06 novembro, 2022

RIBEIRO, Manuel - NA LINHA DE FOGO.
Crónicas subversivas
. Lisboa, Empreza Editora Popular, [1919]. In-8.º (20,5 cm) de 118, [2] p. ; E.
1.ª edição.
Livro de crónicas e reflexões de pendor subversivo da autoria do à época anarco-sindicalista Manuel Ribeiro, sendo esta uma das invulgares e interessantes obras do autor.
"Porque tu foste um heroi, um autêntico heroi sacrificando o futuro e a vida pelo ideal, não posso compreender como uma tão ardente fé cristalize na insensibilidade morta dum dogma; não posso admitir que fiques abraçado a um êrro dispersando esterilmente e improdutivamente o teu rico capital de energias.
Que tu fôsses republicano até o cindo de outubro vá; mas é lá possível que ames hoje a república como a amavas dantes? Tu bateste-te por ela com enternecimento e com entusiasmo, como te baterias por uma mulher. Que era para ti a república? Evidentemente - uma paixão. Tu rugias quando a Ordem te maltratava a república nas pessoas sagradas dos seus caudilhos, e o que te levou à Rotunda, hasde concordar, não foi o programa do partido republicano - conhecêste-lo tu mesmo? - o que te levou lá foi a ânsia de desagravares uma amante dos ultrajes dum bêbado. O programa do partido! Bem te importaste com êle! [...]
Porque não vens até nós?
Aqui não há chefes, há camaradas. O nosso partido é o da fraternidade, o nosso programa a solidariedade. Alistâmo-nos na legião do trabalho. És poeta? Aqui sentirás a vida intensa, fonte de toda a inspiração. és filósofo? Vem aqui reflectir e sentirás germinar o embrião do mundo novo. Só aqui poderás harmonizar as tuas idéas com os teus átos. Só aqui poderás ser profundamente e coerentemente - um homem."
(Excerto de A um heroi da Rotunda)
Indice:
A um heroi da Rotunda. | Estrelas cadentes (Tomaz da Fonseca). | A propósito dum hino. | Anarquistas e Sindicalistas. | Cezarismo à vista. | Um detractor do Sindicalismo. | O julgamento de Buizel. | O caso do chegador Faria (O direito de matar). | A Voz do Operario e o Ensino. | Acção directa. | As cadernetas. | A politica do operariado. | Acção. | A orientação dos Sindicatos. | Fernando Pelloutier. | O Sindicalismo italiano. | A lei das Associações. | A Associação. | Uma renascença literária. | Socialista e anarquista. | Uma conferência.
Manuel Ribeiro (1878-1941). "Manuel Ribeiro (1878-1941), natural de Albernoa, freguesia de Beja, foi um dos mais destacados militantes anarco-sindicalistas da primeira República. Com pouco mais de vinte anos veio para Lisboa, dedicando-se à tradução e ao jornalismo. É também o momento em que inicia uma obra literária, que anos mais tarde dele fará um dos mais lidos escritores do tempo. Como tradutor, verteu para o português obras de Gorki, Tolstoi, Kropotkine e Paul Elzbacher. A ligação militante ao anarquismo operário data de 1908, mas a primeira colaboração com a imprensa libertária é de 1909. Entre 1912 e 1914 é um dos mais assíduos colaboradores do semanário O Sindicalista, órgão da corrente operária libertária. Com o fim deste e a fundação de A Batalha, Manuel Ribeiro transfere para este diário a sua colaboração, que mantém até Março de 1921.
A revolução russa de 1917 dividiu o movimento operário mundial e Manuel Ribeiro, vendo nos sovietes um equivalente do sindicalismo revolucionário, toma partido pelo bolchevismo, fundando com outros a Federação Maximalista, cujo jornal dirigiu, e o Partido Comunista Português. Mais tarde, em 1926, converteu-se (em privado) ao catolicismo. A conversão não levou porém o autor a alhear-se das antigas preocupações, acabando por se manter dentro da mesma esfera, com a aproximação a sectores católicos socialmente empenhados. Dirigiu nesses anos a revista católica Renascença, fundou uma outra, Era Nova, esta com o padre Joaquim Alves Correia, e publicou um livro de ensaios, Novos Horizontes (1930), em que esclarece a sua separação da fórmula integralista, que por então dominava nos meios católicos."
(Fonte: http://mosca-servidor.xdi.uevora.pt/arquivo/?p=creators/creator&id=450)
Bonita encadernação meia de pele com cantos, e ferros gravados a ouro na lombada. Conserva as capas originais.
Exemplar em bom estado de conservação. Foi acrescentado ao corpo do livro outro tanto de páginas em branco para "engrossar" o volume.
Invulgar.
30€

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