COIMBRA, Leonardo - A MORTE. Conferencia da «Renascença Portuguesa» pronunciada no Centro Commercial do Porto, na noite de 23 de Julho de 1913. Pôrto, Edição da Renascença Portuguesa, 1913. In-8.º (19x12,5 cm) de 114, [2] p. ; B.
1.ª edição.
Ensaio filosófico sobre a Morte em forma de conferência.
"Se
começo por vos falar da face da Morte é para que, afastando a sua
inconsciente e habitual imagem feita de horrores acessorios e acusações
irreflectidas, possa a minha palavra encontrar almas atentas ao murmurio
das suas ultimas, longinquas camadas. Desvende eu a face da Morte para
que o seu nome não apodreça os meus labios, não caricature em esgare o
meu sorriso confiado, não descarne o meu corpo em petulante cadaver que
se erguesse a prelecionar a lição de anatomia.
A
linguagem da Morte, que é incontestavelmente a mais importante para o
comportamento da nossa vida, forma-se em nosso espirito, ao sabôr das
mais baixas solicitações. São, com efeito, o mêdo e a repugnancia animal
os principaes elementos dessa imagem. E vai tão longe a cegueira e
cobardia dos homens, neste ponto, que á propria criança, absolutamente
indiferente e estranha á ideia da Morte, se lhe impõe uma imagem com
elementos de mêdo. [...]
Prefiro olhar o problema pelo lado da coragem e erguer a alma acima das solicitações dos sentidos.
Acho
preferivel que o homem, pela espontaneadade do seu espirito, destile
esses horrores instinctivos, em heroicas plantas, que, das profundesas
da alma, venham abrir em labios dagua a inocencia da sua branca alegria.
Os
nossos cemiterios, habitados de esqueletos, podem sêr jardins cristãos,
se a alma tiver coragem de descobrir o além dos sentidos.
O
nosso corpo a arder em chama purificadôra, será beleza, libertação,
cosmico abraço instantaneo. Sim, será a onde do eter, que, em Romaria
pagã, vá beijar as praias dos mundos."
(Excerto de A face da Morte)
Matérias:
A face da Morte. | O Sêr. | A transnaturesa. | A Memoria.
Leonardo Coimbra (1883-1936). "Filósofo,
ensaísta, político e professor universitário português. Nasceu a 30 de dezembro de 1883, na Lixa, concelho de
Felgueiras, e morreu a 2 de janeiro de 1936, no Porto. Formou-se em
Letras em Lisboa, no ano de 1912. Um dos mais importantes nomes da
cultura portuguesa da primeira metade do século XX, Leonardo Coimbra
foi, no Porto, juntamente com Jaime Cortesão, um dos mentores e
dinamizadores do projeto de intervenção cívica e cultural "Renascença
Portuguesa", no âmbito do qual coeditou a revista Nova Silva e A Águia,
promoveu a criação de Universidades Populares (onde se distinguiria
como orador) e, como Ministro da Instrução Pública, fundou a Faculdade
de Letras do Porto, onde viria a lecionar e a dirigir (com Hernâni
Cidade e Mendes Correia) a Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (1920-1922). É nas edições Renascença Portuguesa que edita grande parte de uma bibliografia (O Criacionismo: Esboço de um Sistema Filosófico, 1912; A Morte, 1913; A Alegria, A Dor, A Graça, 1916; A Luta pela Imortalidade, 1918; Adoração: Cânticos de Amor, 1921; Jesus, 1923; Guerra Junqueiro, 1923; A Filosofia de Henri Bergson, 1932)."
(Fonte: infopedia)
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Capas oxidadas. Falha de papel nas extremidades da lombada.
Raro.
25€
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