeta ideal" - com as suas vias de comunicação e cidades aéreas, a sua alimentação (frugívera) e a vida alegre que levam, onde, de acordo com o "neptunino", são "crianças tôda a vida".
Insólito, raro e muito interessante.
"Metida por debaixo da porta, e trazida por um distinto aviador do Exército, que não conhecemos, mas que teve a coragem estóica de ir a Neptuno, recebemos uma carta daquele planeta, que no-la enviou o célebre aviador neptunino que o ano passado entrevistámos na magnífica Serra de Portalegre, quando por momentos, ali poisou num rápido descanso da sua viagem através dos planetas!"
(Primeiro parágrafo)
Exemplar brochado em bom etado geral de conservação. Frágil, com pequenos defeitos.
Muito raro.
Peça de colecção.
35€

29 novembro, 2023

DINIS, Baptista -
OS CRIMES DOS CONVENTOS. Romance em dois volumes. Original portuguez. Volume I [Volume II]. Lisboa, Empreza Editora - Fernandes & C.ª, [18--]. 2 vols in-8.º (19x12,5 cm) de 277, [9] p. ; [4] f. il. (I) e 285, [3] p. ; [4] f. il. (II) ; E. num único tomo
1.ª edição.
Interessantíssimo romance antijesuítico, não datado, publicado no final do século XIX.
Ilustrado com 8 belíssimos desenhos (4 por volume) assinados Nascimento, alguns com abreviatura "Nas".
"A cella da pobre Aurora era escura, lobrega, com a apparencia horrorosa d'uma prisão.
Das paredes, mal caiadas, gottejava constantemente a humidade, como com o rocio matinal gottejam os caules das flôres. A luz exterior entrava, a custo, por uma pequenina fresta ao pé do tecto, com um grosso varão de ferro ao centro. A unica porta do aposento, baixa e estreita, era interiormente chapeada de ferro, com fortes gonzos e enorme fechadura. Das paredes amarellecidas pendiam quadros d'assumptos mysticos, emoldurados em madeira negra. Um representava Maria Magdalena no supedaneo da cruz, olhos em alvo, cabellos cahidos, chorando copiosamente pelo Martyr do Calvario, outro appresentava, num dos seus extasis de histerica, santa Thereza.
Um Christo crucificado conservava-se rodeado de flôres sobre uma tosca meza, allumiado pallidamente por uma  modesta lamparina d'azeite.
O leito, um humilde catre de madeira carunchosa, estava a um canto do aposento, que apenas tinha 6 metros quadrados.
O conjuncto d'aquella habitação punha no espirito a nota triste dos desalentos, a melancholia dos tumulos. Os carceres da Inquisição não eram mais pavorosos.
No  momento em que fazemos penetrar os nossos leitores n'uma das cellas do convento de ***, acabavam de soar sete horas. A noute era fria, noute cruel de Dezembro. O vento assobiava pelos corredores umas canções estranhas e a chuva fustigava despiedosamente as vidraças. No coro, as servas do Senhor, que ali se achavam, umas violentadas pela inexorabilidade dos parentes, outras para poderem a coberto manter as suas relações impuras e peccaminosas com padres d'olhares libidinosos e beiços de satyros devassos, erguiam a Deus umas orações em voz alta, com o acompanhamento funebre do orgão."
(Excerto do Cap. I - O envenenamento)
Eduardo Baptista Dinis (1859-1913). Autor e empresário, e, de acordo com Ricardo Revez em A Evolução do Pensamento Político, artigo inserto nas Actas do Colóquio Fialho de Almeida : cem anos depois (2011), um "escritor de comédias e revistas de feição algo pornográfica".
"Foi autor de várias peças de teatro, muito populares e bastante representadas no século passado, levadas à cena em quase todas as associações recreativas do país. São da sua autoria, por exemplo, “Um erro judicial” ou “O louco da aldeia”, “O veterano da liberdade”, “O segredo do pescador”, “Os gagos”, “A santa inquisição”, entre outras." (in https://geneall.net/en/forum/156798/eduardo-baptista-dinis-1859-1913/)
Encadernação coeva em meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado geral de conservação.
Raro.
85€

28 novembro, 2023

COUTO, Mia - A CONFISSÃO DA LEOA. Alfragide, Caminho, 2012. In-8.º (21x13,5 cm) de  270, [2] p. ; B.
1.ª edição.
Capa: Rui Garrido.
Edição original deste best-seller de Mia Couto, multiplamente reeditado. Trata-se de um romance intenso e pungente, inspirado em acontecimentos verídicos, sendo esta uma das suas obras mais apreciada.
"Um acontecimento real - as sucessivas mortes de pessoas provocadas por ataques de leões numa remota região do norte de Moçambique - é pretexto para Mia Couto escrever um surpreendente romance. Não tanto sobre leões e caçadas, mas sobre homens e mulheres vivendo em condições extremas." (Excerto da sinopse)
Exemplar muito valorizado pela dedicatória autógrafa de Mia Couto na f. rosto.
"Em 2008 a empresa em que trabalho enviou quinze jovens para atuarem como oficiais ambientais de campo durante  abertura de linhas de prospeção sísmica em Cabo Delgado, no Norte de Moçambique. Na mesma altura e na mesma região, começaram a ocorrer ataques de leões a pessoas. Em poucas semanas, o número de ataques fatais atingiu mais de uma dezena. Esse número cresceu para vinte em cerca de quatro meses.
Os nossos jovens colegas trabalhavam no mato, dormindo em tendas de campanha e circulando a pé entre as aldeias. Eles constituíam um alvo fácil para os felinos. Era urgente enviar caçadores que os protegessem. [...] Dois caçadores experientes foram contratados e deslocaram-se de Maputo para a Vila de Palma, povoação onde se centravam os ataques dos leões. Na vila eles recrutaram outros caçadores locais para se juntarem à operação. O número de vítimas mortais, entretanto, tinha subido para vinte e seis.
Os caçadores passaram por dois meses de frustração e terror, acudindo a diários pedidos de socorro até conseguirem matar os leões assassinos. Mas não foram apenas essas dificuldades que enfrentaram. De forma permanente lhes era sugerido que os verdadeiros culpados eram habitantes do mundo invisível, onde a espingarda e a bala perdem toda a eficácia. Aos poucos, os caçadores entenderam que os mistérios que enfrentavam eram apenas os sintomas de conflitos sociais que superavam largamente a sua capacidade de resposta. Vivi esta situação muito de perto. Frequentes visitas que fiz ao local onde decorria este drama sugeriram-me a história que aqui relato, inspirada em factos e personagens reais."
(Excerto de Explicação inicial)
Mia Couto (n. 1955). "Nasceu na Beira, Moçambique, em 1955. Foi jornalista e professor, e é, atualmente, biólogo e escritor. Está traduzido em diversas línguas. Entre outros prémios e distinções (de que se destaca a nomeação, por um júri criado para o efeito pela Feira Internacional do Livro do Zimbabwe, de Terra Sonâmbula como um dos doze melhores livros africanos do século XX), foi galardoado, pelo conjunto da sua já vasta obra, com o Prémio Vergílio Ferreira 1999 e com o Prémio União Latina de Literaturas Românicas 2007. Ainda em 2007 Mia foi distinguido com o Prémio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura pelo seu romance O Outro Pé da Sereia. Jesusalém foi considerado um dos 20 livros de ficção mais importantes da «rentrée» literária francesa por um júri da estação radiofónica France Culture e da revista Télérama. Em 2011 venceu o Prémio Eduardo Lourenço, que se destina a premiar o forte contributo de Mia Couto para o desenvolvimento da língua portuguesa. Em 2013 foi galardoado com o Prémio Camões e com o prémio norte-americano Neustadt. Em 2020 foi galardoado com o Prémio Jan Michalski de Literatura, atribuído anualmente pela Fundação suíça Jan Michalski, tem o valor monetário de 50.000 francos suíços e inclui também uma escultura em madeira do artista nigeriano Alimi Adewale, e distingue a trilogia As Areias do Imperador, publicada em Portugal pela Editorial Caminho em 2015-2018."
(Fonte: Wook)
Exemplar em brochura, bem conservado.
Invulgar.
25€

