PIMENTEL, João Pereira Botelho de Amaral e - SERMÃO SOBRE A TORPEZA DO PECCADO, Pregado na Sé Cathedral de Leiria, por... Bacharel formado em Direito, Deão da Sé Cathedral de Leiria... Na Primeira tarde das Domingas da Quaresma do anno de 1858. Braga: - Typ. União - Á Galeria n.º 12, 1864. In-8.º (20,5 cm) de 22, [2] p. ; B. 1.ª edição.
Sermão de teor pessimista, reflete a desesperança com que, de uma forma geral, o autor encara o comportamento sócio-religioso do povo português.
Opúsculo ilustrado com gravura de Nossa Senhora no frontispício.
"Figura-se-me vêr um grande povo mergulhado em pesado somno, e dominado ao mesmo tempo por um somnambulismo frenetico, que o impelle para um terrivel, e proximo abismo, que lhe era facil evitar!... Eu vejo, Senhores, esse povo immenso, como reunido em larga praça, da qual sahem duas oppostas estradas, uma espaçosa, inclinada e coberta de illusorias flôres, vai finalisar bem depressa n'esse precipicio horrivel, outra, um pouco mais estreita, mas facilmente accessivel, conduz ao feliz termo a que todo elle aspira chegar. E o desgraçado povo somnambulo, longe de se dirigir em paz, e ordem para este ultimo caminho, se atropella em confusão e desordem, como furiosos bachantes, e corre quasi todo, com uma resolução e cegueira de loucos, para a beira d'esse precipicio horrivel, no qual em breve será desgraçadamente sepultado, se não houver alguem que o acorde do lamentavel somnambulismo, de que se acha dominado!..."
(Excerto do Sermão)
João Maria Pereira de Amaral e Pimentel (Oleiros, Castelo Branco, 1815 - Angra do Heroísmo, 1889). "28.º bispo de Angra, que governou a diocese entre 1872 e 1889, homem sensível e culto, dedicado às belas artes e à jardinagem, a quem a Diocese de Angra deve ter iniciado a publicação do Boletim Eclesiástico dos Açores, o qual, com mais de 130 anos de publicação ininterrupta, é hoje a mais antiga publicação periódica dos Açores.
Aparentemente por influência dum seu tio-avô, Frei Simão José Botelho Dourado, que era vigário de Oleiros e professor na Ordem de Malta, enveredou pela vida eclesiástica, ingressando no seminário lazarista de Cernache do Bonjardim.
Quando o Seminário das Missões de Cernache do Bonjardim fechou portas, por expulsão do seu corpo docente, foi obrigado a trabalhar para sustento da mãe e irmãs, sendo sucessivamente secretário do vigário capitular de Leiria, recebedor do concelho de Oleiros, escrivão da Câmara e advogado.
Ingressou no curso de direito da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, obtendo o bacharelato em 1849. Durante este período foi funcionário do Governo Civil do Distrito de Coimbra, para além de litografar sebentas e de exercer outras ocupações com as quais se sustentou.
Obtidas as ordens menores, passou a secretariar o bispo de Bragança, sendo ordenado presbítero em 1850, sendo logo nomeado vigário geral, chantre e vigário capitular daquela diocese.
Transferido para a diocese de Leiria, foi em 1854 nomeado deão, vigário geral e provisor da diocese. Neste ano foi agraciado com a comenda da Real Ordem Militar de Cristo.
Em 1865-1866 foi eleito e confirmado bispo de Macau, mas a nomeação não foi aceite pelo governo português, dada que a confirmação pontifícia restringia a sua jurisdição única e exclusivamente à cidade de Macau, contrariando as pretensões de jurisdição que Portugal mantinha sobre o governo espiritual dos católicos chineses.
Esta recusa levou a que retornasse ao seminário de Cernache do Bonjardim, nas funções de orientador do Colégio das Missões, a cujas actividades deixou ligado o seu nome.
Em Junho de 1871, o governo português apresentou-o à Santa Sé para bispo de Angra, sendo confirmado em consistório realizado em 22 de Dezembro de 1871 e nomeado pelo papa Pio IX.
O novo bispo de Angra nomeou seu procurador o Dr. Ferreira de Sousa que, em seu nome, tomou posse do bispado. Deu entrada na Diocese a 21 de Agosto de 1872, sendo recebido com as honras habituais, que incluíram Te Deum na catedral, onde deu anel a beijar ao clero, autoridades e pessoas de representação, seguindo-se, durante três noites, concerto pela Banda Militar dos Açores no salão de entrada do Paço Episcopal.
Governou com senso, fazendo numerosas visitas pastorais, publicando um acervo doutrinário cobrindo os temas e preocupações da época, com destaque para a Bula da Santa Cruzada, os tempos quaresmais, os excessos de emigração, e a posição do sacerdócio católico, com as suas prerrogativas e obrigações.
Entre a sua actividade normativa, destaca-se a regulamentação da jurisdição dos párocos, coadjutores e capelães e das oferendas às igrejas ou imagens, cruzes, altares e capelas.
Este bispo atravessou uma época difícil, com múltiplas discórdias, a que não eram alheias as facções políticas existentes na ilha e as tensões existentes entre a Igreja Católica Romana e o Estado. Para cúmulo, o relacionamento com o seu coadjutor com direito a sucessão, D. Francisco Maria do Prado Lacerda, o futuro 29.º bispo de Angra, estava longe de ser amistoso, havendo voz pública de graves questões e desentendimentos.
D. João Maria faleceu a 27 de Janeiro de 1889 na Quinta da Estrela, no Caminho de Baixo de São Carlos, arredores da cidade de Angra do Heroísmo.
Homem de profunda sabedoria e delicado espírito científico, era um grande apreciador das belas artes e passava o seu tempo livre cultivando flores."
(Fonte: Wikipédia)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Sem contracapa.
Raro.
Indisponível