UMA VIDA ESPINHOSA. Lisboa, Typ. e Lith. de Adolpho, Modesto & C.ª : Fornecedores da Sociedade de Geographia, 1885. In-8.º (18 cm) de 112, [2] p. ; [8] f. il. ; E.
1.ª edição portuguesa.
Romance social. Publicado anónimo, a sua autoria pertence a Sarah Smith, também conhecida por "Hesba Stretton", pseudónimo literário que utilizou para assinar a maioria dos seus trabalhos.
Primeira edição portuguesa de um livro publicado originalmente em Londres, 1878, com o título A Thorny Path, tendo conhecido cerca de dez edições entre nós ao longo do final do século XIX/primeiro quartel do século XX. A BNP não menciona esta. Trata-se de um livro precioso, exemplo paradigmático dos primórdios da literatura protestante em Portugal. Relativamente à tradução, refira-se a título de curiosidade, que os nomes dos personagens da história são portugueses, com excepção de Hagar, a figura principal.
Ilustrado com oito bonitas gravuras separadas do texto.
"Era um dia do mez de novembro, sombrio e triste, pela espessura das
nuvens. Os ramos seccos das arvores no Jardim Publico entrelaçavam-se
n'um labyrintho de linhas escuras contra o céu negro e carregado. Tinha havido um nevoeiro muito espesso pela manhã, mas já tinha espalhado algum tanto, e já se podiam vêr no firmamento as grossas nuvens e os troncos das arvores plantadas a pouca distancia umas das outras.
No chão estendia-se um tapete castanho de folhas murchas, que iam apodrecendo por causa das gottas d'orvalho que estavam caindo constantemente dos ramos que ficavam por cima. O ar não era frio, mas a atmosphera estava humida e pesada. A curta tarde já tinha começado, mas não se viam grupos de creanças brincando nos longos passeios e largas avenidas do Jardim Publico. Os chuviscos d'um dia de novembro tinham feito com que muita gente se
tivesse deixado ficar em casa.
Porém havia alguns transeuntes que
caminhavam apressadamente pelos passeios molhados, sem se demorarem no
seu caminho ou olharem vagamente para a scena triste em volta d'elles.
Iam todos tão preoccupados com o seu proprio mau estar, que nem
prestavam attenção a um pequeno grupo melancolico, que com passos
tristes e vagarosos caminhava por baixo das ramos das arvores molhados
pelo orvalho. Uma mulher com o vestido esfarrapado formava o centro do
grupo. Ella levava n'um braço um pequenino de poucos mezes de edade,
emquanto que com a outra mão conduzia uma menina de tres annos quasi
descalça. Um velho cego caminhava ao seu lado , apoiando a mão descarnada sobre o hombro d'ella para se poder guiar. Nem o velho, nem a menina andavam depressa; e este pequeno grupo de pobresa e soffrimento, caminhava com passos vagarosos, cançados e fracos, por um dos paseios. [...]
- Para onde nos vaes conduzir, Hagar? perguntou o velho passado algum tempo.
Ella não lhe respondeu."
(Excerto do Cap. I - No Jardim Publico)
Sarah Smith (1832-1911). Nasceu em Wellington, Inglaterra. Filha de pai livreiro, impressor de literatura evangélica; sua mãe era conhecida pela sua dedicação à causa evangélica, tendo morrido quando Sarah era ainda jovem. Na edição de 19 de Março de 1859 da Household Words, - uma publicação dirigida por Charles Dickens, - ela publicou o seu primeiro conto - The Lucky Leg. É uma história intrigante sobre um homem que se queria casar com uma mulher sem uma perna. O conteúdo era secular, mas o seu talento acabou por ser reconhecido. Adoptou o pseudónimo "Hesba Stretton". Stretton vem do nome de uma vila vizinha e Hesba vem das iniciais de seus irmãos. H (Hannah ou algumas fontes Harriett), E (Elizabeth), S (Sarah), B (Benjamin) e A (Annie).
Encadernação em percalina com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Pastas manchadas. Lombada
apresenta falha. Assinatura possessória - safada - na f. rosto.
Raro.
Sem registo na Biblioteca Nacional.
25€