27 novembro, 2023

AMARAL, Ferreira do - A MENTIRA DA FLANDRES E... O MÊDO!
. Lisboa, Editores - J. Rodrigues & C.ª., 1922. In-8.º (19x14 cm) de XII, 507, [1] p. ; B. 
1.ª edição.
Obra polémica sobre a participação portuguesa na Primeira Guerra Mundial. Trata-se da visão política e militar do conflito pela pena do Major Ferreira do Amaral, controverso oficial do C. E. P., em França.
Serviu em França nos postos de capitão, major graduado e major, desde Fervereiro de 1917 até Fevereiro de 1918. Comandou infantaria 15, os morteiros da 1.ª Divisão e o IX batalhão. Não quiz nunca vir de licença a Portugal. Marchou para França sem lhe competir por escala ou por escolha, mas simplesmente coagido por motivos de ordem pessoal e razões de ordem puramente militar. (Apontamento biográfico retirado da f. rosto)
Livro ilustrado com um retrato do autor em página inteira.
"O Exército Português entrou, é certo, na Grande Guerra e tomou parte em campos de batalha, na Europa e em África; mas desses esforços, desses sacrificios e de todo esse sofrimento moral, o que ficou para êle?
Nada, ou quasi nada!
No todo, o exército ficou peor do que estava, e do seu valor na guerra nada brilha, a não ser um ou outro nome, que é casualmente apontado, quando qualquer dos de citado nome passa na rua… […]
Para um exército, que se bateu em vários logares, desde novembro de 1914 até11 de novembro de 1918, tudo isso é muito pouco, é nada, é quasi ridiculo, é mesmo aviltante para o brio necessário a uma nação independente e a uma raça consagrada por dez séculos de História.
[A Grande Guerra] não foi, como muitos julgam, uma simples chuva de males e desgraças; foi uma avalanche, que na sua queda estampou por largo período sobre a farda dos oficiaes portugueses o carimbo terrivel da cobardia! […]
Na chamada questão da participação na guerra, não só os oficiaes do exército mas também os políticos ficaram afogados num mar de lama."
(Excerto da dedicatória do autor aos alunos da Escola de Guerra)
Índice:
Dedicatória. I – A loucura. II – A bravura! III – Fantasmas. IV – No patíbulo. V – O mêdo. VI – Epílogo.
João Maria Ferreira do Amaral (1876-1931). "Foi um oficial do Exército Português, comandante da Polícia Cívica de Lisboa, (a antecessora da Polícia de Segurança Pública), de 1923 até à sua morte. Participou, como voluntário, na expedição de pacificação sob o comando do General Pereira d’Eça no sul de Angola, em 1915. No ano seguinte, estando de licença em Portugal, foi nomeado Comandante do Batalhão de Infantaria 15, que seguiu para a frente, na Flandres, integrado no Corpo Expedicionário Português. Regressou de França de depois da Primeira Grande Guerra, e seguiu para Angola, numa missão civil. Retornou em 1922, tendo sido promovido a Coronel. A 23 de Novembro de 1923, foi nomeado comandante da Polícia Cívica de Lisboa e destacou-se na repressão da Legião Vermelha, a qual, dois anos mais tarde, a 15 de Maio, perpetrou um atentado em que é gravemente ferido. No leito do hospital, dirigiu a repressão que culminou com a prisão e o degredo para África de mais de cem suspeitos desse movimento. Foi agraciado com várias medalhas. Escreveu as seguintes obras acerca da I Guerra Mundial: A mentira da Flandres e… o mêdo! (1922) e A batalha do Lys ; a batalha d'Armentieres ou o 9 de Abril (1923)."
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas frágeis com pequenos defeitos. Assinatura possessória na f. rosto.
Invulgar.
Com interesse histórico.
25€

