LEAL, J. da S. Mendes - OS MOSQUETEIROS D'AFRICA. Lisboa, Livraria de A. M. Pereira, 1865. In-8.º (18 cm) de IX, [1], 393, [3] p. ; E.
1.ª edição.
Edição original de uma das mais estimadas obras de Mendes Leal. Obra que se insere na corrente literária do ultra-romantismo, trata-se de um romance histórico cuja acção decorre em Lisboa, na época da Restauração da nacionalidade.
"Era a ultima noite de novembro do anno do Senhor 1640. Prateava os ares um luar como de dia, pesava na cidade um silencio como de deserto.
Ao nascente do Rocio ficava então o dormitorio do mosteiro dominicano occupando quasi um terço da praça por aquelle lado. Seguia-se-lhe o ádito do Hospicio da Senhora do Amparo, e o sumptuoso edificio do Hospital de Todos os Santos, tudo na mesma linha.
A arcada do dormitorio dos frades e a do Hospital, constituindo um formoso corpo de cantaria e servindo de passagem coberta, eram n'aquella época singularmente conhecidas e affamadas. Nos bancos de pedra, que interiormente guarneciam o largo corredor, faziam todas as terças feiras seu mercado os vendedores de holanda, canequim, linho, cassa, rendas, trancelins e outras meudesas. [...]
Os raios da lua, passando serena no profundo anil do ceu, clareavam em cheio a frontaria do palacio, em quanto sob a arcada era profunda a obscuridade, como que mais entenebrecida ainda pela opposição d'aquelles palidos reflexos.
Além a zona luminosa, e da orla branca do luar, as trévas carregavam-se, e condensavam-se mais e mais, como acontece quando a noite se adianta com as horas que precedem o alvorecer.
Todavia, quem rondasse o largo e attentasse bem, poderia ver sentado n'um dos bancos de pedra, ao fundo, entre as pilastras da arcada, um vulto cuidadosamente envolto n'uma capa de estramenha escura, fraco resguardo para o frio cortante que fazia."
(Excerto do Cap. I - Os arcos do Rocio)
José da Silva Mendes Leal (1818-1886). "Poeta, romancista, crítico e historiador português, de nome completo José da Silva Mendes Leal Júnior, nascido a 18 de outubro de 1818, em Lisboa, e falecido a 22 de agosto de 1886, em Sintra. Destacou-se sobretudo como dramaturgo. Foi bibliotecário-mor da Biblioteca Nacional, sócio da Academia Real das Ciências e membro do Conservatório, entre outras associações científicas e literárias, deputado pelo partido cabralista e ministro. Entre poesias, publicações de romances em folhetim e textos de crítica e teorização literárias, deixará uma vasta colaboração em periódicos como O Panorama, a Revista Universal Lisbonense, o Cosmorama Literário, O Clamor Público, A Época e A Aurora, de que será diretor, em 1845."
(Fonte: infopédia)
Belíssima encadernação coeva meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Mancha junto do corte lateral atinge primeiras folhas do livro, sem contudo perturbar o texto.
Raro.
45€
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