NEMÉSIO, Vitorino - MAU TEMPO NO CANAL : romance. Lisboa, Livraria Bertrand, [1944]. In-8.º (19 cm) de 478, [2] p. ; B.
1.ª edição.
Edição original da obra maior do autor, e uma das mais conhecidas e apreciadas da literatura portuguesa contemporânea.
"A
obra romanesca mais complexa, mais variada, mais densa e mais subtil em
toda a nossa história literária", são palavras de David Mourão-Ferreira
sobre "Mau Tempo No Canal", de Vitorino Nemésio. O documentário
ajuda-nos a perceber porquê.
A narrativa, temporalmente situada entre
1917 e 1944, incide sobre Margarida Clark Dulmo, peça de relações
amorosas desencontradas e frustradas e nenhuma delas capaz de lhe
realizar as ambições existenciais, continuamente vetadas pelo que é
socialmente convencionado e imposto de modo asfixiante e incontornável
pela moral burguesa da sociedade açoriana das primeiras décadas dos
século XX.
“Mau
Tempo No Canal” é o romance de Vitorino Nemésio que figurará na
história literária portuguesa como um dos mais completos e conseguidos,
mas também é aquele que da insularidade dos Açores nos eleva à prisão da
ilha de todo o Homem, com os seus universais medos, paixões,
entusiasmos e angústias."
(Fonte: ensina.rtp.pt/artigo/mau-tempo-no-canal-de-vitorino-nemesio)
"João
Garcia garantiu que sim, que voltava. Os olhos de Margarida tinham um
lume evasivo, de esperança que serve a sua hora. Eram fundos e azuis,
debaixo de arcadas fortes. Baixou-os um instante e tornou:
- Quem sabe...?
-
Demoro-me pouco... palavra! Cursos de milicianos... Moeda fraca! Para a
infantaria, três meses. Se não fecharem os concursos para Secretários
Gerais, então aproveito. Bem sei que há só três vagas e mais de cem
bacahréis à boa vida... Mas não tenho mêdo das provas. Bastam algumas
semanas para me preparar a fundo... rever a legislação.
Entrava
em pormenores. Margarida ouvia-o agora vagamente distraída, de cabeça
voltada às nuvens, como quem tem uma coisa que incomoda no pescoço, um
mau jeito. O cabelo, um pouco sôlto, ficava com tôda a luz da lâmpada
defronte, de maneira que a testa reflectia o vaivém da sombra ao vento."
(Excerto do Cap. I - A serpente cega)
Vitorino Nemésio
(1901-1978). "Nasceu em 1901, na Ilha Terceira, Açores. Frequentou o
liceu em Angra e na Horta (Ilha do Faial), onde concluiu o 5.º ano. Em
1919, iniciou o serviço militar como voluntário, o que lhe proporcionou a
primeira viagem ao Continente. Em Coimbra, terminou o liceu e
frequentou a Universidade, primeiro como aluno de Direito, depois de
Letras. Optando definitivamente pelo curso de Filologia Românica, viria a
obter a sua licenciatura em 1931 em Lisboa, dando início ao mesmo tempo
a uma distinta carreira académica na Faculdade de Letras. Como
professor, o seu percurso levou-o ainda a leccionar em Montpellier, em
Bruxelas e em várias universidades no Brasil. Poeta, ficcionista,
crítico, biógrafo e investigador literário, Vitorino Nemésio é autor de
uma obra equiparável, nas palavras de David Mourão-Ferreira, a “um
arquipélago”. Fundador e director da Revista de Portugal (1937-1941),
uma publicação literária importante no panorama português do século XX,
Nemésio colaborou também de forma intensa em revistas literárias, em
jornais, na rádio e na televisão. Ficou célebre, e presente até hoje na
memória dos portugueses mais velhos - a sua colaboração na RTP com o
programa “Se bem me lembro”, no início dos anos setenta. O livro Mau
Tempo na Canal foi publicado em 1944 e é considerado um marco na
história do romance português do século XX."
(fonte: cvc.instituto-camoes.pt)
Exemplar
brochado em bom estado geral de conservação. Cansado. Capas algo manchadas.
Muito invulgar.
Com interesse histórico e literário.
45€
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