26 novembro, 2023

VASCONCÉLLOZ, Antóno Garcia Ribeiro de -
O MYSTÉRIO DA IMMACULADA CONCEIÇÃO E A UNIVERSIDADE DE COIMBRA. Memória histórica apresentada ao Congresso Universal Mariano de Roma. Por... Doutor na Sagrada Theologia [...]. Coimbra, Imprensa da Universidade, 1904. In-4.º (24x16 cm) de 102, [2] p. ; il. ; B.
1.ª edição.
Importante trabalho sobre o dogma da Imaculada Conceição e a sua ligação à Universidade de Coimbra, de quem é padroeira, desde a sua fundação até ao presente [1904].
"No dia 8 de Dezembro a Universidade de Coimbra celebra a sua Padroeira, a Senhora da Conceição ou Imaculada Conceição.
A sua história remonta às cortes de 1646, então reunidas em Lisboa, El-Rei D. João IV tomou a Virgem Nossa Senhora da Conceição por padroeira do Reino de Portugal. Ordenou igualmente que os estudantes na Universidade de Coimbra, antes de tomarem algum grau, jurassem defender a Imaculada Conceição da Mãe de Deus."
(Fonte: https://www.uc.pt/capelania/article?key=a-5b9a840a9f)
Obra ilustrada com bonitas capitulares a sépia, o sêlo de D. Raimundo Evrard, que instituiu o culto da Imaculada Conceição em Portugal, e a reprodução das assinaturas de algumas insignes personalidades - religiosas e seculares - ligadas à Universidade de Coimbra.
"Padroeira e Protectora celeste da Universidade de Coimbra, desde longos séculos é a Virgem Santíssima objecto de cultos muito especiais por parte deste insigne Academia. Nomeadamente a devoção ao mystério da Conceição Immaculada da Mão de Deus tem sido sempre um elemento preponderante na vida religiosa desta Escola. Na evolução da doutrina piedosa, hoje elevada a categoria de dogma cathólico, que affirma aquella prerogativa sobrenatural e singular de Maria, este importante Estabelecimento de ensino superior desempenhou um papel notavel. [...]
Em quatro períodos se acha naturalmente dividida a história da nossa Universidade:
O 1.º vai desde a fundação do Estudo geral português, no tempo de el-Rei D. Dinis, até à sua fixação em Lisbôa, no reinado de D. Fernando (1290-1377);
O 2.º decorre até ao estabelecimento definitivo da Universidade em Coimbra, no reinado de D. João III (1377-1537);
O 3.º estende-se até à reforma pombalina, quando reinava D. José (1537-1772);
O 4.º começa em 1772 e continúa na actualidade.
Encontramos em todos este períodos, como passamos a ver, documentos e provas, que indiscutivelmente nos revelam que na Academia conimbrigense sempre, sem interrupção, se professou a doutrina da Conceição Immaculada de Maria Santíssima."
(Excerto do preâmbulo)
António Garcia Ribeiro de Vasconcelos (S. Paio de Gramaços, 1860 - Coimbra, 1941). "Doutor em Teologia (1886) e Letras (1916) pela Universidade de Coimbra, sacerdote secular, «liturgista, filólogo, canonista, arqueólogo e historiador», na extensão da lápide evocativa colocada em 1944 na casa onde nasceu, foi uma personalidade vincada da diocese e da Universidade de Coimbra, onde exerceu o magistério entre 1887 e 1930, primeiro na Faculdade de Teologia e, depois da extinção desta, na Faculdade de Letras, onde se jubilou."
(Fonte: file:///C:/Users/aassm/Downloads/vasconcelos.pdf)
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Capas manchadas de acidez.
Raro.
Com interesse histórico e religioso.
Indisponível

25 novembro, 2023

BENEVIDES, Dr. Antonio Albino da Fonseca -
DICCIONARIO DE GLOSSOLOGIA BOTANICA OU DESCRIPÇÃO DOS TERMOS TECHNICOS DE ORGANOGRAPHIA, TAXONOMIA, PHYSIOLOGIA, E PATHOLOGIA VEGETAL.
Com a exposição succinta das familias naturaes e suas tribus actualmente adoptadas, redigido á vista dos melhores diccionarios botanicos, em que se acha refundido especialmente o do Dr. Brotero. Para uso dos que se dedicão a este ramo das sciencias naturaes. Pelo author do Compendio de Botanica, já impresso pela Academia Real das Sciencias, o... Socio Livre... [etc.] Lisboa. Na Typografia da Academia Real das Sciencias. 1841. In-8.º (21x14,5 cm) de [4], IV, 487, [1] p. ; E.
1.ª edição.
Dicionário de termos botânico. Obra de referência, trata-se de um importante subsídio oitocentista sobre o assunto e pioneiro na época.
"Sendo os Diccionarios scientificos destinados para exprimir o aperfeiçoamento, a que tem chegado a linguagem techinica de qualquer Sciencia; o estado actual da Botanica exigia que na nossa lingua se publicasse huma Obra desta natureza, em razão dos progressos que esta parte das Sciencias Naturaes tem feito nos ultimos tempos. A Botanica Portugueza carecia inteiramente de hum Diccionario, porquanto aquelle que o Dr. Brotero inserio no 2.º Tomo do seu Compendio de Botanica, impresso em Paris em 1788, comprehende unicamente os termos Latinos, faltando todos os que do Grego se tem novamente adoptado. [...] Verdade he que o nosso illustre Botanico , tambem introduzio maior numero de termos na sua Flora Lusitana e Phytographia: porêm como estas obras são em Latim, grande parte dos termos ainda se não achão vertidos em Portuguez, apezar do que escreveo o Dr. Figueiredo na sua Flora pharmaceutica e alimentar, e do que se acha escripto em algumas Memorias botanicas impressas em nossas Collecções Academicas, e Jornaes scientificos portuguezes; he evidente que não existe entre nós hum Diccionario completo de Glossologia Botanica, e por consequencia huma Obra de similhante natureza, que sahe á luz a primeira vez..."
(Excerto do Proemio)
António Albino da Fonseca Benevides (Lisboa, 1816 - Lisboa, 1885). "Foi um médico português, doutorado em Medicina pela Universidade de Pisa, médico honorário da Real Câmara, do hospital de S. José, das cadeias civis e da Misericórdia, bem como sócio correspondente da Academia das Ciências de Lisboa. Estudou na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, e doutorou-se na Universidade de Pisa. Em 25 de Outubro de 1836 foi nomeado médico do hospital de S. José, ficando efectivo a 24 de Janeiro de 1845, sendo aposentado a 10 de Outubro de 1876.
Principais Publicações: Compendio de Botanica do Doutor Felix de Avellar Brotero, addicionado e posto em harmonia com os conhecimentos actuaes d’esta sciencia, segundo os botanicos mais celebres, como Mirbel, De Candolle, Richard, Lecoq, e outros; Typographia da Academia Real das Sciencias de Lisboa, Lisboa, 1837‑1839; 2 volumes com estampas; Diccionario de Glossologia Botanica, ou descripção dos termos technicos de Organographia, Taxonomia, Physiologia e Pathologia vegetal; para uso dos que se dedicam a este ramo das Sciencias naturaes; Typographia da Academia Real das Sciencias de Lisboa; Lisboa, 1841; Memoria sobre o uso das nossas aguas mineraes sulphurosas nas molestias cutaneas, comprovado por observações, tanto dos medicos antigos como modernos, e destinada a generalisar a sua applicação nestas enfermidades; Lisboa, 1843; Memoria sobre as aguas mineraes sulfurosas, no tomo I da 2.ª série das Memorias da Academia Real das Ciências; Lisboa 1844.
Encadernação coeva em meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Pastas apresentam desgaste nos cantos. Mancha de humidade visível nas últimas páginas junto ao festo, não prejudica a mancha tipográfica.
Raro.
Com interesse histórico.
85€

