NOCHE, Pablo la - LUSCO-FUSCO. (Vida e morte de um desconhecido). Com uma introdução de Ingborg Moacyr, professora ginasial. Amadora, Livraria Bertrand, 1973. In-8.º (20 cm) de 400, [4] p. ; B.
1.ª edição.
Curioso romance assinado por Pablo la Noche, pseudónimo de Marcello Mathias, escritor, político e diplomata português, que negociou e trouxe o espólio artístico de Calouste Gulbenkian para Portugal.
Junta-se artigo da época de Norberto Lopes inserto no jornal República, em página inteira (42x30 cm), sobre o novel romance Lusco-fusco.
"Um
cepticismo em permanente contraste com uma fingida candura, uma ironia
subtil aliada a uma invulgar elegância e pureza de linguagem consagram
este romance como uma revelação na moderna literatura portuguesa." (Retirado da contracapa)
"Entre
os numerosos manuscritos que nos são enviados e ficam aguardando
leitura para se decidir sobre a sua eventual publicação, encontramos
agora, esquecido há mais de três anos, aquele que hoje publicamos.
Apesar de todos os nossos esforços não nos foi possível descobrir o
paradeiro da Senhora Ingborg Moacyr, que nos enviara o Lusco-Fusco
e nos propusera a sua publicação. Como ignoramos a quem cabem os
direitos de autor, ficam estes inteiramente salvaguardados para quem
provar ter legitimidade para recebê-los. Não sendo conhecido o nome do
autor, mas depreendendo-se do texto que, sob o pseudónimo de Pablo la
Noche, exerceu funções de jornalista, sob esse pseudónimo aparece a
atribuição da autoria deste livro.
Lisboa, 15 Janeiro de 1973. "
(Nota do Editor)
"Nem
toda a gente se lembra de Lusco-Fusco, romance de 1973 assinado por
Pablo La Noche, vencedor do Prémio Ricardo Malheiros da Academia das
Ciências. Poucos sabiam quem se escondia por trás do enigmático
pseudónimo. Urbano Tavares Rodrigues foi um dos que não poupou nos
elogios. Até que, em 1976, Robert Laffont editou a obra em França, como Pablo La Noche, de Marcello Mathias, obtendo o Prémio Rayonnement Français da Academia Francesa.
(Fonte: daliteratura.blogspot.com)
"O
Colégio do Marquês, em Barbacena, tinha uns cento e vinte alunos, todos
se preparando para o curso ginasial. Eu era ali professora de Alemão,
mas leccionava também, provisòriamente Latim por se encontrar vago o
lugar.
Um
dia o director, que era o padre Segismundo - homem severo que não
perdoava em questões de disciplina -, me avisou de que se havia
apresentado um pretendente ao lugar de professor de Latim, convindo que
fosse eu a receber o candidato e a medir as suas habilitações.
Logo
pelo forte sotaque percebi que se tratava de um português. De tez
morena, estatura meã e uma barba cerrada onde já começavam a pratear
alguns fios, estava de pé junto da janela e tão absorto que me não ouviu
entrar na sala. Os documentos que ele trazia provavam apenas que já
fora repetidor de Latim e de Francês num colégio, em Sorocaba. Tive, por
isso, de saber dele alguma coisa mais, visto me não apresentar diploma
algum de habilitações que o inculcassem para o lugar, nem mesmo
documento bem claro sobre a sua identidade.
Com
algum embaraço, respondeu-me que era um autodidacta; estava, porém,
disposto a me dar ali mesmo as provas de sua competência, pois podia
traduzir à primeira vista, e sem ajuda de dicionário, qualquer texto
clássico que eu escolhesse. E trazidos os livros assim fez, com uma
facilidade que me deixou surpreendida porque revelava uma cultura latina
pouco comum e bem mais profunda e completa do que a minha. Tudo isto,
todavia, era realizado com uma espécie de tédio, como se lhe fosse
penosa a demonstração do que ia fazendo. [...]
O
homem era tão bicho do mato que apenas cumprimentava os colegas, e todo
o tempo que não estava dando lições se encerrava no seu quarto. Não
sabia, ou talvez não queria, fazer amizades, nem tão-pouco estreitar
relações; uma ou outra vez que o convidámos para um passeio, mesmo em
domingos ou feriados, sempre se recusara com o pretexto de que
necessitava preparar as prelecções."
(Excerto da Introdução)
Marcello Mathias (1903-1990). "Nasceu
em Lisboa em 1903 e morreu no Estoril em 1999. Licenciado em Direito
pela Universidade de Lisboa, foi advogado e Delegado do Procurador-Geral
da República, tendo depois entrado para o Ministério dos Negócios
Estrangeiros, onde exerceu funções em Atenas, no Rio de Janeiro e em
Paris, antes de ser Director-Geral, Secretário-Geral e mais tarde
Ministro dos Negócios Estrangeiros (1958-1961). Foi por duas vezes
Embaixador em França, num total de mais de 20 anos. No Rio de Janeiro
publicou, em 1943, Doze Sonetos e Uma Canção, que teve várias edições, a última das quais em Portugal, em 1984. Mas foi a publicação de Lusco-Fusco
que o consagrou em 1973, quando obteve ex-aequo o Prémio Ricardo
Malheiros, da Academia das Ciências. A tradução da obra em francês, em
1976 pela Robert Laffont, valeu-lhe o prémio «Rayonnement Français» da
Academia Francesa."
(Fonte: https://quetzal.blogs.sapo.pt/14284.html)
Exemplar brochado em bom estado de conservação.
Invulgar.
20€
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