MONTEIRO, Armenio - COIMBRA EM FRALDA. Original de... 1.º volume da Collecção de leituras impressivas. Lisboa, Editora A Polycommercial, [1914]. In-8.º (21,5 cm) de 184 p. ; E.
1.ª edição.
Interessantíssimo romance naturalista, levemente erótico, cuja acção decorre em Coimbra.
Capa muito bela de autor não identificado.
"Começa este livro em epoca já distante, em que Coimbra apresentava ao visitante aspecto bem diverso do actual."
(Excerto de Symphonoa de Abertura)
"N'um predio de aspecto exterior menos que o vulgar, e n'um confortabilissimo gabinete, onde, por duas largas sacadas entre a luz a jorros e a vida se espraia na contemplação da paisagem campesina mais amoravel que é dado imaginar-se.
Dois amigos, dois homens na força da vida, discutem com certo calor...
- Pois meus caro, declaro-te peremptoriamente que não sou da tua opinião!
A honra, amigo meu, tem valor variavel: é como todas as coisas de valor convencional e que estão á mercê do primeiro que precisa vendel-as ou adquiril-as.
A Viscondessa foi honesta até ao momento em que appareceu quem lhe prejudicasse o regular funccionamento cerebral, depois...
Quem tinha obrigação de prevêr essa débacle, era o Visconde. E o que fez o Visconde? Amancebou-se com a Pepa e despresou-a; ella, consequencia logica, procurou suprir-lhe a falta...
Ha lá nada mais logico! Eu creio que não; embora brigue com os preceitos da Santa Madre Egreja e do nosso joven Codigo Civil!
Convence-te, pois, que nada lucras em avisar o Visconde, que vaes sem proveito para ninguem trantornar-lhe o dolce-farniente...
- És um degenerado! [...]
Virgilio accendeu, vagaroso, um dos cahrutos e quedou-se a contemplar as espiraes de fumo que os seus labios deixavam evolar-se, pensando talvez que logica havia abandonado o cerebro do seu interlocutor, pois não comprehendia como quizessem que a milher devessa á sociedade mais considerações que o homem.
Paulo, por seu turno, passeava descompassadamente pelo confortavel gabinete, no qual o bom gosto e o luxo se davam as mãos.
Aproveitemos este silencio para dizer quem são os dois - Paulo de Mello e Virgilio Borges.
Paulo, o proprietario do gabinete, é banqueiro; da nacionalidade brasileira, sendo comtudo seu pae de origem portugueza, e sua mãe brazileira legitima e até da capital federal.
Aos 13 annos soffreu o maior prejuizo que uma creança póde ter - a perda de sua carinhosa mãe. Desde esse dia definhou, tornou-se rachitico e como o depurativo Dias Amado e a Emulsão de Scott ainda estavam por apparecer, a mudança de ares era uma das grandes armas da medicina.
Veio para Portugal. Foi Coimbra a tterra escolhida para residencia do joven brasileiro.
Cursou o lyceu, passou ao capitolio de Minerva, e quando, com distincção, havia conciliado o 2.º anno, recebeu de chofre novo e cruciante golpe - a noticia da morte do seu progenitor.
Voltou á America, liquidou os negocios da casa paterna, e novamente estava em Coimbra aos vinte e oito annos, cheio de recordações e saudades dos que lhe haviam dado o ser e lhe legaram importante fortuna.
Fez-se então banqueiro.
Virgilio Borges, o outro dos nossos personagens, é natural do Porto, onde cursou os lyceus e foi considerado um bom estudante.
Veio para Coimbra, e ahi, longe das vistas paternas, deu largas á sua veia jovial e de «cabula irreductivel», como galhofeiramente se intitulava.
O primeiro anno foi de fio a pavio uma pandega rasgada: serenatas, noitadas pelo areal do rio em ceias de bohemios, etc. Os dias passava-os na cama retemperando as forças.
Á Universidade ia de visita de quinze em quinze dias, e quando tinha quasi a certeza de não era chamado.
Nas ferias grande voltou ao Porto, ou antes, a Mattozinhos, onde vivia seu pae, antigo negociante da rua dos Inglezes, local em que conseguira juntar uns cabedaes razoaveis em quarenta annos de comercio activo por conta propria.
Amarguradas ferias! Tormentozos mezes! Por toda a parte o acompanhava a respeitavel figura do bacalhoeiro, seu pae.
Quando, saindo de Mattozinhos, enveredavam direitos ao Porto pela margem do Douro, tornava-se então o castigo um verdadeiro supplicio...
A rua dos Inglezes era o Monte Olivete do pobre rapaz!
- Ao passares aqui, repetia o velhote pela vigessima vez e com as lagrimas a brotar dos olhos, descobre-te respeitoso perante esta velha porta; fixa no teu cerebro, renitente desde que frequentas Coimbra, o numero de policia - é o 69!
Repara bem que á sombra d'elle trabalhei quarenta annos para ganhar dinheiro que ha-de fazer de ti um doutor e talvez - quem sabe? - um dos grandes homens da nossa patria!...
Que isso...
E lá vinha outra lufada de rethorica á conta da rapoza, a que Virgilio respondia tambem pela vigessima vez com o único argumento que tinha, aquelle que nunca falha a quem nada mais tem que objectar - não fui eu só!"
(Excerto de O escandalo)
Capítulos:
Symphonia de Abertura. | O escandalo. | Ente Sylla e Charibides. | Os privilegios da carne... | Grotesco! | Leão e Sendeiro... | Advogado dos Sapatos. | Murros providenciaes... | Mãe! | Ministro! | A morte! | Epilogo!
Arménio Monteiro (ca. 18--). "Autor de Contos da carochinha (1912; 1914), Coimbra em fralda (1916) [1914] e Conselheiro Dr. António Teixeira de Sousa (1937), fora colaborador literário no semanário monárquico Papagaio Real, de 1914. Revelou neste jornal trechos de um livro a publicar, Ultimatum."
(Fonte: http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/FichasHistoricas/AMonarquia.pdf)
(Fonte: http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/FichasHistoricas/AMonarquia.pdf)
Encadernação em meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada. Conserva a capa de brochura frontal.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Cansado. Pasta anterior apresenta falta de papel que a reveste; com pequenas falhas de pele na lombada.
Raro.
A BNP dispõe de apenas um exemplar registado na sua base de dados.
75€
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