24 novembro, 2023

AVELLINO, Dr. André A. -
DISCURSO RECITADO NA SESSÃO SOLEMNE D'ABERTURA DE AULAS NO LYCEU DE PONTA-DELGADA em 1 de Outubro de 1863,
Pelo..., Commissario dos Estudos e Reitor do mesmo Lyceu. Ponta-Delgada, Typ. da Persuasão. 1863. In-8.º (18x11 cm) de 16 p. ; B.
1.ª edição.
Opúsculo valorizado pela dedicatória manuscrita do autor na f. rosto, à cabeça, parcialmente obliterada.
"O começo do anno lectivo deve ser, e é com effeito para a mocidade estudiosa, dia de grande gala escholastica. Preparados os animos, descançados pelas ferias das fadigas preteritas, se é sincero o amor da sciencia, se ha verdadeiro desejo de aprender, a lembrança da acquisição de novos conhecimentos, do aperfeiçoamento dos já adquiridos, desperta honrosos brios para as subsequentes lides; e este amor do saber, que, no homem de lettras, vae sempre a crescer e que só com a morte se extingue, consegue novas forças á medida que o horisonte se alarga, e que o espirito se enriquece com mais acuradas e perfeitas noções. Já não é a curiosidade instinctiva da puericia, mas sim o porquê solido as cousas, a causa dos effeitos observados, o que na vossa edade juvenil, e no progresso dos vossos estudos vos serve hoje de guia a vossos scientificos trabalhos."
(Excerto do Discurso)
André António Avelino (1808-1869). "Doutor em Medicina pela Faculdade de Paris, graduado em 19 de Abril de 1836 e confirmado em Lisboa a 7 de Junho desse mesmo ano, o médico André António Avelino foi um faialense que bastante se distinguiu. Após a sua formatura na capital francesa, o Dr. André Avelino veio trabalhar para Ponta Delgada, talvez influenciado pelo colega de curso e amigo íntimo, o micaelense Dr. José Pereira Botelho, que, igualmente, foi médico de elevado renome. Estabelecido na ilha de São Miguel em 1836, foi médico do Hospital da Misericórdia e professor das cadeiras de Patologia, Matéria Médica e Terapêutica da Escola Médico - Cirúrgica de Ponta Delgada que funcionou de 1839 a 1844. Sem deixar o exercício da medicina, em 1858 foi nomeado Comissário de Estudos no distrito de Ponta Delgada e, de acordo com a lei então vigente, assumiu o lugar de Reitor do Liceu daquela cidade, cargo que exerceu durante 10 anos, até falecer. Nesta qualidade, proferiu anualmente os discursos da abertura das aulas, acto a que imprimia muita solenidade e onde expunha as suas ideias pedagógicas. Todos esses discursos foram impressos, o mesmo sucedendo à sua “Thése pour le doctorat en Médecin. Diagnostic differentiel entre l’hemorragie et le ramolissement cerebral” (Paris, 1836) e à “Memória acerca de dois casos de febre amarela observados no Hospital da Misericórdia de Ponta Delgada” (1858)."
(Fonte: https://tribunadasilhas.pt/retalhos-da-nossa-historia-cxxxix-dr-andre-avelino-reitor-do-liceu-e-professor-da-escola-cirurgica-de-ponta-delgada/)
Exemplar desencadernado em bom estado geral de conservação. Aparado, em certas páginas com prejuízo marginal do texto. Sem capas de brochura, terá feito parte de miscelânia.
No verso da f. rosto tem inscrição manuscrita: "Pertence ao Gremio Litterario d'Angra do Heroismo. O Secretario da Direcção [Assinatura ilegível]"
Raro.
Com interesse histórico e insular.
Indisponível

23 novembro, 2023

DOMINGOS, Manuela D. -
ESTUDOS DE SOCIOLOGIA DA CULTURA. Livros e Leitores do Século XIX. Colecção Temas de Cultura Portuguesa n.º 10
. Lisboa, Centro de Estudos de História e Cultura Portuguesa : Instituto Português a Distância, 1985. In-8.º (21x15 cm) de 191, [1] p. ; [3] f. desdob. , il. ; B.
1.ª edição.
Capa: Rocha de Sousa.
Interessante obra composta por dois ensaios sobre a "Bibliotheca do Povo e das Escolas", apreciada colecção da responsabilidade de David Corazzi, publicada no último quartel do século XIX, e os "Gabinetes de Leitura", fonte divulgadora de cultura.
Ilustrado com reprodução de portadas de livros, bem como mapas, tabelas, gráficos e quadros, sendo alguns destes em folhas desdobráveis.
"Os problemas da instrução popular básica e profissional foram profundamente sentidos nas últimas décadas de Oitocentos, sobretudo pelos mais atentos analistas da conjuntura que souberam, a seu tempo, pôr o dedo nessa ferida profunda do corpo da Nação.
A preocupação pela modernização do país foi patente, ao nível da formação proporcionada àqueles que, apenas nas escolas elementares, tinham possibilidades de contactar com as ciências - nos seus fundamentos e nas suas aplicações, como, por outro lado, se fez sentir junto dos que podiam vir a ser os "quadros médios" que as revoluções industriais reclamavam. E Portugal esteve então a ponto de apanhar esse comboio.
Neste quadro se inserem as iniciativas várias de divulgação cultural, que tiveram melhor ou pior fortuna; de curta duração ou de longo alcance (não só no tempo) - as colecções de livros com esses intuitos programáticos, entre os quais figura, em lugar de destaque, a "Bibliotheca do Povo e das Escolas"."
(Excerto da Introdução)
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Apresenta notas e sublinhados a lápis e alguns, poucos, a tinta.
Invulgar.
Com interesse histórico e bibliográfico.
25€

