30 julho, 2023

COIMBRA, Leonardo - A MORTE. Conferencia da «Renascença Portuguesa» pronunciada no Centro Commercial do Porto, na noite de 23 de Julho de 1913. Pôrto, Edição da Renascença Portuguesa, 1913. In-8.º (19x12,5 cm) de 114, [2] p. ; B.
1.ª edição.
Ensaio filosófico sobre a Morte em forma de conferência.
"Se começo por vos falar da face da Morte é para que, afastando a sua inconsciente e habitual imagem feita de horrores acessorios e acusações irreflectidas, possa a minha palavra encontrar almas atentas ao murmurio das suas ultimas, longinquas camadas. Desvende eu a face da Morte para que o seu nome não apodreça os meus labios, não caricature em esgare o meu sorriso confiado, não descarne o meu corpo em petulante cadaver que se erguesse a prelecionar a lição de anatomia.
A linguagem da Morte, que é incontestavelmente a mais importante para o comportamento da nossa vida, forma-se em nosso espirito, ao sabôr das mais baixas solicitações. São, com efeito, o mêdo e a repugnancia animal os principaes elementos dessa imagem. E vai tão longe a cegueira e cobardia dos homens, neste ponto, que á propria criança, absolutamente indiferente e estranha á ideia da Morte, se lhe impõe uma imagem com elementos de mêdo. [...]
Prefiro olhar o problema pelo lado da coragem e erguer a alma acima das solicitações dos sentidos.
Acho preferivel que o homem, pela espontaneadade do seu espirito, destile esses horrores instinctivos, em heroicas plantas, que, das profundesas da alma, venham abrir em labios dagua a inocencia da sua branca alegria.
Os nossos cemiterios, habitados de esqueletos, podem sêr jardins cristãos, se a alma tiver coragem de descobrir o além dos sentidos.
O nosso corpo a arder em chama purificadôra, será beleza, libertação, cosmico abraço instantaneo. Sim, será a onde do eter, que, em Romaria pagã, vá beijar as praias dos mundos."
(Excerto de A face da Morte)
Matérias:
A face da Morte. | O Sêr. | A transnaturesa. | A Memoria.
Leonardo Coimbra (1883-1936). "Filósofo, ensaísta, político e professor universitário português. Nasceu a 30 de dezembro de 1883, na Lixa, concelho de Felgueiras, e morreu a 2 de janeiro de 1936, no Porto. Formou-se em Letras em Lisboa, no ano de 1912. Um dos mais importantes nomes da cultura portuguesa da primeira metade do século XX, Leonardo Coimbra foi, no Porto, juntamente com Jaime Cortesão, um dos mentores e dinamizadores do projeto de intervenção cívica e cultural "Renascença Portuguesa", no âmbito do qual coeditou a revista Nova Silva e A Águia, promoveu a criação de Universidades Populares (onde se distinguiria como orador) e, como Ministro da Instrução Pública, fundou a Faculdade de Letras do Porto, onde viria a lecionar e a dirigir (com Hernâni Cidade e Mendes Correia) a Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (1920-1922). É nas edições Renascença Portuguesa que edita grande parte de uma bibliografia (O Criacionismo: Esboço de um Sistema Filosófico, 1912; A Morte, 1913; A Alegria, A Dor, A Graça, 1916; A Luta pela Imortalidade, 1918; Adoração: Cânticos de Amor, 1921; Jesus, 1923; Guerra Junqueiro, 1923; A Filosofia de Henri Bergson, 1932)."
(Fonte: infopedia)
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Capas oxidadas. Falha de papel nas extremidades da lombada.
Raro.
25€

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