22 novembro, 2023

DUMAS, Alexandre - D. MARTIM DE FREITAS.
Romance historico portuguez. De... Traduzido por F. P. da C. Gonçalves. Lisboa, Imprensa de Hermenegildo Pires Marinho, 1854. In-8.º (16,5 cm) de 88, [6] p. ; [2] f. il. ; B.
1.ª edição.
Romance histórico inserido na corrente literária do Romantismo cuja acção decorre no século XIII, e retrata um dos mais emocionantes episódios da História de Portugal.
Trata-se da narrativa dos acontecimentos relacionados com a deposição do rei D. Sancho II por seu irmão D. Afonso III, e a comovente demonstração de fidelidade protagonizada pelo alcaide-mor do castelo de Coimbra - D. Martim de Freitas (c. 1215-1293) - pela resistência que ofereceu aos partidários do rei "usurpador", que lhe montou longo cerco, tendo apenas entregue as chaves da fortaleza sitiada após ter tido conhecimento (e confirmado) a morte de D. Afonso II no exílio, em Toledo.
A título da curiosidade vale a pena referir que existem sérias dúvidas acerca de "paternidade" desta obra. Sobre este assunto, reproduzimos excerto camiliano inserto num artigo da Biblioteca Nacional: Estudos sobre a vida e obra de Dumas, cujo link infra disponibilizamos:
"Tem sido interpretado em clave sisuda um parágrafo de Camilo sobre a «mentira no romance», exemplificado com Dumas - alegado autor de D. Martim de Freitas, que não consta das bibliografias oficiais - e sua «cornucópia de asneiras» ao falar de Portugal (ver prólogo de «A caveira», em Cenas Contemporâneas). É manifesta a ironia, nesse propósito tão camiliano de preparar o terreno e ofuscar o leitor." (in https://purl.pt/301/1/dumas-estudos/e-rodrigues-2.html)
Livro ilustrado com duas estampas extra-texto:
- D. Martim de Freitas;
- D. Martim de Freitas entrega as chaves ao defunto rei D. Sancho II.
"Mas, meu pai, disse sorrindo Mercédes, donde vos procede um amor tão grande e singular pelo rei D. Sancho II?
Aquella a quem a donsella dirigia esta pergunta era um velho de sessenta annos pouco mais ou menos, vestido com uma saia de malha, ajustada ao corpo com tanto cuidado como se estivesse em campo diante dos Mouros d'Ourique ou Cordova, e não no seu bom castello da Horta rodeado de uma fiel guarnição n'uma paz perfeita. Só o casco faltava á sua armadura completa de capitão, e esse mesmo apenas estava a alguns passos posto sobre uma arca, perto da qual um escudeiro se conservava de pé e prompto para obedecer ás ordens de seu amo. Podia-se vêr este veneravel rosto, em que luctava, semelhante ao leão, uma singular mistura de força e tranquilidade, coroado de compridos cabellos embranquecidos mais pela fadiga do que pela idade, juntando-lhe ainda uma ou duas cicatrises para provarem em como os golpes que se vêem são estimados."
(Excerto do Cap. I)
"Eis o que se havia passado em Lisboa entre D. Sancho II e os grande do seu reino.
Os nobres estavão reunidos na salla do conselho e esperavão el-rei D, Sancho II para com elle deliberarem negocios do reino. De repente abre-se a porta, e, em vez do rei, vê-se apparecer D. Fernando d'Almeida, seu favorito, vestido para montar a cavallo, uma bosina ao lado e um chicote na mão; vinha annunciar que el-rei seu senhor não podia vir presidir ao conselho, visto partir na madrugada seguinte para caçar nas suas florestas de Sarzedar e Castello Branco; e que, todo absorvido n'estes preparativos importantes, não se podia occupar dos negocios do Estado.
Esta missão, que o favorito desempenhou com a sua costumada arrogancia, foi seguida logo depois de sahir d'um murmurio terrivel em toda a assemblea."
(Excerto do Cap. II)
Exemplar brochado, aparado à cabeça, em bom estado geral de conservação, mas com pequenas falhas e defeitos. Sem capas, encontra-se revestido de capas protectoras simples, lisas. Sem F. ante-rosto.
Raro.
A BNP possui um exemplar desta obra, dando notícia de uma outra edição de 1855.
85€

21 novembro, 2023

RIBEIRO, Arthur - A DERROCADA DO "BARÃO DE FATAUNÇOS".
Inquérito ao suicídio … dum capitalista. Lisboa, [Edição do Autor] Composto e Impresso na Ottosgrafica, [1925?]. In-8.º (17,5x12 cm) de 88 p. ; E.
RIBEIRO, Arthur - O "BARÃO DE FATAÚNÇOS". (Scenas focadas na vida portuense). Lisboa, [Edição do Autor] Tipografia Torres, 1928. In-8.º (17,5x12,5 cm) de 237, [3] p. ; E.
1.ª edição.
Obra em dois volumes (completa) sobre um crime cometido no Porto, em 1924, na pessoa de Jaime Ribeiro, irmão do autor. Inicialmente dado como suicídio, Artur Ribeiro rebate esta tese com a teoria de homicídio premeditado, executado por pessoas ignóbeis que habitavam o palacete de seu irmão, sobre o qual tinham ascendente, sendo o roubo o móbil do crime. 'Barão de Fatúnços' é a alcunha de Henrique Bastos, o celerado natural da terra com o mesmo nome (pertencente o concelho de Vouzela) e cérebro da "operação". Ambos os volumes são apresentados em jeito de romance, incluindo diálogos entre os "personagens".
"Com meu irmão Jayme Ribeiro, no seu palacete, só habitavam intrusos que levaram consigo a mentira, a intriga, a calumnia e o crime.
Assim apetrechados, meteram ainda nas bagagens para soltarem contra a familia de Jayme Ribeiro: cobras e lagartos... e o solicitador Trocatles, um voraz reptil do Fôro.
Nos ultimos tempos mumificava esse desventurado irmão, ou o sortilegio dum poder oculto, o que não é crivel, ou veneno que, subtilmente, mão criminosa lhe ministrava aniquilando-lhe a vontade, ensombrando a lucidez da sua inteligencia, reduzindo a victima a uma especie de farrapo humano."
(Excerto do Vol I - A quem de direito)
"De manhã cedo, uma criada do palacete encontrou o capitalista J. R. estiraçado e hirto no leito, sem dar acordo de si. Tolhida de espanto, lívida, a voz quasi estrangulada, desatou num berreiro:
- Socôrro! Socôrro! O senhor estava morto no quarto. Acudam!
As outras criadas precipitaram-se numa grande balburdia no aposento e umas senhoras - hospedas da casa - muito esgrouviadas, acorrêram, tambem, gritando que se chamasse a policia.
Uma delas intimava:
- Subam ao primeiro andar. Acordem a menina Milóca e o sr. Bastos."
(Excerto do Vol. I - Introdução)
"O título de Barão de Fataúnços era uma irrisória e mordente alcunha com que certo conterrâneo, inimigo irreconciliável, agraciara na Invicta a individualidade jogralesca, típica, dum filhote da sua aldeia moirejando naquela cidade havia um bom par de anos. [...]
Muito cáustico, o conterrâneo explicava, sorridente, a origem da mercê heráldica:
- Se êle usa tantos apelidos ilustres e estoira de fatuidade, fi-lo barão. Que tem lá isso?! de Fataúnços logo se vê porquê: o homem veio ao mundo em terras de Fataúnços. E vejam agora os meus tormentos de quizília em o saber patrício, pois foi a minha rica e louçã aldeia que teve a má sina de o vêr nascer tão miradinho, exangue, gelatinoso, que chegaram a tratar-lhe do funeral e a ungi-lo com a extrema-unção..."
(Excerto do Vol. II)
Encadernações em meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada. O I vol. conserva as capas de brochura.
Raro conjunto.
45€

20 novembro, 2023

GUIMARÃES, Delfim de Brito M. - LISBOA NEGRA : poemeto. [Lisboa], Monteiro & C.ª - Editores : Agencia Universal de Publicações, 1893. In-4.º (24 cm) de 16 p. ; B.
1.ª edição.
Curiosa obra poética, das primeiras publicadas pelo autor. Trata-se de uma crítica corrosiva à capital, na opinião do autor uma cidade abjecta e licenciosa.

"Mas inda mais vereis, - miserias desconformes.
Lisboa é um vulcão que tem lavas enormes.
- Lavas de podridão, de lodo, d'immundicie...
Não chegando metade a vir á superficie!

Acompanhae-me, vá! Subamos ao Chiado,
E, ali, hei-de mostrar ao vosso olhar magoado
Um quadro bem pungente, um quadro bem real.

Eis-nos chegados já.

Vê-de aquelle portal:
Uma velha megera, um demonio asqueroso,
Está fazendo a venda a um burguez ditoso
Com o qual regateia o preço estipulado
Da honra da creança, a que tem a seu lado,
E que por esta fórma arrasta ao precipicio
Da perdição fatal, da ignominia, do vicio,
D'onde jamais sahiu quem lá um dia entrou!

E foi a propria mãe que a venda effectuou!...
A troco d'uns mil réis essa mulher pandilha
Não hesitou em vender a honra d'uma filha!

Ó negra capital! a tudo prostitues
Que ao santo amor de mãe, té a esse, pollues
Fazendo rebaixar ao ponto derradeiro
Das filhas rebater em troca de dinheiro
D'um nobre titular perdulario, e devasso,
D'um banqueiro feliz ou d'um burguez ricasso!"

(Excerto do poema) 

Delfim de Brito Monteiro Guimarães (1872-1933). “Escritor e Poeta prestigiado, com extensa obra publicada. Fundador da Livraria Editora Guimarães. Enveredou pela carreira comercial, desempenhando funções de contabilista e de administrador de diversas empresas, mas ficou conhecido pela sua produção literária, nomeadamente poesia, ensaio, conto, teatro e história. Administrou e reorganizou a revista "Mala da Europa", fundada em 1894. Terá nascido aqui a sua futura atividade como consagrado editor. Emprestou a sua colaboração a diversas publicações periódicas, a saber: Branco e Negro (1896-1898), Ave Azul (1899-1900), A Sátira (1911) e Atlântida (1915-1920). Delfim Guimarães foi um intelectual e trabalhador de mérito, como poeta e prosador, como dramaturgo e jornalista, como crítico literário e tradutor, como ensaísta e publicista, como contabilista e gestor, como livreiro e editor. Fundou uma Livraria-Editora, através da criação da sociedade "Guimarães, Libânio & C.ª", com Libânio da Silva. Dissolvida a sociedade, fundou a sua "Livraria Editora Guimarães". A «Guimarães Editores» (rua de S. Roque, 68-70, Lisboa) que ainda hoje existe.”
Exemplar brochado, por abrir, em bom estado de conservação. Apresenta oxidação acentuada, fruto da qualidade do papel utilizado na impressão.
Raro.
20€

19 novembro, 2023

NUNES, José Coelho Moreira - O SYMBOLISMO COMO MANIFESTAÇÃO DA DEGENERESCENCIA. These inaugural apresentada e defendida perante a Escola Medico-Cirurgica do Porto. Por... Famalicão, Typographia Minerva, 1899. In-8.º (21 cm) de [16, 94, [4] p. ; E.
1.ª edição.
Ensaio crítico sobre a degenerescência associada ao Simbolismo, movimento literário e artístico em voga na época.
Trata-se da tese de licenciatura do autor - muitíssimo curiosa e algo insólita - apresentada à Escola Médico-Cirúrgica do Porto, depois Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.
Exemplar muito valorizado pela dedicatória autógrafa do autor "Ao seu condiscipulo e amigo Dr. Alberto Placido".
"A mythologia do norte continha o dogma terrivel do crepusculo dos deuses. Mas, se os deuses já ha muito se foram, chega hoje o nosso espirito a inquietar-se com um crepusculo dos povos, em que todos os soes e todas as estrellas se apaguem lentamente, e os homens, no meio da natureza que morre, vão tambem perecendo com todas as suas instituições e todas as suas obras. Assim Max-Nordau caracterisa o estado da alma moderna, em que um mal-estar indefinido e vago, um descontentamento universal, enche todas as manifestações da vida. Parece a humanidade evoluir n'uma phase de transformação profunda, destruidas pela base as antigas instituições, reconhecidas impotentes para dar a felicidade, ao menos para fazer a existencia supportavel. [...]
Assim na philosophia que é a synthese universal do conhecimento, derivada de três fontes distinctas, a rasão baseada sobre a experiencia, o sentimento intuitivo, e a imaginação, e n'isto se distingue da sciencia especial, da arte e da religião que separadamente se dirigem a cada uma das tres fontes do conhecimento, os ultimos systemas fizeram a confusão com a sciencia, e quebraram os laços que a ligavam á metaphysica, que é o lado logico da philosophia. [...]
O mal vem do excesso de civilisação.
Mas será possível fazer retroceder a humanidade na sua marcha?
Nenhum espirito são o poderá conceber. A verdade tem de ser procurada no ainda ignorado, tem de ser inventada.
Mas é principalmente na litteratura como a primordial manifestação da vida intellectual, producto directo do pensar e sentir da epocha, pois que a philosophia já é ou pretende ser, a theorisação da vida, dando a rasão de ser, tentando explicar, achando os motivos, e tirando as formulas, é na litteratura que primeiro se reflectiu, e actualmente mais se reflecte o desgosto do existente, o descontentamento da geração contemporanea. Toda a litteratura do fim do seculo passado glorifica a volta ao estado de natureza, e só por ser differente d'aquelle em que se era obrigado a viver. [...]
Tambem nas bellas artes se nota a mesma incerteza, tanto mais que é n'este ramo da actividade cerebral, por mais individual, que mais se accentua o caracter de desiquilibrio de que soffre o artista. Em vez do amor sereno e são da natureza, do culto exclusivo da belleza, em que se aprazia a arte antiga, corrigindo muitas vezes o modelo, a arte moderna, dizendo-se observadora do real, pinta o defeituoso, comprazendo-se, por um requinte de inconsciente aberração, em reproduzir o feio e o trivial. [...]
Que isto tudo sejam manifestações d'uma só e mesma doença, bem se deixa vêr. A verdade é que o homem está gasto da civilisação.
Nas condições actuaes da existência tem de dispender uma energia sobrehumana, trabalhar de mais, para não ser esmagado na concorrencia. A lucta pela vida tornou-se um combate feroz, e ha mister ou de ser-se forte e vencer, inutilisando os competidores, ou de desertar, deixando-se preterir. [...]
E como hoje tudo se faz d'uma maneira vertiginosa também rapidamente um organismo, e por graças de hereditariedade, uma geração se desequilibra, degenera, se torna inutil, quando não prejudicial. O esgotamento é um facto geral, e a doença que o traduz é bem a doença do seculo. É esta a degenerescencia, e n'um grau mais attenuado os nevroses. Este mal-estar geral, este descontentamento, a incerteza e a duvida em que se debate a actual geração, que enche todas as manifestações da vida contemporanea, é pois a manifestação da degenerescência da epocha.
Ora como no campo litterario a ultima manifestação d'esté estado geral de incerteza e transformação, com o completo despreso e abandono do passado, na ancia de encontrar a formula nova, que se adapte, ao estado de momento, é sem duvida o apparecimento do symbolismo, d'interesse é o seu estudo sob o ponto de vista da psycologia pathologica, para a sua entegração no quadro degenerativo. Tanto vale como qualquer das manifestações da actividade humana que soffre da mesma doença, correspondendo a um estado de momento, modificavel e em plena transformação como a mesma geração que a produz. Pois a formula d'arte, sendo creação do espirito, não póde ser nada de absoluto, antes adaptar-se-ha á evolução ou involução d'este.
E assim é progressiva ou regressiva, são ou doente. É doença o symbolismo."
(Excerto da Introducção)
Índice:
[Dedicatórias] | Introducção | O Symbolismo | Diagnostico | Etiologia | Prognostico - Therapeutica | Proposições | Erratas.
Encadernação em eia de pele com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capa de brochura frontal (conserva a capa posterior).
Exemplar em bom estado de conservação. Levemente oxidado no interior, consequência da (fraca) qualidade do papel.
Muito raro.
Sem registo na BNP.
60€

18 novembro, 2023

PADRE CRUZ : um santo entre os homens.
O Decôro litúrgico do Padre Cruz. Lisboa, Casa Nossa Senhora de Fátima, 1942. In-8.º (15,5x11 cm) de 20 p. ; B.
1.ª edição.
Obrinha composta por 3 textos de outras tantas personalidades em homenagem ao Padre Cruz:
Gilberto F. Santos; Manuel Martinho; Manuel Ribeiro.
"O que é preciso é descermos ao povo, é sanearmos as sociedades com o Evangelho no coração. Façamos da Igreja um foco de amor e de caridade. Exaltemo-nos na fé. Imitemos o Padre e a Igreja será salva! Sim, imitemos o Padre Cruz!
E à invocação dêste nome, que se pulverizou em rócios brancos de pureza e de santidade, todos se curvaram, como se pressentissem no ar, sôbre as cabeças, um frémito de divindade.
O Padre Cruz era, de facto, uma extraordinária figura eclesiástica, que se popularizara em Lisboa. Um autêntico santo, desgarrado do século. Sempre de hábitos talares, tanto quanto lho permitiam, alto, esguio, dorso arqueado das prostrações demoradas, a face ascética das vigílias e jejuns, absorto o olhar em cândida beatitude, Padre Cruz sugeria logo, na compostura, S. Francisco de Assis das pias imagens, com quem, aliás, se não assemelhava menos na estatura moral."
(Excerto de O Decôro litúrgico do Padre Cruz, por Manuel Ribeiro)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas frágeis, apresentam oxidação.
Raro.
Indisponível

17 novembro, 2023

SANTOS,
Maria Carlota de Almeida - O LUGAR DA MULHER NA RECONSTRUÇÃO DO MUNDO
. Lisboa, Tipografia «Élite», 1944. In-8.º (16x11 cm) de 23, [1] p. ; B.
1.ª edição.
Conferência anti feminista proferida em 17 de Junho de 1944 na Federação Espírita Portuguesa sobre o papel da mulher no pós-guerra (Segunda Guerra Mundial).
Raro e muito interessante, em contra corrente com o "espírito libertador" da época.
"Depois da conflagração mundial de 1914/18 a mulher perdeu parte da sua personalidade. Tudo o que tinha de feminino, de requintado, de subtilmente superior, quási se eclipsou pelo desejo ardente das reivindicações a que, tam erradamente, chamaram, femininas.
Essas reivindicações, que não eram mais que o fruto da opressão forçada do homem mantendo a mulher num nivel de inferioridade pelas exigências do seu sexo, não foi um brado de luz, mas sim, um brado de treva, porque o gerou a revolta. E assim vimos a mulher sem preparação alguma, numa completa desordem moral, invadir lugares até aí desempenhados ùnicamente por homens. O combate pelas aspirações femininas obrigou inùmeras jóvens, soberbamente dotadas pela natureza, a dedicarem-se a carreiras opostas à sua capacidade congénita, atrofiando os seus talentos e faculdades, e isso teve por efeito torná-las estéreis, dando origem a um desperdício inútil de energias humanas.
Muitas mulheres convenceram-se de que o essencial era imitar os homens, não apenas no que era nobre, mas em tudo: nas funções, nos vícios, nos costumes, e até nas aberrações!"
(Excerto da Conferência)
Exemplar em brochura, bem conservado.
Raro.
Sem registo na BNP.
15€

16 novembro, 2023

GUIMARÃES, Delfim – AOS SOLDADOS SEM NOME
. Lisboa, Livraria Editora Guimarães & C.ª, 1921. In-8.º (16,5 cm) de 12 p. ; B.
1.ª edição.
Opúsculo publicado em 1921, no seguimento da decisão do governo português em homenagear o Soldado Desconhecido.
"Em Portugal, a 18 de Março de 1921 o Governo autorizou a transladação de dois Soldados Desconhecidos, um da França (Flandres) e outro da África (Moçambique), para o Panteão da Batalha. Foi, ainda, decidido que a cerimónia seria efectuada no dia 9 de Abril de 1921 e para tal decretou esse dia como feriado nacional. (Diário da Câmara dos Deputados, 41ª Sessão,18 de Março de 1921, p. 21)"
(Fonte: www.momentosdehistoria.com)

"Portugal vai honrar dous modestos soldados,
Prestando, no tributo aos peitos denodados
Que souberam morrer,
Um justo galardão aos que na paz ou na guerra
Dão o melhor do sangue em prol da linda terra
Que um dia os viu nascer!...
[…]
Que importa que ninguem vos desvendar consiga
Os nomes familiais?! A Patria, santa amiga,
Conhece-os muito bem…
Ela sabe quem sois, quem foste, honrada gente!
Viu-vos morrer com gloria, a alma e o sangue ardente
Dando por vossa Mãe.

Ela sabe quem sois; seguiu-vos carinhosa;
Convosco padeceu, chorou, e, lacrimosa,
Vos abriu o coval…
Pode pois escrever, sobre a vossa jazida,
A singela inscrição, legenda enternecida:
Filhos de Portugal!
"

(Excerto do texto)

Delfim de Brito Monteiro Guimarães (1872-1933). "Republicano convicto. Escritor e Poeta prestigiado, com extensa obra publicada. Fundador da Livraria Editora Guimarães."
Exemplar brochado em bom estado de conservação.
Raro.

Indisponível

15 novembro, 2023

FREITAS, Pedro de - MEMÓRIAS DUM FERROVIÁRIO (revisor de bilhetes). Descrição de 40 anos vividos em combóios: sugestiva lição de vida social, ferroviária, sexual, educativa, profissional, psicológica, etc. Montijo, [Edição do Autor], 1954. In-8.º (19,5 cm) de 262, [2] p. ; il. ; B.
1.ª edição.
Capa de Amílcar Mota (Barreiro).
Interessante e curiosíssima colecção de crónicas de experiências do autor, funcionário da CP, antigo combatente na Grande Guerra, ao longo de quatro décadas de actividade na empresa.
Livro ilustrado no interior, e no início, com um retrato de corpo inteiro do autor, aos 60 anos de idade (à data desta publicação - Maio de 1954).
Contém dados estatísticos da época, logísticos e humanos, importantes para a compreensão da história e dimensão da empresa.
"Às voltas com as calamidades da guerra, um dia, nos campos de batalha da Flandres, em França, leio no jornal O Século, estar aberto concurso para revisores de bilhetes nos caminhos de ferro do Estado, direcção do Sul e Sueste.
Longe da Pátria e da família, suportava eu bem duramente os amargos efeitos da monstruosa guerra. Ao ler no jornal essa notícia, foi duplo o meu sofrimento moral por verificar que, sendo eu um ferroviário com direito à notificação do dito concurso, pelas vias competentes, se não fora a coincidência da leitura, para ali ficaria votado ao esquecimento.
Em missão oficial no estrangeiro, envergando uma farda que era a honra do meu país, não era de admitir que por essa circunstância melindrosa da minha vida de soldado eu fosse compelido a prejudicar os meus interesses e a comprometer o meu futuro.
Mas a providência é grande. E o acaso fez que eu visse nesse dia o jornal que deu, à minha alma, tão grande consolação.
Não deixo perder o momento de atingir o que mais ambicionava na minha profissão e, em requerimento feito em papel de campanha, pelas vias competentes do Corpo Expedicionário Português - C. E. P. - envio à Direcção dos caminhos de ferro esse documento.
E desde então ainda mais se me aviva o desejo de voltar aos ares pátrios, à vida dos combóios, ao seio da minha classe. Mas a maldita guerra parecia ser infinita, nunca mais acabaria...
Porém, ela - como de resto tudo no Mundo tem seus dias contados - um dia acabou.
Não foi operação imediata o meu regresso à vida da Pátria; só seis meses passados após o termo das hostilidades, eu piso as terras benditas do meu velho Portugal.
Alegria nos corações libertos de tantos e tantos pesadelos; alegria nos lares, nos amigos, nas coisas nossas conhecidas e estimadas e, após arrumação de vários assuntos inadiáveis, eu apresso-me a saber do resultado do meu requerimento para o concurso de revisor.
Por intermédio do Ministério da Guerra, e com alguns pareceres e muitos carimbos extravagantes, esse desconhecido papel de campanha, que me custara meio franco, entrara, para os devidos efeitos, na repartição competente. Mas seria eu admitido?!... - eis a grande interrogação.
As vagas eram largamente disputadas; os pretendentes são muitos e as «cunhas» apertadas. A minha qualidade de combatente parece servir de alguma consideração e, na devida altura, eu sou admitido ao concurso."
(Excerto do Cap. XIII, Revisor de bilhetes)
Índice
:
Ex-Libris. Abertura. Primeira Parte - Cemitério ferroviário: I - A angústia dum capataz em manobras. II - O funeral da carruagem-salão. III - O carril. IV - A locomotiva. V - A oficina, o telégrafo e a sinalização. VI - O barco a vapor e a via fluvial. VII - A estação. VIII - O bilhete. IX - O salão de primeira classe - n.º 61- Segunda Parte - Vida profissional e suas vicissitudes: X - O princípio de uma vida. XI - Na vida dos combóios (guarda-freio e condutor). XII - Movimentos sociais da classe - Dois comandantes frente a frente. XIII - Revisor de bilhetes. Terceira Parte - Vida ferroviária: XIV - Revisor e fiscal (Alta escola de ensinamentos psicológicos e sociais). XV - Humorismo ferroviário. XVI - Na vida burocrática do caminho de ferro, os papéis é que mandam. Quarta Parte - No campo da reforma: XVII - O último combóio. XVIII - Retalhos duma vida. XIX - A vala dos «mortos-vivos». Nota final.
Pedro de Freitas (1894-1987). Natural de Loulé. "Escritor, jornalista e musicógrafo. Em 1916 era ferroviário, guarda-freio dos comboios e, no ano seguinte, parte para a guerra, em França. Aí narra um dos episódios de guerra numa carta que alguns meses mais tarde acaba por ser publicada num jornal. Fez toda a Campanha em França como membro do Corpo Expedicionário Português, integrando o Batalhão de Sapadores de Caminhos-de-Ferro. Todos os acontecimentos vividos a partir do momento do desembarque na Flandres seriam rigorosamente apontados por Pedro de Freitas e estão presentes no seu livro “As Minhas Recordações da Grande Guerra”, um livro que constitui “um manancial de descrições, informações e sentimentos de carácter pessoal, baseado nas experiências concretas vividas por Pedro de Freitas durante a Primeira Grande Guerra Mundial”. “Este livro apresentou detalhe histórico e coerência relativamente às datas dos eventos presenciados por Pedro de Freitas. Nesse sentido, o autor conferiu alguma ênfase na evolução das batalhas do dia 21 de março e do 9 de abril de 1918. Pelo realismo e sentimentalismo expresso no mesmo foi possível reajustar uma interpenetração entre a visão particular do interlocutor da história com uma análise histórica mais distanciada e, por isso mesmo, mais crítica dos acontecimentos”, refere Susana Barrote, na sua tese “Pedro de Freitas: A vida e a obra de um escritor e musicógrafo nacionalista”.
(Fonte: http://www.avozdoalgarve.pt/detalhe.php?id=4058)
Exemplar brochado em bom estado de conservação.
Muito invulgar.
30€